Índice
00
01
02
Pensar Enfermagem
Artigos Originais
Artigos de revisão
Ficha Técnica
1RWLȴFD©¥RGHHYHQWRVDGYHUVRVSHORVHQIHUPHLURVSDUDPDLRUVHJXUDQ©D
HPHQIHUPDJHPSHGL£WULFD
&DSDFLWDURXWHQWHKLSRFRDJXODGRHIDP¯OLDQDJHVW¥RGDGRHQ©D
XPDLQWHUYHQ©¥RGD(QIHUPDJHP&RPXQLW£ULD
%DUUHLUDVTXHLQȵXHQFLDPDVDWLWXGHVGRVHQIHUPHLURVIDFHDRVFXLGDGRV
SDOLDWLYRVQDXQLGDGHGHFXLGDGRVLQWHQVLYRVQHRQDWDLV
UHYLV¥R
VFRSLQJ
5HDOLGDGH9LUWXDOFRPRHVWUDW«JLDGHDO¯YLRGDGRUQRWUDEDOKRGHSDUWR
SURWRFRORUHYLV¥R
VFRSLQJ
(GLWRULDO
&DSDFLWD©¥RGDSHVVRDKLSHUWHQVDHIDP¯OLDSDUDDJHVW¥RGDGRHQ©D
XPDLQWHUYHQ©¥RGHHQIHUPDJHPFRPXQLW£ULD
([SHUL¬QFLDVGHWHUYLYLGRFRPDIDVLDGH%URFDXPD
VFRSLQJUHYLHZ
&XVWRGRVFXLGDGRVSDOLDWLYRVRQFROµJLFRVHPVHUYL©RVGHDVVLVW¬QFLD
GRPLFLOLDUUHYLV¥RLQWHJUDWLYD
&DSDFLGDGHGHDXWRFXLGDGRGHSHVVRDVLGRVDVSRUWXJXHVDVUHVLGHQWHV
HPFRQWH[WRGRPLFLOL£ULR
(IHWLYLGDGHGRGXFKHWHUDS¬XWLFRQRDO¯YLRGDGRUQRSULPHLURHVW£GLR
GRWUDEDOKRGHSDUWR
9LY¬QFLDVGRSURFHVVRGHKRVSLWDOL]D©¥RSHUVSHFWLYDGHSHVVRDVLQWHUQDGDV
QDFO¯QLFDP«GLFD
ΖQWHUYHQ©·HVSDUDDDXWRJHVW¥RHPDGROHVFHQWHVFRP'LDEHWHV7LSR
XPSURWRFRORGHUHYLV¥R
VFRSLQJ
&XLGDGRVGHHQIHUPDJHPQDSUHYHQ©¥RGHTXHEUDVGHSHOHQRLGRVR
UHYLV¥RLQWHJUDWLYDGDOLWHUDWXUD
0HGRGHFDLUQDSHVVRDLGRVDHPPHLRKRVSLWDODUSURWRFRORGH
VFRSLQJUHYLHZ
ΖQGLFDGRUGHTXDOLGDGHHPWHUDSLDQXWULFLRQDOQDRQFRORJLDHDLQWHUIDFHFRP
DHQIHUPDJHPUHYLV¥RLQWHJUDWLYD
$ΖQWHUQHWFRPRIRQWHGHLQIRUPD©¥RHOLWHUDFLDHPVD¼GHQDJUDYLGH]
XPDUHYLV¥R
VFRSLQJ
2SDSHOGRVDYµVQDWUDQVL©¥RSDUDDSDUHQWDOLGDGHXPD
VFRSLQJUHYLHZ
32
5

03






39
52


95

ÍNDICE
03 Cochrane Corner
&RFKUDQH&RUQHUΖQWHUYHQ©·HVWHOHIµQLFDVSDUDDSRLRHGXFDFLRQDO
HSVLFRVVRFLDODFXLGDGRUHVLQIRUPDLV


Índice
04 Artigos Teóricos
82
Unitary Caring Science: Caritas Compassion Transpersonal Theory 170
2 |
Ficha Técnica
FICHA TÉCNICA
Pensar Enfermagem
Volume 27 N.01 | janeiro 2023
Direção
Diretor:
Andreia Silva da Costa
Editor Chefe:
Paulo Seabra
Conselho Editorial
Editor Chefe:
Paulo Seabra
Editores Adjuntos:
Florinda Galinha de Sá
Helga Rafael Henriques
Pedro Lucas
Editores Associados:
Adam Searby (Deakin University School of Nursing
and Midwifery, Melbourne, Australia)
Idevania G. Costa (School of Nursing, Lakehead
University, Thunder Bay, Ontario, Canada)
Ivone Cabral (Faculdade de Enfermagem da Uni-
versidade do Estado do Rio de Janeiro)
Luís Sousa (Universidade Atlântica - Escola Supe-
rior de Saúde Atlântica, Portugal)
Marcelle Miranda da Silva (Escola de Enfermagem
Anna Nery, Universidade Federal do Rio de Janei-
ro)
Rita Catalina Aquino Caregnato (Universidade Fe-
deral de Ciências da Saúde de Porto Alegre - UFCS-
PA, Brasil)
Sara Franco-Correia (Universidade de Oviedo, Es-
panha)
Propriedade:
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
Centro de Investigação, Inovação e Desenvolvi-
mento em Enfermagem de Lisboa
Avenida Prof. Egas Moniz
1600 - 190 Lisboa
+351 217 913 400
revistapensarenfermagem@esel.pt
URL: pensarenfermagem.esel.pt
Depósito Legal:
106591/97
ISSNe:
1647-5526
Carolina Rodrigues
Desenvolvimento e manutenção
da Plataforma:
OJS/PKP
Carolina Rodrigues
Diogo Marques
Márcia Pereira
Periodicidade:
Rolling pass publication - Anual
Atribuição de DOI:
Crossref.org
_
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR
'2ΖSHQVDUHQIYL
(GLWRULDO
Como citar este artigo: Seabra P. Autogestão do estado de saúde: Desafios. Pensar Enf [Internet]. 2023
Dec
; 27(1): 3-4. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.319
EDITORIAL
Autogestão do estado de saúde: Desafios
Self-Management of Health Status: Challenges
Ahead
A capacidade de autocuidado é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
como a base dos cuidados de saúde. O autocuidado está interligado nas dimensões físicas,
psicológicas, emocionais, espirituais, e ainda com o conhecimento pessoal e bem-estar. O
autocuidado está interligado ao equilíbrio pessoal ao longo do ciclo de vida e é central para
vida das pessoas. Reconhecendo isso, a OMS considera as intervenções promotoras de
autocuidado como intervenções centrais para a promoção da saúde, pois estas, têm o
potencial de aumentar a escolha e fornecem mais oportunidades para as pessoas tomarem
