a DSF e a diminuição da satisfação física, emocional e com
a vida em geral. Por outro lado, Dwarica et al.9, salientam
que a satisfação sexual pode variar ao longo de uma relação
e com acontecimentos significativos da vida, o que também
deve ser tido em consideração.
Vários autores referem que o efeito da gravidez na função e
na satisfação sexual da mulher não está devidamente
estudado e salientam as alterações sofridas durante a
gravidez, o seu impacto na qualidade de vida global e a
importância de essas alterações sentidas pelas mulheres e
pelos seus parceiros serem discutidas com os profissionais
de saúde.3,6,9-13
A maioria das mulheres é sexualmente ativa durante a
gravidez e muitas manifestam preocupações quanto ao
impacto da atividade sexual no feto e na gravidez.5,10-11,14-17
A investigação efetuada por Branecka-Wózniak et al.2 que
envolveu grávidas com patologia que se encontravam
internadas, demonstrou que níveis mais elevados de
satisfação sexual em todas as dimensões estavam associados
a um nível mais elevado de satisfação com a vida. Este
estudo enfatizou ainda a necessidade de cuidados perinatais
abrangentes e de aconselhamento sexual profissional.
Surucu et al.18 descobriram, no seu estudo, que as taxas de
disfunção sexual das participantes eram elevadas durante a
gravidez e que a sua qualidade de vida sexual diminuía
progressivamente no decurso da gestação. Com resultados
diferentes, a investigação de Kucukdurmaz et al.19 destacou
que a taxa de disfunção sexual foi maior no primeiro e
terceiro trimestres em comparação com o segundo
trimestre.
Cassis et al.3 referem que a melhoria da função sexual que
encontraram no segundo trimestre foi observada em vários
estudos anteriores, tal como o realizado por Vannier e
Rosen.20 No primeiro trimestre, muitas grávidas sofrem de
sintomas físicos, como náuseas e vómitos, sensibilidade
mamária e um agravamento da sensação de bem-estar.
Alguns destes sintomas diminuem no segundo trimestre, há
uma adaptação psicológica às alterações, bem como uma
diminuição do medo de sofrer um aborto. Para algumas
mulheres, a gravidez pode resultar numa maior consciência
do seu corpo e, por conseguinte, numa maior sensualidade.
Outras sentem-se menos inibidas. Para outras, a
vasocongestão dos órgãos genitais durante a gravidez pode
aumentar o desejo sexual e melhorar a resposta sexual.6 No
terceiro trimestre, as mulheres sofrem mais alterações físicas
e anatómicas, como o aumento do tamanho do abdómen
que interfere na atividade sexual, o corrimento vaginal, os
movimentos do feto e o aumento da humidade vaginal,
entre outros. Existe também o medo de um parto prematuro
e todos estes fatores podem contribuir para o declínio
subsequente da atividade e função sexual no último
trimestre. Dwarica et al.9 também incluíram como fatores
que contribuem para a diminuição da atividade sexual
durante a gravidez, o desconforto físico, o medo de lesões
no feto, a perda de interesse, o constrangimento físico, o
coito doloroso e a perceção de não ser tão atraente. Neste
contexto, salientamos que apenas um estudo referiu um
aumento da satisfação sexual no terceiro trimestre.21
Numa outra perspetiva, Oche et al.17 salientaram que os
mitos sobre o sexo durante a gravidez, relacionados com o
trabalho de parto prematuro ou o aborto espontâneo, são
fatores muito fortes para evitar o contacto sexual. Estes
autores avaliaram a atitude, as experiências sexuais e as
mudanças na função sexual durante a gravidez e
descobriram que apesar da maioria das inquiridas mencionar
a existência de desejo e de satisfação sexual, 99% referem
uma menor frequência de relações sexuais durante a
gravidez. O declínio da atividade sexual foi associado ao
medo de prejudicar o feto e ao trabalho de parto prematuro.
No entanto, algumas das mulheres que mantiveram a
atividade sexual, referiram a necessidade de demonstrar
amor pelos parceiros, de assegurar a harmonia conjugal e de
satisfazer o seu desejo sexual. Assim, os autores consideram
que é imperativo que os profissionais de saúde tomem a
iniciativa de abordar estes temas durante a consulta com os
profissionais de saúde, incentivando a mulher a comunicar
de forma mais livre e aberta.
Infelizmente, a função sexual durante a gravidez nem
sempre é abordada de forma quotidiana pelos prestadores
de cuidados de saúde.7,10 Num inquérito que incluiu 141
grávidas no Canadá, Bartellas et al.10 constataram que apenas
um terço das mulheres foi informado pelo seu prestador de
cuidados de saúde sobre a atividade sexual durante a
gravidez e quase metade das mulheres abordou, por
iniciativa própria, o assunto. Khalesi et al.7 concluíram, no
seu estudo, que a função sexual apresentou regressões
significativas ao longo do tempo durante a gravidez e que é
um problema generalizado durante esta fase. Estes autores
esperam, com o seu estudo, chamar a atenção dos
profissionais de saúde para os problemas sexuais das
grávidas. Defendem que é inaceitável que os profissionais de
saúde negligenciem estas questões e que deve ser feito um
esforço para prevenir ou tratar os problemas sexuais das
grávidas.
Durante a gravidez, os profissionais de saúde podem ter um
papel decisivo nas consultas pré-natais e nas aulas de
preparação parental, abordando a função e a satisfação
sexual. Este facto pode ser determinante, não só para
desenvolver conhecimentos sobre o efeito da gravidez
nestas dimensões, mas também para identificar problemas e
responder adequadamente às necessidades da grávida.
Cassis et al.3 e Rezende6 concluíram que a importância da
função sexual na qualidade de vida é bem conhecida, pelo
que é de extrema importância que este tópico seja discutido
com as mulheres e os seus parceiros pelos seus prestadores
de cuidados de saúde. A este respeito, a saúde sexual deve
ser considerada como uma componente importante da
saúde em geral; considera-se que uma orientação eficaz e
correta contribui para a manutenção da saúde psicológica e
para a melhoria da saúde das mulheres.18
Os obstáculos que podem contribuir para a falta de
diagnóstico da disfunção sexual incluem o desconforto dos
doentes em relação a temas sexuais, a escassez de formação
dos prestadores de cuidados de saúde sobre medicina sexual
e a perceção de falta de tempo para abordar estas
preocupações durante as consultas de cuidados de saúde.22