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Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / fevereiro 2024
DOI: 10.56732/pensarenf.v28i1.298
Artigo de Revisão
Como citar este artigo: de Sousa MST, Correia MJPL, N EGT. Perceção da família sobre a segurança nos
cuidados à criança hospitalizada: scoping review. Pensar Enf [Internet]. 2024 Fev; 28(1): 15-27. Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v28i1.298
Perceção da família sobre a segurança nos
cuidados à criança hospitalizada:
scoping review
Family perception of safety in hospital care for the
pediatric patient: scoping review
Resumo
Introdução
A segurança dos cuidados é um dos pilares fundamentais para a qualidade da assistência
em saúde. A perceção das famílias das crianças hospitalizadas vem permitir ampliar a
compreensão sobre os fatores que contribuem para a ocorrência de incidentes de
segurança, permitindo a sensibilização de profissionais e organizações de saúde para a
implementação de práticas mais seguras.
Objetivo
Mapear a evidência científica disponível a respeito da perceção da família sobre a
segurança dos cuidados prestados à criança hospitalizada.
Métodos
Scoping review segundo recomendações de Joanna Briggs Institute (2020), seguindo a lista
de verificação do PRISMA-ScR Foram pesquisadas as bases de dados CINAHL e
MEDLINE (via EBSCOhost), SciELO, Scopus e RCAAP, através de pesquisa por
descritores e termos livres, nos idiomas português, inglês, espanhol e francês, a partir do
ano 1999. A pesquisa, análise da relevância dos estudos, extração e síntese dos dados
foram realizadas entre os meses de março e maio de 2022, por dois revisores
independentes.
Resultados
De 1590 estudos obtidos, foram incluídos 29 que cumpriram os critérios de elegibilidade
e respondiam ao objetivo da scoping review. Foram variados os incidentes de segurança
relatados pelas famílias, tendo-se verificado uma maior prevalência relacionada com a
administração de terapêutica. A falta de comunicação foi um dos aspetos mais referidos
como contribuinte para o cuidado inseguro. Os familiares relatam diversas sugestões para
a promoção da segurança, com enfoque no aumento da vigilância, atenção e transmissão
de informações.
Conclusão
Os familiares das crianças hospitalizadas são capazes de identificar incidentes de
segurança, fatores contribuintes para o cuidado inseguro e apresentam sugestões de
melhoria, sendo essencial compreender a sua perceção e incluí-los para o aumento da
segurança da criança hospitalizada. A atual scoping permite aos profissionais de saúde
repensar as suas práticas e a importância do envolvimento dos familiares nos cuidados.
Palavras-chave
Família; Hospitalização; Segurança do paciente; Pediatria.
Mariana Serpa Teixeira de Sousa1
orcid.org/0009-0002-2580-4980
Maria João Pereira Lopes Correia2
orcid.org/0009-0008-6596-8342
Elisabete Maria Garcia Teles Nunes3
orcid.org/0000-0001-7598-0670
1 Mestrado com Especialização em Enfermagem de
Saúde Infantil e Pediatria, Universidade Católica
Portuguesa, Lisboa, Portugal.
2 Mestrado com Especialização em Enfermagem de
Saúde Infantil e Pediatria, Universidade Católica
Portuguesa, Lisboa, Portugal.
3 Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL), Lisboa. Centro de Investigação,
Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de
Lisboa (CIDNUR), Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Mariana Serpa Teixeira de Sousa
E-mail: mariana94_@hotmail.com
Recebido: 18.10.2023
Aceite: 20.12.2023
16 | Sousa, M.
Artigo de Revisão
Abstract
Introduction
Patient safety is one of the fundamental pillars of the
quality of healthcare. The perception of families of
hospitalized children allows for an expanded
understanding of the factors contributing to the
occurrence of safety incidents, raising awareness among
healthcare professionals and organizations for
implementing safer practices.
Objective
To map the available scientific evidence regarding the
family's perception of the safety of care provided to
hospitalized children.
Methods
A scoping review was conducted following the Joanna
Briggs Institute recommendations (2020), adhering to the
PRISMA-ScR checklist. Searches were performed on the
CINAHL and MEDLINE databases (via EBSCOhost),
SciELO, Scopus, and RCAAP, using descriptors and free
terms in Portuguese, English, Spanish, and French, from
1999 onwards. Two independent reviewers carried out the
search, study relevance analysis, data extraction, and
synthesis between March and May 2022.
Results
Out of the 1,590 studies obtained, 29 were included as
they met the eligibility criteria and addressed the
objectives of the scoping review. Families reported
various safety incidents, with a higher prevalence related
to therapeutic administration. They frequently cited lack
of communication as a contributing factor to unsafe care.
Family members provided diverse suggestions for
promoting safety, emphasizing increased vigilance,
attention, and information transmission.
Conclusion
Family members of hospitalized children can identify
safety incidents and contributing factors to unsafe care,
offering suggestions for improvement. Understanding
family members' perceptions and involving them are
essential for enhancing the safety of hospitalized children.
This scoping review allows healthcare professionals to
reconsider their practices and recognize the importance of
family involvement in care.
Keywords
Family; Hospitalization; Patient safety; Pediatrics.
Introdução
A segurança é uma dimensão fundamental da qualidade
dos cuidados de saúde. Segundo a Organização Mundial
de Saúde (OMS) cuidados de alta qualidade envolvem
cuidados seguros, eficazes, centrados nas pessoas,
oportunos, eficientes, equitativos e integrados.1
O reconhecimento da importância da segurança do
paciente e a crescente consciencialização sobre o tema
veio a ser despoletado essencialmente nas últimas duas
décadas, após o lançamento do relatório do Instituto de
Medicina To Err Is Human de 1999, que revelou à data a
imensa dimensão de eventos adversos evitáveis.2
Atualmente, reconhece-se que a prestação de cuidados de
saúde envolve riscos e que apesar de todos os cuidados
para o falhar, muito ainda a fazer para garantir que
todos os pacientes recebam cuidados com a máxima
segurança.3
A segurança do paciente foi definida pela OMS como a
redução do risco de danos desnecessários relacionados
com os cuidados de saúde, para um mínimo aceitável.4
Desde então, esta definição tem sido utilizada de forma
sistetica na literatura até à atualidade.
