EDITORIAL
Autogestão do estado de saúde: Desafios
Self-Management of Health Status: Challenges
Ahead
A capacidade de autocuidado é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
como a base dos cuidados de saúde. O autocuidado está interligado nas dimensões físicas,
psicológicas, emocionais, espirituais, e ainda com o conhecimento pessoal e bem-estar. O
autocuidado está interligado ao equilíbrio pessoal ao longo do ciclo de vida e é central para
vida das pessoas. Reconhecendo isso, a OMS considera as intervenções promotoras de
autocuidado como intervenções centrais para a promoção da saúde, pois estas, têm o
potencial de aumentar a escolha e fornecem mais oportunidades para as pessoas tomarem
decisões informadas em relação à sua saúde e sobre os cuidados de saúde que necessitam.
Estas intervenções têm de ser acessíveis e suportáveis economicamente pelas pessoas.1
As intervenções para o autocuidado podem ser organizadas a três níveis: Autoconhecimento
(autoajuda, autoeducação, autorregulação, autoeficácia, autodeterminação); Autoavaliação
(auto-seleção, auto-triagem, autodiagnóstico, auto-coleta, Auto-monitorização); e
Autogestão (Automedicação, auto-tratamento, autoexame, auto-injeção, autoadministração,
auto-uso),1 que é reconhecida como aquela com maior potencial para o bem-estar da pessoa.
A autogestão da saúde na situação de doença crónica, pode ser caracterizada em 3
dimensões. A primeira relacionada com a Pessoa, considerando que a pessoa deve
ativamente participar e assumir responsabilidade no processo de cuidado e ter uma forma
positiva de enfrentar a adversidade. A segunda sobre a Relação da pessoa com o Ambiente
de cuidados, em que se considera que a pessoa deve ser informada sobre a sua condição e
tratamento, deve ser capaz de expressar as suas necessidades, prioridades e valores num
ambiente de parceria e aberto para o apoio social, e o seu processo de autogestão tem de ser
individualizado. Finalmente, a terceira dimensão define a autogestão enquanto uma
Atividade, considerando que é uma tarefa para toda a vida que requer competências pessoais
(nomeadamente capacidade de decisão e resolução de problemas) e abrange a gestão da
saúde e das emoções.2 Como a condições de cronicidade da doença estão relacionadas com
os estilos de vida, muitas vezes o primeiro passo em direção à mudança é o mais difícil, pois
inclui, a consciencialização do problema, a mobilização de recursos internos e a tomada de
decisão, o que “pode precisar” da ajuda de um profissional de saúde. É aqui que os cuidados
de enfermagem podem ser decisivos, pois as intervenções de autocuidado ou o treino para
a autogestão quando realizadas em um ambiente seguro e solidário, oferecem a oportunidade
para aumentar a participação ativa das pessoas na sua própria saúde, aumentar a sua
funcionalidade e melhorar a sua qualidade de vida.3 ,4
A mudança de comportamentos é das decisões e ações mais difíceis de iniciar e estabilizar,
e é por isso que a investigação sobre o autocuidado e a capacitação para a autogestão da
saúde, continua na agenda da investigação internacional.5 É o tempo de agir, de capacitar, e
para isso, a população mundial espera contar com todos os profissionais de saúde, sendo
que, metade desta força espalhada pelo mundo são 28 milhões de enfermeiros. Profissionais
que precisam de contar com a imprevisibilidade da pessoa “com” quem prestam cuidados,
ter a capacidade de aceitar as suas escolhas mesmo quando a opção da pessoa assume
comportamentos de risco, e aceitar que o poder é de cada pessoa. Cuidados centrados na
pessoa não são reais se a pessoa não é verdadeiramente envolvida no planeamento e na
tomada de decisão e sempre que as suas expetativas e aspirações, ainda que danosas, não
sejam respeitadas. Atualmente muito é pedido a estes profissionais, mas o potencial desta
força de trabalho está ameaçado por múltiplos fatores: a falta de profissionais de saúde
apontada por diferentes organizações internacionais; a tentativa de generalização e
desqualificação da formação dos enfermeiros em vários países do globo como forma de
reduzir custos, retirando as pessoas o benefício de serem cuidados por profissionais de saúde
diferenciados; redução da oferta formativa na área da saúde ao nível do ensino superior; e o