Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 2º Semestre de 2011
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Efeito dos Campos Terapêuticos na Funcionalidade, Autoestima,
Autoconceito e Autoeficácia da Criança e do Adolescente com
Incapacidade e/ou Doença Crónica: Uma Revisão Sistemática da
Literatura
Effect of Therapeutic Camps in the Functionality, Self-Esteem,
Self-Concept and Self-Efficacy in Children and Adolescents with
Disabilities and / or Chronic Illness: A Systematic Review of
Literature
Maria isabel Dias Da Costa Malheiro
Professora Adjunta, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
É consensual que a incapacidade e a doença crónica têm efeitos negativos na saúde relacionados com
a funcionalidade. Nestes últimos anos os campos especializados “Summer Camps” ou Therapeutic Camps”
têm baseado largamente os seus programas na premissa da recreação terapêutica e emergiram como uma
forma de intervenção com crianças portadoras de condição crónica de saúde. Apesar destes campos terem
vindo a proliferar particularmente na Europa, a avaliação sistemática da sua eficácia tem sido descurada. O
objectivo deste estudo é fazer uma revisão sistemática da literatura que procura avaliar os efeitos dos campos
na funcionalidade das crianças e jovens com incapacidade e/ou doença crónica. Dez estudos que avaliam o
efeito/eficácia em campos terapêuticos constituíram o corpus para a análise. Os resultados demonstram que
estes campos são extremamente importantes e têm efeitos significativamente positivos para crianças e jovens
com necessidades especiais nos domínios da funcionalidade nas actividades de vida diária, autoestima e
autoeficácia. Estes campos podem constituir espaços de excelência para a intervenção de enfermagem na área
da reabilitação e promoção da saúde, adesão e gestão ao regime terapêutico e assim contribuir para uma
melhoria na qualidade de vida destas crianças.
Palavras-Chave: Criança; Adolescente; Campos Terapêuticos; Intervenção de Enfermagem;
Funcionalidade; Actividades de Vida Diária; Incapacidade; Doença Crónica.
Disability and chronic illness in children and youths may negatively affect their functionality. Over the last
years we have been witnessing a proliferation of specialized camps, particularly in Europe. These programs were
based on therapeutic recreation and emerged as a form of intervention, but lack evaluation. The aim of this study
was evaluate the effects of these camps in functionality, self-esteem, self-concept and self-efficacy in children
and youths with disabilities or chronic illnesses. Ten studies constituted our sample. Most findings show that these
camps are extremely important and have significant positive effects on children and youths with special needs in
the areas of independent functionality in activities of daily living, self-esteem and self-efficacy. These camps can
provide excellent places for nursing intervention in rehabilitation, health promotion, therapeutic management,
and contribute towards a better quality of life for these children and youths.
Keywords: Child; Adolescent; Training Camp; Functionality; Nursing Intervention; Activities of Daily
Living; Disability; Chronic Disease.
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 2º Semestre de 2011
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INTRODUÇÃO
Os avanços tecnológicos, assim como o crescente desenvolvimento do conhecimento
na área da saúde da criança e do jovem, ocorridos nas últimas décadas, contribuíram para
que a selecção natural fosse alterada. A melhoria dos cuidados técnicos ao recém-nascido
nas Unidades de Cuidados Intensivos Neonatais contribuiu por um lado, para o aumento
da esperança de vida de crianças cuja sobrevivência era pouco provável num passado
recente e por outro, para que a taxa de morbilidade infantil tenha aumentado e como
consequência um número significativo destas crianças apresente necessidades especiais.
O aumento da incidência de morbilidade infantil, deu origem a profundas alterações
nos factores determinantes da saúde das crianças e dos jovens, e conduziu a uma nova
perspectiva de Necessidades Especiais a nível da Saúde e Educação, que passaram a ser
vistas globalmente, enfatizando a promoção da saúde, prevenção da doença, reabilitação
e inserção dos jovens com incapacidade e/ou doença crónica na sociedade.
A própria incapacidade e/ou doença crónica implica alterações na vida da criança,
obrigando-a a enfrentar as experiências adversas” inerentes aos tratamentos (sucessivas
hospitalizações) e cuidados de saúde especiais que necessita, e impedem ou limitam as
experiências de vida normativas, desejáveis e facilitadoras do desenvolvimento (Barros,
2003).
Tanto a nível internacional como nacional, existem preocupações no sentido de
uma inclusão global das pessoas com determinadas condições crónicas, como é o caso da
incapacidade. O Dec. Lei nº38/2004 de 18 de Agosto preconiza a assunção de uma política
global, integrada e transversal de prevenção, habilitação, reabilitação e participação
da pessoa com deficiência”. Este decreto tem como objectivo facilitar o acesso por
parte destes indivíduos à informação, capaz de os habilitar a um melhor autocontrolo,
capacitando os indivíduos para a tomada de decisões e, simultaneamente, aumentar o seu
grau de responsabilidade individual e social sobre a evolução da sua situação.
Nas últimas décadas, temos assistido a um crescimento significativo de Campos
de Férias (Summer Camp), no entanto, cada vez mais, muitos destes Campos destinam-se
sobretudo a grupos de crianças e adolescentes com necessidades de saúde especiais ou que
se considerem em risco. Programas do tipo, Therapeutic Campou Specialised Program
Camp realizados fora das instituições de saúde têm sido cientificamente reconhecidos
por profissionais de várias áreas das ciências humanas tais como, reabilitação, social,
recreação e educação. Revisões de literatura e relatórios feitos nesta área indicam que
estes programas têm um potencial único e especial, que produz mudanças positivas
em pessoas com incapacidade e/ou doença crónica, não ao nível psicomotor como
cognitivo e emocional. Acrescentam ainda que estes programas quando envolvem pessoas
com incapacidades são eficazes no desenvolvimento de competências em diversas áreas
como, social, recreação e lazer, independência, responsabilidade, iniciativa, motivação,
autoestima e autoeficácia (Brannan, 1997).
