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Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / setembro 2024
DOI: 10.56732/pensarenf.v28i1.325
Artigo Original Qualitativo
Como citar este artigo: Gama JLG, Lima HC, Oliveira A, Pereira ND, Harmuch C. Manifestações na
Semana Mundial do Autismo no Twitter. Pensar Enf [Internet]. 2024 Set; 28(1): 80-87. Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v28i1.325
Manifestões na Semana Mundial do Autismo no
Twitter
Expressions during World Autism Awareness Week
on Twitter
Resumo
Introdução
O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição que influencia a comunicação,
interação social e comportamentos. Nas redes sociais encontramos manifestações que vão
desde informações sobre o TEA até relatos pessoais e discussões sobre inclusão.
Objetivo
Analisar as manifestações da população brasileira no Twitter sobre o autismo.
Métodos
Estudo qualitativo, descritivo, e de base documental. Os dados foram coletados na rede
social Twitter, entre os dias 03/04/2023 e 10/04/2023, no idioma português que
contemplassem o cruzamento das hashtags: #diamundialdeconscientizaçãodoautismo e
#autistas. Foram analisados 279 tweets por meio da Análise Textual Discursiva, tendo
emergido 2 eixos temáticos.
Resultados
Os resultados indicam que a inclusão de pessoas com TEA em espaços culturais,
desportivos e no mercado de trabalho é vista como crucial para a promoção da cidadania e
inclusão social. No entanto, desafios persistem na implementação de políticas públicas,
especialmente na educação, saúde e disseminação de informações, com a necessidade de
uma abordagem mais holística e de respeito à diversidade.
Conclusão
As redes sociais refletem uma carência de avanços nas políticas públicas e legislações para
inclusão de pessoas com TEA, em diversos aspectos da vida social, como educação, saúde
e trabalho, sendo necessária para promover a cidadania plena. Apesar dos avanços nas
políticas públicas, ainda existem desafios significativos na implementação dessas iniciativas,
exigindo maior sensibilização e respeito quanto a esta população.
Palavras-chave
Transtorno Autístico; Rede Social; Política Pública; Inclusão Social.
Abstract
Introduction
Autism spectrum disorder (ASD) is a condition that influences communication, social
interaction, and behaviors. On social media, we find expressions ranging from information
about ASD to personal accounts and discussions on inclusion.
Objective
To analyze the expressions of the Brazilian population on Twitter regarding autism.
Methods
This study is qualitative, descriptive, and based on document analysis. We collected data on
the social media platform Twitter between April 3, 2023, and April 10, 2023, in Portuguese,
encompassing the hashtags: #diamundialdeconscientizaçãodoautismo
José Lucas Grigoleto Gama1
orcid.org/0009-0001-2722-9601
Heloise Carrer de Lima2
orcid.org/0009-0005-4354-5355
Andressa Oliveira3
orcid.org/0009-0007-4897-4911
Natan David Pereira4
orcid.org/0000-0002-7116-0533
Camila Harmuch5
orcid.org/0000-0002-1609-1037
1 Bacharelato. Centro Universitário Santa Maria da
Glória (UNISMG), Maringá, Brasil.
2 Bacharelato. Centro Universitário Santa Maria da
Glória (UNISMG), Maringá, Brasil.
3 Bacharelato. Centro Universitário Santa Maria da
Glória (UNISMG), Maringá, Brasil.
4 Doutoramento. Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Maringá, Brasil.
5 Doutoramento. Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Maringá, Brasil.
Autor de correspondência
Natan David Pereira
E-mail: naatan_daviid@hotmail.com
Recebido: 10.04.2024
Aceite: 29.0 8. 2024
Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / setembro 2024 | 81
DOI: 10.56732/pensarenf.v28i1.325
Artigo Original Qualitativo
(#worldautismawarenessday) and #autistas (#autisticpeople). We analyzed 279 tweets using discursive textual analysis, from
which two thematic axes emerged.
