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Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
Como citar este artigo: Frade A, Pinto V, D'Espiney L. Experiências de ter vivido com afasia de Broca:
uma scoping review. Pensar Enf [Internet]. 2023 Mar; 27(1):17-31. Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Experiências de ter vivido com afasia de Broca: uma
scoping review
Resumo
Introdução
A afasia de Broca, uma afasia não fluente, é uma condição frustrante com extenso impacto
psicológico, familiar e social. Os relatos das pessoas que já recuperaram ou já se conseguem
expressar são essenciais para aumentar o conhecimento sobre a experiência de viver com a
afasia de Broca. A-FROM é uma estrutura concebida para organizar o pensamento sobre o
impacto de viver com afasia e inclui quatro domínios-chave: Ambiente de comunicação e
linguagem; Linguagem e deficiências relacionadas; Identidade pessoal, atitudes e sentimentos, e Participação
em situações da vida. A intervenção de enfermagem é central para otimizar a recuperação e
influenciar positivamente a experiência de viver com sucesso com esta condição clínica.
Objetivo
Mapear a evidência científica sobre a experiência das pessoas que viveram um período de
afasia de Broca.
Métodos
Foi realizada uma Scoping Review seguindo a metodologia do Instituto Joanna Briggs. A
revisão foi baseada na pergunta de investigação: "Como é que a pessoa relata a experiência de ter
vivido um período de afasia de Broca?", formulada de acordo com a estratégia PCC. A pesquisa
foi realizada nas bases de dados eletrónicas MEDLINE®, CINAHL®, Psychology and
Behavioral Sciences Collection e Scopus em Novembro de 2022. Os artigos foram
selecionados com base nos critérios de elegibilidade. A revisão seguiu a lista de verificação
PRISMA-ScR EQUATOR.
Resultados
Dezassete artigos publicados entre 1961 e 2022 foram incluídos. Os dados obtidos foram
agrupados de acordo com os domínios-chave da ferramenta A-FROM. As informações
relacionadas com Identidade pessoal, atitudes e sentimentos, e Participação em situações da vida foram
as mais citadas, seguidas por Linguagem e deficiências relacionadas e Ambiente de comunicação e
linguagem.
Conclusão
Profissionais de saúde, intervenções terapêuticas, espiritualidade, esperança, contexto,
interações e fatores psicossociais influenciam a experiência da afasia de Broca. É essencial
continuar a investigar como as pessoas relatam a experiência de terem vivido um período de
afasia de Broca para melhorar a qualidade dos cuidados e a qualidade de vida das pessoas.
Palavras-chave
Afasia, Broca; Comunicação; Distúrbios da linguagem; Eventos de Mudança de Vida;
Enfermagem; Revisão da Literatura como Tópico.
Ana Frade1
orcid.org/0000-0002-0590-4290
Vanda Pinto2
orcid.org/0000-0001-7047-1498
Luísa D’Espiney3
orcid.org/0000-0002-9018-0134
1Estudante de Doutoramento em Enfermagem.
Universidade de Lisboa. Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa (ESEL). Centro de
Investigação, Inovação e Desenvolvimento em
Enfermagem de Lisboa (CIDNUR).
2Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL). Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR).
3Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL).
Autor de correspondência
Ana Inês de Almeida Frade
E-mail: ana.ines.frade@esel.pt
Recebido: 14.11.22
Aceite: 02.02.23
Frade, A.
Artigo de revisão
Introdução
A afasia, um distúrbio linguístico adquirido, pode afetar a
capacidade de uma pessoa para compreender ou formular
linguagem1. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a causa
mais comum2. A afasia de Broca é uma afasia de expressão,
uma afasia não fluente, e atualmente, é aceite que existam
duas variantes principais3. Numa pura afasia de Broca, danos
extensos envolvem a área de Broca, os campos frontais
circundantes, a matéria branca subjacente e os gânglios
basais4. Na afasia de Broca, ocorre uma perda drástica da
fluência da fala4. A capacidade de nomear e repetir é
perturbada, mas a compreensão oral é normalmente normal
para a linguagem coloquial3. Uma das alterações mais
substanciais é a perda da capacidade de introduzir algumas
regras na forma da fala. A lógica de sequenciar os elementos
constituintes pode estar correta e, no entanto, o existirem
partículas de ligação ou conjugação de verbos3. Estas
alterações criam um compromisso da comunicação e afetam
a qualidade de vida e o bem-estar5. A afasia de Broca é uma
condição frustrante com extenso impacto psicológico,
familiar e social, onde a pessoa es frequentemente
consciente das suas dificuldades de comunicação2,5. Devido
à individualidade de cada pessoa, contexto e etiologia da
lesão, a afasia de Broca é uma experiência única e
idiossincrática6.
Viver com afasia: uma estrutura de Medição de Resultados (A-
FROM) é uma estrutura desenhada para compreender,
orientar e organizar o pensamento relacionado com o
impacto de viver com afasia7. Foi adaptada da Classificação
Internacional de Funcionamento, Deficiência e Saúde (ICF)
da Organização Mundial de Saúde e incorporou conceitos
de outros modelos, tais como o modelo canadiano do
Processo de Criação de Deficiência8. É uma abordagem
ampla e não prescritiva da medição de resultados que
considera o impacto da afasia em áreas importantes da vida
das pessoas com afasia e das suas famílias. Foi concebido
para ajudar os profissionais de saúde e investigadores a
pensar nos resultados da afasia, abordando vários fatores
que afetam o sucesso de viver com afasia7.
A estrutura A-FROM engloba quatro domínios-chave, que
são dinâmicos, sobrepõem-se e interagem entre si: Ambiente
de comunicação e linguagem (qualquer elemento exterior à pessoa
que facilita ou atua como barreira à comunicação, incluindo
atitudes individuais/sociais, atributos do parceiro ou fatores
físicos); Linguagem e deficiências relacionadas; Identidade pessoal,
atitudes e sentimentos e Participação em situações da vida
(envolvimento em relações, funções e atividades diárias)9.
Devido ao compromisso na comunicação, as pessoas com
afasia enfrentam frequentemente barreiras no acesso à
informação sobre saúde10. A sua capacidade de transmitir
sintomas, questionar, solicitar cuidados e expressar
sentimentos, necessidades, vontades e decisões relativas aos
seus cuidados de saúde está comprometida10. Na
enfermagem, compreender e ser compreendido enquanto se
comunica é crucial para a qualidade dos cuidados de saúde e
para satisfazer as necessidades dos cuidados de saúde do
paciente11. As intervenções de enfermagem são centrais para
promover uma comunicação eficaz e terapêutica,
otimizando a recuperação e influenciando positivamente a
experiência de viver com sucesso com esta condição
clínica12.
As pessoas que experienciam a afasia de Broca não podem
comunicar as mudanças nesse momento. Devido a isto,
relatos de pessoas que recuperaram da afasia ou que se
podem expressar são vitais para compreender a experiência
da afasia de Broca13. A narração do “mundo interno” é uma
fonte vital de informação para compreender a experiência
de viver sem linguagem13. A experiência é o que nos
acontece, o que nos toca e quando nos atinge, molda-nos e
transforma-nos14. Neste contexto, o conhecimento da
experiência é sobre o significado do que aconteceu14, como
a pessoa interpreta, compreende e explica esta experiência,
o que pressupõe uma reflexão individual15. As experiências
de doença estão cheias de significados16, que podem ser
compreendidas através do significado atribuído por aqueles
que as vivenciaram. Compreender a experiência individual
da pessoa que passou por um período de afasia de Broca, a
partir de uma perspetiva retrospetiva e não de uma
experiência vivida imediatamente, aumenta a compreensão
do fenómeno e revela verdades subjetivas. A experiência é
sempre subjetiva, individual e única, incluindo a experiência
da afasia de Broca.