Campos com programas especializados para crianças com doença crónica ou
incapacidade e seus irmãos são tradicionalmente considerados espaços de lazer e
atualmente cada vez mais reconhecidos como um contexto eficaz para intervenção
psicoeducativa (Briery & Rabian, 1999; Powars & Brown, 1990; Punnett & Thurber,
1993). Acrescentam ainda que esta experiência aumenta significativamente os níveis de
funcionalidade psicossocial, a autossuficiência e a independência.
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 2º Semestre de 2011
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Os campos terapêuticos são programas que estão disponíveis para dar resposta às
necessidades psicossociais de crianças e jovens. Segundo as linhas orientadoras da American Camp
Association (American Camp Association, 1997 e 1998) os principais objetivos desta experiência
consistem na promoção do desenvolvimento mental, físico, social e espiritual, na melhoria da
autoestima e desenvolvimento das competências sociais. Acrescentam ainda que esta experiência
é desenhada e programada para promover nestas criaas e jovens uma independência global, e
autodisciplina em relação à sua condição e à sua vida (American Camp Association, 1997 e 1998).
Segundo Thomas & Gaslin (2001) o ambiente que envolve estes campos terapêuticos
promove uma oportunidade única para as criaas com doea crónica interagirem e
aprenderem entre elas. Destacam o papel fundamental da enfermagem o como suporte às
necessidades sicas, emocionais e psicogicas destes participantes mas também na prevenção
primária e terciária, promovendo a saúde, permitindo que estas crianças e adolescentes
cresçam e se desenvolvam de um modo o mais independente e harmonioso possível.
Pelo facto destes Campos terem emergido como uma forma de intervenção
terapêutica para crianças e jovens com doença crónica ou incapacidade, poucos foram
sujeitos a uma avaliação sistemática.
Tendo como objetivo identificar a evidência científica dos efeitos dos Campos
Terapêuticos na funcionalidade, na autoestima, no autoconceito e na autoeficácia das
crianças e adolescentes com incapacidade e/ou doença crónica, formulou-se uma questão
que norteou a revisão sistemática da literatura: Quais os efeitos dos Campos Terapêuticos
na funcionalidade, na autoestima, no autoconceito e na autoeficácia das crianças e dos
jovens com incapacidade e/ou doença crónica?
METODOLOGIA
Para dar resposta a esta questão realizou-se uma revisão sistemática de literatura
para localizar, analisar, avaliar e sintetizar as evidências de estudos científicos.
A pesquisa eletrónica utilizou as seguintes bases de dados: CINAHL Plus, MEDLINE,
British Nursing Index, Cochrane Data Base of Sistematic Reviews, Cochrane Methodology
Register, Database of Abstracts of Reviews of Effects, Health Technology Assessments,
MedicLatina, Psychology and Behavioral Sciences Collection, SPORTDiscus with Full Text,
Academic Search Complete, ERIC, Fuente Académica, Library, Information Science &
Technology Abstracts, Nursing & Allied Health Collection: Comprehensive.
A queso foi estruturada com o formato PI[C]OD. Os descritores de busca utilizados
foram : Spina Bifida, Spinal Cord Injury, Disabilities, Disable, Deficiência, Incapacidade, Chronic
Disease, Chronic Illness; Doença Crónica, Adolescent, Child*, Teen*, Autonomy, Function*,
Independenc*, Self-care, Daily Living; Program*, Training, Intervention Studies, Rehabilitation,
Camp*. A pesquisa foi realizada em 18 de Abril de 2010 não se utilizando limitação de datas.
A expressão de pesquisa identificou 72 artigos. Leram-se todos os títulos e resumos
rejeitando-se todos os que permitiam decidir sobre a não inclusão. Todos os artigos
considerados relevantes, potencialmente relevantes ou duvidosos, num total de 28, foram
selecionados para leitura do texto integral de forma a identificar quais os que respondiam
aos critérios de inclusão (Quadro 1). Destes, não foi possível ter acesso ao texto completo
de 3 pelo que os mesmos foram excluídos da revisão.
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 Semestre de 2011
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Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão aos 25 artigos, resultou o corpus
de análise inicial constituído por 15 estudos.
QUADRO 1 - Critérios de Inclusão e Exclusão dos Estudos
CRITÉRIOS DE SELECÇÃO CRITÉRIOS DE INCLUSÃO CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Parcipantes Crianças e jovens com Spina Bída, Lesão Medular,
Deciência, Doença Crónica, pais ou prossionais
colaboradores no Campo.
Crianças e jovens saudáveis.
Intervenção Campo ou Residências Terapêucas na Comunidade
Realização de intervenção através de um programa.
Instucional (hospitais, centros de
reabilitação)
Estudos especícos desnados
a experiências de aventuras,
programas com adolescentes
delinquentes e com problemas
comportamentais, de
aprendizagem e emocionais
Desenho Estudos de Invesgação com paradigma qualitavo,
quantavo e misto
Ausência de trabalho empírico
Resultados Domínios da Independência Funcional :
alimentação, higiene pessoal, vesr e despir, eli-
minação, transferência, mobilização, compreen-
são, expressão, interação social, resolução de pro-
blemas na vida quodiana, memória).
