Introdução
A transição para a parentalidade é uma transição de
desenvolvimento provocada por um evento de vida major
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que começa antes ou durante a gravidez, conduzindo a
que a mulher comece a preparar-se essencialmente através
da procura de informação e do autocuidado.
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Existem
vários fatores que contribuem e influenciam o
desenvolvimento de competências para o papel de mãe,
nomeadamente o apoio social, que é uma fonte essencial de
informação, compreensão e apoio emocional.
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No entanto,
a sociedade tem sofrido reconfigurações ao longo das
últimas décadas, com afastamento das redes familiares, com
mulheres a desempenharem papéis cada vez mais
significativos no mercado de trabalho, limitando o tempo
disponível para o desenvolvimento de relações
significativas.
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Esta realidade tem conduzido a que cerca
de ¾ das mulheres grávidas a nível global recorram a fontes
de informação e de suporte alternativas, nomeadamente a
internet.
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A internet, definida pelo The Oxford English Dictionary
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como uma rede global e interconectada de computadores
que providencia uma variedade de informação e meios de
comunicação, constitui-se como um meio para obtenção de
informações de saúde privilegiado, principalmente por
pessoas em idade reprodutiva,
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chegando a ser preferido
em relação às fontes de informação baseadas em relações
interpessoais,
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como por exemplo a relação entre o
profissional de saúde e utente.
Durante a transição para a parentalidade, os principais
recursos das mulheres grávidas são os profissionais de
saúde, familiares, amigos e cada vez mais, a internet,
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um
recurso de informação em crescimento exponencial, que
oferece informação de forma rápida, acessível,
personalizada e anónima.
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No entanto, a acessibilidade e
disponibilidade de informação online levanta questões
relacionadas com a sua fidedignidade e credibilidade, e
ainda com a adequabilidade da informação face à pessoa
que a pesquisa.
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Apesar da abundância de informação de
saúde existente online, a que é baseada em evidência
científica, não se encontra facilmente acessível ao público
em geral.
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Não obstante, para tomar decisões de saúde
fundamentadas no dia-a-dia não basta ter capacidade de
acesso à informação, é necessário ter Literacia em Saúde,
ou seja, o conhecimento, a motivação e as competências
para aceder, compreender, avaliar e aplicar informação de
saúde em situações diversas do quotidiano.
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A literacia em
saúde é uma ferramenta para empoderar as pessoas, que
deve ser construída e melhorada ao longo do ciclo de vida
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, ajudando-as a gerir a sua saúde, capacitando-as para
utilizarem informação de forma correta e assim obterem
ganhos quer a nível pessoal quer a nível social, sendo um
meio para o desenvolvimento social e humano.
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Envolve
fatores psicológicos, como a motivação pessoal e a
perceção de autoeficácia, fatores sociais e ambientais, que
influenciam a tomada de decisão e os comportamentos de
saúde, promovendo uma maior capacidade para lidar com
situações de doença, uma utilização mais eficaz dos serviços
de saúde e melhor compreensão e controlo das situações
da vida.
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Quanto maior o nível de literacia em saúde, maior a
prevalência de comportamentos de procura de informação
em todos os meios disponíveis, nomeadamente a internet.
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Por outro lado, um baixo nível de literacia em saúde está
associado a menor competência de avaliação da qualidade
da informação que é acedida, sendo que é nas pessoas com
menor nível de literacia em saúde que se regista menor
incidência de comportamentos preventivos e uma elevada
taxa de utilização dos serviços de saúde.
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Referente à
pesquisa de informação online, as pessoas com menor nível
de literacia em saúde tendem a distrair-se com elementos
extra de um site (como links), a escolher a primeira resposta
que encontram à sua questão, não confirmando a sua
veracidade, têm ainda dificuldade em saber identificar as
diferenças entre a informação de alta e baixa qualidade,
tendem a desistir da pesquisa se não encontrarem de forma
rápida a resposta ao que procuram, desconsiderando ainda
informação com palavras complexas e técnicas ou que não
façam parte do seu léxico.
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É, portanto, fulcral o papel desempenhado pelos
profissionais de saúde, que vendo a sua tradicional relação
a ser remodelada pelas novas tecnologias
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, deverão
promover a literacia em saúde de quem cuidam,
compreendendo quais as novas fontes de informação em
saúde utilizadas, mediando a sua utilização e aproveitando
a potencialidade das novas tecnologias de comunicação e
informação, como a internet, para expandir o acesso das
pessoas a informação de saúde fidedigna.
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O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde
Materna e Obstétrica (EEESMO) tem como uma das suas
competências específicas o cuidar da mulher inserida na
família e comunidade durante o período pré-natal
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,
promovendo a sua saúde e bem-estar e individualizando os
cuidados de acordo com as especificidades de quem cuida,
nomeadamente o nível de literacia em saúde.
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Considerando a internet como uma fonte de informação
privilegiada pelas mulheres grávidas, os enfermeiros
especialistas deverão estar familiarizados com os recursos
online relacionados com a gravidez mais utilizados, bem
como direcionar a mulher para sites fidedignos
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,
capacitando-a para tomada de decisões conscientes e
informadas ao longo da gravidez.
Considerando a utilização crescente da internet como fonte
de informação em saúde pelas mulheres grávidas, bem
como as assimetrias existentes na pesquisa de informação
online entre pessoas com maior e menor nível de literacia em
saúde, o objetivo desta revisão Scoping é identificar na
literatura existente qual a relação entre o nível de literacia
em saúde da mulher grávida e a utilização da internet como
fonte de informação em saúde. Para tal, foi definida a
seguinte questão inicial: Qual a relação entre o nível de
literacia em saúde da mulher grávida e a utilização da
internet como fonte de informação em saúde?