Introdução
De acordo com a Organização Mundial da Saúde 1, até 2030,
estima-se que o número de pessoas acima dos 60 anos
aumentará 34%, passando de 1 bilião em 2019 para 1,4
biliões. Até 2050, esta população terá duplicado para 2,1
biliões a nível mundial.
Em Portugal, o envelhecimento demográfico continua a
acentuar-se de forma muito expressiva. De acordo com os
Censos 2021 2, o índice de envelhecimento da população,
indicador que compara a população com 65 ou mais anos
com a população dos 0 aos 14 anos, é de 182, o que significa
que existem 182 pessoas idosas por cada 100 jovens.
Com o avançar da idade é expectável que existam mudanças
próprias do processo de envelhecimento. A nível biológico,
verifica-se uma variedade de danos moleculares e celulares,
conduzindo a uma perda gradual nas reservas fisiológicas e
um declínio funcional na capacidade intrínseca da pessoa.3
A fraqueza muscular, o comprometimento no equilíbrio, as
dificuldades na locomoção e o agravamento da cognição são
algumas das mudanças que ocorrem no envelhecimento e
estas contribuem para o aumento do risco de queda das
pessoas idosas.4, 5
A queda pode ser definida como um evento não intencional
que resulta na mudança de posição do indivíduo para um
nível postural mais baixo em relação à sua posição inicial.6
O International Council of Nurses (ICN)7 para além de
considerar que uma queda é um “evento ou episódio”
acrescenta que cair é “descida de um corpo de um nível
superior para um nível inferior devido a desequilíbrio,
desmaio ou incapacidade para sustentar pesos e permanecer
na vertical”.
Nas pessoas idosas, as quedas são eventos frequentes com
possíveis consequências graves para o indivíduo e com
impacto económico significativo nas instituições de saúde.
Globalmente, a prevalência de quedas em pessoas idosas é
de 26,5%8, sendo que um terço desta população cai pelo
menos uma vez por ano6, o que contribui para que as quedas
sejam consideradas a segunda principal causa de lesões nas
pessoas idosas.9
Existem vários fatores de risco que contribuem para a
ocorrência de quedas e é consensual utilizar a classificação
de fatores intrínsecos e extrínsecos.
Os fatores intrínsecos são condições que estão relacionados
com o cliente, como a idade, a comorbidade, história de
quedas anteriores, a marcha, o compromisso visual e
auditivo, alterações musculoesqueléticas e o
comprometimento cognitivo.10
Já os fatores extrínsecos relacionam-se com o ambiente
onde o cliente está inserido. A nível hospitalar destacamos a
doença aguda, delírio, período pós-operatório, medicação,
mudança de ambiente, equipamentos de apoio, repouso no
leito e imobilidade, utilização de calçado inapropriado,
iluminação dos espaços, falta de conhecimento sobre
prevenção de queda, falha na comunicação entre o cliente e
o profissional de saúde.6, 10 Desta forma, é percetível que o
meio hospitalar é um contexto onde as pessoas idosas
podem apresentar um risco de queda extremamente
elevado.
Relativamente às consequências das quedas, além das lesões
físicas, como a existência de fraturas e lesões cerebrais
traumáticas, importa analisar as consequências psicológicas,
sendo estas prejudiciais para a pessoa idosa a longo prazo e
contribuem para a diminuição da qualidade de vida. A perda
de confiança e o medo de cair são dois exemplos das
consequências psicológicas e podem resultar num
compromisso nos níveis de atividade, levando a uma
redução na função física e nas interações sociais.11
O ICN 7 define medo como uma “emoção negativa: sentir-
se ameaçado, em perigo ou perturbado devido a causas
conhecidas ou desconhecidas, por vezes acompanhado de
uma resposta fisiológica do tipo lutar ou fugir”.
O medo de cair foi reconhecido pela comunidade científica,
a partir da década de 80, como um problema de saúde nas
pessoas idosas. Este conceito foi denominado por ptofobia,
em 1982, e é entendido como a reação fóbica em manter-se
de pé e a andar, mesmo não havendo nenhuma alteração
neurológica ou ortopédica.12
Posteriormente, o medo de cair foi definido como uma
preocupação contínua de um indivíduo, quando está de pé
ou a caminhar, com a ocorrência de quedas,
comprometendo o desempenho das atividades diárias.13
Atualmente, o medo de cair pode ser considerado uma
condição protetora ou patológica. Por um lado, o medo
enquanto fator protetor levará a pessoa idosa a evitar
comportamentos de risco e a procurar a promoção da
segurança, quer através de medidas que evitem as quedas
como nas adaptações da marcha que aumentem a
estabilidade. Por outro lado, o medo de cair patológico pode
levar a um declínio na qualidade de vida e aumentar o risco
de quedas por meio da redução das atividades necessárias
para manter a autoestima, confiança, força e equilíbrio.5, 14
O medo de cair pode causar uma perda de confiança na
capacidade de realizar tarefas do quotidiano, levando a
pessoa idosa a restringir as suas atividades diárias15, ao
isolamento social, ao declínio da capacidade física e à perda
de independência16, o que pode resultar em alterações da
saúde mental, nomeadamente o surgimento de estados
depressivos e ansiosos.17–19 Outros aspetos psicológicos,
como a autoeficácia relacionada com a queda e a
autoperceção do estado de saúde estão associadas ao medo
de cair.16
O medo de cair revela-se um fator de risco de queda nas
pessoas idosas quer tenham ou não histórico de quedas
anteriores.20 As pessoas que têm medo de cair tendem a não
confiar na sua capacidade de prevenir ou evitar quedas, o
que aumenta o risco de cair e exige uma intervenção
psicoterapêutica e de reabilitação física.21
A estimativa de prevalência das pessoas idosas com medo
de cair ronda os 36%, sendo este mais evidenciado nas
pessoas que apresentaram uma queda nos últimos três
meses.22 Em meio hospitalar, o medo de cair nas pessoas
idosas que se encontram em internamento varia entre 36 e
83%.17, 23
Sabe-se ainda que nas pessoas idosas internadas em
contexto hospitalar, o medo de cair pode ter uma maior
influência na recuperação funcional do que a presença de
dor ou alterações emocionais. O medo de cair também