Autoesma
Autoconceito
Autoecácia
Outros domínios
A avaliação da qualidade dos estudos foi aplicada aos 15 estudos através de
uma grelha de critérios metodológicos adaptada de Epstein, Stinson & Stevens (2005)
utilizada no seu estudo de revisão sistemática de literatura, em que os autores procuraram
determinar os efeitos dos campos terapêuticos na qualidade de vida das crianças e
adolescentes com doença crónica.
Cada estudo foi analisado de acordo com os quatro parâmetros metodológicos
selecionados. Cada parâmetro tem uma pontuação de 0 a 3, sendo que a pontuação total
pode variar entre 0 (mínimo) e 12 (máximo) como se pode verificar no Quadro 2. Foram
incluídos todos os estudos onde se obteve uma pontuação superior a 8 isto é, superior
a 75% dos critérios. Da aplicação dos critérios definidos (Quadro 3) foram excluídos 5
estudos resultando o corpus de análise, num total de 10 estudos.
QUADRO 2 - Critérios de Avaliação da Qualidade dos Estudos
PARÂMETROS DOS ESTUDOS PONTUAÇÃO CRITÉRIOS
Avaliação dos efeitos do Campo 3 Domínios da Independência Funcional: Autocuidado, controlo
de esfíncteres, mobilidade, comunicação, cognição social,
autoestima, autoconceito e autoeficácia
2 Mínimo 3 critérios
1 Mínimo 2 critérios
0 Mínimo 1 critérios
Desenho do Estudo 3 Avaliação pré/pós campo e Follow-up até 1 ano
2 Avaliação Pré/Pós campo
1 Avaliação Pós-campo
0 Avaliação Pré-campo
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PARÂMETROS DOS ESTUDOS PONTUAÇÃO CRITÉRIOS
Participantes e sua Seleção 3 Descrição da forma como foi realizada a seleção dos participantes,
critérios de elegibilidade, nº de participantes, diagnóstico clínico,
referência às limitações, descrição dos princípios éticos inerentes
à investigação em pediatria
2 Mínimo 3 critérios
1 Mínimo 2 critérios
0 Mínimo 1 critérios
Instrumento de colheita de
dados
3 Apresenta em anexo, descreve, fundamenta a sua escolha, faz
referência à validação e às limitações na sua utilização
2 Mínimo 3 critérios
1 Mínimo 2 critérios
0 Mínimo 1 critérios
QUADRO 3 - Resultados da Avaliação da Qualidade dos Estudos
IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDOS INCLUÍDOS PONTUAÇÃO
Bodzioch, J., Roach, J. W., & Schkade, J. (1986).
Promong independence in adolescent paraplegics: a 2-week “camping” experience.
10
Brannan, S. A., Arick, J., Fullerton, A., (1996).
A Naonal Evaluaon of Residenal Camp Programs Serving Persons with disabilies. Final Report.
12
Healy, H., & Rigby, P. (1999).
Promong independence for teens and young adults with physical disabilies.
9
Briery, B. G., & Rabian, B. (1999).
Psychosocial changes associated with parcipaon in a pediatric summer camp.
9
Hanson, C. S., Nabavi, D., & Yuen, H. K. (2001).
The eect of sports on level of community integraon as reported by persons with spinal cord injury.
9
Marn Iglesias, M. A., Díaz Jara, M., Zapatero Remón, L., & Marnez Molero, M. I. (2003).
Asthma camp. Quality of life quesonnaires.
8
Kiernan, G., Gormley, M., & MacLachlan, M. (2004).
Outcomes associated with parcipaon in a therapeuc recreaon camping programme for children
from 15 European countries: Data from the ‘Barretstown Studies’.
12
Kiernan, G., Guerin, S., & MacLachlan, M. (2005).
Children’s voices: qualitave data from the ‘Barretstown studies’
9
Goodwin, D. L., & Staples, K. (2005).
The meaning of summer camp experiences to youths with disabilies.
9
Holsey, C. N., & Cummings, L. (2008).
Evaluang a residenal asthma camp program and ways to increase physical acvity.
10
IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDOS EXCLUÍDOS Pontuação
Thomas, D., & Gaslin, T. C. (2001).
Camping up” self-esteem in children with hemophilia.
5
Epstein, I.; Snson, J.; Stevens, B. (2005).
The eects of camp on health-related quality of life in children with chronic illnesses: a review of
the literature.
6
Nesvold, J., Fena, P., & Herman, J. (2006).
Assessing the Value of Children’s Asthma Camps.
6
Dawson, S., & Liddicoat, K. (2009).
Camp gives me hope”: exploring the therapeuc use of community for adults with cerebral palsy.
7
Mobily, K. E. (2009).
Role of Exercise and Physical Acvity In Therapeuc Recreaon Services.
5
QUADRO 2 - Critérios de Avaliação da Qualidade dos Estudos - (Continuação)
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 Semestre de 2011
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Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
RESULTADOS
Os estudos incluídos, num total de dez (10), estão caracterizados no Quadro 4.
QUADRO 4 - Características dos Estudos Incluídos na Revisão
ESTUDO PARTICIPANTES INTERVEÃO RESULTADOS
Promong Indepen-
dence in adolescent
paraplegics: a 2-week
camping” experience.
(Bodzioch et al., 1986)
Estudo misto
EUA (Texas)
12 Parcipantes, 10 Spina
Bída e 2 Lesão medular
Idades compreendidas en-
tre 14 e 17 anos.
2 Semanas de treino inten-
sivo (enfermeiros e te-
rapeutas ocupacionais).
Receberam instruções
relacionadas com higiene
pessoal, eliminação, cui-
dados com a pele.
Sessões de treino de com-
petências sociais e inte-
resses vocacionais
Ambos os grupos demons-
traram aumento nos níveis
de autoesma e competên-
cias sociais no pós campo e
follow-up
Ambos os grupos melhoraram
a sua prociência nas AVD,
no entanto os resultados do
follow-up demonstram no
grupo de controlo um decrés-
cimo destas compencias.
