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Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / outubro 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.276
Artigo Original Quantitativo
Como citar este artigo: Rego R, Sousa E, Pinto F. Capacitar o utente hipocoagulado e família na gestão da
doença: uma intervenção da Enfermagem Comunitária. Pensar Enf [Internet]. 2023 Out; 27(1):155-161.
Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.276
Capacitar o utente hipocoagulado e família na
gestão da doença: uma intervenção da Enfermagem
Comunitária
Training hypocoagulated users and their families in
disease management: a community nursing
intervention
Resumo
Introdução
As doenças cérebro-cardiovasculares necessitam de um acompanhamento regular e
especializado, onde se inclui as patologias que necessitam de anticoagulantes orais, com o
intuito de diminuir os internamentos por descompensação clínica, manter a pessoa ativa e
diminuir o seu grau de dependência, necessitando de uma parceria
profissional/utente/família na sua gestão. O projeto foi sustentado pelo referencial teórico
de Dorothea Orem, Teoria do Défice do Autocuidado.
Objetivo
Capacitar o utente hipocoagulado e família na gestão da doença.
Métodos
Aplicado a metodologia do planeamento em saúde. O diagnóstico de situação foi
desenvolvido com recurso a questionários aplicado ao utente no sentido de validar o seu
conhecimento sobre a gestão da doença e um segundo aplicado à família para compreender
o seu conhecimento sobre as necessidades do seu familiar. A amostra não probabilística
por conveniência, foi constituída por 18 utentes e 5 familiares nas consultas realizadas
durante o período de estágio.
Resultados
O diagnóstico de situação revelou défice de conhecimento sobre a gestão da doença: no
autocuidado, regime terapêutico e sua interação, bem como défice do papel da família no
acompanhamento do seu familiar e na perceção das suas necessidades. Utilizou-se como
estratégia, a educação para a saúde no sentido de melhorar os problemas identificados
através da capacitação dos utentes e famílias intervencionadas. Após a intervenção
verificou-se um aumento de conhecimentos em todos os pontos abordados: autocuidado
(92,85%), regime terapêutico e sua interação (85,71%). Quanto à intervenção familiar
verificou-se que os participantes são familiares conviventes com os utentes hipocoagulados
e já assumiram o papel de cuidador.
Conclusão
Este projeto contribuiu para o conhecimento dos utentes hipocoagulados e família, através
da intervenção da enfermagem comunitária, bem como a reflexão sobre como desenvolver
estratégias com as famílias, no sentido de as capacitar na deteção precoce de intervir no
autocuidado do seu familiar e na gestão dos papeis familiares.
Palavras-chave
Utentes; Família; Anticoagulantes Orais; Educação para a Saúde; Enfermagem
Comunitária.
Rute Rego1
orcid.org/0000-0001-5074-2836
Edmundo Sousa2
orcid.org/0000-0003-2136-4471
Fátima Pinto3
1 Mestrado. ACES Arrábida/USF Sesimbra, Sesimbra,
Portugal.
2 Doutoramento. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CINDUR)/ESEL, Lisboa, Portugal.
3 Mestrado. ACES Arrábida/USF São Filipe, Setúbal,
Potugal.
Autor de correspondência
Rute Rego
E-mail: rute-rego@hotmail.com
Recebido: 19.04.2023
Aceite: 14.09.2023
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Artigo Original Quantitativo
Abstract
Introduction
Brain and cardiovascular diseases require regular and
specialized follow-up, including those pathologies that
require oral anticoagulants, in order to reduce
hospitalizations due to clinical decompensation, maintain
the person active, and reduce their degree of dependence.
This requires a professional/patient/family partnership in
their management. This project was based on Dorothea
Orem's Theory of Self-Care Deficit.
Objective
To train the hypocoagulated users and their families in
disease management.
Methods
The health planning methodology was applied. The
situation diagnosis was developed using questionnaires
applied to the patient to validate their knowledge about
disease management and a second one applied to the family
to understand their knowledge about their relative's needs.
The non-probability convenience sample was composed of
18 patients and 5 family members in the consultations
performed during the internship period.
