Quanto ao tempo de permanência da NE e o IQTN,
constatou-se que nos estudos em que a meta não foi
atingida, os pacientes oncológicos usaram a NE, em média,
por mais de cinco dias,22,24,26,29 corroborando um estudo47
em um hospital oncológico, no qual se identificou que
nenhum dos pacientes (n=96) conseguiu atingir o volume
prescrito de NE, nos sete dias de NE exclusiva. As metas
do indicador para esses estudos alternam entre ≥ 70%,24-26
≥ 80%21,26 e ≥ 90%,22 indicando que ora as instituições
brasileiras seguem as diretrizes do ILSI Brasil,13 ora
estipulam sua própria meta de acordo com as características
da unidade hospitalar. Para as instituições que adotam metas
distintas (diga-se, mais elevadas) da preconizada em
diretriz,13 é necessário estrutura assistencial planeada, boas
práticas de saúde e implementação de protocolos.13 Desse
modo, um dos elementos fundamentais para bons
resultados é possuir EMTN, nas quais realizam desde a
avaliação nutricional adequada,36 a escolha do dispositivo
correto,48 o início precoce da NE,39 a monitorização de
complicações da NE,34 a aplicação de IQTN 49 e as ações de
educação permanente.35,43,50
Já entre aqueles estudos que foram capazes de atingir a meta,
o tempo de permanência da NE nos pacientes oncológicos
foi maior que cinco dias,23,27,28 evidenciando a existência de
uma relação proporcional entre o tempo e a capacidade de
se alcançar a adequação do volume prescrito.47 Tal situação
pode ser explicada porque nos primeiros dias de
hospitalização os pacientes oncológicos tendem a apresentar
um quadro clínico instável, maior exposição aos
procedimentos e intervenções de saúde, e um plano de
cuidado ainda em definição e adaptação. 48 Portanto, atingir
a frequência de dias de NE requer mais tempo de sua
administração. Já as metas adotadas por essas instituições
variaram entre ≥70%27,28 e ≥ 80%,26 seguindo as diretrizes
do ILSI-Brasil e suas reformulações.13
A repercussão clínica nos pacientes oncológicos que
recebem menor volume de NE é suscitada em distintos
estudos,3-6 os quais demonstram que não atingir a meta da
NE está correlacionado com piores desfechos clínicos,
como infeção 4 e complicações3,5,6 durante a internação
hospitalar. Neste sentido, a reflexão que necessita ser feita
reside em tentar minimizar a discrepância entre o
planeamento nutricional e a efetivação deste plano. Para a
enfermagem, cabe garantir que o volume prescrito seja
adequadamente infundido, e para isso é necessário capacitar
a equipe de enfermagem quanto às habilidades e
competências que subsidiam o cuidado qualificado com a
NE e a segurança do paciente.51
Um dos motivos pelos quais o volume prescrito de NE não
é infundido em sua totalidade no paciente oncológico adulto
está associado a complicações de caráter gastrointestinais,
metabólicas, mecânicas e respiratórias. Tanto nos estudos
que atingiram quanto nos que não atingiram a meta do
indicador, os motivos de maior complicação da NE foram
gastrointestinais.21-23,25-29 Logo, observa-se que o principal
elemento que faz o paciente com cancro não conseguir
atingir o volume prescrito de TNE está atrelado a sua
fragilidade clínica, que desencadeia as complicações
gastrointestinais, afetando diretamente o volume de NE que
o paciente deve receber. Ou seja, as dificuldades clínicas do
paciente com cancro afetam diretamente o volume de NE
infundido, e não somente os processos do IQTN em si.
Há mais de uma década as enfermeiras desenvolvem
investigações em diferentes perfis de pacientes39-40,50-51 para
monitorar as complicações pelo uso da NE. Em uma coorte
prospetiva52 157 pacientes de UCI foram acompanhados
diariamente durante os primeiros dez dias de internação, e
entre os que receberam e não receberam NE, complicações
como diarreia e necessidade de descompressão gástrica
foram mais frequentes no grupo NE (39,7 % vs. 11,7 %, p
< 0,001 e 34 % vs. 13,3 %, p = 0,004, respetivamente).
Portanto, torna-se necessária a constante reavaliação das
práticas de cuidados com a NE, desde a avaliação da
formulação da dieta, as características da administração da
NE, o posicionamento correto da sonda e o modo de
infusão contínua.53
Dentre as limitações da presente revisão, encontram-se a
busca somente no idioma português realizada no Google
Académico e o critério de elegibilidade de estudos originais
completos disponíveis online na íntegra, que podem ter
limitado o número de estudos revisados e/ou incluídos.
Conclusão
Este estudo permitiu analisar as evidências do IQTN
“volume prescrito versus volume infundido de TN” no
paciente oncológico adulto hospitalizado, revelando que, na
maioria dos estudos, a meta do indicador não foi atingida, e
que o paciente apresenta dificuldades clínicas para atingi-la.
A qualidade da assistência nutricional a esse estrato
populacional permeia a articulação entre os cuidados de
enfermagem e o indicador analisado.
Em suma, os resultados desta revisão apontam para os
aspetos do IQTN “volume prescrito versus volume
infundido de TN” no paciente oncológico adulto
hospitalizado que fragilizam sua adequação, e as reflexões
sobre os cuidados de enfermagem que podem ser realizados
em âmbito hospitalar, para melhorar as BPANE, auxiliando
as enfermeiras no desenvolvimento das competências
necessárias para a tomada de decisão clínica. Ainda, as
evidências suscitadas neste estudo, sobre a interface das
práticas da enfermagem com o IQTN investigado, podem
contribuir para o planeamento do suporte nutricional
individual ao longo do curso da doença, fomentando a
importância da enfermagem nos vários aspetos do cuidado
ao paciente oncológico em uso de TNE. Também se sugere
que novas investigações sejam desenvolvidas para avaliar,
através do IQTN “volume prescrito versus volume infundido
de TN” quais dificuldades institucionais contribuem para
que o paciente oncológico não receba o volume adequado
de NE.
Além disso, o IQTN “volume prescrito versus volume
infundido de TN” foi apresentado na literatura por
diferentes resultados (ora percentual, ora média), o que
dificulta a comparação entre eles. Outra questão refere-se
aos estudos que incluíam em sua amostra pacientes com
outras condições clínicas, não exclusivamente oncológicos,
nos quais, por momentos, não foi possível
fragmentar/selecionar os valores do indicador por
condição, o que pode ter indicado maior impacto negativo
dos resultados do IQTN investigado.
Contribuições autorais