Numa pesquisa preliminar não foi encontrada nenhuma
revisão da literatura sobre a experiência de ter vivido um
período de afasia de Broca, a partir da perspetiva das pessoas
que viveram esta condição clínica. Assim, a elevada
prevalência de AVC’s, sendo a principal causa da afasia2 e o
impacto deste distúrbio linguístico na vida da pessoa,
justificaram a necessidade de desenvolver esta Scoping Review.
Além de mapear e relatar as evidências existentes, esta
revisão irá clarificar conceitos-chave e identificar lacunas no
conhecimento sobre a experiência de ter vivido com afasia
de Broca17. É crucial diminuir o fosso entre a perspetiva das
pessoas que viveram este fenómeno e as perspetivas
externas sobre a afasia18.
Objetivos
O principal objetivo desta Scoping Review é mapear a
evidência científica disponível sobre a experiência dos
adultos que viveram um período de afasia de Broca de
acordo com a sua perspetiva, independentemente da
etiologia. Mais especificamente, o objetivo desta revisão é
identificar o que as pessoas relatam sobre a sua experiência
de afasia de Broca, o impacto e as mudanças, os
sentimentos e necessidades que emergiram, os fatores que
influenciaram a experiência, o apoio e os recursos que
tiveram e que gostariam de ter tido, sempre na perspetiva
do indivíduo.
Explorar as experiências das pessoas com afasia pode
melhorar a qualidade dos cuidados19. Assim, a
compreensão adquirida nesta revisão e a translação destes
conhecimentos para a prática podem melhorar os cuidados
de saúde prestados às pessoas com afasia de Broca,
incluindo a qualidade dos cuidados de enfermagem, através
da implementação de intervenções de enfermagem mais
eficientes que respondam às necessidades desta população.
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023 | 19
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
Este conhecimento também pode ser importante para
pessoas com outras perturbações linguísticas e pode
contribuir para melhorar os resultados em saúde.
Métodos
Foi desenvolvida uma Scoping Review seguindo a metodologia
do Instituto Joanna Briggs como um guia para uma pesquisa
transparente que permite compreender e replicar todo o
caminho20. A revisão foi baseada na questão da investigação:
"Como é relatada pela pessoa a experiência de ter vivido um período de
afasia de Broca?". Foi formulada de acordo com a estratégia
PCC: P=População (adultos que experienciaram afasia de
Broca); C=Conceito (relato da experiência de afasia de
Broca); C=Contexto (ambulatório e hospitalar). Este estudo
adere à lista de verificação PRISMA-ScR EQUATOR.
Critérios de Elegibilidade
Critérios de inclusão do estudo:
População: adultos com 19 anos ou mais (de acordo
com a definição de adulto da Organização Mundial de
Saúde21) sem limite máximo de idade, que tenham
vivido um período de afasia de Broca (ou afasia de
expressão ou afasia não fluente) ou que ainda se
encontrem em recuperação mas que sejam capazes de
se expressar.
Conceito: A experiência da afasia de Broca na
perspetiva dos participantes, independentemente da
etiologia da afasia de Broca. O que as pessoas relatam
(por exemplo, citação direta, dados de entrevistas) sobre
a experiência de afasia de Broca, o impacto, mudanças,
sentimentos, necessidades específicas, estratégias e
recursos utilizados, fatores que influenciaram a
experiência e que apoios e recursos gostariam de ter
tido.
Contexto: contexto ambulatório e hospitalar.
Estudos primários, artigos teóricos, revisões da
literatura e relatos de experiências em inglês, espanhol e
português, independentemente do ano de publicação,
publicados em revistas periódicas, com acesso ao texto
integral.
Critérios de exclusão do estudo:
População: crianças; participantes que são
diagnosticados apenas com outros tipos de afasia;
participantes que têm afasia crónica (afasia crónica foi
definida como coexistindo pelo menos há um ano após
a lesão que a causou22); participantes que não se
conseguem expressar; participantes que têm
dificuldades de comunicação resultantes de perda
sensorial, demência, delírio, ou coma; participantes que
são diagnosticados apenas com perturbações motoras
da fala resultantes de fraqueza muscular ou
descoordenação.
Conceito: experiências apenas da perspetiva de
cuidadores, cônjuges, amigos, e profissionais de saúde.
Fontes de informação e estratégia de pesquisa
A pesquisa foi realizada em Novembro de 2022. Foi
adotada uma estratégia que engloba três fases20. A primeira
etapa incluiu uma pesquisa nas bases de dados
MEDLINE® (Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online Complete) e CINAHL® (Cumulative Index
to Nursing and Allied Health Literature Complete),
utilizando termos em linguagem natural. Posteriormente, os
títulos e as palavras dos resumos foram analisados, assim
como as palavras indexadas utilizadas para descrever o
artigo, o que nos permitiu identificar termos de pesquisa
relevantes para esta Scoping Review. Na segunda fase, foi
realizada uma pesquisa nas base de dados MEDLINE®;
CINAHL®; Psychology and Behavioral Sciences
Collection (via EBSCO) e Scopus utilizando termos de
pesquisa em linguagem natural e termos de indexação
DeCS e MeSH em todos os campos dos artigos sem
selecionar um campo específico, aplicando os operadores
booleanos "OR" e "AND", como explicitado na Tabela 1.
A terceira fase da pesquisa incluiu a análise das listas de
referências dos artigos selecionados para esta revisão, a fim
de encontrar estudos complementares importantes para
responder à pergunta de investigação.
Frade, A.
Artigo de revisão
Tabela 1 Termos de pesquisa utilizados nas bases de dados
Seleção das fontes de evidência
Após a pesquisa nas bases de dados, os artigos identificados
foram transferidos para a ferramenta eletrónica Rayyan
para organizar os resultados e remover os duplicados. A
seleção dos estudos foi efetuada de acordo com os critérios
de elegibilidade de inclusão e exclusão. Começou-se com a
leitura dos títulos e resumos, seguida da leitura do texto
completo dos estudos identificados para elegibilidade. Os
estudos que não preenchiam os critérios de inclusão foram
excluídos. Dois revisores efetuaram a seleção das fontes de
evidência. O consenso dos revisores independentes resolveu
as discrepâncias na inclusão ou exclusão dos artigos.
Colheita de dados e síntese dos resultados
Para extrair informação relevante dos estudos incluídos na
revisão, foi construído um instrumento (tabela) no
Microsoft Excel, baseado nas diretrizes do Instituto
Joanna Briggs20. Este quadro inclui informação sobre o(s)
autor(es), ano de publicação, país, objetivos, participantes,
metodologia, etiologia da afasia, conceito (experiência de
afasia de Broca) e contexto.
Resultados
Seleção das fontes de evidência
Um total de 1012 artigos foram obtidos a partir da pesquisa
nas bases de dados CINAHL®, MEDLINE®, Psychology
and Behavioral Sciences Collection e Scopus.
Após a remoção dos duplicados, foram obtidos 961 artigos.
A seleção dos estudos foi efetuada de acordo com os
critérios de inclusão e exclusão. Após leitura do título e
resumo, 905 artigos foram excluídos porque não estavam
relacionados com o tema e não cumpriam os critérios de
inclusão. 56 artigos foram procurados para recuperação,
mas não foi possível recuperar 2 artigos. 54 artigos foram
avaliados para elegibilidade. Após análise, 44 artigos foram
excluídos: 15 porque os participantes eram pessoas com
afasia crónica; 23 por não abordarem a experiência da afasia
de acordo com a perspetiva do participante; 2 porque o foco
não era o fenómeno em estudo e 4 porque abordam
somente outros tipos de afasia. Destes artigos, 10 foram
incluídos na revisão. Da análise das referências dos estudos
incluídos, foram adicionados mais 7 artigos, totalizando 17
artigos no final. O fluxograma do PRISMA 202020 (Figura
1) apresenta o processo de seleção dos estudos.