Em Portugal, o direito à proteção da saúde constitui-se
como um direito do paciente de acordo com a Lei de
Bases da Saúde, aprovada pela Lei n.º 95/2019, de 4 de
setembro, sendo a segurança um dos seus componentes
essenciais.5 Da mesma forma, de acordo com a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu
artigo 3º, “todo ser humano tem direito à vida, à liberdade
e à segurança pessoal”.6(p489) A melhoria contínua da
procura da segurança do paciente constitui assim uma
obrigação ética e legal universal a todos os profissionais e
organizações prestadoras de cuidados de saúde.3
Apesar de estudos escassos acerca da segurança do doente
pediátrico, os dados são inquietantes. Acredita-se que as
crianças, pela sua especificidade, são mais vulneráveis à
ocorrência de eventos adversos durante a hospitalização,
comparativamente à população adulta.7 Da sua
especificidade, destaca-se o metabolismo acelerado e a
maior variação do peso corporal, o que torna necessário o
ajuste frequente de doses e concentrações de
medicamentos, a imaturidade no desenvolvimento de
órgãos e sistemas, a curiosidade e imprevisibilidade dos
movimentos, características do próprio desenvolvimento
da criança, carecendo estes de maior monitorização e
vigilância constantes.8
A família da criança são as pessoas de referência que a
acompanham no seu processo de desenvolvimento, são
quem conhece as suas particularidades, efetivando-se
enquanto importantes parceiros na garantia da sua
segurança física e emocional.9 As crianças são muitas
vezes incapazes de contribuir para o controlo da sua
própria segurança sendo fundamental a participação
efetiva do acompanhante, de modo a servir de barreira de
prevenção a eventos adversos.10 O familiar cuidador tende
a ser reconhecido como a principal referência de cuidado
da criança, que a acompanha durante a hospitalização,
procurando ajudá-la na adaptação e promoção da sua
segurança.11
Compreende-se que os pacientes e familiares são capazes
de identificar incidentes e eventos adversos não detetados
pelos profissionais e de os relatar sem constrangimentos
ou prejuízos, fornecendo informações novas e valiosas
sobre o tipo e frequência dessas ocorrências. Através dos
familiares, é possível ter uma perspetiva distinta sobre a
Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / fevereiro 2024 | 17
DOI: 10.56732/pensarenf.v28i1.298
Artigo de Revisão
segurança do cuidado hospitalar muitas vezes não relatada
nos sistemas de notificação.12
A perceção dos familiares poderá ser utilizada como
indicador de resultado de qualidade para medir o
desempenho da prestação dos serviços e a sua avaliação,
sinalizando a existência de falhas no cuidado e no sistema
organizacional contribuindo para o planeamento de novas
estratégias e práticas mais seguras.13
No quarto, dos sete objetivos estratégicos do Plano de
Ação Mundial para a Segurança do Doente 2021-203014
que visam eliminar danos evitáveis, é referido: envolver e
capacitar pacientes e famílias para ajudar a apoiar a
jornada para cuidados de saúde mais seguros. Este
objetivo vem reforçar que o envolvimento do paciente e
da família deverá ser parte integrante da promoção da
segurança do mesmo, para que a sua voz e experiência,
resultem numa influência benéfica e poderosa na prática
clínica e nas políticas globais e nacionais.14
Torna-se assim, indispensável que as instituições de saúde
estimulem a troca de saberes entre pacientes,
acompanhantes, familiares e profissionais no sentido de
aumentar a segurança do paciente, sendo o cuidado
construído a partir da parceria entre todos os
envolvidos.15
Embora incentivada a sua participação, é relatado que esta
pode ainda ser dificultada pelo receio que os profissionais
de saúde sentem em relação à "transferência" de
competências dos profissionais para os pais/família.16
Existe diversa e dispersa literatura disponível sobre a
perceção dos familiares/pais/acompanhantes/cuidadores
acerca da segurança dos cuidados prestados à criança
hospitalizada, maioritariamente são estudos primários, que
suportam a necessidade da realização desta revisão.
Foi realizada uma pesquisa preliminar na Prospero National
Institut for Health, JBI Evidence Synthesis, OSF home e the
Cochrane Database of Systematic Reviews, onde não foram
encontrados protocolos de revisão ou revisões
sisteticas atuais sobre a questão colocada, surgindo a
necessidade de mapear a evidência científica neste âmbito.
A perceção dos familiares das crianças hospitalizadas
sobre a segurança dos cuidados, nomeadamente os fatores
contribuintes para o cuidado inseguro e as suas sugestões
de melhoria constituem assim uma mais-valia para
sensibilizar profissionais e organizações de saúde,
favorecendo aprendizagens e adaptação de
comportamentos promotores de uma maior segurança.
Objetivos
O objetivo desta revisão é mapear na evidência científica a
perceção da família sobre a segurança dos cuidados
prestados à criança hospitalizada.
A atual revisão pretende responder à seguinte questão:
“Qual a perceção da família sobre a segurança dos
cuidados prestados à criança hospitalizada?”.
Partindo da questão principal, pretendemos ainda
identificar: “Quais os incidentes de segurança
identificados pelos familiares das crianças
hospitalizadas?”; “Quais os fatores que contribuem para o
cuidado inseguro identificados pelos familiares das
crianças hospitalizadas?”; “Quais as sugestões referidas
pelos familiares para promover a segurança dos cuidados
prestados à criança hospitalizada?”.
Métodos
A revisão de scoping foi realizada de acordo com a
metodologia JBI (2020) para análises de scoping e os dados
surgem apresentados segundo as recomendações da
checklist Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and
Meta-analyses for Scoping Reviews (PRISMA-ScR).17 Foi criado
um protocolo de revisão que foi registado na plataforma
Open Science Framework (OSF) (https://osf.io/mz5e9).
Critérios de Elegibilidade
Para a definição dos critérios de inclusão foi utilizada a
mnemónica “PCC” de acordo com as recomendações do
JBI para as revisões scoping. Esta representa os termos
população, conceito e contexto.18
Critérios de inclusão do estudo:
População: A atual revisão considera estudos que
incluem pais/familiares/acompanhantes/cuidadores
de crianças hospitalizadas, independentemente da
idade da criança (0-18 anos) e da causa do
internamento. Não foram aplicadas restrições de
género, idade, etnia ou outras características pessoais.
Conceito: Foram incluídos estudos focados na
segurança do doente. A segurança do doente define-
se como a redução do risco de danos desnecessários
relacionados com os cuidados de saúde, para um
mínimo aceitável.4 Foram incluídos estudos que
abordaram quaisquer fatores identificados pelos
familiares relacionados com a segurança da criança
hospitalizada, incluindo fatores contribuintes para o
cuidado inseguro e sugestões de melhoria para
promoção da segurança. Foram incluídos estudos que
incluíam questões relacionadas com a cultura de
segurança que respondiam às questões da revisão.
Contexto: A revisão aborda todos os contextos de
prestação de cuidados hospitalares à criança (0-18
anos), incluindo serviços de urgência, internamento
de diversas especialidades, bloco operatório, cuidados
intensivos e neonatologia. Não foram impostas
restrições culturais ou geográficas.
Foram considerados estudos do tipo quantitativo,
qualitativo e misto, revisões de literatura, literatura
cinzenta, entre outros, considerados relevantes para a
questão de revisão, redigidos em português, inglês,
espanhol e francês.
Critérios de exclusão do estudo:
Como critérios de exclusão definiram-se artigos de
opinião, anúncios publicitários, editoriais ou cartas ao
editor.
18 | Sousa, M.