Results
The results indicate that the inclusion of people with ASD in cultural, sports, and labor market spaces is seen as crucial for
promoting citizenship and social inclusion. However, challenges persist in implementing public policies, especially in education,
health, and information dissemination, highlighting the need for a more holistic approach and respect for diversity.
Conclusion
Social media reflects a lack of progress in public policies and legislation to include people with ASD in various aspects of
social life, such as education, health, and work, which are necessary to promote full citizenship. Despite advances in public
policies, significant challenges remain in implementing these initiatives, requiring greater awareness and respect for this
population.
Keywords
Autistic Disorder; Social Network; Public Policy; Social Inclusion.
Introdução
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio
heterogéneo que abrange um grupo de desordens
complexas do desenvolvimento cerebral, englobando
transtornos antes chamados autismo infantil precoce,
autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto
funcionamento, autismo atípico, transtorno global do
desenvolvimento sem outra especificação, transtorno
desintegrativo da infância e transtorno de Asperger.1
A condição é caracterizada pelo comprometimento da
interação social e da comunicação, padrões de
comportamento, atividades e interesses restritos e
repetitivos, afetando principalmente o desenvolvimento
neurológico da criança. Além disso, indivíduos com TEA
podem apresentar uma variedade de comorbidades,
incluindo hiperatividade, distúrbios do sono, problemas
gastrointestinais e epilepsia.2-3
Evidencia-se na literatura que as pessoas com deficiência ou
transtornos são geralmente vistas pela sociedade como
indivíduos anormais, alienados, irrealistas, perigosos e
incapazes, sendo perseguidos pelo preconceito e estigma
social. Essa visão contribui para que as pessoas com TEA
não recebam o devido cuidado e atenção nas mais diversas
áreas, reprimindo o exercício da cidadania livre, que é
garantida a todos os cidadãos.4
No contexto brasileiro, embora não existam estudos
específicos sobre a prevalência do TEA, estima-se que
aproximadamente dois milhões de brasileiros sejam afetados
por essa condição5. Por outro lado, nos Estados Unidos,
onde houve um avanço notável nos recursos e ferramentas
padronizados de avaliação, a incidência de TEA é estimada
em 1 para cada 50 crianças6. Assim, evidencia-se a urgência
de investimentos substanciais focados nos diversos aspetos
da vida dessa população, visando a sua inclusão e garantia
de direitos justos e igualitários.
Em 2008, a Organização das Nações Unidas (ONU)
declarou o dia 2 de abril como o Dia Mundial do Autismo,
para alertar a sociedade e os gestores sobre o transtorno,
fornecer informações e quebrar preconceitos, reconhecer a
condição e apoiar ações para o desenvolvimento da
qualidade de vida das pessoas com TEA.7
Uma das áreas afetadas pelo TEA, que chama a atenção dos
gestores de saúde, é a interação social. As relações
estabelecidas através da Internet m se espalhado
exponencialmente ao longo do tempo, fazendo com que
esse modo de interação ajude a superar barreiras físicas,
permitindo a comunicação entre atores sociais em qualquer
lugar do mundo8. Em geral, as redes sociais podem ser
utilizadas para extrair informações sobre padrões de
interação interpessoal e opiniões, revelando-se uma
importante ferramenta de avaliação das manifestações
sociais, que ocorrem em diversos movimentos sociais, como
a Semana Mundial do Autismo.9
Portanto, identificar e compreender as principais
manifestações nas redes sociais, no que diz respeito à
população com autismo, é necessário para desmistificar o
tema, permitindo a disseminação de informações que visam
orientar as ações dos órgãos competentes e auxiliar na
implementação de políticas públicas inclusivas em todo o
território. Assim, o objetivo do estudo foi analisar as
manifestações brasileiras no Twitter sobre a Semana
Mundial do Autismo.
Métodos
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, descritiva e
documental. A Análise Textual Discursiva (ATD) foi
adotada como referencial metodológico, abordagem que
engloba elementos da análise de conteúdo tradicional e da
análise do discurso, sendo um processo auto-organizado de
construção e compreensão, demonstrando um movimento
interpretativo de natureza hermenêutica.10
Quanto à pesquisa documental, os estudos com essa
metodologia utilizam, em essência, documentos que não
passaram por tratamento analítico, ou seja, não foram
82 | Pereira, ND.