decisões informadas em relação à sua saúde e sobre os cuidados de saúde que necessitam.
Estas intervenções têm de ser acessíveis e suportáveis economicamente pelas pessoas.1
As intervenções para o autocuidado podem ser organizadas a três níveis: Autoconhecimento
(autoajuda, autoeducação, autorregulação, autoeficácia, autodeterminação); Autoavaliação
(auto-seleção, auto-triagem, autodiagnóstico, auto-coleta, Auto-monitorização); e
Autogestão (Automedicação, auto-tratamento, autoexame, auto-injeção, autoadministração,
auto-uso),1 que é reconhecida como aquela com maior potencial para o bem-estar da pessoa.
A autogestão da saúde na situação de doença crónica, pode ser caracterizada em 3
dimensões. A primeira relacionada com a Pessoa, considerando que a pessoa deve
ativamente participar e assumir responsabilidade no processo de cuidado e ter uma forma
positiva de enfrentar a adversidade. A segunda sobre a Relação da pessoa com o Ambiente
de cuidados, em que se considera que a pessoa deve ser informada sobre a sua condição e
tratamento, deve ser capaz de expressar as suas necessidades, prioridades e valores num
ambiente de parceria e aberto para o apoio social, e o seu processo de autogestão tem de ser
individualizado. Finalmente, a terceira dimensão define a autogestão enquanto uma
Atividade, considerando que é uma tarefa para toda a vida que requer competências pessoais
(nomeadamente capacidade de decisão e resolução de problemas) e abrange a gestão da
saúde e das emoções.2 Como a condições de cronicidade da doença estão relacionadas com
os estilos de vida, muitas vezes o primeiro passo em direção à mudança é o mais difícil, pois
inclui, a consciencialização do problema, a mobilização de recursos internos e a tomada de
decisão, o que “pode precisar” da ajuda de um profissional de saúde. É aqui que os cuidados
de enfermagem podem ser decisivos, pois as intervenções de autocuidado ou o treino para
a autogestão quando realizadas em um ambiente seguro e solidário, oferecem a oportunidade
para aumentar a participação ativa das pessoas na sua própria saúde, aumentar a sua
funcionalidade e melhorar a sua qualidade de vida.3 ,4
A mudança de comportamentos é das decisões e ações mais difíceis de iniciar e estabilizar,
e é por isso que a investigação sobre o autocuidado e a capacitação para a autogestão da
saúde, continua na agenda da investigação internacional.5 É o tempo de agir, de capacitar, e
para isso, a população mundial espera contar com todos os profissionais de saúde, sendo
que, metade desta força espalhada pelo mundo são 28 milhões de enfermeiros. Profissionais
que precisam de contar com a imprevisibilidade da pessoa “com” quem prestam cuidados,
ter a capacidade de aceitar as suas escolhas mesmo quando a opção da pessoa assume
comportamentos de risco, e aceitar que o poder é de cada pessoa. Cuidados centrados na
pessoa não são reais se a pessoa não é verdadeiramente envolvida no planeamento e na
tomada de decisão e sempre que as suas expetativas e aspirações, ainda que danosas, não
sejam respeitadas. Atualmente muito é pedido a estes profissionais, mas o potencial desta
força de trabalho está ameaçado por múltiplos fatores: a falta de profissionais de saúde
apontada por diferentes organizações internacionais; a tentativa de generalização e
desqualificação da formação dos enfermeiros em vários países do globo como forma de
reduzir custos, retirando as pessoas o benefício de serem cuidados por profissionais de saúde
diferenciados; redução da oferta formativa na área da saúde ao nível do ensino superior; e o
Paulo Seabra1
orcid.org/0000-0001-8296-1021
1Editor-Chefe. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL), Lisboa; Centro de Investigação,
Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de
Lisboa (CIDNUR), Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Paulo Seabra
E-mail: pauloseabra@esel.pt
_6HDEUD3
(GLWRULDO
desinvestimento nos sistemas nacionais de saúde,
beneficiando os serviços privados que não investem nas
estratégias de promoção da saúde, incluindo as intervenções
para o autocuidado.