Destacam a avaliação posiva
feita pelos pais e parcipan-
tes no follow-up.
A Naonal Evaluaon of
Residenal Camp Pro-
grams Serving Persons
with Disabilies. Final
Report.
(Brannan et al., 1996)
Estudo misto
EUA (Washington)
15 Campos residenciais
2,184 Parcipantes com in-
capacidade
Idades compreendidas
entre 7 e 29 anos sendo
que 90% do total de par-
cipantes nham entre 7
e 19 anos.
Apenas 73 destes parci-
pantes foram seleccio-
nados (5 de cada campo)
para a 2ª fase deste estu-
do, estudos de caso.
Submedos a um programa
de 1 semana com sessões
desnadas a crianças,
adolescentes e jovens
adultos com incapacidade
severa. Um protocolo de
intervenção po manual
foi fornecido a todas as
equipas dos 15 campos de
modo que a intervenção
fosse homogénea.
Não faz referência à equipa
de intervenção nas ses-
sões, apenas referem a
uma formação prévia refe-
rente à implementação do
programa.
Resultados destacam os efei-
tos posivos nas áreas da
comunicação, competências
sociais, responsabilidade
domésca, independência e
autoesma independente-
mente da severidade da in-
capacidade.
Resultados posivos na área
social (relação interpessoal,
comunicação) e parcular-
mente mais elevados ao nível
da independência no auto-
cuidado (vesr, despir, higie-
ne, mobilizar-se, alimentar-
se) e nas avidades de vida.
Os pais e Colaboradores do
Campo referem que os jo-
vens estão mais independen-
tes, competentes, movados
e responsáveis.
Promong independen-
ce for teens and young
adults with physical
disabilies
(Healy & Rigby, 1999)
Estudo Misto
Canadá (Toronto)
10 Jovens com incapaci-
dade sica (Lesão me-
dular, Paralisia cerebral,
alterações visuais e Spina
Bída)
Idade compreendida entre
17 e 21 anos
Programa de promoção da
independência, The In-
dependence Progamme,
com a duração de 20 dias
numa residência comuni-
tária.
Realizada por terapeutas
ocupacionais, life skills ins-
tructors, recreaonal the-
rapists e cuidadores.
Treino de competências na
funcionalidade nas avi-
dades de vida diária, que
lhes permitam angir al-
guma autonomia e facili-
tar a sua transição para a
vida adulta e suas respon-
sabilidades
Treino de competências
para a tomada de decisão
face às suas necessidades
especiais e potencialida-
des.
Todos os parcipantes refe-
riram ter melhorado a sua
performance. Revelam ser
mais Independentes e mais
competentes a nível social.
Todos os parcipantes avalia-
ram posivamente o progra-
ma, são da opinião que este
programa lhes é benéco e
sentem-se sasfeitos com as
alterações funcionais.
Alguns parcipantes man-
veram a sua performance
em algumas avidades, que
demorariam muito tempo
para as fazerem de uma for-
ma autónoma, no entanto,
demonstram sasfação na
tomada de decisão em pedir
ajuda e orientar o cuidador.
O treino para resolução de
problemas inuenciou posi-
vamente a sua autoecácia.
Os parcipantes recomendam
que cada parcipante deve
trazer o seu material especí-
co ulizado nas suas ronas
em casa.
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 2º Semestre de 2011
32
ESTUDO PARTICIPANTES INTERVEÃO RESULTADOS
Revelam sasfação em reali-
zar tarefas que em casa não
faziam, mas estão interessa-
dos em fazer (superproteção
pais).
Revelam que não nham cons-
ciência da complexidade e os
desaos inerentes a algumas
avidades e as limitações
que a incapacidade lhes im-
põe.
A parlha com os seus pares
nas tarefas, permiu-lhes
desenvolver capacidades na
resolução de problemas com
mais criavidade e exibili-
dade.
Na avaliação feita no follow-up
referem que as suas capaci-
dades connuam a mudar
e apontam a superproteção
dos pais a principal barreira.
Valorizaram a oportunidade
de desenvolver capacidades
para viver em comunidade e
ganhar autonomia no auto-
cuidado.
O programa de foi considerado
um sucesso pelos parcipan-
tes
Psychosocial changes
associated with par-
cipaon in a pediatric
summer camp
(Briery & Rabian, 1999)
Estudo Quantavo
EUA (Mississippi)
3 Diferentes campos
90 Parcipantes portado-
res de doença crónica
(Asma, Diabetes, Spina
Bída)
Idades compreendidas en-
tre os 6 e 16 anos
1 Semana de sessões (reali-
zadas por enfermeiros)
Para além das avidades
recreavas e desporvas
comuns a todos os cam-
pos, apenas dois deles o
campo de diabécos e da
asma foi submedo a um
programa com sessões de
educação para a saúde pe-
los enfermeiros.
Revelam que os programas de
verão estão associados a be-
necios a nível psicossocial e
funcionalidade sica nos par-
cipantes com doença cróni-
ca e incapacidade.
Revelam que os parcipantes
melhoram a sua atude face
à doença/incapacidade e di-
minuem signicavamente
os níveis de ansiedade.
Os resultados posivos ao nível
das relações interpessoais
são evidentes e reetem-se
na diminuição da ansiedade
The eect of sports on
level of community in-
tegraon as reported
by persons with spinal
cord injury.
