Introdução
A Atenção Básica (AB) é compreendida como o conjunto
de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que
abarcam promoção, prevenção, proteção, diagnóstico,
tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados
paliativos e vigilância em saúde, realizada por meio de
práticas de cuidado integrado e gestão qualificada,
desenvolvida por uma equipe multiprofissional para a
população em um território definido, sobre as quais as
equipes assumem responsabilidade sanitária.1,2
As ações da AB estão pautadas em quatro pilares: os
cuidados do primeiro contato, a continuidade do cuidado, o
cuidado integral e a coordenação do cuidado. Para o
cumprimento desses objetivos, é necessário realizar gestão
compatível com as necessidades da população, seguindo os
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), e
contar com profissionais capacitados para a liderança das
equipes.1,2
Nessa perspetiva o enfermeiro representa o ator principal
nas ações de saúde, pois tem assumido posições de liderança
nos cenários atuais que podem ser definidoras da qualidade
do cuidado prestado. A atuação do enfermeiro na AB
brasileira vem-se configurando como uma ferramenta de
mudanças nas práticas de atenção à saúde no SUS,
propiciando um novo modelo assistencial que não está
centrado no biologicismo, mas na integralidade do cuidado,
na intervenção frente aos fatores de risco, na prevenção de
doenças e na promoção da saúde e da qualidade de vida.1,2
Autores afirmam que o trabalho do enfermeiro na AB está
pautado em duas dimensões: a) produção do cuidado e
gestão do processo terapêutico; e b) atividades de
gerenciamento do serviço de saúde e da equipe de
enfermagem. Assim, o enfermeiro, como gestor da equipe
de enfermagem, além de articular as atividades de vários
outros profissionais da equipe de saúde, deve desenvolver
potencialidades para ampliar as habilidades pertinentes à
gestão do processo de trabalho, especialmente, na
comunicação efetiva, relacionamento interpessoal e
desenvolvimento de um clima favorável ao exercício da
liderança.3
Destarte, a atuação do enfermeiro, nesse cenário, envolve
várias dimensões da prática clínica, como o cuidado, a
assistência, o ensino, a pesquisa e a gestão, incorporando
ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças.
Para alcançar os objetivos dessa modalidade de atenção, é
necessário ser um profissional que busca constantemente
desenvolver as suas competências sociais e interpessoais.3
As habilidades sociais (HS) englobam classes de
comportamentos valorizados em determinada cultura, com
alta probabilidade de resultados favoráveis para o indivíduo,
seu grupo e comunidade, que podem contribuir para um
desempenho socialmente competente em tarefas
interpessoais. Tais habilidades estão divididas em
automonitoramento, comunicação, civilidade,
enfrentamento: direitos e cidadania, empatia, HS de trabalho
e HS de expressão de sentimento positivo.4, 5
Esse repertório de comportamentos pode nascer com a
pessoa, eles podem ser adquiridos ao longo de sua vida, por
meio de programas de capacitação ou por vivência. Dessa
forma, é possível que uma pessoa socialmente incompetente
possa executar de maneira competente uma determinada
tarefa.6
Considerando que as relações interpessoais e as HS
necessitam de tratamento vigoroso e não reducionista, e
considerando o processo de trabalho do enfermeiro,
reconhecido como uma prática social que promove a
construção das relações grupais de caráter complexo, para o
desenvolvimento desta reflexão, será utilizada a teoria do
Agir Comunicativo de Habermas.7, 8
Assim, tem-se por objetivo promover reflexão sobre as
habilidades sociais na atuação de enfermeiros da atenção
básica, na perspetiva do agir comunicativo de Habermas.
Considera-se que tal reflexão é importante, visto que
contribuirá para a (re)construção de práticas comunicativas
eficientes e, assim, pode tornar esse espaço de atuação mais
efetivo no cuidado às pessoas, famílias e comunidades.
Método
Trata-se de um artigo de reflexão que propõe uma discussão
sobre as habilidades sociais na atuação de enfermeiros da
atenção básica, baseada na Teoria do Agir Comunicativo de
Habermas,8 considerando que o trabalho do enfermeiro é
reconhecido como uma prática social que promove a
construção das relações grupais de caráter complexo e não
reducionista.
Desenvolvimento
Teoria do Agir Comunicativo de Jürgen Habermas
Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, nascido em
1929, é um dos mais importantes filósofos e sociólogos do
século XX e considerado um dos últimos representantes da
escola de teoria social e filosofia de Frankfurt. No conjunto
de sua obra podem ser destacadas três ideias fundamentais:
a primeira reside na construção de uma Teoria da Ação
Comunicativa; a segunda, na defesa da existência de uma
esfera pública, na qual os cidadãos, livres de domínio
político, poderiam expor ideias e discuti-las; a terceira ideia
defende que as ciências naturais seguem uma lógica
objetiva.9
Habermas defende que as sociedades são complexas e estão
deficientes de integração social. Consequentemente,
constituem espaços potenciais de conflitos, dificultam
estudos sobre valores morais, e prejudicam a liberdade dos
indivíduos. Considerando o mencionado, “os seres
humanos de forma geral estão frequentemente à busca de
interesses próprios, espelhados através de cálculos de
vantagens e decisões arbitrárias. Atua-se sobre o outro e não
com o outro, isto é, um agir racional com direção a fins
meramente estratégicos”.10(p177)
A Teoria da Agir Comunicativo busca um conceito
comunicativo de razão e uma sociedade na qual a
comunidade participa das decisões tanto individuais como
nas coletivas, de forma ativa, consciente e responsável. Essa
teoria compreende o indivíduo como ser participativo que