Artigo de Revisão
Tendo em conta que uma revisão scoping pretende mapear
toda a evidência disponível,18 não seria estabelecido um
limite temporal a respeito da data de publicação das
fontes. Porém, tendo-se verificado uma grande evolução
da cultura de segurança das organizações de saúde desde o
lançamento do relatório do Instituto de Medicina To Err Is
Human em 1999,2 considerou-se que estudos anteriores
poderiam não se adequar à realidade da cultura de
segurança atual, tendo sido incluídos apenas estudos após
o ano de 1999.
Estratégia de pesquisa
A estratégia de pesquisa visou obter estudos publicados e
não publicados que respondessem aos critérios de
inclusão definidos e respondessem às questões da scoping
review.
Primeiramente, foram acedidas as bases de dados
MEDLINE (via EBSCOhost) e CINAHL (via
EBSCOhost) para pesquisa exploratória de estudos
relevantes e identificação das palavras mais frequentes
contidas nos títulos e resumos.
A segunda etapa consistiu na identificação dos termos de
indexação e termos livres, aplicando-se os operadores
booleanos AND e OR, por via eletrónica nas bases de
dados MEDLINE (via EBSCO), CINAHL (via EBSCO),
SciELO e Scopus, tendo a equação de pesquisa sido
adaptada a cada base de dados como explicitado na Tabela
1. De forma complementar, pesquisou-se literatura
cinzenta, consultando-se o Repositório Científico de
Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
A terceira etapa consistiu na consulta da lista de
referências bibliográficas dos estudos selecionados após
leitura de texto completo a fim de encontrar potenciais
estudos relevantes complementares para responder às
questões de investigação.
A pesquisa foi realizada por dois revisores de forma
conjunta durante os meses de março e abril de 2022.
Tabela 1. Estratégia de Pesquisa
Estratégias de Pesquisa
( MH ( (Parents OR Caregivers OR Family OR "Parental Attitudes" OR "Caregiver Attitudes" OR "Family Attitudes") ) OR TX (
(“Parents Perceptions” OR “Parents reports” OR Caregivers perceptions” OR Caregivers reports” OR “Family perceptions” OR
“Family reports”) ) ) AND ( MH ( ("Patient Safety" OR "Child Safety" OR "Risk Assessment" OR "Risk Management" OR "Attitude
to Risk" OR "Quality of Health Care") ) OR TX ( (“Patient Harm” OR “Medical Errors“) ) ) AND ( MH ( ("Pediatric Units” OR
“Pediatric Care” OR "Hospitals, Pediatric" OR "Infant, Hospitalized" OR "Child, Hospitalized" OR "Adolescent, Hospitalized" OR
"Pediatric nursing") ) OR TX ( (“Pediatric Hospitalization” OR “Pediatric Urgent Care” OR “Pediatric Operating room” OR
“Pediatric Intensive Care” OR “Neonatology” OR Hospitalized Children”) ) )
( MH ( (Parents OR Caregivers OR Family) ) OR TX ( (“Parents Perceptions” OR Parents reports” OR “Caregivers perceptions”
OR ”Caregivers reports” OR “Family perceptions” OR “Family reports”) ) ) AND ( MH ( (“Patient Safety” OR “Safety
Management” OR “Risk Management” OR “Patient Harm” OR “Medical Errors” OR “Patient Reported Outcome Measures” OR
“Quality of Health Care”) ) OR TX ( (“Child Safety” OR “Adverse Event” OR “Incident Reports”) ) ) AND ( MH ( (“Hospitals,
Pediatric” OR Intensive Care Units, Pediatric” OR “Child, Hospitalized” OR “Adolescent, Hospitalized” OR Hospital Units” OR
“Pediatric Nursing” OR Pediatrics) ) OR TX ( (“Pediatric Hospitalization” OR “Pediatric Urgent Care” OR “Pediatric Operating
room” OR “Pediatric Intensive Care” OR “Pediatric Care” OR “Hospitalized Children”) ) )
((parents OR caregivers OR family OR "Parents perceptions" OR "family perceptions" OR "caregivers perceptions")) AND
(("patient safety" OR "safety management" OR "risk management" OR "risk assessment" OR "incident reports" OR "child safety"))
AND (("Pediatric Hospital" OR "Hospitalized infant" OR "Hospitalized child" OR "Hospitalized children" OR "Hospitalized
adolescent" OR "Pediatric Intensive Care" OR "pediatric operating room" OR neonatology))
( TITLE-ABS-KEY ( ( parents OR caregivers OR family OR "Parents perceptions" OR "family perceptions" OR "caregivers
perceptions" ) ) AND TITLE-ABS-KEY ( ( "patient safety" OR "safety management" OR "risk management" OR "risk
assessment" OR "incident reports" OR "child safety" ) ) AND TITLE-ABS-KEY ( ( "Pediatric Hospital" OR "Hospitalized
infant" OR "Hospitalized child" OR "Hospitalized children" OR "Hospitalized adolescent" OR "Pediatric Intensive Care" OR
"pediatric operating room" OR neonatology ) ) ) AND ( LIMIT TO ( LANGUAGE , "English" ) OR LIMIT-TO (
LANGUAGE , "Portuguese" ) OR LIMIT-TO ( LANGUAGE , "French" ) OR LIMIT-TO ( LANGUAGE , "Spanish" ) )
AND ( LIMIT-TO ( PUBYEAR , 1999 ) OR LIMIT-TO ( PUBYEAR , 2022 )
(parents OR caregivers OR family OR "Parents perceptions" OR "caregivers perceptions" OR "family perceptions") AND ("patient
safetyOR "safety management" OR "risk management" OR "risk assessment" OR "incident reports" OR "child safety") AND
("Pediatric Hospital" OR "Hospitalized infant" OR "Hospitalized child" OR "Hospitalized children" OR "Hospitalized adolescent"
OR "Pediatric Intensive Care" OR "pediatric operating room" OR neonatology)
Seleção dos estudos
Todos os estudos obtidos através da estratégia de pesquisa
foram exportados para o software Zotero (6.0.6/2022),
onde foram removidos os duplicados e foi realizada uma
triagem dos estudos através da leitura criteriosa dos seus
títulos e resumos por dois revisores independentes.
Os estudos potencialmente relevantes foram importados
para o Rayyan QCRI® onde passaram à fase de leitura de
texto completo, igualmente realizada por dois revisores
independentes, tendo sido cada estudo analisado ao
pormenor a respeito dos critérios de inclusão.
Tratando-se de uma scopng review, em que o seu objetivo
consiste em mapear o conhecimento disponível acerca da
temática,18 a avaliação crítica das fontes foi dispensada.
Foram identificados dois estudos sem versão completa
gratuita disponível, tendo sido contactada a revista de
publicação para solicitar os estudos, sem resposta.
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Artigo de Revisão
No processo de seleção dos estudos surgiram quarenta e
sete divergências entre os dois revisores que foram
resolvidas através de consenso entre as partes, sem
necessidade de consulta de revisores adicionais.