MEDLINE
PSYCHOLOGY AND
BEHAVIORAL SCIENCES
COLLECTION
SCOPUS
(Narrati* OR (MH "Narration") OR
(MH "Narrative Medicine") OR Life
Histories OR Report*)
AND
((Experience* OR Life Experience*
OR (MH "Life Change Events") OR
Psychosocial Aspects of Illness OR
Psychosocial adjustment)
AND
(Aphasi* OR (MH "Aphasia, Broca")
OR (MH "Speech Disorders") OR
Communicat* Disorders OR
Communicat* Difficulties))
(Narrati* OR Life Histories
OR Report*)
AND
((Experience* OR Life
experience* OR Life Change
Events OR Psychosocial
Aspects of Illness OR
Psychosocial adjustment)
AND
(Aphasi* OR Broca Aphasia
OR Speech Disorders OR
Communicat* Disorders OR
Communicat* Difficulties))
(Narrati* OR Life Histories OR
Report*)
AND
((Experience* OR Life
experience* OR Life Change
Events OR Psychosocial Aspects
of Illness OR Psychosocial
adjustment)
AND
(Aphasi* OR Broca Aphasia OR
Speech Disorders OR
Communicat* Disorders OR
Communicat* Difficulties))
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023 | 21
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
Figura 1 - PRISMA 2020 flow chart15
Características dos estudos incluídos
Foram identificados dezassete artigos publicados entre 1961
e 2022. Foram desenvolvidos sete estudos na
Austrália23,24,29,30,31,37,38, cinco nos Estados Unidos da
América26,32,33,34,35, dois no Reino Unido27,36, um na
Holanda28, um na Nova Zelândia25 e um na Argentina13. A
metodologia utilizada nos artigos selecionados variou entre
estudos qualitativos primários23,24,25,26,27,28,30,31,33,34,36,37,38,
relatórios de experiência29,32 e artigos teóricos que contêm
relatos de experiência na primeira pessoa13,35. A etiologia da
afasia nos artigos analisados foi, na sua grande maioria, o
AVC.
É essencial afirmar a dificuldade em encontrar estudos
apenas com pessoas diagnosticadas com afasia de Broca. A
justificação provavelmente é porque, na maioria das
situações, o maior problema ocorre na expressão, mas
muitas vezes não é único, rigoroso, específico e não ocorre
isoladamente. Na pesquisa efetuada, não foi encontrado
nenhum artigo exclusivamente sobre a experiência da afasia
de Broca com participantes que apenas experienciaram
afasia de Broca, sem outros distúrbios linguísticos
associados. Um artigo relata a experiência de afasia de Broca
e de apraxia de fala35. Ainda assim, todos os artigos
selecionados para esta revisão incluem participantes
diagnosticados com afasia de Broca, ou afasia de expressão
ou afasia não fluente.
Apenas um estudo relata explícita e em específico o impacto
da escrita na experiência da afasia de Broca36. Todos os
outros artigos incluídos nesta revisão abordam
principalmente, ou apenas, as perturbações linguísticas
relativas à comunicação oral.
Síntese dos resultados
A análise dos estudos selecionados permitiu-nos responder
à questão de investigação. Os resultados extraídos desta
Scoping Review variaram entre o impacto da afasia de Broca,
que afeta as diferentes dimensões de uma pessoa, fatores
inibidores e fatores facilitadores de viver com sucesso com
esta condição clínica. A seguinte Tabela 2 permite visualizar
Registos identificados nas bases de dados
(n= 1012):
CINAHL (n= 162)
MEDLINE (n= 489)
Scopus (n= 196)
Psychology and Behavioral Science
(n= 165)
Registos removidos antes da triagem:
Registos duplicados removidos
(n= 51)
Registos triados
(n= 961)
Registos excluídos depois da leitura dos
títulos e dos resumos
(n= 905)
Registos procurados para recuperação
(n= 56)
Registos que não foi possível recuperar
(n= 2)
Registos avaliados para elegibilidade
(n= 54)
Registos excluídos (n= 44):
- Participantes com afasia crónica (n= 15)
- Não aborda a experiência da afasia de acordo com a
perspetiva do participante
(n= 23)
- O foco não é o fenómeno em estudo
(n= 2)
- Abordam somente outros tipos de afasia (n= 4)
Estudos incluídos na revisão
(n= 10)
Registos dos estudos incluídos
(n= 7)
Identificação
Triagem
Incluídos
Frade, A.
Artigo de revisão
os resultados extraídos dos artigos analisados e enquadrá-los
com a questão e objetivos da revisão.
Tabela 2 Extração dos resultados
Autore(s)/
ano/ país
Objetivos
Metodologia
População
Conceito: experiência de Afasia de Broca
Contexto
S1 - Ardila A
e Rubio-
Bruno S13
2017
Argentina
Analisar como
as pessoas com
afasia
experimentam o
mundo e o que
relatam sobre a
experiência de
viver sem
linguagem
Artigo teórico
(contém um
relato de
experiência na
primeira
pessoa)
Adultos com
afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
Broca
- As pessoas com afasia vivem num mundo cognitivo idiossincrático.
O mundo cognitivo interno é alterado pela ausência de linguagem.
As estratégias cognitivas precisam de ser reorganizadas ("Tive de
reinventar o mundo à minha volta porque este universo estava só em palavras");
a inteligência (verbal) está comprometida;
- Na afasia, apenas estímulos externos estão disponíveis. Perde-se
uma dimensão particular do mundo (linguagem) e apenas a
informação visual-percetual permanece ("E de repente as palavras
desapareceram");
- As competências não verbais são por vezes afetadas na afasia;
- "não era importante descobrir a beleza, uma vez que esta não pode ser
expressa em palavras".
Não
especificado
S2 -
Armstrong E
et al.23
2012
Australia
Apresentar
histórias de viver
com afasia
Qualitativa
Duas pessoas
com afasia de
expressão que
já se podem
expressar e
uma pessoa
que teve
afasia (não
especificada)
mas
recuperou
rapidamente
- Durante a hospitalização, era importante encontrar pessoas para
não se sentirem isoladas ou a única com um problema;
- Frustração devido a dificuldades e falhas, e com algumas atividades
terapêuticas (dificuldade ou não ser capaz de executar tarefas
simples);
- Ênfase na utilização do humor para ajudar;
- Importância da independência para dirigir a própria recuperação da
comunicação;
- Leitura quotidiana do jornal para ajudar a recuperar a linguagem;
- Conversar com os animais em casa para praticar a fala;
- Sentimento que pode ajudar-se a si próprio de forma mais eficaz
do que os terapeutas da fala;
- Era importante sentir-se ligado à família e aos amigos e falar com
eles.
Ambulatório
S3 - Baker C
et al.24
2020
Australia
Descrever, na
perspetiva das
pessoas com
afasia, a
experiência de
mudanças de
humor,
depressão e
prática atual;
descrever as
preferências no
âmbito de uma
abordagem de
cuidados
psicológicos
faseados.