Results
The situation diagnosis revealed a deficit of knowledge
about disease management: in self-care, therapeutic
regimen, and their interaction, as well as a deficit of the
family's role in monitoring their family member and
perceiving their needs. Health education was used as a
strategy to improve the problems identified through the
empowerment of users and families. After intervention,
there was an increase in knowledge in all the addressed
points: self-care (92.85%), therapeutic regime and its
interaction (85.71%). As for the family intervention, we
found that participants are family members who live with
hypocoagulated patients and have already taken over the
role of caregiver.
Conclusion
This project contributed to the knowledge of
hypocoagulated patients and family, through the
intervention of community nursing, as well as the reflection
on how to develop strategies with families, to empower
them in the early detection of intervention in the self-care
of their family member and in the management of family
roles.
Keywords
Patients; Family; Oral Anticoagulants; Health Education;
Community Nursing.
Introdução
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte
nos estados-membros da União Europeia, representando
cerca de 36% das mortes em 2010, como refere o
PNDCCV.1 As doenças cérebro-cardiovasculares são
doenças que necessitam de acompanhamento efetivo e
especializado na sua gestão com o intuito de diminuir
internamentos por descompensação clínica, manter a
pessoa ativa e diminuir o seu grau de dependência. Estão
incluídas as doenças cardiovasculares que necessitam
anticoagulantes orais (ACO), o que requer uma vigilância
de saúde mais regular e de uma parceria
profissional/utente/família na sua gestão. Verifica-se um
decréscimo de internamentos por doenças do aparelho
circulatório, 8,1% em 2016, face a 2011 e um aumento de
internamentos por insuficiência cardíaca, 20,3% em 2016,
face a 2011.1
A enfermagem de saúde comunitária e de saúde pública
“Contribui para o processo de capacitação de grupos e
comunidades”2(p.8667), promovendo intervenções através de
ações de educação para a saúde (EpS) na comunidade,
acompanhando as famílias no seu projeto de saúde,
tornando-os parceiros e decisores nos seus cuidados com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida e obter ganhos em
saúde. A EpS, como estratégia de intervenção, deve
construir um processo interativo “orientado para a
utilização de estratégias que ajudem os indivíduos e a
comunidade a adoptar ou modificar comportamentos que
permitam um melhor nível de saúde”.3(p.1) A revisão da
literatura demonstra a importância das sessões de EpS para
a capacitação dos utentes no desempenho do seu
autocuidado e na gestão da sua doença com maior
segurança e eficácia.
Este projeto norteou-se pela carta de Otawa4(p.3,4), na
condição básica Capacitar “centra-se na procura da
equidade em saúde”, no sentido de contribuir para a
diminuição das desigualdades existentes, no qual se torna
“necessária uma sólida implantação num meio favorável,
acesso à informação, estilos de vida e oportunidades que
permitam opções saudáveis”. A intervenção focou-se na
ação comunitária em que “a promoção da saúde
desenvolve-se através da intervenção concreta e efetiva na
comunidade, estabelecendo prioridades, tomando decisões,
planeando estratégias e implementando-as com vista a
atingir melhor saúde”; no desenvolvimento de
competências pessoais, através de acesso à informação,
EpS melhorando as suas competências no seu autocuidado.
Assim como, na Teoria do Défice do Autocuidado de
Dorothea Orem, que tem como premissa “todos possuem
potencial, em diferentes graus, para cuidar de si mesmo e
dos que estão sob a sua responsabilidade”5(p.614).
É fundamental compreender que a família é um sistema
complexo, com estrutura própria que se desenvolve e se
transforma ao longo do ciclo vital de acordo com as
vivências experienciadas. Verificou-se nesta comunidade de
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intervenção que as famílias participantes se encontram, na
última etapa do ciclo vital, como refere Figueiredo.6 Esta é
uma etapa transformativa, no sentido de compreender as
fragilidades de quem necessita de apoio bem como daquele
que o presta. Torna-se assim, preponderante, o papel da
enfermagem, no acompanhamento das famílias,
identificando as transformações ao longo do ciclo vital,
prestando informação, apoiando-as na tomada de decisão,
colaborando nas estratégias com o intuito de as manter
capacitadas no seu autocuidado, gerindo os seus papeis
familiares através de uma comunicação positiva, eficaz e
efetiva.