Extração e síntese de dados
Para a extração de dados dos estudos incluídos foi
utilizada a ferramenta de extração de dados proposta pela
JBI, que foi alvo de adaptação face aos objetivos da
revisão. Os dados extraídos dos estudos incluíram
detalhes específicos sobre: autores, título, ano, país,
objetivos, tipo de estudo, participantes, contexto e
principais resultados relevantes para as questões de
revisão.
Os dados foram extraídos por dois revisores
independentes. Surgiram vinte e duas divergências que
foram resolvidas através de consenso entre as partes,
sendo que em duas destas, surgiu a necessidade de
recorrer a dois revisores adicionais. A síntese e
apresentação dos dados foi realizada de forma conjunta
por dois revisores.
Resultados
Através da pesquisa realizada nas bases de dados foram
encontrados 1590 estudos. Destes, 155 estudos
encontravam-se identificados automaticamente como
duplicados tendo sido removidos, totalizando 1435. Após
leitura de títulos e resumos foram excluídos 1290 e mais 9
por identificação manual de duplicação, ficando 136
estudos. Após leitura de texto completo à luz dos critérios
de inclusão, foram excluídos 110 estudos, restando 26
estudos incluídos. Selecionaram-se mais 3 estudos das
referências bibliográficas dos estudos incluídos,
totalizando 29 estudos incluídos para revisão. Na Figura 1
apresenta-se o fluxograma do processo de seleção dos
estudos de acordo com as orientações PRISMA-ScR.17
IDENTIFICAÇÃO
SELEÇÃO
ELEGIBILIDADE
INCLUSÃO
Estudos identificados nas bases de dados (n = 1590)
CINAHL (via EBSCOhost) = 633
MEDLINE (via EBSCOhost) = 390
SciELO = 22
Scopus = 538
RCAAP = 7
Estudos após eliminação de
duplicados
(n= 1435)
Estudos excluídos por
duplicados
(n= 155)
Estudos excluídos após
leitura de títulos e abstracts
(n=1290)
Duplicados excluídos
encontrados manualmente
(n= 9)
Estudos completos para
leitura na íntegra
(n=136)
Estudos excluídos critérios
de inclusão e exclusão
(n=110)
Estudos selecionados
(n=26)
Estudos incluídos após
leitura das referências
(n=3)
Estudos incluídos na scoping
review
(n=29)
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos (adaptado de Tricco et al., 2018)17
20 | Sousa, M.
Artigo de Revisão
Características dos estudos incluídos
Os estudos apresentam um friso temporal de 1999 a 2020,
sendo o ano de maior publicação 2019 (21%).15,19,20,21,22,23
Verifica-se maioritariamente estudos publicados nos
Estados Unidos da América (EUA) (45%) 20,24,25
26,27,28,29,30,31,32,33,34,35 e Brasil (34%).9,15,19,36,37,38,39,40,41,42
A maioria dos estudos (86%) apresenta uma abordagem
qualitativa.9,15,19,20,22,23,25,26,27,28,29,30,32,33,34,35,36,37,38,39,40,41,42,43,44
Na totalidade, esta revisão inclui 4872 participantes, destes
3722 (76%) são pais,20,21,22,24,25,26,27,28,29,30,31,32,33,34,35,37,43 883
(18%) são familiares,9,19,36,38,39,41,44,45 227 (5%) são
cuidadores15,23,42 e 40 (1%) são acompanhantes.40
Alguns estudos abordam de forma complementar
perceções de outros que o familiares (17%), no entanto
foi possível a sua inclusão através da extração de dados
apenas da população em estudo.19,20,21,36,43
Síntese dos resultados
As características dos estudos incluídos na scoping review e a
síntese dos principais resultados de interesse relacionados
às questões de investigação encontram-se apresentadas no
Quadro 1.
Quadro 1. Características dos estudos incluídos
Autores
Ano
País
Tipo de estudo
Participantes
Contexto
Objetivo
Principais Resultados
Franco et al.9
2020
Brasil
Estudo Qualitativo
18 familiares
Unidade Pediátrica do
Hospital Universitário
de São Paulo
Conhecer o significado
atribuído pelos familiares à
segurança do paciente
pediátrico, com atenção às
possibilidades da sua
colaboração
Os familiares reconheceram riscos para o erro e danos nos cuidados.
Identificaram-se como elementos de apoio na minimização de
incidentes, valorizando uma abordagem centrada na criança e na
família, considerando a parceria de cuidados como oportunidades de
promover a segurança.
Hoffmann et al.15
2019
Brasil
Estudo Qualitativo
40 cuidadores
3 Unidades
Hospitalares de Porto
Alegre
Analisar os incidentes de
segurança do paciente
identificados por cuidadores
de crianças hospitalizadas
Cuidadores referiram incidentes a respeito de quedas, alimentação,
identificação paciente/cuidador, medicação, higienização das mãos,
ambiente hospitalar, infeções nosocomiais e realização de
procedimentos. A comunicação e relação entre cuidadores e
profissionais foram os principais fatores relatados para os incidentes de
segurança.
Biasibetti et al.19
2019
Brasil
Estudo Qualitativo
94 familiares
Unidades de
internamento
Pediátrico de 3
hospitais de Porto
Alegre
Analisar a perceção dos
profissionais e familiares
sobre a comunicação para a
segurança do paciente no
internamento pediátrico.
A maioria dos acompanhantes compreende que ser informado sobre os
medicamentos e procedimentos realizados permite um olhar mais
atento, aumentando a segurança da criança. Referiram que a
comunicação com os profissionais possibilita que sejam orientados
sobre a melhor forma de participar do cuidado, evitando riscos à saúde
da criança.
Wei et al.20
2019
EUA
Estudo Qualitativo
13 pais
Hospital infantil nos
EUA
Conhecer a perceção de pais
e profissionais de saúde
sobre a qualidade do
cuidado.
Pais referiram sentir-se seguros ao observarem como os profissionais
tratavam os seus filhos com “compaixão e perícia”. Referem um
aumento da sensação de segurança e proteção quando enfermeiros que
não foram designados para cuidar dos seus filhos foram examiná-los e
demonstravam interesse nas suas perguntas.
Witanowska et
al.21
2019
Polónia
Estudo Misto
110 pais
Enfermarias pediátricas
de hospitais
Esclarecer se o processo de
hospitalização é uma
situação difícil para a
criança na opinião dos seus
pais e equipe médica.
92% dos pais consideraram que os enfermeiros possuem um elevado
nível de competências. 57,9% consideraram que os enfermeiros
garantem não apenas a segurança física, assim como a psicológica.
Referiram que uma boa relação entre a equipa e familiares favorece a
troca de informações, podendo ter impacto na mudança de atitudes e
promoção da segurança.