Qualitativa
Dez adultos
com afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Todos os participantes experimentaram mudanças de humor, mas
não experimentaram cuidados psicológicos graduais na reabilitação;
- O início é traumático, com mudanças negativas de humor e
depressão, com consequências emocionais, sociais e
comportamentais negativas (evasão social, humor baixo persistente,
tristeza e afastamento da reabilitação);
- As pessoas tentam ultrapassar as dificuldades de comunicação e
disposição com apoio psicológico limitado e serviços de reabilitação
(o baixo humor e a depressão raramente são abordados e as pessoas
nem sempre são apoiadas para serem independentes ou tomarem
decisões sobre reabilitação com impacto no humor);
- Positividade, apoio à comunicação e acesso a intervenções
terapêuticas individualizadas seriam essenciais, através de cuidados
psicológicos graduais para melhorar os resultados da reabilitação.
Ambulatório
e Hospitalar
S4 - Bright F
et al.25
2013
Nova
Zelândia
Explorar como a
esperança foi
experienciada
por pessoas com
afasia e
identificar os
fatores que a
influenciam
Qualitativa:
descrição
interpretativa
Cinco pessoas
com afasia:
uma com
afasia de
Broca, três
com afasia
anómica e
uma com
afasia de
condução
- A esperança é fluida, muda frequentemente e num curto espaço de
tempo, e é importante;
- Parece estar relacionada com a forma como as pessoas se envolvem
na reabilitação e pode ser influenciada;
- Fatores que influenciam a esperança: família, amigos, profissionais
de saúde (quer apoiando ou reduzindo) e outros pacientes; incerteza
sobre o futuro; ver a esperança com uma dupla face (aspeto positivo
e negativo) e uma sensação de disrupção (na identidade e/ou
envolvimento em atividades significativas).
Ambulatório
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023 | 23
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
S5 - Carcello
K e Susan
M26
2020
Estados
unidos da
América
Obter uma
maior
compreensão do
uso terapêutico
dos blogs para
os sobreviventes
de AVC com
afasia numa
perspetiva psico-
socio-emocional
Análise
qualitativa
indutiva do
conteúdo
Cinco
sobreviventes
de AVC com
afasia: dois
com afasia de
Broca e três
com um tipo
desconhecido
de afasia
Os participantes utilizavam blogs para explorar o que era viver com
afasia:
- Dificuldade em comunicar, escrever e interagir com outros
expressando as suas respostas emocionais e experiências pessoais;
- Perda das palavras: "Estou constantemente a tentar encontrar a palavra que
preciso"; a devastação da afasia e o impacto emocional: "o discurso em
que eu costumava confiar para viver desapareceu...Dói ter de procurar palavras".
- Processo de escrita: "por vezes não me consigo lembrar da palavra que
quero. Por vezes, deixo de fora várias palavras. A minha ortografia é horrível.
Mas o que mais me dói é a gramática ... esta coisa de escrever é difícil";
- A afasia afeta a autoexpressão e muitas vezes a auto-concepção e
identidade: "Antes, eu podia falar de forma inteligente e pensar corretamente.
Depois disto, estou virtualmente mudo (...)".
Não
especificado
S6 - Clancy L
et al.27
2018
Reino Unido
Explorar a
experiência dos
sobreviventes de
AVC com afasia,
prestadores de
cuidados e
profissionais de
saúde
Qualitativa
Seis
sobreviventes
de AVC com
afasia
(incluindo
adultos com
afasia de
expressão),
dez prestado-
res de
cuidados e
seis profissio-
nais de saúde
- A afasia tem um impacto emocional;
- "Interações" e "contexto" podem ajudar ou dificultar o processo
de fazer sentido, a carga emocional e o envolvimento na reabilitação;
- Foram identificados três grandes temas: "estar num país estrangeiro",
"encontrar uma voz" e "ser apenas um número".
Ambulatório
e Hospitalar
S7 -
Dalemans RJ
et al.28
2010
Holanda
Explorar como
as pessoas com
afasia percebem
a sua
participação na
sociedade e
investigar os
fatores que a
influenciam,
centrando-se nas
experiências e
perspetivas
individuais
Qualitativa
Treze adultos
com afasia
(incluindo
adultos com
afasia de
expressão) e
doze
prestado-res
de cuidados
- O envolvimento e o sentimento de pertença em atividades sociais
(a qualidade das atividades é mais importante do que a quantidade);
- As pessoas com afasia sentem-se isoladas, mas querem sentir-se
envolvidas;
- Sentimento de ser um fardo para os outros, de querer funcionar
normalmente;
- Incapacidade de trabalhar regularmente, desejando contribuir de
outras formas;
- Sentir-se estigmatizado, desejando ser respeitado;
- Fatores que influenciam o envolvimento na participação social:
Fatores pessoais: motivação, condição física e psicológica e
capacidades de comunicação;
Fatores sociais: o papel cuidador central e as características
do(s) parceiro(s) de comunicação, nomeadamente vontade,
aptidões e conhecimentos;
Fatores ambientais: paz no lar e familiaridade.
Ambulatório
S8 - Green C
e Waks L29
2008
Australia
Partilhar a
recuperação da
linguagem
(capacidade de
expressão) de
uma pessoa com
afasia
Relato de
experiência
Adulto com
afasia de
expressão que
recuperou
muito
- "Não tinha palavras para me expressar"; "No hospital, não lidam bem com
afasia ou problemas de linguagem. Se uma pessoa não consegue comunicar, todo
o sistema colapsa"; "Tive de reconstruir a minha vida"; "O progresso tem sido
muito lento"; "Descobri que mesmo as coisas mais simples eram difíceis";
"Contactar com uma pessoa que passou por uma situação semelhante na
reabilitação deu-me um vislumbre de esperança";
- Quando chegou a casa não quis entrar e sentiu que não pertencia
lá, como um estranho na sua própria casa. Embora ele fosse amado,
a vida mudou;
- "Quatro meses depois, só tinha uma mão cheia de palavras"; "Senti que tinha
perdido a coisa mais importante da minha vida. o vi o futuro"; "Quem me
dera não estar vivo"; Nove meses após o AVC, teve de renunciar à sua
posição; "Eu estava a recuperar a linguagem com o tempo, mas não conseguia
ver isso"; "Senti que a linguagem estava presa"; "Aprendi a desfrutar novamente
da vida"; "A recuperação é extremamente difícil, e as pessoas sentem que
perderam algo e lamentam; "Perdemos os nossos sonhos, a esperança e o futuro
planeado"; "Perdemos a nossa confiança".
Ambulatório
S9 - Grohn B
et al.30
2012
Australia
Descrever a
experiência dos
primeiros três
meses após o
AVC; identificar
os fatores que
facilitam o
sucesso de saber
viver com afasia
Qualitativa:
um estudo
prospetivo
longitudinal
Quinze
pessoas com
afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Fatores que facilitam o sucesso de viver com afasia:
- Estar envolvido na recuperação ser independente. sentir-se no
controlo da vida e ter um objetivo na vida;
- Realizar atividades para melhorar a comunicação: ler, sudoku,
Scrabble, escrever uma lista de compras, utilizar o computador e o
telefone, trabalhos de casa prescritos por terapeutas;
- Apoio social e envolvimento da família e amigos (incluindo a
utilização de estratégias de comunicação) para ajudar a restaurar a
confiança e a sentir-se competente;
- Conhecer pessoas no hospital e terapia de grupo (fonte de apoio,
coragem e motivação);
Ambulatório
e Hospitalar
Frade, A.
Artigo de revisão
- Importância da reabilitação, terapia da fala e profissionais de saúde
(importante na recuperação da linguagem, para interações sociais,
fonte de informação, motivação, coragem e confiança);
- Adaptação (utilizando estratégias para melhorar a comunicação);
- Ter uma perspetiva positiva (otimismo, esperança, determinação e
gratidão);
- A incapacidade de participar em atividades que definem o papel e
a identidade anterior leva à angústia sobre o futuro e tem impacto
sobre a identidade/self.