O presente artigo pretende expor, de forma sucinta, o
projeto de intervenção comunitária desenvolvido ao longo
do estágio, realizado no âmbito do Mestrado em
Enfermagem, na área da especialização em Enfermagem
Comunitária.
Métodos
“O Planeamento em saúde tem de ser adequado à realidade,
respondendo de forma assertiva e pragmática às
necessidades e/ou problemas sentidos na comunidade ou
em qualquer organização de saúde, supostamente ao
serviço dessa comunidade”.7(p.67) Foi através da
metodologia do planeamento em saúde que foi
desenvolvida a intervenção do projeto, descrevendo,
analisando e avaliando todo o percurso formativo e
interventivo na comunidade em acompanhamento,
seguindo as várias etapas de desenvolvimento: diagnóstico
da situação, definição de prioridades, fixação de objetivos,
seleção de estratégias, elaboração de programas e projetos,
preparação de execução e avaliação. Estas etapas
permitiram traçar um caminho sustentado e sistematizado
pois “exige uma metodologia lógica e racional .7(p.29)
É um estudo descritivo exploratório desenvolvido após o
parecer favorável da comissão de ética para a saúde com a
referência 6272/CES/2021.
População-alvo e amostra
A população-alvo do projeto foi constituída pelos utentes
inscritos na USF, num total de 52 utentes, com os critérios
de inclusão: utentes hipocoagulados com necessidade de
controlo de INR, acompanhados em consulta no período
de estágio, que tenham capacidade de compreensão, leitura
e escrita, para responder ao questionário e que aceitem
participar no projeto. Desses, um total de 18 utentes
integraram a amostra, sendo esta não probabilística e por
conveniência.
Instrumento de recolha de dados
Para se iniciar a primeira etapa da metodologia do
planeamento em saúde Diagnóstico de situação, foi
construído um questionário, validado por peritos e
realizado pré-teste , no sentido de compreender o
conhecimento dos utentes hipocoagulados e família,
constituído por: Parte A variáveis sociodemográficas que
nos permite conhecer a amostra em estudo; Parte B -
variáveis motivacionais, no qual vai permitir compreender
o envolvimento/conhecimento dos utentes na gestão da
sua doença e Parte C, variáveis sociorrelacionais, que nos
poderá permitir analisar a relação utente/enfermeiro. Para
compreender o papel da família do utente hipocoagulado
foi aplicado o Modelo Dinâmico de Avaliação e
Intervenção Familiar (MDAIF), matriz operativa, na
dimensão funcional aos familiares que acompanharam os
utentes à consulta de enfermagem de hipocoagulação, no
sentido de identificar as áreas de intervenção que a família,
como prestador de cuidados executa. A dimensão funcional
avalia a dependência dos diversos tipos de autocuidado
descritos pelo ICN (2002b): vestuário, comer, beber, ir ao
sanitário, comportamento sono-repouso, atividade de lazer
e atividade física, bem como o conhecimento sobre a
dependência da gestão do regime terapêutico, da
autovigilância e da autoadministração de medicamentos,
referido por Figueiredo.6(p.92) O que nos permitiu, tanto
avaliar as necessidades do membro da família como as do
familiar cuidador. A colheita de dados foi realizada entre
outubro e novembro de 2021, após autorização da
comissão de ética para a saúde.
Resultados
A idade dos utentes da amostra varia entre os 55 e 88 anos
de idade, sendo a dia 73,61 anos. Verifica-se que 67%
são do sexo masculino e 44% feminino, dos quais 67%
completaram o ensino sico. Em relação ao agregado
familiar, verifica-se que 72% dos inquiridos vive com o
conjugue, 22% com um familiar e 6% sozinhos.
Quanto ao conhecimento sobre a doença, 100% dos
inquiridos identifica o nome do medicamento prescrito,
dos quais 72% identifica o intervalo terapêutico adequado
para si. No entanto, 28% dos inquiridos não sabe o motivo
por que toma a medicação anticoagulante. Quanto às
interações medicamentosas com o ACO, 89% não
identifica medicamentos que possam interferir, mas em
relação aos alimentos e situações de saúde 50% conseguem
dar alguns exemplos que possam alterar o valor terapêutico
ou mesmo alimentos que terão de suspender. E, por último,
a importância da consulta de enfermagem, em que 100%
dos inquiridos referem que é uma consulta acessível e
importante para a monitorização e vigilância do estado de
saúde.