Artigo Original Qualitativo
analisados ou sistematizados. Na análise textual discursiva,
descrição e interpretação também são elementos de análise,
neste caso, são etapas concomitantes que integram o artigo.
Nessa perspetiva, a interpretação requer uma compreensão
sistematizada e argumentativa das informações.10
O cenário do estudo foi composto pela rede social Twitter,
que disponibiliza uma base de dados de acesso público
mundial, selecionada por ser uma importante ferramenta de
comunicação entre órgãos governamentais e não
governamentais e toda a população. Foi estabelecido o
período de 3 a 10 de abril de 2023 para a coleta de dados,
tendo em vista que em 2 de abril é comemorado o Dia
Mundial do Autismo, estabelecido pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e instituído no Brasil pela lei
13.652/2018, marcando o início da Semana Mundial do
Autismo.
Foram considerados os seguintes critérios de inclusão:
tweets publicados entre 3 e 10 de março de 2023 (filtrado
pelo software MAXQDA Plus), no Brasil, em língua
portuguesa (Brasil), que incluíam o cruzamento das
hashtags: #diamundialdeconscientizaçãodoautismo
[Material Suplementar n°1] e #autistas [Material
Suplementar 2 e Material Suplementar 3], sem
restrições nos perfis. Os critérios de exclusão foram:
publicações que não retratassem o objeto da pesquisa. As
hashtags foram selecionadas a partir da análise dos trending
topics do Twitter, que são os assuntos com maior
frequência de menções e tendências no momento da
pesquisa.
Foram incluídos na pesquisa todos os tweets feitos no
período de coleta, que atendessem aos critérios de seleção.
Em várias partes do mundo, o Twitter tem sido usado
como palco para questões de grande interesse para a
sociedade, como debates, pronunciamentos de
organizações governamentais, incluindo discursos diretos
de chefes de Estado.11 Desta forma, estabeleceu-se o uso
de tweets publicados em todo o território nacional,
provenientes de diferentes regiões do Brasil.
O número de curtidas nos tweets, foram considerados
como interações de compartilhamento da postagem inicial,
sendo sinônimo de concordância com o conteúdo e
consentimento para as publicações.12 Com base nisso, o
número de curtidas, foi considerado para avaliar o nível de
concordância com as informações compartilhadas.
As informações foram coletadas por meio da interface
"Import Twitter Data", presente no software MAXQDA
Plus 2022 Student. A análise subsequente seguiu as três
fases sugeridas pela ATD, abrangendo a unitarização, a
categorização e os metatextos.
O conjunto de informações incluía dados no nível do tweet,
como o nome da conta do autor, identificador do Twitter,
status de verificação da conta, número de seguidores no
momento do download, data e hora da publicação do tweet,
indicação do tweet ou retweet original, conteúdo textual,
hashtags, menções ao usuário, Uniform Resource Locator
(URLs), presença de meios de comunicação (imagens e/ou
vídeos), localização do utilizador e idiomas utilizados na
publicação.
A base de dados inicial consistia em 1.411 tweets, que
foram refinados através dos critérios de inclusão e exclusão,
e a base de dados final consistia em 279 tweets. Os dados
foram codificados com o auxílio do software MAXQDA, e
foi realizada a primeira etapa proposta pelo ATD, na qual
foram atribuídas 17 unidades de significado e 275
codificações, na qual foi utilizada a técnica de esgotamento
teórico dos dados e realizada a leitura atenta de todos os
tweets da amostra selecionada. Posteriormente, realizou-se
a segunda etapa de análise, construindo quatro categorias
intermediárias, que foram recategorizadas e originaram
duas categorias finais, nas quais foram discutidos os
metatextos alcançados. Para o desenvolvimento do
relatório parcial, foram utilizadas as ferramentas visuais
disponíveis no software MAXQDA Plus 2021 Student,
versão 20.4.1, que permitiram a construção do corpus
textual analisado e nuvem de palavras, possibilitando a
visualização dos resultados. Para refinamento da nuvem de
palavras foi estabelecida lista de exclusão de palavras que
não influenciavam sua apresentação [Material Suplementar
n°4].