S10 - Grohn
B et al.31
2014
Australia
Descrever a
perspetiva
interior do que é
importante para
viver com
sucesso com
afasia e as
mudanças no
primeiro ano
Qualitativa:
estudo
prospetivo
longitudinal
Quinze
pessoas com
afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- A perceção de melhorias na comunicação;
- Avançando ativamente através de ações positivas e envolvimento
em atividades significativas;
- Apoio social, família e amigos;
- Manter positividade sobre o futuro.
Ambulatório
S11 - Hall
WA32
1961
Estados
Unidos da
América
Não
mencionado
Relato de
experiência
Um adulto
que experien-
ciou afasia de
expressão
- Incapacidade de comunicar sentimentos;
- Não aceitar a incapacidade de falar;
- Sentimentos de piedade e piedade da família e outros;
- Sentimentos de autorrejeição e de inutilidade recebidos com
palavras reconfortantes em vez de rejeição;
- Visitas invadiram o mundo privado;
- Ansiedade;
- A fala e a escrita eram incompatíveis com processos de pensamento
simultâneos;
- O discurso era inadequado para a competição e o sucesso no
mercado de trabalho;
- A importância da terapia da fala e da psicoterapia na reabilitação da
fala.
Hospitalar
S12 - Holland
AL et al.33
2010
Estados
Unidos da
América
Fornecer ideias
sobre
tópicos/con-
teúdo para
tratamento que
sejam
significativas
para as pessoas
com afasia
Qualitativa
Trinta e três
adultos com
afasia (vinte e
nove com
afasia não
fluente)
- Falar sobre as suas experiências de vida, restabelecer a ligação com
as famílias e concentrar-se na comunicação sobre os seguintes
tópicos:
História da vida;
Orações, testemunhos, discursos e palestras;
Interesses externos;
Fazer planos;
Falar com a família e outras pessoas e falar sobre trabalho;
Pesquisar ou fornecer informações (sobre estranhos, sobre a
família; fazer e responder a perguntas);
Fazer um pedido num restaurante;
Telefone.
Não
especificado
S13 - Laures-
Gore JS et
al.34
2018
Estados
Unidos da
América
Explorar a
experiência
espiritual dos
adultos com
afasia, para
compreender o
papel da
espiritualida-de
na recuperação
Qualitativa
Treze adultos
com afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- A espiritualidade pode contribuir para a recuperação, compreensão
e aceitação das mudanças da vida (estratégia de sobrevivência): como
um poder maior no controlo dos acontecimentos e como auxiliar;
- Outras pessoas são essenciais para a recuperação da afasia (relações
sociais imbuídas de significado espiritual), que oferecem uma melhor
qualidade de vida, a oportunidade de praticar a linguagem e
motivação para a comunicação, que são importantes na procura de
significado;
- Outras formas de lidar espiritualmente com o stress podem
amplificar as reações negativas ao stress e levar as pessoas a adotar
comportamentos inadequados.
Não
especificado
S14 -
Simmons-
Mackie N e
Kagan A35
2007
Estados
Unidos da
América
Descrever a
afasia utilizando
a ICF
Organização
Mundial de
Saúde; abordar o
impacto dos
fatores
contextuais na
experiência da
afasia e a
participação em
atividades de
vida
Artigo teórico
(contém um
relatório de
experiência na
primeira
pessoa)
Um adulto
relata a sua
experiência de
afasia de
Broca e de
apraxia da fala
- Experiência de severas limitações de atividade e restrições de
participação;
- Proteção da família, eliminação de responsabilidades e evitar
atividades, que criam barreiras à participação em situações da vida.
- Sentimentos de incompetência e dependência (níveis de confiança,
otimismo e identidade pessoal são influenciados pelo ambiente
social e desempenho. Quando a confiança e a autoestima diminuem,
são criadas barreiras pessoais à participação).
- A terapia concentrou-se em (1) melhorar a fala e a linguagem
expressiva, (2) obter as capacidades comunicativas necessárias para
realizar as tarefas domésticas, (3) aprender estratégias
compensatórias para participar em interações, (4) regressar às
atividades (5) reduzir as barreiras à participação (formação dos
parceiros para ajudar a eliminar as barreiras de atitude e terapia de
grupo para desenvolver capacidades de conversação e confiança).
Não
especificado
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023 | 25
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
S15 - Thiel L
eConroy P36
2022
Reino Unido
Explorar as
experiências de
pessoas com
afasia que vivem
com dificuldades
de escrita
relacionadas
com a linguagem
e o impacto nas
suas vidas
Qualitativa
Oito pessoas
com afasia
pós AVC e
dificuldades
de escrita
(incluindo
adultos com
afasia de
Broca)
- A participação na sociedade, autoestima e confiança foi afetada por
dificuldades de escrita.
Ambulatório
S16 - Worrall
L et al.37
2011
Australia
Compreender o
que as pessoas
com afasia
pretendem dos
serviços;
descrever os
objetivos das
pessoas com
afasia;
codificar os
objetivos de
acordo com a
ICF
Qualitativa:
Descriptive
Cinquenta
adultos com
afasia pós-
AVC,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Desejo de voltar à vida anterior, comunicar necessidades básicas e
opiniões (sentimentos de frustração, desesperança, isolamento e
depressão);
- A afasia tinha uma prioridade mais elevada do que as deficiências
físicas;
- Necessidade de a reabilitação da comunicação estar ligada à vida
real e de fomentar a confiança;
- Desejo de informação sobre a afasia (a comunicação comprometida
dificultava a obtenção de informação adequada), serviços
disponíveis, prognóstico, fases da terapia e da reabilitação (ter
informação que permitisse tomar o controlo e participar nas decisões
sobre a terapia e a reabilitação);
- Desejo de mais terapia da fala, maior autonomia, dignidade e
respeito;
- Importância do envolvimento em atividades sociais, de lazer e de
trabalho, bem como a recuperação da saúde física;
- Desejo de ajudar os outros;
- Os objetivos estão sobretudo ligados a Atividades e Participação,
Fatores Ambientais, Funções Corporais, e Estruturas, e Fatores
Pessoais.
Ambulatório
S17 - Worrall
LE et al.38
2017
Australia
Determinar os
fatores que
contribuem para
o sucesso de
saber viver bem
com afasia nos
primeiros doze
meses após um
AVC
Qualitativa:
estudo de
coorte
longitudinal
prospetivo
Cinquenta e
oito adultos
com afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Maior rendimento familiar, maior dimensão da rede social, ser
mulher e ter afasia mais suave foram positivamente associados;
- Níveis educacionais de graduação ou pós-graduação, humor em
baixo e mau funcionamento físico foram negativamente associados
à participação;
- Os aspetos psicossociais foram os preditores mais significativos;
- Os profissionais podem ajudar os cônjuges a comunicar
eficazmente com a pessoa com afasia, ajudar a regressar ao trabalho,
assegurando que a pessoa com afasia está segura e bem cuidada e
assegurar que têm acesso à informação.
Ambulatório
e Hospitalar
Legenda: S Estudo
Estes resultados foram agrupados de acordo com as
dimensões da estrutura A-FROM9 e são apresentados na
Tabela 3, para facilitar a visualização e interpretação dos
dados. No campo da Ambiente de comunicação e linguagem,
foram incluídos todos os elementos externos à pessoa que
afetam positiva e negativamente a comunicação e
linguagem, tais como os serviços e atitudes de outras
pessoas. O domínio da Linguagem e deficiências relacionadas
incluem mudanças na linguagem e no processo de
comunicação e fatores facilitadores e inibidores que
influenciam a recuperação. A dimensão da Identidade pessoal,
atitudes e sentimentos compreende informação relacionada
com a forma como os pacientes se vêm a si próprios, como
vêm afasia e enfrentam o futuro, sentimentos e atitudes,
bem como fatores facilitadores e inibidores. A área de
Participação em situações da vida inclui dados sobre relações,
papéis, responsabilidades, participação em atividades e
condições facilitadoras e inibidoras9. Os dados associados à
identidade pessoal, atitudes e sentimentos, e participação
em situações de vida, foram mais frequentemente
mencionados nesta revisão bibliográfica, seguidos pela
linguagem e deficiências relacionadas e o ambiente de
comunicação e linguagem, respetivamente.
