Foram analisados os três momentos de avaliação da dor
relacionados com o local onde foi aplicada a água (zona
pélvica, lombar ou em mais do que um local).
Como ilustra a Figura 1, o acréscimo do nível de dor
(pélvica, lombar e em mais do que um local), tem início
imediatamente após a aplicação da água para os momentos
dos 10 e dos 20 minutos após a aplicação, embora com uma
maior dispersão dos dados quando a dor é localizada na
região lombar.
A ANOVA de medições repetidas, mostra que os
resultados foram estatisticamente significativos
[F(2,10)=23,12; p<0,001; η
2
p
=0,236 e π=0,878]. A análise
de contrastes entre a primeira medição (antes da aplicação
da água) e as restantes medições, revelou diferenças
estatisticamente significativas com exceção da análise de
contraste entre a primeira e a segunda medição que revelou
diferenças significativas entre o nível médio de dor avaliado
imediatamente após a aplicação da água e 10 minutos após
a aplicação [(F(1,5)=15.324, p<0.001, η
2
p
=0,170 e π=0,972].
Contudo, a análise post-hoc revelou que após os 20 minutos,
as diferenças entre as médias não eram significativas
(p>0.05).
Discussão
Constata-se que na maioria dos estudos sobre a aplicação
terapêutica do duche de água quente, uma grande parte dos
autores, mencionados como referências ou mobilizados na
discussão dos resultados, investigaram apenas o efeito da
hidroterapia aplicada através do banho de imersão como é o
caso de Benfield et al.
4
, Simkin e Bolding
20
, Eckert et al.
24
,
Cluett et al.
25
, Silva et al.
26
and Gallo et al.
27
. Destes,
destacam-se Eckert et al.
24
que,
contrariamente a todos os
outros, concluem que a imersão em água quente não confere
nenhum benefício claro para as parturientes e que quando é
realizada com a temperatura da água superior a 37◦C, pode
ser prejudicial para o feto.
No âmbito da aplicação da hidroterapia para alívio da dor
durante o trabalho de parto, é importante referir que o
duche de água quente tem especificidades e proporciona
contributos que se distinguem dos do banho de imersão.
Johnson et al.
28
afirmam que habitualmente as parturientes
utilizam o duche de água quente, adotando posições
verticais, o que inclui permanecer de pé, balançar-se,
agachar-se ou sentar-se e que podem ir alternando posições
no duche para direcionarem os jatos para onde for
necessário para proporcionar alívio da dor ou efeitos
calmantes. Assim, o duche oferece inúmeros benefícios
durante o trabalho de parto que são proporcionados pelo
movimento, tais como o alívio da dor, aumento do sentido
de autoeficácia, tranquilidade, conforto e perceção de
controlo sobre o ambiente e a experiência do parto.
28
Stark
18
também refere que o duche terapêutico promove e
facilita o trabalho de parto fisiológico através do impacto
rítmico da água quente que pode proporcionar uma
distração sensorial agradável, através da liberdade de
movimentos e através da deambulação que o duche implica
devido à necessidade de caminhar para entrar e sair do
duche.
Gayeski et al.
29
avaliaram a aplicação de métodos não
farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de
parto, do ponto de vista das primíparas (n=188), no dia da
alta hospitalar e constataram que o duche de água quente era
o segundo método não farmacológico mais usado (91.5%)
[o suporte emocional proporcionado pelo acompanhante da
parturiente era o primeiro (97.3%)]. Neste contexto é
também importante mencionar, que alguns autores
consideram que há escassez de evidência científica para
suportar o duche de água quente como uma intervenção
terapêutica. Destes, destacam-se Simkin e O’Hara
30
, e
Stark
18
que afirmam que, se por um lado o duche é
considerado como uma estratégia de coping eficaz durante
o trabalho de parto, por outro constata-se uma escassez de
investigação acerca da sua eficácia.
Da investigação desenvolvida com o objetivo de avaliar o
efeito terapêutico do duche de água quente para alívio da
dor durante a primeira fase do trabalho de parto, realçamos,
o trabalho de Davim et al.
31
no qual foi observado um alívio
significativo na dor das parturientes após a aplicação do
duche com água à temperatura ambiente, e o estudo
realizado por Barbieri et al.
32
em que foi utilizado o duche
com água a 37ºC direcionado para a região lombo sagrada
durante 30 minutos, e no qual, os resultados evidenciaram
que não houve diferença significativa no score de dor
avaliado antes da intervenção e 1 hora após. Tal como
Barbieri et al.
32
, Stark
18
no estudo que publicou em 2013,
concluiu que o duche terapêutico não reduziu
significativamente a perceção de dor nas participantes.
Nesse estudo, a direção do jato de água e a temperatura
poderiam ser ajustadas pelas parturientes, e por motivos de
segurança, as parturientes permaneciam sentadas durante o
procedimento.
18
Neste estudo a avaliação da dor foi
realizada 10 minutos depois da intervenção e o autor
considerou que se a dor tivesse sido avaliada antes da
parturiente sair do duche, poderia ter havido uma redução
mais evidente e os resultados poderiam ter sido diferentes.
Com resultados diferentes, refere-se o estudo realizado por
Santana et al.
33
, que mostra de uma forma mais esclarecedora
os benefícios do duche de água quente, ao mencionar nas
suas conclusões, que, na fase ativa do trabalho de parto,
quando a intervenção tem uma duração superior a 20
minutos e com uma temperatura entre 37 e 39ºC, é efetiva
na redução da intensidade da dor. Com resultados no
mesmo sentido realçam-se ainda os contributos do estudo
que Stark
17
realizou em 2017, no qual concluiu que o grupo
que foi submetido à intervenção, durante 30 minutos (este
período de tempo foi definido com base na pesquisa
realizada por Benfield et al.
34
, cujos resultados com o banho
de imersão com uma duração de 15 minutos revelaram
diferenças significativas) apresentaram reduções