(Hanson, Nabavi, &
Yuen, (Hanson et al.,
2001)
Estudo Quantavo
EUA (Florida)
48 Parcipantes com lesão
medular, medicamente
estáveis e sem alterações
cognivas
Idade superior ou igual a
18 anos
Divididos em dois grupos
A ulização do Desporto na
Reabilitação para aumen-
tar os niveis de indepen-
dencia sica, mobilidade e
integração social.
Não descrevem o programa
de intervenção, nem fa-
zem referência à constui-
ção da equipa.
Resultados signicavamente
mais altos nos domínios; In-
dependência Física; Mobili-
dade; Integração Social.
Asthma camp. Quality of
life quesonnaires
(Marn Iglesias et al.,
2003)
Estudo Quantavo
Espanha (Madrid)
54 Crianças com Asma
Idades compreendidas en-
tre 8 e 14 anos
Grupo 8-10
Grupo 11-14
Intervenção 1 semana (aler-
gologistas, enfermeiras
e monitores peritos em
asma)
Programa educacional, des-
porvo e no âmbito das
competências sociais.
Resultados revelam:
Grupo 8-10
Aumento da autoconança e
independência
Grupo 11-14
Mais responsáveis e indepen-
dentes na gestão terapêuca
Não observaram diferenças
no autoconceito e na auto-
esma
Ambos os grupos revelaram
que o campo melhorou a sua
qualidade de vida
QUADRO 4 - Características dos Estudos Incluídos na Revisão - (Continuação)
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 Semestre de 2011
33
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
ESTUDO PARTICIPANTES INTERVEÃO RESULTADOS
Outcomes associated
with parcipaon in a
therapeuc recreaon
camping programme
for children from 15
European countries:
Data from the ‘Bar-
retstown Studies’.
(Gemma Kiernan et al.,
2004)
Estudo Quantavo
Irlanda
119 Crianças oriundas de
15 países Europeus
Crianças com doença cró-
nica de mau prognósco
e seus irmãos
Idades compreendidas en-
tre 7 e 16 anos
Intervenção 10 dias
10 Sessões (Não fazem re-
ferência ao conteúdo das
sessões nem à constui-
ção da equipa que reali-
zou)
Resultados revelam ser signi-
cavamente posivos no
bem-estar, sico, psicológico
e social destas crianças
Foram notados benecios re-
lavamente à autoesma e
qualidade de vida
Children’s voices: qua-
litave data from the
‘Barretstown studies’
(G. Kiernan et al., 2005)
Estudo Qualitavo
Irlanda
240 Crianças com doença
crónica de mau prognós-
co e seus irmãos
Idades compreendidas en-
tre 7 e 16 anos
Intervenção 10 dias
10 Sessões (Não fazem re-
ferência ao conteúdo das
sessões)
Não fazem referência à
constuição da equipa
que realizou o programa.
No discurso das crianças des-
tacam-se as aprendizagens
relacionadas com as compe-
tências sociais (cooperação e
comunicação)
Revelam ter aumentado a sua
capacidade de resolução de
problemas
The meaning of summer
camp experiences to
youths with disabili-
es.
(Goodwin & Staples,
2005)
Estudo Qualitavo
Fenomenológico
9 Parcipantes com inca-
pacidade (paralisia cere-
bral, deciência audiva,
deciência múlpla e
ausmo)
Idades compreendidas en-
tre 14 e 19 anos
Não faz referência à inter-
venção
Resultados emergiram dois
grandes temas, Independên-
cia e relações interpessoais
A nível das relações interpes-
soais, destacam a importân-
cia de conhecer outros jo-
vens com incapacidade.
Valorizaram a oportunidade
de parlhar experiencias
de vida comuns e aprender
acerca de si próprio
Referem que ali não são exclu-
ídos nem ridicularizados, e
revelam senmentos de per-
tença e aceitação no grupo
Valorizaram a aprendizagem
que fazem sobre a sua inca-
pacidade.
Sentem-se mais independen-
tes na gestão das avidades
de vida diária
Referem que os pais também
se tornam mais independen-
tes relavamente à condição
do lho e cam sasfeitos
em ver os lhos a dar passos
para a sua independência
Mais movados e autoconan-
tes
O experiencia foi considerado
um desao ao seu potencial
sico.
Evaluang a residenal
asthma camp program
and ways to increase
physical acvity
Estudo Qualitavo
(Holsey & Cummings,
2008)
151 Parcipantes com
asma
Idades compreendidas en-
tre 7 e 13 anos
Intervenção 1 semana
Sessões de educação param
a saúde diárias.
Resultados revelam um au-
mento signicavo dos co-
nhecimentos acerca da asma
Mais competentes socialmen-
te (comunicação e nas rela-
ções interpessoais e sociais)
Melhor autoconceito e auto-
conança
Mais independentes e mais
competentes na autogestão
A análise apresenta as atividades nos Campos Terapêuticos, o desenho dos estudos,
os instrumentos de colheita de dados, os procedimentos de seleção dos participantes e os
efeitos da intervenção, isto é, os resultados obtidos face ao programa de atividades dos
Campos Terapêuticos e que serão objeto de discussão.
QUADRO 4 - Características dos Estudos Incluídos na Revisão - (Continuação)
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 2º Semestre de 2011
34
CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS INCLUÍDOS
Atividades nos Campos Terapêuticos
As atividades realizadas nos Campos variaram nos dez estudos, sendo que em
três não fazem referência ao tipo de atividade realizada (Brannan, Arick, & Fullerton,
1996; Goodwin & Staples, 2005; Hanson, Nabavi, & Yuen, 2001). A maioria dos estudos
incluía atividades desportivas e físicas, apenas dois referem programas de treino nas
atividades de vida diária e independência, onde os participantes aprenderam a ser
responsáveis pela roupa, confeção das refeições, limpeza e adaptação da mobília às suas
necessidades (Bodzioch, Roach, & Schkade, 1986; Healy & Rigby, 1999). Em cinco estudos
foram realizadas sessões de educação para a saúde específicas para a doença, treino de
competências sociais, orientação vocacional e informação sobre o funcionamento físico
(Bodzioch et al., 1986; Briery & Rabian, 1999; Healy & Rigby, 1999; Gemma Kiernan,
Gormley, & MacLachlan, 2004; G. Kiernan, Guerin, & MacLachlan, 2005; Martín Iglesias,
Díaz Jara, Zapatero Remón, & Martínez Molero, 2003).