Shala et al.22
2019
Austrália
Estudo Qualitativo
23 pais
Hospital Pediátrico de
Sydney
Explorar o conhecimento e
consciencialização dos pais
sobre quedas em crianças
hospitalizadas
Mais de 50% dos pais desconheciam a ocorrência de quedas no
internamento mas
expressaram preocupação. Alguns, por experiências passadas, adotavam
mais estratégias de prevenção. Referiram não receber educação sobre
quedas e desconheciam a avaliação do risco. Acreditavam que a sua
presença e supervisão reduzia o risco de queda.
Massa et al.23
2019
Colômbia
Estudo Qualitativo
163 cuidadores
Hospital Pediátrico de
Cartagena
Identificar a perceção dos
cuidadores sobre as
condições de segurança do
cuidado num hospital
pediátrico
Os cuidadores referiram sentir segurança nos cuidados prestados
motivada pela confiança nos profissionais. Identificaram como
incidentes mais comuns flebites e reações a medicamentosas e como
menos comuns quedas, infeções e úlceras por pressão.
Cox et al.24
2013
EUA
Estudo Misto
172 pais
3 unidades de Hospital
Infantil Universitário
Compreender as perceções
dos pais acerca do ambiente
de segurança hospitalar
através da ferramenta
AHRQ
De forma geral, os pais consideraram o ambiente de segurança da
instituição positivo, tendo sido a disponibilidade para a comunicação o
aspeto mais referido. Por sua vez, 39% dos pais concordaram ou
concordaram fortemente que precisavam zelar pelos cuidados para
evitar os erros.
Schaffer et al.25
Estudo Qualitativo
Compreender a satisfação
Pais expressaram receios e identificaram comportamentos dos
Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / fevereiro 2024 | 21
DOI: 10.56732/pensarenf.v28i1.298
Artigo de Revisão
Autores
Ano
País
Tipo de estudo
Participantes
Contexto
Objetivo
Principais Resultados
2000
EUA
1405 pais
Unidades de Hospital
infantil
dos pais sobre a
comunicação, segurança e
ambiente físico, para
identificar oportunidades de
melhoria do desempenho.
profissionais que os fizeram sentir-se seguros. Os principais medos
incluíam contrair infeções e rapto da criança. Gostariam que os
enfermeiros observassem o seu filho com maior frequência e
reforçaram a importância de uma comunicação aberta.
Harbaugh et al.26
2004
EUA
Estudo Qualitativo
19 pais
Unidade de Cuidados
Intensivos do Centro-
Oeste
Compreender as perceções
dos pais sobre os
comportamentos de
cuidado dos enfermeiros
Pais referiram sentir-se mais seguros com a vigilância constante dos
enfermeiros quando associada a comunicação e informação prestada
adequadamente. Quando o comportamento dos enfermeiros foi
percebido como descuidado e não protetor, o ambiente da UCIP foi
identificado como inseguro.
Rosenberg et al.27
2016
EUA
Estudo Qualitativo
12 pais
Enfermaria de Hospital
Urbano
Descrever as perspetivas das
famílias sobre a segurança
dos seus filhos
hospitalizados.
Além da redução do dano, pais consideraram que a segurança envolve o
conforto. Observaram comportamentos promotores de segurança e
identificaram falhas na comunicação e nas condições ambientais.
Referiram que a sua relação com os profissionais afeta os cuidados.
Sublinharam a importância da comunicação eficaz. Sugerem a fixação
de recomendações de segurança.
Stubblefield &
Murray28
1999
EUA
Estudo Qualitativo
15 pais
Hospital Infantil do
Centro-Oeste
Determinar como os pais de
filhos submetidos ao
transplante de pulmão
vivenciam e respondem às
relações com os
profissionais de saúde
Pais referiram maior sensação de segurança quando os profissionais
demonstram importar-se com os seus filhos, enfatizaram o valor da
continuidade de cuidados e da inclusão na equipa. Descreveram uma
sensação de abandono quando a condição dos seus filhos se agravava,
referindo necessidade de uma maior atenção por parte dos
profissionais.
Sobo29
2005
EUA
Estudo Qualitativo
35 pais
Hospital Pediátrico de
San Diego
Compreender quais as
preocupações de segurança
de pais de pacientes
pediátricos submetidos a
cirurgia.
Pais consideravam os cuidados seguros. As preocupações relacionavam-
se com a anestesia, complicações e vulnerabilidade pela imaturidade
física. Não consideravam a equipa culpada de complicações. Fatores
tranquilizadores relatados: ser uma cirurgia de baixo risco, experiências
anteriores, confiança na equipa, oportunidade de esclarecimentos e
verificação de identidade.
Tarini et al.30
2009
EUA
Estudo Qualitativo
278 pais
Hospital Pediátrico
Determinar a percentagem
de pais preocupados com
erros médicos e a relação
com as interações médicas.
63% dos pais referiram necessidade de vigiar os cuidados hospitalares
dos seus filhos para garantir que não são cometidos erros. Pais com
menor domínio da língua inglesa e menor confiança na interação com
os profissionais demonstraram ser os mais propensos a relatar a
necessidade de cuidar e supervisionar os cuidados aos seus filhos.
Khan et al.31
2017
EUA
Estudo de Coorte
prospetivo
717 pais
4 Unidades Pediátricas
Hospitalares
Comparar erros médicos e
eventos adversos (EAs)
identificados pelos
familiares com os incidentes
notificados pelo hospitalar.
Pais relataram preocupações das quais 51,8% foram classificadas como
reais preocupações de segurança, 40% preocupações de qualidade não
relacionadas à segurança e 8,2% outras preocupações. EAs
identificados incluíram: múltiplas picadas de agulha, atrasos no
tratamento, doses incorretas e efeitos adversos de medicamentos.
Khan et al.32
2016
EUA
Estudo Qualitativo
471 pais
Hospital pediátrico de
Boston
Determinar a frequência
com que os pais vivenciam
incidentes de segurança e a
proporção dos que
correspondem a definições
EAs
8,9% dos pais relataram incidentes de segurança. Desses, 62,2% foram
classificados como reais incidentes de segurança pelos autores. Os erros
prejudiciais mais relatados relacionaram-se com procedimentos ou
diagnóstico, enquanto os erros/quase erro não prejudiciais pareceram
ser mais relacionados com a medicação.
Sobo et al.33
2002
EUA
Estudo Qualitativo
20 pais
Unidade de Oncologia
Pediátrica
Identificar fraquezas do
sistema e elaborar
estratégias para evitar erros
futuros a respeito da
administração de
medicamentos.
Pais referiram como principais preocupações de segurança a
administração de medicação e falhas na comunicação. Reconheceram
que o erro pode ocorrer pelo envolvimento de muitos profissionais.
Gostariam que os enfermeiros informassem do nome dos
medicamentos, uniformização de procedimentos e igualdade nas
informações fornecidas aos pais.