A investigação pode ter um contributo determinante para
as pessoas e para os profissionais de saúde, empoderando-
os para o respeito dos direitos e escolhas, mas para isto,
precisa integrar a experiência vivida de ambos, no
desenvolvimento de intervenções baseadas na evidência e
centradas no cidadão.
O contributo da revista, é micro, mas a Autogestão da Saúde
foi a temática mais publicada neste número 27.
Referências
1. World Health Organization. WHO consolidated guideline
on self-care interventions for health: sexual and
reproductive health and rights. Geneva: World health
Organization; 2019
2. Van de Velde D, De Zutter F, Satink T, Costa U, Janquart
S, Senn D, De Vriendt P. Delineating the concept of self-
management in chronic conditions: a concept analysis. BMJ
Open [Internet]; 2019 Jul 16 [cited 2024 jan 31];
9(7):e027775. Available from:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31315862/
3. van Schie D, Castelein S, van der Bijl J, Meijburg R,
Stringer B, van Meijel B. Systematic review of self-
management in patients with schizophrenia: psychometric
assessment of tools, levels of self-management and
associated factors. J Adv Nurs. [Internet] 2016 Nov [cited
2024 jan 08]; 72(11):2598-2611. Available from:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27200500/
4. Liu Y-Y, Li Y-J, Lu H-B, Song C-Y, Yang T-T, Xie J.
Effectiveness of internet-based self-management
interventions on pulmonary function in patients with
chronic obstructive pulmonary disease: A systematic review
and meta-analysis. J Adv Nurs [Internet] 2023 [cited 2024
jan 10]; 79, 28022814. Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jan.15693
5. Gauthier-Beaupré A., Kuziemsky C., Battistini B.J. et al.
Evolution of public health policy on healthcare self-
management: the case of Ontario, Canada. BMC Health
Serv Res [Internet] 2023 [cited 2024 jan 25]; 23; 248.
Available from:
https://bmchealthservres.biomedcentral.com/articles/10.1
186/s12913-023-09191-3 https://doi.org/10.1186/s12913-
023-09191-3
| 5
3HQVDU(QIHUPDJHPYQPDU©R
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
Como citar este artigo: Sousa F P, Curado M A S. Barreiras que influenciam as atitudes dos enfermeiros
face aos cuidados paliativos na unidade de cuidados intensivos neonatais: revisão scoping. Pensar Enf
[Internet]. 2023 Mar; 27(1):
5-16. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.200
Barreiras que influenciam as atitudes dos
enfermeiros face aos cuidados paliativos na unidade
de cuidados intensivos neonatais: revisão
scoping
Resumo
Objetivo
Identificar as barreiras que influenciam as atitudes dos enfermeiros face aos cuidados
paliativos na unidade de cuidados intensivos neonatais.
Introdução
Os enfermeiros neonatais desempenham um papel crucial no cuidado ao recém-nascido que
sofre de uma doença crónica complexa ou que se encontra em fim de vida e necessita de
cuidados paliativos. Na unidade de cuidados intensivos neonatais, a implementação dos
cuidados paliativos é inconsistente devido à existência de barreiras que influenciam as
atitudes dos enfermeiros perante a necessidade de tomar decisões relacionadas com o fim
de vida dos recém-nascidos ou a suspensão de tratamentos curativos.
Método
De acordo com a metodologia indicada pelo Joanna Briggs Institute, e o PRISMA-ScR
como lista de verificação complementar, esta revisão scoping foi realizada em três fases e
foram pesquisados em 10 bases de dados estudos primários, revisões sistemáticas e meta-
análises, em inglês, português, francês e espanhol entre 2016 a 2021. Os dados obtidos
através do processo de extração foram reunidos numa tabela, e incluíram as características
dos estudos, a população envolvida e os principais achados relacionados com as barreiras
que influenciam as atitudes dos enfermeiros face à prestação dos cuidados paliativos na
unidade de neonatologia, e os instrumentos utilizados para avaliar essas atitudes.