Desenho dos Estudos
Todos os estudos descrevem o seu desenho. Quatro estudos utilizam um paradigma
quantitativo, outros quatro, um paradigma qualitativo e os restantes dois, uma abordagem
mista.
Relativamente aos momentos de avaliação, sete estudos referem avaliar nas três
fases: pré campo, pós campo e follow-up. O follow-up foi realizado num período que variou
entre duas semanas e oito meses após o término do Campo (Brannan et al., 1996; Holsey
& Cummings, 2008).
Num estudo, a avaliação apenas foi feita na fase pré campo (Hanson et al., 2001),
outro estudo avaliou na fase de follow-up, seis meses depois de terminar o Campo
(Goodwin & Staples, 2005) e num outro estudo a avaliação realizou-se no período pré
campo e pós campo (Briery & Rabian, 1999).
Instrumentos de colheita de dados
Todos os estudos fazem referência ao instrumento de colheita de dados, sendo que
apenas cinco o descrevem e explicam o seu processo de validação (Brannan et al., 1996; Briery
& Rabian, 1999; Hanson et al., 2001; Gemma Kiernan et al., 2004; G. Kiernan et al., 2005).
Os instrumentos de colheita de dados utilizados nos estudos foram de diferentes
tipos e incluíram, escalas, questionários de perguntas fechadas, questionários de perguntas
abertas e entrevistas semiestruturadas.
Nos estudos que abordaram os dados num paradigma quantitativo, foram utilizadas
diversas escalas, nomeadamente: Scale of self-concept and self-esteem e Activities of Daily
Living (Bodzioch et al., 1986); Affective Behavior Scale for Disable, Outdoor Case Study
e Outdoor Skills Inventory (Brannan et al., 1996); Canadian Occupational Performance
Measure (Healy & Rigby, 1999); The Child Attitude Toward Illness Scale e Scale of the State-
trait Anxiety Inventory for Children (Briery & Rabian, 1999); Craig Handicap Assessment
and Reporting (Hanson et al., 2001); Self-Profile for Children, Self-Profile for Adolescents,
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 Semestre de 2011
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Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Perceived Illness Experience, Social Support Scale, Symptom Distress Scale e Symptom
Distress Cheklist (Gemma Kiernan et al., 2004).
Os questionários e as entrevistas tiveram, nos estudos mistos, a finalidade de
complementar qualitativamente os efeitos dos Campos nas crianças e nos jovens que os
frequentaram.
Participantes e sua Selecção
A maioria dos estudos explica o processo de seleção dos participantes, no entanto,
apenas três fazem referência aos procedimentos éticos inerentes a uma investigação com
crianças (Briery & Rabian, 1999; Gemma Kiernan et al., 2004; G. Kiernan et al., 2005). Na
maioria dos estudos os investigadores fizeram a seleção dos participantes em instituições
e serviços de saúde especializados e em unidades de cuidados terciários. Nos dois estudos
com grupo de controlo os investigadores descreveram o seu processo de seleção (Bodzioch
et al., 1986; Hanson et al., 2001).
O número de participantes envolvidos nos estudos variou entre 9 e 2184. Cinco
estudos envolvem mais de 100 participantes. A maioria dos estudos envolve crianças e
jovens com idades compreendidas entre os 6 e 25 anos. Sete estudos incluem participantes
com incapacidade, dois envolvem simultaneamente participantes com incapacidade e
doença crónica e em quatro estudos participaram apenas jovens com doença crónica.
A totalidade dos estudos realizou-se em campos especializados, preparados com todos
os recursos necessários para dar resposta às necessidades especiais de saúde e de
acessibilidade que estas crianças e jovens apresentam.
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS EFEITOS DA INTERVENÇÃO
As atividades desportivas e recreativas como natação, equitação, tiro com arco,
basquete, voleibol, entre outras, são referidas em todos os estudos. A razão desta atenção
especial à atividade física, nestes jovens em particular, parece estar associada aos fatores
de risco que apresentam relacionados com a vida sedentária que habitualmente vivenciam
(Kesaniemi et al., 2001). As poucas oportunidades de realizar exercício físico associadas
a uma atitude segregativa dos professores de educação física que frequentemente os
dispensam das suas aulas, são muitas vezes as principais responsáveis pela perda de
funcionalidade. Segundo Hedrick & Broadbent (1996) os indivíduos com incapacidade
estão em maior risco de contrair uma doença crónica debilitante, opinião corroborada por
Ipsen (2006) quando descreve os quadros clínicos que podem resultar desta inatividade,
nomeadamente a osteoporose, a obesidade, as infecções urinárias e a obstipação crónica.
Deste modo, os resultados parecem estar consonantes com as conclusões do estudo
de Mobily (2009) onde a prática de exercício de média a moderada intensidade nestas
crianças e jovens, promove e melhora a sua funcionalidade e a sua qualidade de vida.