Ressalta-se, ainda, que por se tratar de publicações em
banco de dados de registro institucional de acesso aberto, o
presente estudo não necessitou de aprovação pelo respetivo
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). No entanto, os
autores reforçam que seguiram todos os preceitos éticos em
pesquisa, preconizados pela Resolução nº 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde, além de garantir o anonimato
de todos os autores das publicações analisadas. Nesse
sentido, para garantir a anonimização dos autores dos
tweets, foram utilizados apenas os status das contas dos
usuários, sendo estabelecida a sigla "V" para os perfis
verificados ou "NV" para os não verificados, bem como o
número de curtidas que cada tweet original obteve.
Resultados
As manifestações publicadas no Dia Mundial do Autismo
versaram sobre diferentes temas, dentre eles inclusão,
estado, governo e informação, possibilitando inferir que a
população tem atenção voltada para o tema da inclusão,
mas também tem foco em questões governamentais,
indicando a necessidade de ações que busquem, de maneira
geral, a consciencialização da sociedade sobre o TEA,
considerando todos os fatores associados.
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Artigo Original Qualitativo
Figura 1. Nuvem de palavras representativa das principais hashtags. Fonte: dados dos autores. Brasil, 2023.
Em sequência, os discursos dos tweets foram analisados e
organizados em dois eixos temáticos: “A importância da
inclusão social” e “O olhar governamental”.
A importância da inclusão social
A apreciação e aprovação de espaços construídos pensados
nas pessoas com TEA, pode indicar um sentimento de
pertença e preocupação com o seu bem-estar e inclusão na
sociedade, como observado nas manifestações, nas quais se
demonstram esforços em contextos desportivos e culturais
para práticas inclusivas.
Muito bom a iniciativa do @Corinthians em ter um espaço
destinado aos #autistas, que o @Gremio e o @SCInternacional aqui
em Poa sigam este belo exemplo. Assim nossa comunidade pode assistir
aos jogos. Parabéns ao clube paulista por esta bela iniciativa! (NV-0)
Aconteceu na manhã desta quarta-feira, a oficina “A Arte
dos fantoches no contexto inclusivo” A Oficina teve como público-alvo,
educadores e fez parte da programação da BPBL alusiva ao Dia
Mundial do Autismo (…). (NV-0)
Outra possível ferramenta para minimizar preconceitos e
estereótipos é a disseminação de informações sobre o
transtorno, além da realização de campanhas informativas
que podem propiciar maior visibilidade a essa temática.
Com mais de 500 pessoas, é realizada uma caminhada em
Guaíba, no Dia Mundial do Autismo. (…) (NV-0)
FORÇA, GLÓRIA E INCLUSÃO! Nosso capitão
vai a campo com faixa de capitão em homenagem ao Dia Mundial do
Autismo. (V-0)
Ontem estivemos num belo evento, no Memorial da América
Latina, sobre o Dia Mundial do Autismo e eu como mãe de TEA,
peço mais políticas públicas, informação e menos preconceito. (NV-0)
As manifestações que envolvem a inclusão de pessoas com
TEA no mercado de trabalho sugerem a necessidade de
discutir o assunto por meio do diálogo e da sensibilização.
Mudanças estruturais para melhorar as oportunidades de
emprego são necessárias, incluindo projetos de lei
específicos para promover a inclusão social das pessoas com
deficiência.
Na semana do Dia Mundial do Autismo Crivelli discute a
inserção de pessoas com autismo no mercado de trabalho (…). (NV-
0)
Sugeri um projeto de lei para PcD no mercado de trabalho.