Mazor et al.34
2010
EUA
Estudo Qualitativo
35 pais
Hospital Pediátrico
Explorar as perceções dos
pais relacionadas a eventos
que acreditavam ser erros
médicos nos cuidados aos
seus filhos.
A causa erros médicos mais citada foi a falta de rigor profissional,
seguida de falta de conhecimentos, habilidades, experiência ou
competências, tempo insuficiente com o paciente e falta de
comunicação. Referiram que alguns profissionais descartavam as suas
preocupações e não procuravam aconselhamento entre colegas.
Lyndon et al.35
2014
EUA
Estudo Qualitativo
46 pais
UCIN de um Hospital
Académico
Descrever como os pais
compreendem a segurança
da criança e as suas
preocupações sobre
segurança
Pais apresentaram confiança na equipa e sentimentos de segurança nos
cuidados. Viam a segurança como uma combinação de 3 dimensões:
física (práticas seguras), desenvolvimento (interação, crescimento e
vínculo) e emocional (confiança nos profissionais, prestação de
informações e envolvimento dos cuidados). Identificaram a qualidade e
a consistência dos cuidados como fundamentais. Referiram
preocupação com a habilidade de alguns profissionais e de não
“conhecerem o bebê”.
Wegner &
Pedro36
2012
Brasil
Estudo Qualitativo
15 familiares
Unidades pediátricas de
um Hospital
Universitário em Porto
Alegre
Analisar como os
familiares/ acompanhantes
e profissionais de saúde
compreendem os eventos
adversos nas situações de
cuidado
Familiares consideram o hospital seguro apesar de identificaram falhas
de medicação, comunicação, agravamento de saúde após
procedimentos, risco de infeção, rácio inadequado de profissionais e
prestação de cuidados que entendiam ser competência dos
profissionais. Referem como estratégias: uso de tecnologias,
comunicação efetiva, trabalho em equipa, cuidado individualizado,
lavagem das mãos, esterilização de equipamentos e orientação e
22 | Sousa, M.
Artigo de Revisão
Autores
Ano
País
Tipo de estudo
Participantes
Contexto
Objetivo
Principais Resultados
supervisão dos cuidados.
Moura et al.37
2020
Brasil
Estudo Qualitativo
18 pais
Unidade Neonatal de
Hospital do Sul
Conhecer a experiência dos
pais como estratégia de
avaliação da qualidade da
assistência de enfermagem
Pais identificaram 43 incidentes críticos. Referiram fragilidades quanto à
administração de medicamentos, uso de equipamentos, inadequado
posicionamento dos bebês, aquecimento após o banho, cuidados com a
pele e incorreta higienização das mãos.
Hoffmann et al.38
2020
Brasil
Estudo Qualitativo
exploratório-descritivo
91 familiares
3 Hospitais de Porto
Alegre
Conhecer os principais
incidentes de segurança
reportados por familiares de
pacientes internados em
unidades pediátricas.
Familiares identificaram incidentes relacionados com medicação,
higienização das mãos, utilização de EPI, fornecimento de dietas,
quedas, comunicação, identificação e vigilância da criança,
procedimentos e controlo de visitas. Reforçaram a importância da
equipa refletir sobre o seu papel na transmissão de informações e
orientações aos familiares.
Rodrigues et al.39
2018
Brasil
Estudo Qualitativo
23 familiares
Unidade Neonatal de
um Hospital da região
Sul
Analisar como os pais
identificam a segurança do
paciente em unidade
neonatal
Familiares relataram preocupações no controlo do acesso à unidade,
risco de infeção e comunicação. Sentiam-se seguros considerando
existir estratégias para a segurança: restrição de visitas, comunicação
efetiva, cuidado com empatia, controlo de infeção, avaliação do risco de
queda, identificação do paciente e medidas para a correta
prescrição/administração de medicamentos.
Lima et al.40
2017
Brasil
Estudo Qualitativo
40 acompanhantes
Unidade pediátrica de
um hospital
universitário de Goiás
Conhecer a opinião do
acompanhante da criança
hospitalizada quanto à
qualidade e segurança da
assistência de Enfermagem
Pais referiram falhas na identificação do paciente, higienização das
mãos, administração de medicamentos, prevenção de quedas e lesões
cutâneas. Relataram preocupações com a integridade do cuidado,
competências profissionais, administração de medicamentos, controlo
de infeção e presença de estranhos na unidade. Enfatizaram aspetos
pessoais e relacionais para um cuidado seguro: atenção, capacidade
técnica, paciência, carinho, habilidade de comunicação, educação e
respeito.
Silva et al.41
2012
Brasil
Estudo Qualitativo
13 familiares
UCIP de Hospital
Pediátrico de Porto
Alegre
Descrever os eventos
adversos identificados pelo
familiar/ cuidador numa
Unidade de Cuidados
Intensivos Pediátricos
Familiares relataram fraca prestação de cuidados, poucos
conhecimentos científicos e falta de informação disponibilizada.
Relataram sentir-se inseguros quando excluídos do tratamento. Como
aspetos promotores da segurança, consideraram o cuidado com afeto e
o uso de tecnologias. Sugerem como estratégias: mais profissionais
qualificados, recurso a tecnologia avançada, orientações segundo
necessidades das famílias.
Peres et al.42
2018
Brasil
Estudo Qualitativo
24 cuidadores
3 serviços de
Internamento
Pediátrico de Hospital
Universitário do Sul
Conhecer a perceção de
familiares e cuidadores
quanto à Segurança do
Paciente em Unidades de
Internamento Pediátrico
Pais possuem conhecimentos limitados sobre o conceito de segurança.
Referiram não considerar erro quando não resulta em prejuízo.
Identificaram falhas a respeito de medicação, comunicação,
identificação do paciente e controlo de infeção. Sentiram-se inseguros
quando excluídos dos cuidados ou quando percebida comunicação
ineficaz. Consideraram a sua presença essencial para o cuidado seguro.
Apresentaram como sugestões: aumento de qualificação profissional e
prestação de informação aos familiares.
Bruyneel et al.43
2017
Bélgica
Estudo Qualitativo
333 pais
Hospitais
Universitários de
Lauven
Testar o Child HCAHPS
(inquérito sobre
experiências familiares de
internamento) na Bélgica
para instigar a comparação
internacional.
Mais de 50% dos pais responderam negativamente sobre a aplicação de
estratégias para a prevenção de erros e sobre orientações para reportar
as suas preocupações. 84,6% referiram que foi realizada a identificação
da criança antes da administração de medicamentos. Apenas 10,9%
foram informados de como relatar erros.
Lachman et al.44
2015
Inglaterra
Estudo Qualitativo
85 familiares
Hospital Pediátrico
Great Ormond Street
Testar uma ferramenta de
relato de incidentes por
pacientes e familiares de
modo a sensibilizar a equipa
para melhorar a segurança
O maior número de preocupações de segurança foi sobre falhas na
comunicação, seguido de relatos de atrasos significativos no
internamento e na prestação de cuidados, além de problemas
relacionados com a limpeza e higiene. Os pais relataram sentimentos de
vulnerabilidade quando os seus filhos são internados no hospital.