Frade, A.
Artigo de revisão
Tabela 3 Apresentação dos resultados (adaptado de A-FROM)7
EXPERIÊNCIA DE AFASIA DE BROCA
AMBIENTE DE
COMUNICAÇÃO E
LINGUAGEM
Fatores facilitadores - Estratégias de apoio e de comunicação; intervenções terapêuticas individualizadas;
interações e contexto; família e cuidadores; terapia da fala e profissionais de saúde; "Encontrar uma voz" (a voz de
um ente querido); apoio socialS3;S6;S9.
Fatores inibidores - Serviços de reabilitação limitados; ambiente hospitalar (ruidoso, acelerado, em constante
mudança, não propício a uma comunicação eficaz; utilização inconsistente de estratégias de comunicação);
interações e contexto; dificuldade no hospital em lidar com pessoas com afasiaS3;S6;S8.
LINGUAGEM E
DEFICIÊNCIAS
RELACIONADAS
Experiência - Dificuldade ou incapacidade em comunicar através das palavras (incluindo a expressão de
sentimentos e experiências pessoais); dificuldade em escrever; o mundo cognitivo interno está alterado; as
competências não verbais podem ser afetadas; só restam estímulos externos e informação visual-percetiva, que
adquirem particular importância; a inteligência (verbal) está comprometida; "Tinha a linguagem presa"; necessidade
de utilizar estratégias para melhorar a comunicação; a fala e a mão eram incompatíveis com processos de
pensamento simultâneos; bloqueio ou dificuldade em aceder a informação e a serviçosS1;S5;S8;S9;S11;S16.
Fatores facilitadores - Ler o jornal todos os dias; falar com os animais; Independência para dirigir a própria
recuperação da comunicação;; sensação de se poder ajudar a si próprio; positividade; intervenções terapêuticas
individualizadas; esperança; estratégias de comunicação; leitura, sudoku, Scrabble, escrever uma lista de compras,
usando o computador, telefone, trabalhos de casa prescritos por terapeutas; reabilitação, terapia da fala e
profissionais de saúde; espiritualidadeS2;S3;S4;S9;S11;S13.
Fatores inibidores - A recuperação é extremamente difícil e o progresso é muito lento S8.
IDENTIDADE PESSOAL,
ATITUDES E
SENTIMENTOS
Experiência - Devastação e impacto emocional; necessidade de reinventar o mundo à volta e reconstruir a vida,
que mudou completamente; mudanças na interpretação emocional do mundo; sentimento de frustração devido
a dificuldades, fracassos e com algumas das atividades terapêuticas; mudanças negativas de humor e depressão,
com consequências emocionais, sociais e comportamentais negativas (evasão social, humor em baixo, tristeza
persistente e afastamento da reabilitação); sensação de "estar num país estrangeiro" (incerteza, desconhecido,
confusão) e o choque de estar doente; sensação de rutura; experiência de rutura biográfica com a necessidade de
dar sentido a esta nova realidade; sensação de ser apenas um número, sem ser visto como um indivíduo único e
sensação de isolamento; sensação de ser um fardo para os outros; frequentemente sentem-se estigmatizados, mas
desejam ser respeitados; sentir-se um estranho na sua própria casa (sensação de não pertença); sensação de ter
perdido o mais importante e de se arrependerem; incapacidade de prever um futuro; sensação de não querer estar
vivo; perda de sonhos, de esperança, do futuro planeado e de confiança; sentimentos de angústia sobre o futuro;
impacto na identidade/self; não aceitar a incapacidade de falar; sentimentos de pena e piedade dos outros,
autorrejeição e sentimento de inutilidade; ansiedade; sentimentos de incompetência e dependência; diminuição
da confiança, do otimismo e da autoestima; sentimentos de frustração, desesperança, isolamento; desejo de
regressar à vida anterior e de comunicar as suas necessidades e opiniõesS1;S2;S3;S5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15;S16.
Fatores facilitadores - Utilização do humor; conhecer pessoas no hospital, em terapia de grupo e na relação
estabelecida com os terapeutas (fonte de apoio, coragem e motivação); família e amigos; acesso a intervenções
terapêuticas individualizadas através de cuidados psicológicos graduais; ter uma visão positiva (otimismo,
esperança, determinação e gratidão); esperança; interações e contexto; cuidadores; sentimento de ser ouvido pela
equipa; recuperação; "Encontrar uma voz" (a sua própria voz); contacto com uma pessoa que tenha passado por
uma situação semelhante; sentir-se amado; perceção de melhorias na comunicação, envolvimento em atividades
significativas; manter a positividade sobre o futuro; terapia da fala e psicoterapia; espiritualidade; maior
rendimento familiar, autoavaliação da vida bem sucedida com afasia e ter afasia mais leveS2;S3;S4;S6;S8;S9;S10;S11;S13;S17.
Fatores inibidores - Algumas atividades terapêuticas (dificuldade ou incapacidade em executar tarefas simples);
apoio psicológico e serviços de reabilitação limitados (humor em baixo e depressão raramente são abordados na
reabilitação); interações e contexto; procedimentos são feitos para as pessoas em vez de serem feitos com as
pessoas; o foco dos profissionais de saúde estava na sua condição física, contribuindo para a falta de atenção às
necessidades psicológicas e objetivos sociais; ser infantilizado e despersonalizado; visitas que invadem o mundo
privadoS2;S3;S6;S11.
PARTICIPAÇÃO EM
SITUAÇÕES DE VIDA
Experiência - Dependência dos outros; frequente incapacidade para trabalhar; desejo de contribuir para a
comunidade de outras formas; necessidade de desistir do emprego; limitações de atividades severas, dificuldade
em executar tarefas, necessitando de mais tempo para executar atividades; restrições de participação;
incapacidade de competir e de ter sucesso no mercado de trabalho; impacto na participação na
sociedadeS5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15.
Fatores facilitadores - Ter uma visão positiva (otimismo, esperança, determinação e gratidão); recuperação;
independência; interações e contexto; "Encontrar uma voz"; grau de envolvimento, empenho e sentimento de
pertença em atividades sociais (a qualidade das atividades é mais importante que a quantidade), lazer e trabalho;
motivação, condição física e psicológica e competências comunicacionais; cuidador e as características do(s)
parceiro(s) de comunicação (vontade, aptidões e conhecimentos); paz no lar e familiaridade; sentimento de estar
no comando ou no controlo da vida e de ter um objetivo na vida; falar sobre experiências de vida, restabelecer a
ligação com a família e focar-se na comunicação sobre temas que lhes sejam significativos; terapia da fala e
estratégias de comunicação compensatórias; redução de barreiras à participação (formação e aconselhamento de
parceiros e terapia de grupo); informação sobre a afasia, serviços disponíveis, prognóstico e fases de reabilitação;
dignidade e respeito; maior rendimento familiar, maior rede social, ser do sexo feminino e ter afasia mais
leveS2;S3;S6;S7;S9;S10;S12;S14;S16;S17.