Resultados
Dezasseis estudos preencheram os critérios de inclusão. As principais barreiras
identificadas pelos estudos estão relacionadas com a ausência de formação em cuidados
paliativos, dificuldade de comunicação com os pais e entre profissionais de saúde, e
ausência de políticas relacionadas com a prestação de cuidados paliativos neonatais. A
entrevista semiestruturada foi o instrumento mais comum e amplamente utilizado para
estudos qualitativos. Os questionários foram selecionados para estudos quantitativos,
sendo a NiPCAS o mais utilizado na UCIN.
Conclusão
As barreiras que influenciam as atitudes dos enfermeiros na implementação dos cuidados
paliativos neonatais estão identificadas pela literatura científica, no entanto os cuidados
permanecem inconsistentes. A definição de estratégias de formação e políticas
organizacionais pode reduzir o impacto das barreiras enfrentadas pelos enfermeiros
neonatais na prestação de cuidados paliativos.
Palavras-chave
Atitudes; Barreiras; Unidade de Terapia Intensiva; Neonatal; Enfermeiro; Cuidados
Paliativos.
Fátima Pacheco de Sousa1
orcid.org/0000-0002-6577-4344
Maria Alice dos Santos Curado2
orcid.org/0000-0002-9942-7623
1Mestrado. Centro Hospitalar Universitário Lisboa
Norte, Hospital de Santa Maria, Serviço de
Neonatologia Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR).
2 Doutoramento. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR).
Autor de correspondência
Fátima Pacheco Sousa
E-mail: fatimasousa@campus.esel.pt
Recebido: 02.08.2022
Aceite: 22.12.2022
Artigo de revisão
Introdução
A sobrevivência dos recém-nascidos prematuros no limite
da viabilidade e de outros recém-nascidos com patologia
muito grave deve-se à evolução do conhecimento técnico e
científico na área da neonatologia. Mas, se a taxa de
sobrevivência é mais elevada, o potencial de bem-estar e de
uma vida saudável diminui devido à morbilidade,
incapacidade e doenças crónicas complexas (DCC) que
conduzem a níveis imprevisíveis de saúde difíceis de gerir,
que podem influenciar o desenvolvimento do recém-
nascido a curto, médio e longo prazo.1
As necessidades de cuidados paliativos (CP) na população
neonatal são principalmente importantes em situações de
diagnóstico pré ou pós-natal de condições limitantes e/ou
potencialmente fatais (por exemplo, agenesia renal bilateral,
anencefalia, trissomia 13 e 18…), quando existe um elevado
risco de morbilidade ou morte (por exemplo, hidronefrose
bilateral grave, síndrome do coração esquerdo hipoplásico,
doença neurológica…), quando os recém-nascidos estão no
limiar da viabilidade (idade gestacional de 22-23 semanas),
situações pós-natais com elevado risco de sequelas e
compromisso da qualidade de vida (por exemplo,
encefalopatia hipóxico-isquêmica grave, hemorragia peri-
intraventricular grave), ou situações pós-natais que causam
grande sofrimento e não têm possibilidade de cura (por
exemplo, enterocolite necrotizante grave) ou sem cura.2
Assim, no contexto dos cuidados intensivos neonatais, é
necessário que os profissionais de saúde, nomeadamente os
enfermeiros, desenvolvam competências em cuidados
paliativos (CP) de forma a apoiar o recém-nascido e a sua
família 3,4 prestando cuidados holísticos, ativos, totalmente
centrados na família desde o diagnóstico, ao longo da vida
do recém-nascido, na morte e além. Os cuidados paliativos
neonatais (CPN) abrangem elementos físicos, emocionais,
de desenvolvimento, sociais e espirituais, e têm como
objetivo melhorar a qualidade de vida do recém-nascido e
apoiar toda a família, incluindo a gestão de sintomas
angustiantes, cuidados em de fim de vida e apoio no luto. 5
A decisão de iniciar CP ao recém-nascido deve envolver a
equipe multidisciplinar, e considerar os fatos relevantes
relacionados à situação clínica do recém-nascido, a opinião
dos cuidadores, incluindo os pais e, se necessário, a opinião
de uma equipa de especialistas em CP e da Comissão de
Ética para a Saúde.6
A literatura e a prática mostram que a implementação dos
CPN é inconsistente7–9, muitas vezes devido ao sofrimento
emocional e aos dilemas éticos que os enfermeiros
experienciam quando se deparam com a necessidade de
tomar decisões relacionadas com o fim de vida, ou a
suspensão dos tratamentos curativos.4,10 A avaliação das
atitudes dos enfermeiros neonatais em relação à
implementação dos CPN tem sido efetuada através de
instrumentos que permitem aos investigadores identificar as
barreiras para a prestação de CPN.3,11,12
Algumas dessas barreiras incluem recursos humanos com
rácios inadequados e falta de treino em CP, ambiente físico
desfavorável, imperativos tecnológicos, dificuldade de
comunicação entre os membros da equipa e com os pais, e
expectativas parentais irrealistas.