Daniels et al.45
2012
Canada
Estudo Misto
544 familiares
1 Enfermaria do
Hospital Infantil da
Colúmbia Britânica
Identificar os resultados da
introdução de um sistema
de notificação de eventos
adversos para familiares de
crianças internadas num
serviço cirúrgico
Dos eventos adversos identificados pelas famílias, apenas 48% foram
consideradas preocupações legítimas de segurança do paciente segundo
autores do estudo. 66% das famílias referiram acreditar que os
profissionais estavam conscientes das preocupações relatadas. A falta
de comunicação foi o problema mais identificado como potenciador de
evento adverso.
Discussão
Partindo dos principais resultados de interesse dos
estudos incluídos, foi realizada uma síntese narrativa para
dar resposta às questões da scoping review.
Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / fevereiro 2024 | 23
DOI: 10.56732/pensarenf.v28i1.298
Artigo de Revisão
Qual a perceção da família sobre a segurança dos
cuidados prestados à criança hospitalizada?
Em oito estudos (28%) os familiares partilharam a mesma
perceção, de que embora identifiquem preocupações de
segurança, consideraram seguros os cuidados prestados à
criança hospitalizada.20,23,24,25,29,35,36,39
Foi relatada confiança nos profissionais de saúde23,35 e
percecionado por alguns familiares um elevado nível de
competências por parte dos profissionais e que os
mesmos garantem não apenas a segurança física, mas
também a psicológica.21
Por outro lado, foram expressos receios e identificadas
falhas de segurança em seis estudos (21%).20,24,26,29,35,36
Relataram fraca prestação de cuidados, poucos
conhecimentos científicos e falta de informação
disponibilizada por parte dos profissionais.41 Alguns
responderam de forma negativa a respeito da aplicação de
estratégias para a prevenção de erros e sobre orientações
para reportar as suas preocupações.43 Foram relatados
sentimentos de vulnerabilidade quando as crianças são
internadas no hospital.44
Familiares referiram sentir-se mais seguros com a
vigilância constante dos enfermeiros quando associada a
comunicação e informação prestada adequadamente.24,26
Verifica-se em 10% dos estudos, uma ênfase nos aspetos
pessoais e relacionais dos profissionais de saúde, sendo
identificados como fatores contribuintes para uma maior
sensação de segurança: a atenção, paciência, carinho,
habilidade de comunicação, educação, respeito e cuidado
com “compaixão e perícia” para com os familiares e
crianças.20,25,41 É relatada uma maior sensação de
segurança quando observavam que os profissionais de
saúde demonstram importar-se com as crianças,20,28
quando demonstravam interesse nas suas perguntas e
quando procuravam observar as crianças, mesmo as que
não se encontravam aos seus cuidados.20
Alguns familiares percecionaram a segurança como uma
combinação de diferentes dimensões: física, através de
práticas seguras; emocional, através da confiança
depositada nos profissionais de saúde, prestação de
informações e envolvimento dos cuidados; e
desenvolvimento da criança, pela sua interação,
crescimento e vínculo.35
Compreende-se ainda por parte dos familiares uma visão
da segurança que envolvia o conforto.27
Os familiares consideraram que a sua relação com os
profissionais afetava os cuidados27 e referiram que uma
boa relação entre a equipa e familiares favorece a troca de
informações, podendo ter impacto na mudança de
atitudes e na promoção da segurança.21
Cinco estudos (17%) apresentam relatos em como os
familiares consideraram a sua presença essencial para
promover o cuidado seguro e para garantir que não são
cometidos erros.9,22,24,30,42 Quanto a este aspeto, familiares
com menor domínio no idioma e menor confiança na
interação com os profissionais demonstraram ser os mais
propensos a relatar a necessidade de cuidar e
supervisionar os cuidados.30
Um dos estudos, aborda concretamente o tema das
quedas. Refere que a maioria dos familiares desconhecia a
ocorrência de quedas durante o internamento, mas
expressaram essa preocupação, além de que a vivência de
experiências passadas, resultou na adoção de maior
vigilância e aplicação de estratégias de prevenção.22
Num estudo realizado em contexto cirúrgico, os familiares
referiram não considerar a equipa de profissionais de
saúde culpada de possíveis complicações, mas atribuem a
possibilidade de ocorrência das mesmas, relacionado com
a imaturidade inerente às características físicas e
imprevisibilidade da criança.29 Noutro estudo, foi ainda
possível compreender que para alguns familiares, a
ocorrência de incidente pode não ser vista como um erro
de segurança se o mesmo não resultar em prejuízo.42
Verificam-se, por sua vez, em três estudos (10%) que
algumas preocupações de segurança relatadas, o se
incluem como reais preocupações de segurança, mas com
outras preocupações de qualidade dos cuidados não
relacionadas à segurança.31,32,45
Quais os incidentes de segurança identificados pelos
familiares das crianças hospitalizadas?
Por ordem decrescente de frequência de relatos, foram
identificados os seguintes incidentes de segurança: os
relacionados com a administração de medicação (24% dos
estudos)15,23,31,32,38,40,42, identificação do paciente, controlo
de infeção hospitalar pela higienização das mãos e
utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)
(14%)15,38,40,42, quedas (14%)15,23,38,40, realização de
procedimentos (10%)15,32,38, comunicação (10%)15,38,42,
fornecimento de dietas (7%)15,38, flebites e lesões cutâneas
(7%)23,40, múltiplas picadas de agulha (3%)31, diagnóstico
(3%)32, atrasos no tratamento (3%)31 e vigilância da
criança e controlo de visitas (3%).38
Quais os fatores que contribuem para o cuidado
inseguro identificados pelos familiares das crianças
hospitalizadas?
Os fatores que contribuem para o cuidado inseguro
identificados pelos familiares das crianças hospitalizadas
foram agrupados em duas categorias: fatores relacionados
com os profissionais e fatores relacionados com a
organização.
Quanto aos primeiros, a maioria dos familiares das
crianças hospitalizadas identifica falhas na comunicação
entre equipa e entre a mesma e os familiares como um dos
fatores contribuintes para o cuidado inseguro, parecendo
ser a causa principal mais relatada os estudos incluídos
(31%).15,33,34,36,39,41,42,44,45
Referiram sentir-se inseguros quando excluídos dos
cuidados41,42 e quando o comportamento dos enfermeiros
foi percebido como descuidado e não protetor.28
Referiram preocupação com a falta conhecimentos,
habilidades, experiência ou competências de alguns
24 | Sousa, M.
