Outro aspeto importante, identificado nas entrevistas, foi
que dentre as puérperas entrevistadas que não receberam
informações sobre o que fazer em relação aos seus
sentimentos, teve aquelas que relataram que uma das
maneiras encontradas para obtenção de informações, foi
através de pesquisas pela internet ou junto a familiares.
Aqui ninguém me orientou. Acho que aqui em uma das reuniões acho
que foi falado isso. Quando aconteceu isso comigo eu não sabia, aí
comecei a pesquisar na internet, sintomas de depressão pós-parto, e eu
estava com todos. Aí eu liguei e falei para a minha mãe, aí ela falou
que era normal, que ela também teve e tal. Foi minha mãe que me
ajudou. Na consulta eu não cheguei a comentar sobre isso. (C2M10)
Como sabe-se, é preciso filtrar a vasta gama de informações
encontradas, pois nem tudo que está na internet é
embasado cientificamente - argumentos válidos, com
eficácia comprovada -, ou seja, pode-se encontrar as
famosas "fake news", informações falsas que percorrem os
meios de comunicação e que podem levar influências
negativas aos usuários.
Discussão
Com o nascimento do bebê, a mulher e a sua família
começam uma nova rotina diária, que pode ser frustrante
devido aos desafios da relação entre a mãe e seu filho,
reorganização do núcleo familiar, ansiedade e a
amamentação, que pode exigir muitas readaptações a esse
novo momento de sua vida.14
Nesse aspeto, o presente estudo identificou que as
mulheres passam por sentimentos de abandono e tristeza
durante o pós-parto, e muitas vezes, por não ter
conhecimento sobre o assunto, não compartilham seu
sofrimento e não recebem apoio familiar e profissional.
Estudo aponta que apresentar tristeza no último trimestre
de gestação e a história de depressão na família são
associados a maior prevalência de DPP15 o que reforça as
recomendações do presente estudo sobre investigação
sobre história de agravo/doença mental durante o pré-natal
e no pós-parto.
A literatura aponta que o apoio emocional, instrumental e
informativo do(a) companheiro(a) é fundamental,
encontrando que quanto mais apoio menor a prevalência
de DPP 16 (Ramos, 2022). Do mesmo modo, o suporte pela
equipe de saúde à mulher durante o pré-natal, reduz em até
23% a prevalência de DPP15.
Existe a necessidade de preparação e organização acerca
desses problemas, pois isso possibilita que portas se abram
para um cuidado integral que atenda às necessidades de
saúde dessas mulheres.17 O acesso aos serviços de saúde
colabora para reduzir a mortalidade materna, bem como,
para a garantia da atenção integral à saúde da mulher.17
Nesse processo, é essencial conhecer as fragilidades que
existam na atenção pré-natal, e apontar possíveis estratégias
para a efetividade do cuidado que é oferecido até o
puerpério.17
Uma estratégia que poderia ser utilizada para uma avaliação
mais ampla sobre o assunto, é a aplicação de perguntas
simples que identifiquem possíveis alterações emocionais, a
saber: Durante o último mês, você se sentiu deprimida ou
sem esperança com frequência? Isso te incomodou?
Durante o último mês, você teve pouco interesse ou prazer
em fazer as coisas? Isso te incomodou?.13
Juntos a isso, vale ressaltar a escala de Edimburg, um dos
principais instrumentos para identificar DPP no âmbito da
APS, visto que é de aplicação rápida, simples e de fácil
entendimento, podendo ser auto aplicada ou aplicada por
terceiros (profissionais de saúde), associado ao valor na
identificação de fatores de risco para a DPP, afinal, o fator
psicossocial é relevante.14 O tempo da realização é de
aproximadamente cinco minutos, sendo ela categorizada
com 10 itens, divididos em fatores de depressão e
ansiedade, medindo a presença e intensidade dos sintomas
nos últimos sete dias. Há, ainda, diferenças relacionadas ao
ponto de corte mais indicado para identificação da DPP,
podendo ser explicadas por variações metodológicas e
inter-regionais.14
Desse modo torna-se indispensável identificar esses sinais
na própria fala da paciente, por meio da anamnese, e frente
a resposta positiva, pode-se aplicar a escala de Edimburg,
utilizada para identificar a DPP.18
É fundamental que os profissionais de saúde, em especial
os enfermeiros que estão mais próximo da mulher durante
todo período gestacional e pós-parto, tenham
conhecimento sobre a DPP e saibam identificar fatores ou
condições que possam agravar a saúde das mesmas, e assim
ajudá-las no início dos sintomas e encaminhá-las para um
atendimento especializado, quando necessário.
A literatura aponta que certo despreparo dos profissionais
da saúde, que não tem uma definição formada sobre a DPP,
nem sobre outros transtornos mentais que possam aflorar
no puerpério, o qual dificulta relacioná-la com fatores que
possam gerar maiores agravos à puérpera.19
Em relação às pesquisas pela internet para sanar suas
dúvidas, considerando que, embora existam inúmeros sites
que contêm informações relacionadas à saúde, a capacidade
dos usuários de encontrar intervenções de saúde
cientificamente robustas não é totalmente conhecida.20
Por isso, é importante que os profissionais reconheçam
essa realidade e auxiliem as mulheres nas melhores escolhas
na busca de informações, além de incorporar ferramentas
digitais de comunicação na assistência, como teleconsulta,
e-mails, aplicativos, entre outros.21
Conclusões
O estudo teve como principais contribuições demonstrar
que assistência em saúde mental é frágil, sendo necessário
o aprimoramento e fortalecimento dos profissionais da
APS, já que esta é a principal prestadora de cuidados pós-
parto, especialmente o enfermeiro, profissional apto a
prestar uma consulta pós-parto de qualidade e em tempo