Funcionalidade
A independência no autocuidado (alimentação, higiene pessoal, vestir e despir,
eliminação, transferência, mobilização), a comunicação (compreensão, expressão, interação
social) e a cognição social (resolução de problemas na vida quotidiana) foram os domínios
mais avaliados nos dez estudos. Nenhum dos estudos incluiu nos seus resultados, todos
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 2º Semestre de 2011
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os domínios da Funcionalidade descritos na Classificação Internacional de Funcionalidade,
Incapacidade e Saúde.
Quanto à funcionalidade no autocuidado, a grande maioria dos participantes nestes
estudos refere melhorias significativas as quais se manm ao longo do tempo como foi
verificado nas entrevistas de follow-up (Bodzioch et al., 1986; Brannan et al., 1996; Briery &
Rabian, 1999; Goodwin & Staples, 2005; Hanson et al., 2001; Healy & Rigby, 1999; Holsey &
Cummings, 2008; Gemma Kiernan et al., 2004; Martín Iglesias et al., 2003). Importa realçar que
no estudo de Boldzioch (1986) onde o grupo de intervenção foi submetido a um programa de
treino das Atividades de Vida Diária (AVD), onde aprenderam a ser responsáveis pela sua roupa,
confão dos alimentos, manutenção e limpeza da residência e pelo seu autocuidado e o grupo
de controlo apenas usufruiu do programa de atividade desportiva e recreativa, os resultados
s-campo, demonstraram que ambos os grupos melhoraram os níveis de independência
funcional, particularmente no autocuidado. No entanto, nas entrevistas de follow-up o grupo
de controlo demonstrou um decscimo significativo, razão que levou os autores a fundamentar
a imporncia de promover este tipo de treino nestes campos.
São evidentes os ganhos em termos de funcionalidade nas AVD. Os participantes
revelam satisfação em poderem realizar estas tarefas, referem que em casa não o fazem
porque os pais não permitem, situação que para alguns participantes constitui um
obstáculo à continuidade deste programa no domicílio. O estudo realizado por Epistein,
Stinson & Stevens (2005), explica esta situação relacionando-a com os comportamentos de
superproteção por parte da família, muitas vezes associada a uma codependência que os
impede de manter a sua autonomia no regresso a casa. Recomendam ainda que, associada
a esta experiência, deve haver um acompanhamento com os pais de modo a garantir a
continuidade destas atividades no domicílio e permitir que estas crianças e jovens tenham
um desenvolvimento, o mais harmonioso possível.
A tomada de consciência de que para ser independente não necessita
obrigatoriamente de fazer tudo sozinho, foi outro aspecto referido no estudo de Healy
& Rigby, (1999), e que nos parece interessante discutir. Alguns participantes com
incapacidade severa referiram que para fazerem de forma autónoma algumas atividades
despendiam muito tempo, e que pedir colaboração pontual sob sua orientação, fá-los
sentir mais eficazes na sua funcionalidade. A criança que necessita de cuidados de saúde
especiais está apta a aprender a reconhecer essa necessidade (tomada de consciência
das suas limitações) e pedir ajuda, atitude que também vai reforçar a sua autoestima.
Deve estar apto a entender a sua deficiência e transmitir esta informação aos pares e
adultos (Chin, 1998). Estes resultados parecem estar consonantes com a própria definição
de funcionalidade, que resulta da interação das funções e estruturas do corpo a realizar
tarefas inerentes à vida de um indivíduo. Se ele é capaz de as fazer mesmo com adaptações
ou meios auxiliares, ele é funcional (Saúde, 2004).
Outros domínios da funcionalidade são a interação pessoal e a vida social. Todos
os estudos revelaram que os campos têm efeitos significativamente positivos e que
os participantes se sentem mais competentes a nível social. Esta opinião é partilhada
em dois estudos pelos pais e colaboradores destes campos. Os jovens destacam que a
oportunidade de estar com outros jovens com doença crónica ou incapacidade aumenta
as oportunidades de interação social, permite a partilha de experiências de vida comuns,
proporcionando-lhes um sentimento de pertença e de aceitação no grupo (Goodwin &
Staples, 2005).
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 Semestre de 2011
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Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Segundo Thomas & Gaslin (2001) o próprio ambiente que é criado nestes campos
motiva os participantes a desenvolver competências sociais e de comunicação. Os desafios
constantes que lhes são impostos e a dinâmica vivida nas camaratas constituem momentos
de grande riqueza de interações entre eles.
A dimeno aprendizagem e aplicão dos conhecimentos da funcionalidade foi
analisada através dos resultados relacionados com o conhecimento da sua doença e a
geso terapêutica. Três dos campos implementaram no seu programa seses de educão
para a saúde, onde eram abordados temas relacionados com a doea (diabetes e asma),
geso terautica e prevenção de crises de agudizão. Tanto os participantes como os
seus pais, revelaram que esta intervenção teve efeitos positivos não nos conhecimentos
relacionados com a doença como também nas medidas de prevenção das crises e gestão da
terapêutica (Briery & Rabian, 1999; Holsey & Cummings, 2008; Marn Iglesias et al., 2003).
Apesar dos resultados terem sido promissores, os autores referem a importância
de continuar a avaliar estes resultados em regime de follow-up até pelo menos um ano,
no sentido de poder relacionar o número de crises e verificar se mantêm este decréscimo
demonstrando melhorias clínicas evidentes. Estes resultados parecem estar consonantes
com o resultado da revisão de literatura de Epstein et al. (2005) em que se evidencia
a relação positiva entre os efeitos das sessões de educação para a saúde relacionadas
com a doença e os conhecimentos das crianças. Acrescentam ainda algumas estratégias
pedagógicas que acharam relevantes pelos ganhos associados, como os jogos de
computador adaptados à situação de doença (diabetes, asma e epilepsia) em que os jovens
virtualmente aprendem sobre a sua doença e a prevenir e resolver os problemas de saúde
para “salvar” o personagem do jogo.
