Editorial
Pensar Enfermagem / v.28 n.01 / dezembro 2024
DOI: 10.71861/pensarenf.v28i1.415 4
Assegurar a continuidade do cuidado em saúde requer que os cuidados de saúde prestados
à pessoa ocorram de forma coordenada e sem interrupções, sendo este cuidado rastreável
independentemente da complexidade do sistema de saúde e do envolvimento de diferentes
prossionais, em diferentes instituições de cuidados, e em diferentes momentos de proces-
so de saúde-doença. Também, numa cultura centrada na pessoa doente, todas as pessoas
envolvidas nos cuidados de saúde dessa pessoa, incluindo a pessoa que recebe os cuidados
e a sua família, comunicam e trabalham entre si para planear e coordenar os cuidados de
acordo com os objetivos estabelecidos em conjunto com os prossionais de saúde.1 A
continuidade do cuidado refere-se à prestação de cuidados de saúde enquanto um pro-
cesso consistente e interligado com três dimensões presentes: a continuidade relacional,
a continuidade informacional e a continuidade de gestão.2 A dimensão de continuidade
relacional consiste no estabelecimento de uma relação terapêutica contínua entre a pessoa e
o prossional de saúde, ligando os cuidados passados aos presentes e aos futuros. A dimen-
são informativa diz respeito à transferência ecaz e eciente do conhecimento acumulado
da pessoa, para relacionar eventos de cuidados separados. A dimensão de gestão traduz a
capacidade de assegurar que os cuidados dos diferentes prossionais se complementam e
são realizados em tempo útil. Existe consenso na comunidade cientíca que o conceito de
continuidade de cuidado em saúde assenta em pelo menos dois conceitos fundamentais: a
continuidade ao longo do tempo e o cuidado individualizado face às necessidades de saúde
da pessoa.2 No entanto, nem sempre é fácil alcançar a continuidade do cuidado de saúde,
especialmente quando os cuidados de saúde são fragmentados e não existe um sistema de
saúde de retaguarda que assegure esta função. Assim, quando a continuidade dos cuida-
dos se perde, as pessoas podem não entender corretamente os seus problemas de saúde,
não aderir corretamente aos processos terapêuticos e não saber com qual prossional falar
quando têm problemas ou dúvidas. Em situações limites pode-se perder informação essen-
cial à prestação de cuidados daquela pessoa que comprometa a qualidade dos cuidados ou
ponha a sua segurança em risco.
A promoção de uma cultura de segurança é fundamental para reduzir os incidentes na
prestação dos cuidados de saúde, tendo os instrumentos que asseguram a continuidade de
cuidados em saúde um papel cada vez mais relevante.3 A recolha sistemática e contínua de
dados requer uma comunicação assente na transparência e ecácia. A transmissão de infor-
mação entre os prossionais de saúde é fundamental para a promoção da continuidade de
cuidados. Perspetivar a continuidade do cuidado em saúde requer relembrar a norma da
Direção Geral de Saúde sobre comunicação em saúde, pois trata-se de um objetivo estra-
tégico aumentar a segurança da comunicação na transição de cuidados, de acordo com a
Norma n.º001/2017, que estabelece a ferramenta ISBAR para assegurar uma comunicação
ecaz na transição de cuidados de saúde.4 A técnica ISBAR aplica-se em todos os níveis de
prestação de cuidados que envolva a transição dos mesmos. A mnemónica ISBAR é uma
ferramenta de padronização de comunicação que serve como um auxiliar de memória,
nomeadamente.4 I – Identicação – Identicação e localização precisa dos intervenientes
na comunicação (emissor e recetor) bem como do doente a que diz respeito a comunica-
ção; S – Situação atual – Descrição do motivo atual de necessidade de cuidados de saúde;
B – (background) Antecedentes – Descrição de factos clínicos, de enfermagem e outros
EDITORIAL
Continuidade do Cuidado em Saúde: Um olhar
Florinda Galinha de Sá 
https://orcid.org/0000-0002-4523-1721
Editora-Adjunta. Escola Superior de Enfermagem
de Lisboa (ESEL), Lisboa; Centro de Investigação,
Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de
Lisboa (CIDNUR), Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Florinda Galinha de Sá
E-mail: fgalinha@esel.pt
Como citar este artigo: Sá FG. Continuidade do Cuidado em Saúde: Um olhar. Pensar Enf [In-
ternet]. 2024 Dec; 28(1): 4-5. Available from: https://doi.org/10.71861/pensarenf.v28i1.415
Continuity of Healthcare: A Glance
Editorial
Galinha-de-Sá, F.
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relevantes; A – Avaliação – Informações sobre o estado do doente, terapêutica medicamentosa e não medicamentosa instituída, estratégias
de tratamento, alterações de estado de saúde signicativas; R – Recomendações – Descrição de atitudes e plano terapêutico adequados à
situação clínica do doente. A transferência de informação entre prossionais de saúde deve ser prioritária em todos os momentos vulnerá-
veis ou críticos de transição de cuidados, sendo que os responsáveis pelo processo de transmissão de informação devem estar identicados
de forma inequívoca (nome, categoria e função). Esta transmissão de informação deve ser escrita e realizada sem interrupções, devendo
ser garantida a clareza e a legibilidade da informação.