(NV-0)
As ações voltadas para a inclusão de pessoas com
deficiência no mercado de trabalho parecem ser poucas e,
quando se trata especificamente de pessoas com TEA, elas
podem ser inexistentes. O trabalho pode ser uma ótima
ferramenta para o exercício da cidadania, e políticas
públicas de incentivo à contratação de autistas poderiam
quebrar desigualdades e proporcionar maior inclusão
social.
O olhar governamental
Nos tweets analisados percebe-se percepções distintas
sobre o apoio oferecido às pessoas com TEA. Uma
postagem critica o Sistema Único de Saúde (SUS) e os
planos de saúde pela falta de participação em campanhas
sobre autismo e pela ausência de cobertura para o
tratamento dessas pessoas, expressando frustração com o
sistema de saúde. Em contraste, outra mensagem reafirma
um compromisso com a educação inclusiva, enfatizando a
importância de garantir que os estudantes autistas tenham
seus direitos à educação respeitados.
Cade o SUS e os outros planos de saúde na campanha do Dia
Mundial do Autismo? Ah, esqueci que ambos não cobrem o
tratamento para pessoas autistas (NV - 9).
84 | Pereira, ND.
Artigo Original Qualitativo
No Dia Mundial do Autismo, reafirmamos o compromisso com uma
educação inclusiva, que permita que os estudantes tenham o seu direito
à educação respeitado (NV- 0).
A responsabilidade pela elaboração e implementação de
iniciativas informativas sobre o autismo deveria ser
ampliada pelo poder público. Destaca-se eventos oficiais
organizados pelas secretarias municipal e estadual, focados
na capacitação de profissionais para melhor atender às
necessidades das pessoas autistas.
Nesta semana a cidade de São Paulo (SP) contou com eventos oficiais
das secretarias municipal e estadual pelo Dia Mundial do Autismo,
com a capacitação de profissionais de diferentes áreas (…). (NV-0)
Frente Parlamentar do Legislativo caxiense promove encontro com
pais e mães de autistas. Ação é alusiva ao Dia Mundial do Autismo.
(NV-2)
As manifestações podem ser vistas como um
reconhecimento dos esforços desenvolvidos em termos de
políticas públicas e legislação. No entanto, parecem
persistir desafios, principalmente relacionados à educação,
à execução das leis e ao apoio oferecido às escolas, o que
sugere a inexistência de um compromisso genuíno com a
inclusão.
(…) No Brasil, apesar de avanços na legislação para garantir direitos,
os pais ainda acionam muito a Justiça principalmente para conseguir
matricular os filhos na escola. (NV-7)
Eu estou chocado com o tanto de vereador [...] que ontem postou nas
redes sociais, sobre o dia Mundial do Autismo, e hoje votou na câmara
contra mediadores escolares p/ autistas e PCDs. Isso não assusta
vocês? (NV-3)
Assim, as manifestações revelam um reconhecimento dos
esforços em políticas públicas e legislações para a inclusão
de pessoas com TEA, mas destacam desafios persistentes,
especialmente na educação. Melhorias na execução das leis
e no apoio às escolas são apontadas como medidas
necessárias. A responsabilidade do poder público na
elaboração de iniciativas informativas sobre o autismo é
enfatizada.
O conteúdo também permite identificar que algumas
estratégias são necessárias, como a disseminação de
informações básicas sobre o transtorno, ampliação do
conhecimento e consequentemente minimização de
preconceitos e estereótipos. Assim, ações de inclusão
social, participação ativa e medidas educativas que visem
melhorar o desenvolvimento das pessoas com TEA são
enunciadas como essenciais.
Ainda com relação a esse aspeto, nota-se a necessidade de
atender esses indivíduos de forma integral, respeitando a
individualidade, especificidade e necessidades humanas da
pessoa com TEA.