No estudo de Healy and Rigby (1999) a partilha de tarefas permitiu também
desenvolver capacidades na área da resolução de problemas em que os participantes
referiram ter desenvolvido capacidades na criatividade e flexibilidade.
Autoestima, Autoconceito e Autoeficácia
Nos estudos que procuraram avaliar os efeitos do campo nas crianças e jovens
com doença crónica ou incapacidade, relacionados com a autoestima, os resultados foram
significativamente positivos (Bodzioch et al., 1986; Brannan et al., 1996; Gemma Kiernan et
al., 2004). Embora o aumento da independência funcional relacionada com as AVD esteja
teoricamente associado a uma melhoria ao nível do autoconceito, os resultados nestes
estudos não parecem muito consistentes.
Os resultados positivos relacionados com a autoeficácia, são mais evidentes nos
estudos em que os participantes tiveram treino nas AVD, em que os jovens aprenderam a ser
independentes e responsáveis pelas tarefas domésticas e pelas atividades de autocuidado.
RECOMENDAÇÕES METODOLÓGICAS
algumas recomendações feitas pelos autores relacionadas com as metodologias,
e que pensamos ser fundamental discutir nesta revisão, não só para fazer uma apreciação
geral das limitações que envolvem estes estudos, como também para poderem ser
interpretadas como sugestões para futuras investigações que procurem avaliar os efeitos
dos campos em crianças e jovens com necessidades especiais.
Pensar Enfermagem Vol. 15 N.º 2 2º Semestre de 2011
38
Quanto ao desenho do estudo, os autores referem que uma abordagem
exclusivamente quantitativa limita os resultados, sem permitir outros achados para além
dos que são inquiridos. Assim, recomendam uma abordagem mista para enriquecer
os resultados com informação contextual significativa e uma detalhada descrição da
experiência (Healy & Rigby, 1999). Os mesmos autores destacam as vantagens de um
estudo experimental para perceber de uma forma mais rigorosa a eficácia destes campos
e das intervenções terapêuticas realizadas.
Holsey and Cummings (2008) e Marn Iglesias et al. (2003), consideram muito
importante incluir no desenho do estudo três momentos de avaliação do campo: pré, s e
follow-up. Acrescentam ainda que estes estudos beneficiariam de uma perspetiva longitudinal
para avaliar a eficácia das intervenções terapêuticas na evolução clínica da criança e jovem.
O reduzido número de participantes foi apontado, em alguns estudos, como uma
limitação que se refletiu nos resultados, essencialmente nos estudos abordados num
paradigma positivista (Bodzioch et al., 1986; Healy & Rigby, 1999). A diversidade cultural
e de linguagem dos participantes, foi um fator que os autores referiram ter dificultado a
avaliação do campo, não ao nível operacional da intervenção mas essencialmente na
comunicação (Gemma Kiernan et al., 2004).
Quanto aos instrumentos de colheita de dados, os autores recomendam a sua
validação na população alvo de modo a dar mais consistência aos resultados desta avaliação
(Brannan et al., 1996). Sugerem uma abordagem multidimensional dos instrumentos de
avaliação, para identificar os domínios mais sensíveis do programa realizado (Gemma
Kiernan et al., 2004). Acrescentam ainda, que a utilização de um instrumento para avaliar
todos os domínios da funcionalidade como a Functional Independence Measure (FIM) deve
ser ponderada em estudos subsequentes.
Quanto aos procedimentos relacionados com a colheita de dados, os autores alertam-
nos para as implicações que a opção de o fazer por via telefónica pode acarretar, não na
diversidade dos dados como também na diminuição da sua qualidade (Goodwin & Staples, 2005).
LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Houve algumas limitações associadas a esta revisão da literatura. Entre estas
salienta-se o facto de apenas incluir estudos publicados em bases de dados eletrónicas e
não ter sido possível pesquisar a literatura cinzenta.
Um segundo nível de limitação diz respeito à dificuldade em contactar os autores
para clarificação de alguns dados menos consistentes, nomeadamente as qualidades
psicométricas de algumas das escalas que utilizaram.
Por último, a impossibilidade de obter o texto integral de 3 dos estudos que
respondiam aos critérios de inclusão.
CONCLUSÃO
Os campos terapêuticos especializados são extremamente importantes e trazem
benefícios para criaas e jovens com necessidades especiais a todos os níveis: indepenncia
funcional nas AVD, psicológico e social, melhorando assim a sua qualidade de vida.
Efeito dos Campos
Terapêuticos na
Funcionalidade,
Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
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Terapêuticos na
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Autoestima,
Autoconceito e
Autoeficácia da Criança
e do Adolescente com
Incapacidade e/ou
Doença Crónica: Uma
Revisão Sistemática da
Literatura
Todos os estudos demonstraram ter sido eficazes para estas crianças. Consideramos
que estes resultados devem sustentar a justificação do financiamento da atividade, podem
ser utilizados como fundamentação para financiadores de futuros campos e ainda,
constituírem a base da argumentação para que sejam considerados prioritários pela
comunidade política.
Os resultados positivos facilitam a adesão a esta experiência, não ao nível dos
participantes mas principalmente no que respeita aos pais que, muitas vezes, têm dúvidas
quanto às suas vantagens.
Os campos terapêuticos podem constituir espaços de excelência para a intervenção
de enfermagem na área da reabilitação e promoção da independência funcional nas AVD,
na promoção da educação para a saúde e da adesão e gestão do regime terapêutico e
assim contribuir para o desenvolvimento de uma geração mais independente e positiva
relativamente à sua condição.
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