A Organização Mundial de Saúde, no seu Plano de Ação Mundial para a Segurança do Doente - 2021-2030, menciona a importância da
liderança de forma a criar um ambiente seguro. Este compromisso da liderança envolve vários requisitos, sendo um dos centrais a comu-
nicação do sistema de saúde.3 A comunicação deve ser transparente e eciente ao longo do contínuo de cuidados complexos que o doente
vivencia, sendo que deve ser assegurada a continuidade de cuidados ao longo do percurso do doente que recebe cuidados de diferentes
prossionais de saúde. Sendo aceite que a melhoria da qualidade dos cuidados de saúde se mede, sobretudo, através dos ganhos obtidos
em eciência e ecácia da sua prestação, é indiscutível que estes mesmos ganhos só serão signicativos se for otimizada a sua segurança.3,4
Deste modo as instituições devem assegurar que o respetivo plano anual de formação contemple formação especíca para todos os pros-
sionais envolvidos no processo de transferência de informação, que inclua a técnica ISBAR. E também este processo de transferência de
informação deve ser monitorizado através da execução de auditorias internas.
Consciente da prioridade que deve ser dada à garantia da segurança e qualidade da prestação de cuidados de saúde, o trabalho em equipa
transdisciplinar assume-se como um imperativo na consecução de resultados em saúde através de um trabalho colaborativo. A transição
de cuidados, requer uma abordagem transdisciplinar, que visa garantir que a pessoa mude de forma segura de uma instituição de cuida-
dos para outra e de um prossional de cuidados de saúde para outro. O trabalho em equipa transdisciplinar também visa garantir que
o prossional da área de cuidados de saúde mais qualicado fornece o cuidado para cada problema e que esse cuidado não é duplicado
ou contraditório ao plano de cuidados estabelecido para o doente. O cuidado transdisciplinar é particularmente importante quando o
tratamento é complexo ou quando ele envolve a mudança de uma instituição de cuidado para outra.
A adoção de um Modelo de Cuidado Transicional revelou redução nos custos em saúde e dos reinternamentos hospitalares, em que os
componentes principais consistem em: rastreio/vigilância; prossionais de saúde; manutenção de relacionamentos; envolver pacientes e
cuidadores familiares; avaliar e gerir riscos e sintomas; educar e promover a autogestão; colaboração; promover a continuidade; e promover
a coordenação.5 Embora cada elemento seja denido separadamente, é importante notar que todos estão interligados e fazem parte de
um processo de cuidado holístico.
A continuidade dos cuidados tem impacto na utilização ecaz dos serviços de cuidados de saúde e nos resultados obtidos em termos de
saúde da população.2,5 Os doentes, especialmente aqueles com necessidades de saúde múltiplas ou bastante complexas, valorizam a con-
tinuidade do cuidado em termos de formação de uma relação longitudinal e de conança com os prossionais de saúde. Atualmente, nos
sistemas de saúde, várias estratégias visam alcançar uma elevada continuidade dos cuidados, como a gestão de casos, a prática avançada de
enfermagem e os cuidados integrados.2 As novas tecnologias em saúde trazem uma mudança transformacional, potenciando a literacia
em saúde com o envolvimento do doente, família e sociedade no processo de saúde-doença.
Os artigos publicados no número 28 da Revista Pensar Enfermagem abordaram temáticas intrinsecamente ligadas à continuidade do cui-
dado em saúde, seja pela promoção da assistência a diferentes grupos da população, quer através de implementação e análise de serviços,
como consultas de enfermagem. O enfoque na comunicação em saúde como forma de assegurar esta continuidade também emerge em
diversos artigos que referem novas ferramentas e tecnologias de aproximação à comunidade. Importa reetir que a promoção da segurança
em saúde assenta nestas dimensões tão signicativas, pelo que se lança o desao de incrementar a investigação, e sua disseminação, nesta
área.
Referências
1. Mccormack B, McCance T. e Person-Centred Nursing Framework. In book: Person-centred Nursing Research: Methodology, Me-
thods and Outcomes, April 2021. https://doi.org/10.1007/978-3-030-27868-7_2
2. Forstner J, Arnold C. Continuity of Care: New Approaches to a Classic Topic of Health Services Research. In: Wensing, M., Ullrich,
C. (eds) Foundations of Health Services Research. Springer, Cham., 2023. https://doi.org/10.1007/978-3-031-29998-8_21
3. World Health Organization. WHO Global patient safety action plan 2021–2030: towards eliminating avoidable harm in health care.
World Health Organization, 2021. https://iris.who.int/handle/10665/343477
4. Direção Geral de Saúde. DGS - Norma nº 001/2017, de 08.02.2017. Comunicação ecaz na transição de cuidados de saúde. Direção
Geral de Saúde.
5. Hirschman K, Shaid E, McCauley K, Pauly M, Naylor M. Continuity of Care: e Transitional Care Model, OJIN: e Online Jour-
nal of Issues in Nursing Vol. 20, No. 3, Manuscript 1, September 30, 2015.https://doi.org/10.3912/OJIN.Vol20No03Man01