Discussão
A falta de conhecimento ou mesmo o equívoco sobre o
TEA evidencia a importância da divulgação da informação
para a sociedade, sobretudo para a população que não tem
contacto com este público.13 As campanhas de
sensibilização têm por finalidade educar a população,
promover debates e visibilidade sobre as doenças e, assim,
dar apoio, disseminar avanços técnico-científicos e auxiliar
num diagnóstico precoce.14
As pessoas com TEA, enfrentam socialmente uma série de
preconceitos, sendo a ausência de traços físicos que
caracterizem a síndrome um fator que contribui para que
isso ocorra, mesmo tendo em vista que todos são iguais
perante a lei, tendo direito de usufruir da liberdade,
igualdade e segurança para uma vida saudável15. Por isto, é
necessário que o primeiro passo seja assegurar a inclusão
social, assim como propiciar oportunidades de estes
viverem sem discriminação em espaços adequados e
acolhedores.15
A experiência de violência com base na condição de autista,
seja verbal ou física, na Internet ou em outros contextos, é
claramente uma forma de estigmatização percebida17. Num
estudo com indivíduos com TEA, esta variável destacou-se
como o principal preditor de qualidade de vida, tanto em
termos de funcionamento geral como específico.16 Estes
resultados corroboram as descobertas de pesquisas
anteriores, que também identificaram a estigmatização
como um fator crucial na saúde das pessoas autistas,
explicando as disparidades de saúde entre grupos
minoritários e maioritários devido às desvantagens sociais
e ao estigma associado.17
Considerando que o estigma pode ser entendido como o
oposto da aceitação, indica-se que a menor aceitação do
TEA por parte de fontes externas está associada a piores
indicadores de saúde mental, que por sua vez impactam
negativamente a vida destes indivíduos.18 Além disso, dado
que o senso de comunidade pode moderar os efeitos da
discriminação e do estigma no sofrimento psicológico e no
bem-estar, torna-se relevante desenvolver e implementar
programas que ajudem as pessoas autistas a fortalecerem o
seu senso de comunidade.19
As políticas públicas são fundamentais para moldar a
realidade prática enfrentada por indivíduos com condições
de saúde como o TEA, influenciando tanto a opinião
pública quanto os caminhos para a identificação e
tratamento da condição. Historicamente, o TEA esteve
ausente das principais políticas federais, especialmente
durante as décadas de 1960 e 1970, um período marcado
por avanços legislativos significativos nos direitos das
pessoas com deficiência. Exemplos disso incluem a Lei de
Reabilitação Profissional de 1973, que proibiu a
discriminação contra indivíduos com deficiência em
programas federais, e a Lei de Educação para Todas as
Crianças Deficientes de 1975, que assegurou uma educação
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Artigo Original Qualitativo
pública gratuita e apropriada para todas as crianças com
deficiência.20
A importância de uma educação igualitária e inclusiva para
crianças autistas tem sido constantemente refletida na
formulação de políticas educacionais globais, que garantem
os direitos dessas crianças na educação. Uma política
fundamental que protege e promove esses direitos foi
estabelecida pelas Nações Unidas na Declaração Universal
dos Direitos Humanos,21 que afirma que todos têm o
direito fundamental a uma educação voltada para o pleno
desenvolvimento da personalidade humana. Desde a sua
ratificação, essa declaração tem servido como base para
políticas, estratégias e ações de direitos humanos nas
décadas subsequentes.22
A inclusão de indivíduos com TEA nas políticas
subsequentes tem proporcionado proteções adicionais nas
áreas da educação e do emprego. No entanto, estima-se que
80% dos jovens com TEA não recebem serviços de
transição adequados durante o período crítico da
adolescência para a vida adulta, resultando em diversas
necessidades não atendidas, como emprego, escolaridade e
habitação23.