Quanto ao questionário dirigido à família, responderam três
familiares e um cuidador não familiar. Verificou-se que os
utentes hipocoagulados apresentam dependência em várias
áreas do autocuidado: Gestão do Regime Terapêutico,
Autocuidado Atividade Física, Autocuidado Atividade de
lazer e Autocuidado Higiene, como mostra o Gráfico1, no
qual o prestador de cuidados, maioritariamente familiar,
assume essas funções como suas. Com base na aplicação da
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matriz operativa do MDAIF, verificou-se uma baixa adesão
familiar no acompanhamento e na supervisão das
necessidades do seu membro familiar.
Gráfico 1 - Análise das áreas de dependência no autocuidado
De acordo com os resultados obtidos na etapa do
diagnóstico em saúde. Procedeu-se à identificação e
formulação dos diagnósticos em enfermagem, de acordo
com a taxonomia CIPE, versão 2015: Défice de
conhecimento no âmbito do processo patológico e do
regime dietético; Capacidade do autocuidado
comprometido; Autogestão da doença comprometido;
Conhecimento do papel da família comprometido e
capacidade do familiar em gerir a doença comprometido.
Do diagnóstico de situação à execução
Após a identificação dos problemas de saúde e a
formulação dos diagnósticos de enfermagem, procedeu-se
à hierarquização dos mesmos. A definição de prioridades,
segunda etapa da metodologia do planeamento em saúde,
foi realizada com recurso a um conjunto de peritos e
concretizada com base nos critérios da grelha de análise,
adaptado de Hartz.8 De acordo com os resultados obtidos
e com vista a minimizar ou resolver os problemas
identificados, deu-se primazia aos primeiros quatro: Défice
de conhecimento do regime dietético, Autogestão da
doença comprometido, Conhecimento da família sobre a
capacidade do familiar gerir a doença comprometido e
Défice de conhecimento do processo patológico.
Com base nos problemas priorizados foram definidos os
objetivos geral e específicos, sendo que, formular objetivos,
é a etapa seguinte que nos permite viabilizar o projeto, no
sentido de ser “possível traçar um caminho das estratégias
de intervenção (…) a partir do estado atual de determinada
comunidade, que estado pretendemos atingir, onde e até
quando”.7(p.23) Assim, o objetivo geral é capacitar o utente
hipocoagulado e família na gestão da doença. Como
objetivos específicos delineou-se: Identificar alimentos que
mais interferem com o ACO; Reconhecer situações de
perigo para os utentes que tomam ACO; Relacionar as
situações de perigo com a ação a tomar para que seja
diminuído o risco, Apoiar a família na identificação das
áreas que o seu familiar necessita de suporte e
Compreender o processo patológico. De forma a
quantificar e qualificar as atividades a desenvolver
definiram-se indicadores de atividade, adesão e qualidade.
Segue-se a quarta etapa da Metodologia do Planeamento
em Saúde Seleção de Estratégias, que tem como função
“um conjunto de técnicas específicas, organizadas com o
fim de alcançar um determinado objetivo reduzindo, assim,
um ou mais problemas de saúde”.9(p.65) Foram delineadas as
seguintes estratégias sustentadas na teoria do fice do
autocuidado de Dorothea Orem: Envolvimento da Equipa
de Enfermagem, apresentação do projeto à Equipa de
Enfermagem; Reuniões informais com as colegas para as
manter informadas sobre o desenvolvimento do projeto e
solicitar opinião. Informação e Comunicação, participação
da mestranda em consultas de hipocoagulação para
estabelecer uma relação com utentes/família e dar
conhecimento do projeto; Exposição da informação em
local visível sobre as atividades a desenvolver; Informação
sobre as atividades desenvolvidas reforçadas nas consultas
com as suas enfermeiras de família; Promoção do
Autocuidado, realização de duas sessões de EpS na USF;
entrega de uma checklist para ajudar nos registos de
alterações do bem-estar no seu dia-a-dia; entrega de um flyer
com resumo dos cuidados a ter para manter uma boa saúde;
Proximidade de Cuidados de Enfermagem, realização do
manual de boas práticas da consulta de enfermagem não
presencial. Estas estratégias tiveram como propósito dar
resposta atempadamente às dificuldades manifestadas pelo
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utente e família. Manter o utente capaz de se autocuidar
“desempenho ou a prática de atividades que os indivíduos
realizam em seu benefício, para manter a vida, a saúde e o
bem-estar”10(p.84) é torná-lo autónomo no seu autocuidado.