Fatores inibidores - As pessoas nem sempre são apoiadas para serem independentes ou tomarem decisões;
interações e contexto; funcionamento físico e fadiga; proteção da família, removendo responsabilidades; barreiras
pessoais internas (medo do fracasso, sentimentos de incompetência e dependência, baixa confiança, baixa
autoestima e negativismo); níveis de escolaridade de graduação ou pós-graduação, humor deprimidoS3;S6;S9;S14;S17.
Legend: S – Study
S1 - Ardila A and Rubio-Bruno S, 201713; S2 - Armstrong E et al., 201223; S3 - Baker C et al., 202024; S4 - Bright F et al., 201325 ; S5 - Carcello
K and Susan M, 202026;
S6 - Clancy L et al., 201827; S7 - Dalemans RJ et al., 201028; S8 - Green C and Waks L, 200829; S9 - Grohn B et al., 201230; S10 - Grohn B et
al., 201431;
S11 – Hall WA, 196132; S12 - Holland AL et al., 201033; S13 - Laures-Gore JS et al., 201834; S14 - Simmons-Mackie N and Kagan A, 200735;
S15 - Thiel L and Conroy P, 202236; S16 - Worrall L et al., 201137; S17 - Worrall LE et al., 201738
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023 | 27
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
Identidade pessoal, atitudes e sentimentos
Emergiu a necessidade de reinventar o mundo e reconstruir
a vida, bem como o impacto negativo da afasia
aS1;S2;S3;S5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15;S16:
- Nível emocional: frustração, depressão, sentimento de
isolamento e estigmatização, de "estar num país
estrangeiro", de ser um fardo para os outros, de não aceitar
a incapacidade de falar e não querer estar vivo, diminuição
da confiança e autoestima, angústia, sentimentos de
autorrejeição e inutilidade, ansiedade, sentimentos de
incompetência, diminuição do otimismo e desesperança;
- Nível social e comportamental: evasão social e desligação
da reabilitação;
- Identidade: sentimento de rutura e experiência de rutura
biográfica com necessidade de dar sentido à sua nova
realidade.
Os fatores facilitadores que influenciam esta dimensão
abrangemS2;S3;S4;S6;S8;S9;S10;S11;S13;S17:
- Condições internas: uso do humor, esperança,
recuperação da linguagem, otimismo, determinação e
gratidão, espiritualidade, e ter afasia suave;
- Condições externas: interações e contexto, família, amigos
e prestadores de cuidados, contactar com uma pessoa que
passou por uma situação semelhante, terapia da fala e
psicoterapia.
Os fatores inibidores que surgiram incluem intervenções
terapêuticas: incapacidade ou dificuldade em realizar
algumas atividades terapêuticas, apoio psicológico limitado
e serviços de reabilitação, os procedimentos serem feitos
para as pessoas e não com pessoas, os profissionais de saúde
concentram-se na condição física, o que contribui para a
falta de atenção às necessidades psicológicas e
despersonalizaçãoS2;S3;S6;S11.
Participação em situações da vida
A informação relacionada com esta dimensão foi a segunda
mais mencionada. O impacto negativo foi evidente nos
papéis (dependência de outros), responsabilidades e
atividades (incapacidade de trabalhar, com a necessidade de
desistir do emprego, dificuldade em executar tarefas e
restrições de participação)S5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15. Um estudo
aborda especificamente o impacto das dificuldades de
escrita na participação socialS15.
Neste domínio, os fatores facilitadores
incluemS2;S3;S6;S7;S9;S10;S12;S14;S16;S17:
- Condições internas: recuperação, sentimento de controlo,
independência, envolvimento, compromisso e sentimento
de pertença em atividades sociais, motivação, condição
física e psicológica, ter um propósito na vida, aprender
estratégias de comunicação compensatórias, ser mulher e
ter afasia mais suave;
- Condições externas: o contexto, interações, cuidador,
terapia da fala, condição clínica, informação de
recuperação, maior rendimento familiar e maior rede social.
Os fatores inibidores compreendemS3;S6;S9;S14;S17:
- Barreiras internas: medo do fracasso, sentimentos de
incompetência e dependência, baixa confiança, baixa
autoestima e otimismo, níveis educacionais de graduação
ou pós-graduação, humor em baixo e mau funcionamento
físico;
- Elementos externos: interações e contexto, as pessoas
nem sempre foram apoiadas para serem independentes ou
para tomarem decisões e proteção da família.
Linguagem e deficiências relacionadas
Foi a terceira dimensão mais mencionada. Neste contexto,
foram identificados: dificuldade ou incapacidade de
comunicar através das palavras, na sua maioria oralmente
mas também por escrito; dificuldade em expressar
sentimentos e experiências pessoais; mudanças no mundo
cognitivo interno; competências o verbais por vezes
afetadas; inteligência (verbal) estava comprometida e a fala
e a mão eram incompatíveis com processos de pensamento
simultâneosS1,S5,S8,S11. Isto torna complexo aceder a
informação e a serviços de forma adequada e a necessidade
de utilizar outras estratégias para melhorar a
comunicaçãoS1,S8,S9S11,S16. Apenas um estudo aborda
explicitamente as dificuldades de escrita e refere-se ao seu
impacto na participação social, autoestima e confiançaS15.
Como fatores facilitadores da recuperação da afasia
surgiram o desempenho de atividades (falar com os
animais, ler, sudoku, rabiscar, escrever uma lista de
compras, usar o computador e o telefone, e os trabalhos de
casa prescritos pelos terapeutas); as forças internas
(esperança, espiritualidade, sentimento de poder ajudar-se a
si próprio) e as ajudas externas (reabilitação, terapia da fala
e profissionais de saúde)S2;S3;S4;S9;S11;S13. Como aspetos
negativos, a recuperação é complicada e o progresso é
penosoS8.
Ambiente de comunicação e linguagem
Finalmente, os dados dentro do âmbito deste domínio
foram os menos mencionados.
Como fatores positivos emergiram: apoio à comunicação e
acesso a intervenções terapêuticas individualizadas;
interações e contexto; a família e os cuidadores; "encontrar
uma voz" através da voz de um ente querido; sentir-se
ouvido pela equipa; apoio social; utilização de estratégias de
comunicação e o papel da terapia da fala e dos profissionais
de saúdeS3;S6;S9.
Foram identificados fatores que têm uma influência
negativa, nomeadamente: serviços de reabilitação limitados;
o ambiente hospitalar (ruidoso, acelerado, em constante
mudança, não conducente a uma comunicação eficaz e à
utilização inconsistente de estratégias de comunicação); as
interações e o contexto e a incapacidade do hospital para
lidar com a pessoa com afasiaS3;S6;S9.
Discussão
Resumo da evidência
Os resultados desta Scoping Review estão alinhados com o
impacto da afasia nas necessidades fundamentais descritas
por Thompson (2014)1. Correspondendo à Identidade pessoal,
atitudes e sentimentos, Thompson (2014)1 defende que a afasia
Frade, A.
Artigo de revisão
tem impacto na identidade; afeto (pela dificuldade em
expressar emoções e afeto) e as pessoas sentem-se tidas
como uma presença física e não como uma pessoa.
Relativamente à Participação em situações da vida, Thompson
(2014)1, afirma que a afasia tem impacto na liberdade (é uma
ameaça à autonomia e as pessoas têm dificuldade em
expressar escolhas e reclamar direitos), na participação (com
sentimentos de isolamento) e na subsistência (pela
incapacidade de comunicar verbalmente). No âmbito da
Linguagem e deficiências associadas, a afasia afeta a proteção
(devido à dificuldade em pedir apoio e à incapacidade de
alertar)1.
A afasia de Broca tem um efeito negativo tremendo e o
impacto psicossocial desta condição clínica foi claro. Foi
também claro que as intervenções terapêuticasS3, contexto e
interacçõesS6, profissionais de saúdeS9,S11,S17, esperançaS4,
espiritualidadeS13 e fatores psicossociais influenciam a
experiência da afasia de Broca.