Um estudo revela uma variedade de obstáculos que
indivíduos com autismo esperavam enfrentar e de fato
encontraram. Dificuldades como preencher formulários de
emprego, encontrar trabalho, comunicar e interagir com
supervisores foram mencionadas.24
No Brasil, a maior parcela dos atendimentos às pessoas
com TEA acontece no Sistema Único de Saúde (SUS) e o
atendimento acontece, principalmente, nos níveis da
Atenção Básica e da Atenção Especializada. Na assistência
especializada, destacam-se os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) que são serviços abertos e
comunitários que devem prestar atendimento em regime de
atenção diária, oferecer cuidado clínico eficiente e
personalizado, promovendo a inserção social do utilizador,
além de dar suporte e supervisionar a atenção à saúde
mental na rede básica.25
No entanto, a população com TEA enfrenta obstáculos
adicionais no acesso aos cuidados de saúde e na interação
com os profissionais da área, o que não aumenta o stress,
mas também pode desencorajar ou mesmo impedir o
acesso atempado aos cuidados dicos. Muitas vezes, estes
indivíduos procuram ajuda tardiamente, apresentando
muitas vezes problemas graves e um elevado nível de
angústia, dificultando a sua capacidade de comunicar e
processar informação. Além disso, muitos tentam esconder
os seus traços autistas para evitar o estigma social, o que
pode fazer com que não pareçam ter características típicas
do autismo.26
Não reconhecer e atender de forma apropriada uma pessoa
com TEA pode resultar em uma série de impactos
adversos, tanto para o indivíduo quanto para o serviço em
questão. Uma experiência negativa do paciente pode
desencorajar futuras buscas por apoio ou levar ao
adiamento até que a saúde da pessoa se deteriore
consideravelmente.27
Com o aumento do número de diagnósticos, também
um maior interesse nas representações sociais do autismo e
na necessidade de representatividade. Afinal, é através da
representação na sociedade, principalmente nos meios de
comunicação e no entretenimento, que este tema é exposto
a um maior número de pessoas. Nos últimos anos, tem sido
possível observar como a cultura do entretenimento, com
as suas séries, filmes e telenovelas, tem abordado este tema
com maior frequência.28
Conclusão
As redes sociais são grandes fontes de interação social e de
manifestações de maneira geral. A partir da análise das
manifestações da população brasileira nos tweets sobre a
temática identificados pode destacar-se a referência ao
pouco avanço em políticas públicas e legislações voltadas à
inclusão de pessoas com TEA, com desafios persistentes,
especialmente na educação. necessidade de melhorias
na execução das leis e no suporte às escolas, bem como a
responsabilidade do poder público em elaborar e
implementar iniciativas informativas sobre o TEA é
necessário, utilizando a disseminação de informações e a
formação contínua dos servidores públicos como
estratégias para combater preconceitos e estereótipos.
Isso demonstra a necessidade de uma abordagem mais
abrangente e eficaz, que envolva não apenas o
desenvolvimento e implementação de políticas mais
eficazes, mas também a realização de pesquisas adicionais
para identificar lacunas e desenvolver intervenções. Além
disso, destaca-se a importância da formação contínua dos
profissionais da educação e a disseminação de informações
sobre o TEA para combater preconceitos e estereótipos,
promovendo assim uma cultura de inclusão mais ampla e
solidária.
Limitações do estudo
Esta pesquisa apresenta limitações principalmente devido à
sua dependência dos dados do Twitter. A ferramenta
utilizada para extrair o conjunto de dados tem uma limitação
de 10.000 tweets por termo de busca e apenas permite a
importação de tweets postados durante um período de sete
dias. Isso resultou em uma limitação no alcance das
publicações e restringiu o período disponível para coleta de
dados.
Contribuições autorais
Gama JLG: Conceção e desenho do estudo; Recolha de
dados; Análise e interpretação dos dados; Análise estatística;
Redação do manuscrito; Revisão crítica do manuscrito;
86 | Pereira, ND.
Artigo Original Qualitativo
Lima HC: Conceção e desenho do estudo; Recolha de
dados; Análise e interpretação dos dados; Redação do
manuscrito;
Oliveira A: Conceção e desenho do estudo; Recolha de
dados; Análise e interpretação dos dados; Redação do
manuscrito;
Pereira ND: Conceção e desenho do estudo; Recolha de
dados; Análise e interpretação dos dados; Análise estatística;
Revisão crítica do manuscrito;
Harmuch C: Conceção e desenho; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Análise estatística;
Redação do manuscrito; Revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesse e Financiamento
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelos autores.
Fontes de apoio / Financiamento
O estudo não foi objeto de financiamento por nenhum
órgão de fomento.
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