A utilização de instrumentos evidencia o impacto que as
atitudes dos enfermeiros podem ter na prestação de
cuidados paliativos aos recém-nascidos, e possibilita a
implementação de políticas que auxiliem os profissionais de
saúde a tomar decisões consistentes e holísticas na busca
constante da melhoria da qualidade dos cuidados de
enfermagem.
Uma pesquisa preliminar realizada no Joanna Briggs
Institute Database of Systematic Reviews and
Implementation Reports, e nas bases de dados Cochrane
Library, MEDLINE e CINAHL, não identificou uma
revisão scoping sobre esta temática. As revisões scoping visam
mapear os principais conceitos que fundamentam uma área
de pesquisa e as principais fontes e tipos de evidências
disponíveis.13,14 Portanto, esta abordagem foi considerada
uma forma útil de mapear e examinar as evidências
científicas sobre as barreiras que influenciam as atitudes dos
enfermeiros em relação aos CP na UCIN.
Objetivo
O objetivo desta revisão scoping é identificar e mapear na
literatura científica quais são as barreiras que influenciam as
atitudes dos enfermeiros face aos cuidados paliativos na
unidade de cuidados intensivos neonatais.
Esta revisão scoping tem ainda como foco dar resposta às
seguintes questões:
Quais são as barreiras que influenciam as atitudes dos
enfermeiros face aos cuidados paliativos em neonatologia?
Que instrumentos têm sido utilizados para avaliar as atitudes
dos enfermeiros face aos cuidados paliativos em
neonatologia?
Método
Esta revisão scoping seguiu as recomendações de
metodologia do Joanna Briggs Institute (JBI),
nomeadamente, a identificação do objetivo e questões da
pesquisa, desenvolvimento dos critérios de inclusão,
pesquisa, seleção, extração e análise da evidência,
apresentação dos resultados, síntese e descrição dos
resultados.14,15 No apoio à gestão dos dados utilizou-se o
software Covidence® e a lista de verificação 16 para revisões
scoping Preferred Reporting Items for Systematic Reviews”.
Não foi efetuada a avaliação das limitações metodológicas
ou risco de viés das evidências incluídas neste estudo uma
vez que a mesma não é recomendada em revisões scoping. 14
Este estudo está registrado no Open Science Framework:
osf.io/phcm7.
Estratégia de Pesquisa
A pesquisa considerou estudos escritos em português,
inglês, francês e espanhol, publicados entre 2016 e 2021.
Foram incluídos todos os estudos científicos que abordaram
o objetivo do estudo, de natureza quantitativa, qualitativa ou
3HQVDU(QIHUPDJHPYQPDU©R| 7
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
mista, e também aqueles que não se encontram publicados
(literatura cinzenta).
Numa primeira fase, a pesquisa limitou-se a quatro bases de
dados, nomeadamente CINAHL Complete, MEDLINE
Complete, COCHRANE Database of Systematic Reviews
(via EBSCOhost) e Joanna Briggs Institute EBP Database
via OVID, onde, através da análise das palavras contidas no
título e no resumo dos estudos, se identificaram os termos
de indexação (descritores MeSH 2020 e palavras-chave). A
segunda etapa foi realizada nas bases de dados referidas na
primeira etapa, bem como na Academic Search Complete
(via EBSCOhost), b-on, BioMed Central, Science Direct
para publicações da Elsevier, PubMed, Scopus e Biblioteca
Virtual da Saúde. Numa terceira fase, foram analisadas as
referências dos documentos identificados de forma a
identificar alguma bibliografia adicional.
A estratégia de pesquisa da literatura incluiu a seguinte
combinação dos termos de indexação MeSH e palavras-
chave: ((“barriers”) AND (“nurse” OR “nurses” OR
“nursing”) AND ((MM “palliative care”) OR (“end of
life”)) AND ((MM “neonatal intensive care unit”) OR
(“NICU”))). Os termos descritores CINAHL utilizados
foram ((“barriers”) AND (MH”nurses+”) AND ((MM
“palliative care”) OR (“end of life”)) AND ((MM”intensive
care units, Neonatal”) OR (“NICU”))).
Elegibilidade
Os critérios de elegibilidade encontram-se descritos na
Tabela 1.
Após a identificação dos estudos relevantes, estes foram
importados para o software Covidence®. Os duplicados
foram removidos através deste software e, após a aplicação
dos critérios de inclusão e exclusão, os estudos foram
triados, primeiro pela análise do título e resumo e, numa
segunda fase, pela leitura do texto completo. O processo de
seleção dos estudos e extração de dados foi realizado de
forma independente por dois revisores, e um terceiro
revisor interveio sempre que existiram conflitos na seleção
dos estudos.
