Mundialmente estima-se que mais de 1,1 milhões de
crianças e adolescentes vivam com Diabetes Mellitus Tipo 1
(T1D), a incidência tem vindo aumentar particularmente
em idades inferiores aos 15 anos, com um aumento da
prevalência na Europa e noutras regiões.1
Os adolescentes encontram-se numa fase crucial de
construção da sua autonomia, assumem progressivamente
maior responsabilidade na tomada de decisão,
autonomizando-se face à supervisão parental.2 Durante
este processo, a educação e a capacitação são elementos
essenciais para a promoção da autogestão.3 O objetivo
prioritário dos adolescentes com T1D é assumir a
responsabilidade pelos autocuidados e autogestão da
diabetes.4
A T1D é uma doença crónica causada por uma reação
autoimune na qual o sistema imunológico destrói as células
beta do pâncreas, impedindo a produção de insulina.5 O
tratamento da diabetes é exigente e complexo, requerendo
um controlo contínuo, feito mediante a gestão da tríade:
alimentação, exercício físico e insulinoterapia.6,7 No caso da
alimentação, é crucial a contagem de hidratos de carbono,
que incluem os amidos (hidratos de carbono complexos) e
os açúcares (hidratos de carbono simples como a glicose, a
frutose, a lactose, a sacarose e maltose), em equilíbrio com
a prática de atividade física e ajuste de insulina.6 Esta gestão
da alimentação e insulinoterapia torna-se ainda mais
rigorosa ao integrar a prática de exercício físico. Assim, a
gestão da T1D exige que se pense em todos os
comportamentos e tomada de decisão, que implicam uma
grande responsabilidade para o adolescente e sua família.8
A autogestão centra-se na autorregulação da doença
crónica e gestão de fatores de risco, nomeadamente:
definição de objetivos, automonitorização; pensamento
reflexivo; tomada de decisão; planeamento e participação
nos autocuidados, autoavaliação e gestão de respostas
físicas, emocionais e cognitivas associadas à mudança de
comportamento.9 A promoção de comportamentos de
autogestão está associada à promoção de autoeficácia,
conhecimento, funcionalidade e interações sociais, com
ganhos na melhoria do estado de saúde psicológico, gestão
eficaz dos sintomas, qualidade de vida e diminuição do
recurso aos serviços de urgência.10,11 Uma adequada
autogestão da doença permitirá melhorar os cuidados de
saúde, com consequente melhoria dos cuidados e gestão de
recursos12, prevenindo complicações micro e
macrovasculares.13,14
A autogestão da doença crónica é condição para o
indivíduo poder gerir os sintomas e o tratamento, com
repercussões na dimensão emocional e psicossocial, e
mudanças no estilo de vida inerentes à doença crónica.15
Kate Lorig 16 destaca três tarefas de autogestão (gestão da
terapêutica, de papéis e emocional), e várias competências
de autogestão (técnica de resolução de problemas, tomada
de decisão, recursos, formação, planeamento e mecanismos
de adaptação).
Para a gestão eficaz da T1D é essencial o planeamento e
organização de estratégias e objetivos bem definidos.9 A
gestão da diabetes inclui o conhecimento sobre a
fisiopatologia e reconhecimento de complicações micro e
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macrovasculares: hipo e hiperglicemia, administração de
insulina, avaliação de glicemias e manutenção da saúde
(alimentação e prática de exercício físico).17
O processo que suporta a promoção da autogestão em
pessoas com doença crónica tem como aspeto central a
gestão da doença, o apoio ao indivíduo e às suas famílias.
Inclui um compromisso com os cuidados centrados na
pessoa.18 A implementação de programas promotores de
autogestão poderá ser um contributo importante na
promoção de comportamentos de autogestão.
A implementação de programas estruturados para a T1D
deverá integrar temas relacionados com a educação,
definição de metas e objetivos, inclusão social e de
autoeficácia associadas a medidas de controlo glicémico.10
Assim, é recomendável que os programas integrem: os
princípios psicoeducacionais, treino das rotinas diárias,
apoio contínuo na promoção da autogestão, envolvimento
dos pais, recurso a novas técnicas cognitivo-
comportamentais bem como a inclusão das novas
tecnologias como fonte de motivação para os
adolescentes.11
Compete às equipas de saúde em articulação em rede
multidisciplinar, e em particular aos enfermeiros, a
intervenção no âmbito da promoção da autogestão da T1D
nos adolescentes, contribuindo deste modo para uma
população mais saudável e competente na gestão da sua
doença. A intervenção destas equipas centra-se a nível do
indivíduo, da família, do grupo, e da comunidade, podendo
ocorrer em vários contextos: em consulta, no domicílio, na
comunidade, na escola ou ainda em ambientes informais
como os campos de férias.19
Foi feita uma pesquisa preliminar na MEDLINE
(PubMed), CINAHL (EBSCO), Cochrane Database of
Systematic Reviews e JBI Evidence Synthesis,
PROSPERO, e Open Science Framework (OSF), não
tendo sido encontradas revisões sistemáticas ou Scoping
(publicadas ou em desenvolvimento).
Foram definidas as seguintes questões de investigação:
- Quais as características das intervenções promotoras da
autogestão em adolescentes com T1D?
- Quais as funções dos profissionais responsáveis pela
implementação dessas intervenções?
- Quais os indicadores de mudança de comportamentos de
autogestão após as intervenções?
A presente revisão scoping tem como objetivo o
mapeamento de intervenções promotoras de autogestão
em adolescentes com T1D.
Método de Revisão
Esta revisão scoping segue as orientações do Joanna Briggs
Institute (JBI) guidelines para revisões scoping.20,21 O
protocolo de revisão foi registado no Open Science
Framework (OSF) (https://osf.io/z6wbj /acedido em 11 de
novembro de 2022).
Introdução