As sessões de EpS realizadas tiveram como finalidade
promover a saúde na comunidade em intervenção,
viabilizando o seu desenvolvimento e melhorando o
conhecimento sobre a doença. Como refere a carta de
Ottawa (1986), “é um processo que visa aumentar a
capacidade dos indivíduos e das comunidades para
controlarem a sua saúde no sentido de a melhorar,
entendendo a saúde como (um recurso para a vida e não
como uma finalidade de vida”8(p.160)
Avaliação
Após a execução das intervenções, fez-se a avaliação do
projeto com base nas metas pré-definidas. As metas foram
definidas com base no diagnóstico de situação. No final de
cada sessão de EpS foi aplicado uma checklist de avaliação
sobre os temas abordados. Desta forma, foram avaliados os
conhecimentos dos utentes e família, que participaram nas
sessões, quanto aos temas abordados nas duas sessões
realizadas, coadjuvando-se aos objetivos e indicadores de
resultado definidos para este projeto de intervenção, como
exposto na Tabela 1.
Tabela 1 - Avaliação dos diagnósticos de Enfermagem Priorizados aplicados a 14 participantes, dos quais 4 são familiares que
participaram nas duas sessões de EpS
Diagnóstico de Enfermagem: Défice de conhecimento do regime dietético
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem de utentes/ família intervencionados
consigam identificar 5 alimentos que mais interferem
com o ACO.
80%
85,71%
Diagnóstico de Enfermagem: Autogestão da doença comprometida
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem de utentes/ família intervencionados
consigam reconhecer 3 situações de perigo.
Percentagem de utentes e família intervencionados
consigam identificar 2 ações para diminuir o risco.
90%
92,85%
Diagnóstico de Enfermagem: Conhecimento da família sobre a capacidade do familiar gerir a doença comprometido
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem dos familiares intervencionados
identifiquem 3 áreas no qual o seu familiar necessita
de suporte.
50%
100%
Diagnóstico de Enfermagem: Défice de conhecimento do processo patológico
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem de utentes/ família intervencionados
identifiquem o motivo da toma do anticoagulante.
70%
92,85%
O quadro 1 mostra que as metas propostas foram atingidas
apesar das dificuldades sentidas na adesão das famílias ao
projeto e na motivação de todos os utentes que
responderam ao questionário participarem nas sessões de
EpS. As duas sessões programadas tiveram maior adesão
dos utentes, devido às sessões terem sido realizadas no dia
da sua consulta, e por isso, o número de participantes ter
sido inferior aos que responderam ao questionário.
Verificou-se que os utentes, na sua maioria idosos,
mantem-se sozinhos na ida às consultas de vigilância e
monitorização para manterem uma gestão da doença
dentro das suas capacidades físicas e mentais.