Tabela 1Critérios de elegibilidade
Critérios de elegibilidade
Critérios de Inclusão
Critérios de Exclusão
Todos estudos em que os participantes são enfermeiros que prestam
cuidados na UCIN
Todos os estudos cujos participantes não sejam enfermeiros neonatais
Todos os estudos cujos participantes incluam outros profissionais de saúde
para além de enfermeiros neonatais.
Todos os estudos cujo fenómeno de interesse esteja relacionado com as
barreiras, os desafios ou quaisquer
impedimentos que influenciam as
atitudes dos enfermeiros em relação aos CP na UCIN.
Estudos que explorem as atitudes, perceções e experiências dos enfermeiros
neonatais em relação aos CP na UCIN.
Todos os estudos desenvolvidos na UCIN, independentemente do seu nível
de diferenciação ou complexidade.
Todos os estudos cujo contexto de cuidados não seja a UCIN, tal como
Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos ou Unidades de Cuidados
Continuados ou Unidades de Cuidados Paliativos.
Estudos em Inglês, Português, Francês e Espanhol, entre 2016 e 2021.
Extração e síntese dos dados
Seguindo a orientação metodológica do JBI para revisões
scoping sobre o instrumento de extração de dados 15, na etapa
do protocolo os autores elaboraram uma tabela de extração
onde se efetuou o registo das informações contidas nos
estudos selecionados para análise, especificamente os
autores, país onde o estudo foi desenvolvido, ano, título,
objetivos, metodologia e assuntos que respondem ao PCC.
Depois de concluída a tabela de extração de dados, os
principais achados foram extraídos para uma tabela de
síntese (Tabela 2). Esta tabela contém os participantes, o
contexto e as barreiras identificadas como aquelas que
influenciam as atitudes dos enfermeiros face aos cuidados
paliativos na UCIN, e os instrumentos utilizados pelos
autores para avaliar essas atitudes. A extração de dados foi
efetuada por um revisor e um segundo revisor verificou os
dados extraídos. Onde ocorreu conflito, um terceiro revisor
interveio para garantir que a extração de dados
permanecesse consistente com o objetivo e as questões
delineadas. Uma nuvem de palavras foi gerada para extrair
os tópicos mais relevantes dos estudos e efetuou-se uma
descrição narrativa do processo.
Artigo de revisão
Tabela 2Síntese com os principais achados dos estudos incluídos na revisão (n=16)
1º Autor
Estudos
Participantes
Contexto
Barreiras
Instrumentos
Pais Enfermeiros Instituição de Saúde
Razeq, N.
2019/Jordânia
Quantitativo
Enfermeiros
(n=289)
UCIN
Dificuldade em
interpretar as
atitudes dos pais
Tempo insuficiente para
tomar decisões; dificuldade
em estabelecer um
prognóstico
Ausência de normas;
conflitos entre as
políticas da UCIN e as
de cada profissional
Parents' information and
ethical decision making
in neonatal intensive
care units: staff attitudes
and opinions
Forouzi, M.
2017/Irão
Quantitativo
Enfermeiros
(n=57)
UCIN
----------
Rácio enfermeira/RN
inadequado; ausência
de treino em CP
Ambiente inadequado;
ausência de protocolos
Neonatal Palliative Care
Attitude Scale
(NiPCAS)
Beckstrand, R.
2019/EUA
Misto
Enfermeiros
(n=121)
UCIN
Dificuldade em
comunicar com os
pais
Conflitos com os pais;
inconsistência nas decisões
da equipa médica; futilidade
terapêutica
Ambiente inadequado;
falta de privacidade
National Survey of
NICU Nurses'
Perceptions of End-of-
Life Care
Chin, S.
2020/EUA
Misto
Enfermeiros
(n=200)
UCIN
Não inclusão dos
pais na tomada de
decisão; necessidade
de continuar o
tratamento
Não compreensão dos
objetivos dos CPN; estigma;
a equipe usa a tecnologia de
suporte à vida além do que é
confortável
Falta de apoio aos
CPN pela sociedade;
falta de protocolos; o
ambiente físico da
UCIN; falta de
privacidade
NIPCAS
Questionário com
respostas abertas
Cerratti, F.
2020/Itália
Quantitativo
Enfermeiros
(n=347)
UCIN
Comunicação abaixo
do ideal
entre pais e
profissionais de
saúde; famílias não
estão informados
sobre as
opções de CPN
Incapacidade de partilhar
opiniões pessoais;
os médicos sentem-se
desconfortáveis com os
pedidos dos pais para
prolongar a vida dos bebés;
experiência anterior
insatisfatória na prestação
de CP
Ambiente físico
inadequado; escassez
de recursos para
prestação de CP; falta
de políticas formais de
fim de vida; diminuída
formação em serviço
em CPN
NIPCAS
Kilcullen, M.