Segundo Thompson e McKeever (2014)39, a afasia tem um
impacto negativo nas relações ao negar o acesso a redes de
apoio, o que leva ao isolamento. A afasia também resulta
numa "perda de si próprio", intensificada por estratégias
inadequadas de comunicação em matéria de cuidados de
saúde39.
Relativamente à influência das intervenções terapêuticas e
dos profissionais de saúde, um estudo desenvolvido para
explorar os fatores que influenciam a satisfação e
insatisfação das pessoas com afasia relativamente aos seus
cuidados de saúde identificou sete áreas de cuidados19. Duas
destas áreas são a Forma e os Métodos de Prestação de
Serviços (relacionadas com o comportamento individual
dos profissionais de saúde, a abordagem dos profissionais
de saúde aos cuidados de saúde, a personalidade de um
profissional de saúde, o nível de inclusão da pessoa com
afasia, a compreensão demonstrada à pessoa, o nível de
envolvimento na tomada de decisões, estabelecimento de
objetivos e atividades terapêuticas) e Informação,
Comunicação e Conhecimento19.
Acerca da esperança, um estudo realizado concluiu que a
esperança poderia ser importante para as pessoas com
afasia, e os autores identificaram a sua experiência de duas
maneiras: Simplesmente "ter" esperança (sentimento amplo, mas
passivo, que parece ser a principal forma de esperança) e
Esperança ativa (uma forma de esperança ativa e orientada
para o futuro)S4. Nesse mesmo estudo, a esperança parece
estar relacionada com a forma como as pessoas se envolvem
na reabilitação e como ela pode influenciá-la. Os fatores que
influenciam a esperança foram identificados como: família;
amigos; profissionais de saúde (quer apoiando ou
reduzindo) e outros pacientes; incerteza sobre o futuro; ver
a esperança com uma dupla face (aspeto positivo e negativo)
e um sentimento de perturbação (na identidade e/ou
envolvimento em atividades significativas)S4. Estes fatores
são influenciados por experiências passadas, realidade
presente e perceção do futuroS4. Em consonância com isto,
um estudo desenvolvido mais recentemente concluiu que o
apoio social, a sensação de progresso e o envolvimento em
atividades e interações significativas parecem essenciais para
apoiar as pessoas a (re)desenvolver esperanças no seu
futuro40.
Na esfera da espiritualidade, de acordo com um estudoS13,
esta pode ser considerada de duas formas: como um poder
superior que é importante para a compreensão de si próprio,
para a recuperação, para a melhoria da comunicação, para o
controlo dos acontecimentos e para dirigir a recuperação, o
que não envolve muita atividade pessoal; e/ou como uma
relação com um poder superior como fonte de ajuda e força,
com práticas religiosas e espirituais mais frequentes
(procurando o Sagrado para conforto, apoio e para
compreender o significado da afasia). Outras pessoas
podem também ser essenciais para a recuperação da afasia
(relações sociais imbuídas de significado espiritual) que
oferecem uma melhor qualidade de vida, uma oportunidade
de praticar a linguagem, motivação para a comunicação e são
essenciais na procura de significadoS13. Ainda assim, outras
formas de enfrentamento espiritual podem ser associadas a
severo sofrimento existencial neste contexto. Podem
ampliar as reações adversas ao stress e levar as pessoas a
envolverem-se em comportamentos inadequadosS13.
Relativamente às interações e ao contextoS6, pode ajudar ou
dificultar o sentido da experiência, a carga emocional e a
forma como o paciente se envolve na reabilitação. Num
estudo realizado, foram identificados três grandes temas:
"estar num país estrangeiro", "encontrar uma voz", e "ser apenas um
número"S6. "Estar num país estrangeiro" inclui incerteza e
confusão relativamente à condição, ao hospital, à
dependência dos outros e ao choque de estar doente
agravado pelo ambiente da enfermaria (ruidoso, acelerado,
em constante mudança, não conducente a uma
comunicação eficaz e ao uso inconsistente de estratégias de
comunicação); "Encontrar uma voz" foi fundamental para dar
sentido ao que aconteceu e para a adaptaçãoS6. Sentir que
"ser apenas um número", em vez de ser visto como um
indivíduo único, está relacionado com a perspetiva de que o
foco dos profissionais de saúde é a condição física,
contribuindo para a falta de atenção às necessidades
psicológicas e objetivos sociais, com a perceção de que a
equipa se concentra nos procedimentos técnicos da
reabilitação e não na pessoaS6.
Limitações do estudo
A pesquisa foi realizada em apenas quatro bases de dados e
apenas foram incluídos artigos escritos em inglês, português
e espanhol, o que pode ter limitado o acesso a outros artigos
com contribuições relevantes para esta revisão. Outra
limitação é que não foi possível aceder ao texto integral de
dois artigos. É importante salientar que a não inclusão de
teses, dissertações e literatura "cinzenta" nesta revisão pode
ter contribuído para não obter evidências científicas
importantes, o que também pode representar uma limitação.
Conclusão
Esta revisão visava mapear a evidência científica disponível
sobre a experiência das pessoas que passaram por um
período da afasia de Broca. A Scoping Review permitiu-nos
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023 | 29
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
responder à questão da investigação e aprofundar a
compreensão do fenómeno em estudo. Mais precisamente,
permitiu reconhecer o impacto negativo e as mudanças
resultantes da afasia de Broca, os sentimentos associados,
as necessidades específicas, os fatores que influenciaram a
experiência, que apoio e recursos as pessoas gostariam de
ter tido, do ponto de vista daqueles que passaram por esta
condição clínica. Neste estudo, os dados relacionados com
a Identidade Pessoal, atitudes, sentimentos e Participação em situações
da vida foram os mais frequentemente mencionados na
literatura, seguidos da Linguagem e deficiências relacionadas e do
Ambiente de comunicação e linguagem, respetivamente, no que
diz respeito à experiência da afasia de Broca.
A importância dos profissionais de saúde, intervenções
terapêuticas, espiritualidade, esperança, contexto,
interações e fatores psicossociais, ficaram claras no cuidar
de doentes com afasia de Broca.
O conhecimento adquirido nesta Scoping Review permite aos
profissionais de saúde compreenderem mais
aprofundadamente as necessidades das pessoas com afasia
de Broca e implementar melhorias adequadas nos cuidados
de saúde e na prestação de serviços19. Isto inclui melhorias
nos cuidados de enfermagem, que irão promover o bem-
estar, aumentar a segurança, reduzir os danos e melhorar a
satisfação com os cuidados prestados.
Esta revisão demostra que é essencial continuar a investigar
como as pessoas relatam a experiência de terem vivido um
período de afasia de Broca para compreender melhor a
experiência e as necessidades desta população e melhorar
continuamente a assistência das pessoas com esta condição
clínica. Considerando a dificuldade nesta revisão em
encontrar estudos realizados exclusivamente com pessoas
diagnosticadas com afasia de Broca, como sugestão para
investigações futuras, seria pertinente investigar como as
pessoas relatam a experiência de terem vivido um período
de afasia de Broca, incidindo exclusivamente em
participantes que tenham recuperado completamente deste
tipo específico de afasia. Além disso, seria pertinente
investigar a prática atual relativa ao ensino sobre a
experiência da afasia de Broca em profissões relacionadas
com a saúde, incluindo a enfermagem. Também seria útil
estudar o impacto do que é conhecido sobre a experiência
desta condição clínica na gestão de cuidados de saúde em
contextos que prestam cuidados a pessoas com afasia de
Broca.
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