Discussão
Este projeto veio reforçar o mapeamento realizado através
da scoping review, em que como refere Madrid12(p.463) “The
education level and patients’ knowledge have a direct
influence on the global management of the
anticoagulation.”; ou como Alphonsa13(p.668) “Patient’s
knowledge about OAT was suboptimal. The findings
support the need for educational interventions to improve
the knowledge regarding OAT and, thereby, achieve an
appropriate and safe secondary prevention of stroke.”, bem
como, Viola, Fekete e Csoka14(p.1265) referem “The lowest
frequency of correct answers regarded the questions on
drug interactions (10.2%) and diet (11.4%).” E na
necessidade de “(…)developing new strategies for patient
education to improve knowledge on the treatment with
oral anticoagulants.”. O presente projeto através dos
questionários aplicados também demonstrou uma
população idosa (moda 87 anos de idade), com baixa
escolaridade (67% com o ensino básico), em que 28% da
amostra o sabe justificar porque toma o ACO e 78% não
reconhece a interação medicamentosa mas quanto aos
alimentos que possam interferir, 50% consegue identificar
5 alimentos. Após a intervenção com este grupo, através da
EpS, verifica-se uma aquisição de novos conhecimentos
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sobre a sua doença, sinais de alerta, ações a realizar para
minimizar o risco promovendo uma melhoria no
autocuidado. Estes momentos de partilha, organizados
pelos enfermeiros que cuidam desta comunidade,
constroem momentos de grande aprendizagem, na medida
em que o grupo-alvo não só participa de forma ativa, como
questiona e identifica dificuldades no sentido de se
autocapacitarem na gestão da doença. Todos os artigos
salientam o fator educacional como ponto essencial para a
compreensão e participação eficaz do utente na gestão da
doença, demonstrando assim, a importância das sessões de
EpS e como são pertinentes para a capacitação dos utentes.
Esta é uma área de intervenção do enfermeiro especialista
de enfermagem de saúde comunitária, no qual terá que não
investir nestas ações para melhorar a literacia em saúde
da comunidade bem como desenvolver e documentar
através da elaboração de investigação clínica, uma vez que
não se identifica artigos realizados pela Enfermagem nesta
área de intervenção.
Conclusão
O papel do EEEC é fundamental no acompanhamento e
orientação da comunidade na gestão do seu projeto de
saúde. Através de EpS promoveu-se momentos de
aprendizagem e de crescimento no sentido de capacitar a
comunidade na melhoria do seu estado de saúde. Com base
no diagnóstico de saúde realizado e com o suporte da
Teoria do défice do autocuidado de Dorothea Orem,
através do sistema de apoio-educação, foi possível
identificar as carências no autocuidado do utente
hipocoagulado e família na gestão da doença e delinear
estratégias para os capacitar de forma a melhorarem as
competências no seu autocuidado. Através das sessões de
EpS, promoveram-se momentos de aprendizagem através
da partilha de conhecimentos, experiências vivenciadas
pelos utentes e debate o qual permitiu melhorar as
competências quer no conhecimento da sua patologia,
interação medicamentosa e alimentar como no
reconhecimento de situações de risco e suas medidas de
atuação de forma a minimizar os riscos e manter uma vida
saudável e equilibrada. As intervenções comunitárias
realizadas durante este projeto foram muito enriquecedoras
devido ao envolvimento de toda a equipa multidisciplinar,
que permitiu divulgar a informação, incentivar a
participação dos utentes e familiares, e todos juntos,
melhoramos a literacia em saúde na área da hipocoagulação.
No entanto, teremos de nos focar nas famílias, devido à
dificuldade sentida em integrá-las na participação do
projeto e na intervenção nos cuidados de saúde. Este foi
uma das limitações sentidas durante o projeto de
intervenção, a dificuldade em articular tempo com a
disponibilidade das famílias. O tempo disponível de estágio
para intervir com os utentes e famílias também é diminuto
no sentido que só após o parecer favorável da comissão de
ética é que podemos questionar e envolvê-los no projeto.
Intervir nesta comunidade, melhorar as suas competências
no seu autocuidado, envolver uma equipa multidisciplinar
em todo o seu percurso, permitiu contribuir para o
conhecimento e desenvolvimento da investigação em
enfermagem, no entanto, outras questões surgiram durante
a intervenção comunitária. Percebendo que esta
comunidade tem uma percentagem elevada de pessoas
idosas, que gerem o seu projeto de saúde sozinhas, fez a
equipa questionar; Como identificar precocemente o
declínio cognitivo e intervir no sentido de promover
melhores cuidados de enfermagem? Como alertar a família
para uma nova realidade e intervir precocemente na
readaptação familiar? Como apoiar as famílias na
reestruturação de funções ou mesmo assumindo novos
papeis?
Contributos dos autores
RR Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Análise estatística;
Redação do manuscrito.
ES - Conceção e desenho do estudo; Análise e interpretação
dos dados; Análise estatística; Revisão crítica do manuscrito.
FP - Análise e interpretação dos dados; Revisão crítica do
manuscrito.
Conflitos de interesse e Financiamento
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelos autores.
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