2017/Austrália
Qualitativo
Enfermeiros
(n=8)
UCIN
A família está longe
do hospital; não se
usa tecnologia para
comunicar
Falta de experiência em CP;
sofrimento emocional;
dificuldade em mudar o
modelo de cuidados
curativos para paliativos
Falta de privacidade;
falta de
recomendações,
procedimentos e
políticas, ausência de
avaliação
Entrevista individual
semiestruturada
Kim, S.
2019/ Coreia do Sul
Qualitativo
Enfermeiros
(n=20)
UCIN
Comunicação com
os pais; exigência
para a continuação
do tratamento;
expectativas
parentais
Falta de experiência em CP;
dificuldade em apoiar os
pais; conflitos na decisão
entre cuidados de conforto
e cuidados curativos;
futilidade terapêutica
Ambiente inadequado,
falta de privacidade;
restrição de visitas;
realizar funções
administrativas
Entrevista individual
semiestruturada
Oliveira, FC.
2018/Brasil
Qualitativo
Enfermeiros
(n=9) --------------------
Sofrimento emocional;
identificação com as
famílias; falta de habilidades
para prestar CP; falta de
formação; desengajamento
emocional, repressão de
sentimentos e evitação
Suporte institucional
limitado para CP;
inconsistência nas
políticas hospitalares;
falta de protocolos
padronizados para CP
Entrevista individual
semiestruturada
Gibson, K.
2018/Austrália
Revisão da
Literatura
Enfermeiros
Decisões
dos pais para
continuar com o
tratamento;
expectativas
irracionais
relacionadas com o
bem-estar do bebé, a
longo prazo
Sofrimento moral; sensação
de impotência;
envolvimento emocional
prolongado com as famílias;
evitação; falta de
conhecimento, experiência e
competência; falta de
formação em CP
Ambiente inadequado;
as diretrizes da UCIN
sobre CP refletem mal
os valores e ideais da
equipa ou da
comunidade
------------
3HQVDU(QIHUPDJHPYQPDU©R| 9
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
Kachlová, M.
2021
República Checa
Quantitativo
Enfermeiros
(n=109)
UCIN
Exigência Parental
para continuar
tratamento curativo
Falta de formação em CP;
falta de apoio emocional
Recursos humanos
inadequados; ambiente
inadequado;
ausência de apoio na
formação e treino
NiPCAS
Sadeghi, N.
2021/Irão
Qualitativo
Enfermeiros
(n=12)
UCIN
Os pais não aceitam
a morte do filho;
presença dos pais
Rácio de enfermeiros
inadequado; stress
emocional; indicação
médica para continuação do
tratamento
Ambiente inadequado Entrevista individual
semiestruturada
Salmani, N.
2018/Irão
Revisão da
Literatura
UCIN
Pais solicitam a
continuação do
tratamento; cultura e
religião
Atitude negativa dos
profissionais de saúde em
relação à morte; religião;
falta de treino em CP;
dilemas éticos
Ausência de cursos de
formação; ambiente
inadequado;
rácio enfermeiro/RN
baixo
-------------
Carvalhais, M.
2019/Portugal
Qualitativo
Enfermeiros
(n=15)
UCIN
Dificuldade na
tomada de decisão;
sofrimento dos pais
Falta de treino e formação
em em CP
Ausência de
protocolos,
recomendações;
apoio psicológico
diminuído
Entrevista individual
semiestruturada
Kim, S.
2017/Coreia do Sul
Qualitativo
Enfermeiros
(n=20)
UCIN
Pais negam a
situação clínica do
RN; avós
desencorajam a
criação de memórias
Stress emocional; crenças e
culturas; rácio desadequado;
sobrecarga de trabalho
Ausência de
protocolos e
recomendações;
ambiente inadequado;
ausência de equipa
especialista em CP
Entrevista individual
semiestruturada
Silva, I.
2017/Brasil
Qualitativo
Enfermeiros
(n=8)
UCIN
Pais não estão
informados sobre as
opções em CP
Falta de treino em CP; falta
de diálogo entre a equipa
médica e de enfermagem;
impossibilidade de expressar
opiniões em decisões de fim
de vida
Organização da
UCIN;
rotinas; lidar com as
regras estabelecidas
pela instituição
Entrevista individual
semiestruturada
Silva, E.
2017/Portugal
Qualitativo
Enfermeiros
(n=15)
UCIN
Conflitos com os
pais e entre o
casal; dificuldade na
tomada de decisão
Falta de comunicação;
incapacidade em dar apoio;
limites terapêuticos; falta de
consenso
Ambiente inadequado;
falta de privacidade;
ausência de
protocolos
Entrevista individual
semiestruturada
Resultados
Resultados da pesquisa
Conforme a figura 1 (Fluxograma do processo de seleção
dos estudos - Prisma 2020), a pesquisa realizada em 10 bases
de dados identificou 483 registos. Destes, 75 registos
foram removidos pelo Covidence® por duplicidade. Foi
efetuada a triagem pelo título e resumo dos restantes 408
registos e 370 foram excluídos por não atenderem aos
critérios de inclusão, considerando-se elegíveis 38 registos.