Artigo de Revisão
profissionais,34,40 a falta de rigor profissional e tempo
insuficiente passado com a criança.34 Foi ainda descrita
preocupações por não “conhecerem o bebé”.35 Referiram
que alguns profissionais descartavam as suas
preocupações e não procuravam aconselhamento entre
colegas.34 Referiram prestar cuidados que lhes teriam sido
atribuídos que entendiam ser competência dos
profissionais.36 Reconheceram por sua vez, que o erro
pode ocorrer pelo envolvimento de muitos profissionais.33
Foram ainda referidas fragilidades quanto à administração
de medicamentos,33,36,37,40 uso de equipamentos,
posicionamento dos bebés, aquecimento após o banho,
cuidados com a pele e higienização das mãos, como
fatores contribuintes para um cuidado inseguro.37 Alguns
familiares referiram sensação de abandono quando a
condição das crianças se agravava.28 Referiram não
receber educação sobre quedas e desconheciam a
avaliação do risco.22
Quanto a fatores que contribuem para o cuidado inseguro
relacionados com as organizações, os familiares relataram
atrasos significativos no internamento, na prestação de
cuidados44 e rácio inadequado de profissionais.36
Relataram preocupações no controlo do acesso de
estranhos às unidades,39,40 e a condições de limpeza e
higiene das unidades pelo risco de infeção.36,39,40,44
Quais as sugestões referidas pelos familiares para
promover a segurança dos cuidados prestados à
criança hospitalizada?
Também as sugestões de melhoria para promover a
segurança foram agrupadas em duas categorias, aquelas
dirigidas aos profissionais de saúde e as dirigidas à
organização.
Em relação às primeiras, os familiares sugeriram que os
profissionais observem as crianças internadas com maior
frequência,26 reforçaram a necessidade de uma maior
atenção por parte dos profissionais de saúde28 e a
importância de uma comunicação aberta.25,36,38
Valorizaram e incentivam uma abordagem centrada na
criança e na família, considerando a parceria de cuidados
como uma oportunidade de promover a segurança.9
Ainda a respeito da comunicação, a maioria dos
acompanhantes compreende que ser informado sobre os
medicamentos e procedimentos realizados permite um
olhar mais atento, aumentando a segurança da criança.19
Gostariam, que os informassem do nome dos
medicamentos e não apenas do tipo de medicamentos,
que todos os profissionais realizassem os procedimentos
de forma uniformizada e que prestassem informações
com igualdade aos diferentes familiares.33
Referiram que a comunicação com os profissionais
possibilita que sejam orientados sobre a melhor forma de
participar do cuidado, evitando riscos à saúde da criança,19
reforçaram a importância de a equipa refletir sobre o seu
papel na transmissão de informações e orientações aos
familiares.38,42
Os familiares apresentaram ainda como sugestões de
melhoria dirigidas aos profissionais de saúde: a avaliação
do risco de queda, uma maior atenção na identificação do
paciente, implementação e cumprimento de medidas para
a correta prescrição/administração de medicamentos,39
aumento do trabalho em equipa, lavagem das os,
esterilização de equipamentos,36 cuidado
individualizado36,41 e cuidados com afeto e empatia.39,41
Quanto a sugestões de melhoria para promover a
segurança dirigidas a organizações os familiares
recomendam: maior controlo e restrição de visitas, maior
atenção no controlo de infeção,4 maior orientação e
supervisão dos cuidados,38 utilização de tecnologias
avançadas38,43 e aumento de qualificação profissional.43,44
Sugerem ainda a fixação de recomendações de segurança
em locais públicos das unidades, como por exemplo,
práticas adequadas da higienização das mãos, aumentando
a adesão por parte dos familiares, visitas e maior abertura
para diálogo com os profissionais sobre este aspeto.29
Conclusão
Através dos resultados extraídos dos estudos incluídos foi
possível responder às questões da revisão scoping.
Compreende-se que existe pouca divergência na perceção
de segurança por parte dos familiares das crianças
hospitalizadas.
Os familiares são capazes de relatar incidentes de
segurança em diversos aspetos do cuidado, sendo a
administração de medicamentos o incidente com maior
número de relatos. Compreendem que a segurança do
paciente está para além das questões do risco, envolvendo
também a relação com os profissionais.
Verifica-se uma especial ênfase à comunicação e à relação
que estabelecem com os profissionais de saúde, não
descurando os aspetos da prática e técnica na prestação de
cuidados. O fator contribuinte para o cuidado inseguro
mais referido foi a falta de comunicação e as sugestões de
melhoria parecem centrar-se no aumento da transmissão
de informações aos familiares e numa maior atenção e
vigilância por parte dos profissionais de saúde das crianças
hospitalizadas.
Os familiares estão de facto atentos aos cuidados
prestados e demonstram interesse em participar na
promoção da segurança das suas crianças e de estar
envolvidos nos cuidados, o que lhes promove uma maior
sensação de segurança e conforto.
A diversidade da perceção dos familiares pode estar
relacionada com diferentes condições de segurança das
diferentes organizações e países. As suas sugestões vão ao
encontro do que se encontra preconizado para a
promoção da segurança nas organizações de saúde.
Compreende-se que os familiares das crianças
hospitalizadas apresentam uma visão distinta sobre a
segurança da criança hospitalizada permitindo um olhar
distanciado. Considera-se que a realização da atual scoping
review apresenta resultados que permitem a sensibilização
dos profissionais de saúde sobre a sua prestação de
cuidados no que se refere á segurança da criança
hospitalizada.
Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / fevereiro 2024 | 25
DOI: 10.56732/pensarenf.v28i1.298
Artigo de Revisão
A partir dos resultados da revisão efetuada, foi
identificada uma prevalência de estudos realizados nos
EUA e Brasil. Dada a pertinência do tema, recomenda-se
o aumento da realização de estudos de investigação neste
âmbito noutros países.
Limitações do Estudo
Foram identificadas como limitações do estudo: o possível
risco de omissão de estudos relevantes não abrangidos
pelos descritores e termos livres na pesquisa inicial. No
entanto, no sentido de diminuir este risco foram
consultadas as referências bibliográficas dos estudos
selecionados; o facto de não se ter conseguido obter dois
estudos que poderiam conter dados relevantes para a
revisão, mas que mesmo após contacto com autores não
foi possível obter; o facto de inclusão de estudos nos
idiomas português, inglês e espanhol, excluindo-se estudos
noutros idiomas, possivelmente importantes de incluir
nesta revisão.
Contribuições autorais
MSousa: Conceção e desenho do estudo; Recolha de
dados; Análise e interpretação dos dados; Análise
estatística; Redação do manuscrito.
MCorreia: Conceção e desenho do estudo; Recolha de
dados; Análise e interpretação dos dados; Análise
estatística; Redação do manuscrito.
ENunes: Revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesse e Financiamento
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelas autoras.
Agradecimentos
Os autores agradecem o apoio e orientação fornecidos pela
Biblioteca da Universidade Católica Portuguesa (UCP) de
Lisboa no que se refere à estratégia de pesquisa efetuada.
Fontes de apoio / Financiamento
O estudo não foi objeto de financiamento.
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