Após a leitura do texto completo, 22 registos foram
excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão, ou
seja, contexto, população e não fazerem referência ao
desenho do estudo. Portanto, 16 estudos foram incluídos
nesta revisão de scoping.
Artigo de revisão
Figura 1 Fluxograma do processo de seleção dos estudos - PRISMA 2020
Características dos estudos incluídos
Em relação ao ano de publicação, houve um continuum entre
2016 e 2021. O ano de 2018 incluiu 5 estudos, 2017 e 2019
incluíram 3 estudos respectivamente, 2020 e 2021 com 2
estudos respectivamente, e 2016 com apenas 1 estudo. Os
estudos foram conduzidos em países europeus (n=4),
América do Norte (n=2), Médio Oriente (n=4), América do
Sul (n=2), Ásia (n=2) e Oceania (n=2). Os 16 estudos
analisados adotaram como estratégia metodológica a
abordagem qualitativa (n=8), e a abordagem quantitativa
(n=4). Também foram identificadas dissertações
académicas que seguiram uma metodologia mista (n=2), e
Revisões de Literatura (n=2). Todos os estudos elegeram a
UCIN como contexto e os enfermeiros como participantes
(n=16). Os principais objetivos das pesquisas foram
explorar as experiências 9,1719, percepções 3,2022 e atitudes 23
26 dos enfermeiros em relação à implementação dos
cuidados paliativos neonatais, e a existência de desafios 24,27
ou barreiras.
Análise temática
Utilizando o software NVivo®, foi realizada uma análise
temática dos 16 estudos, e emergiram quatro temas (Figura
2) que refletem as barreiras que influenciam as atitudes dos
enfermeiros face aos cuidados paliativos na unidade de
cuidados intensivos neonatais, nomeadamente, (1) a
experiência dos enfermeiros na prestação de cuidados
paliativos ao recém-nascido e às suas famílias; (2) a
comunicação dos enfermeiros com a equipa multidisciplinar
e com os pais; (3) as condições desfavoráveis em que os
cuidados paliativos são prestados; (4) o suporte institucional
e organizacional através da existência de protocolos,
diretrizes, políticas e equipas especializadas em cuidados
paliativos. Foi efetuada uma contagem de frequência de
palavras dos 16 estudos incluídos na revisão, e uma nuvem
Registos identificados:
Base de Dados (n =10)
Academic Search via EBSCO = 9
MEDLINE via EBSCO = 16
CINHAL via EBSCO = 13
b-on = 38
Science Direct = 25
Scopus = 332
Nursing Reference Center Plus = 18
PubMed = 21
Biblioteca Virtual da Saúde = 9
Joanna Briggs Institute EBP Database via
OVID=2
Registos (n = 483)
Registos removidos antes da análise
Remoção dos duplicados
(n =75)
Registos analisados
(n = 408)
Registos excluídos
(n = 370)
Registos eligíveis
(n =38)
Registos excluídos (n=22)
Razões:
População em estudo (n= 13)
Conceito (n=4)
Estudo (n=5)
Estudos incluídos na revisão
(n = 16)
Identificação dos estudos via base de dados e registos
Identificação
Análise
Inclusão
3HQVDU(QIHUPDJHPYQPDU©R| 11
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
de palavras foi gerada (Figura 3). O tema mais frequente foi
“experiência” (0,54%), seguido de “meio ambiente”
(0,29%), “experiências” (0,28%), “saúde” (0,24%),
“orientações” (0,18%) e “percepções” (0,17%). Estas
palavras refletem algumas barreiras que podem influenciar
as atitudes dos enfermeiros face aos cuidados paliativos na
UCIN.
Figura 2 - Análise temática dos estudos incluídos na revisão scoping (n=16)
Figura 3 - Nuvem de palavras da análise dos estudos incluídos na revisão scoping (n=16)
Instrumentos que permitem avaliar as atitudes dos
enfermeiros face aos cuidados paliativos na UCIN
Em relação à segunda questão, “Que instrumentos têm sido
utilizados para avaliar as atitudes dos enfermeiros face aos
cuidados paliativos em neonatologia?”, da análise dos 16
estudos incluídos na revisão, oito (n=8) utilizaram a
entrevista para identificar as barreiras que influenciam as
atitudes dos enfermeiros face aos CPN 3,7,17,19,21,22,29,30. Seis
estudos usaram escalas e questionários, nomeadamente,
Parents' information and ethical decision-making in neonatal intensive
care units: staff attitudes and opinions 24 (n=1), the National Survey
of NICU Nurses' Perceptions of End-of-Life Care 7 (n=1), e
Neonatal Palliative Care Attitude Scale - NiPCAS 12,20,25,31 (n=4).
O questionário Parents' information and ethical decision-making in
neonatal intensive care units: staff attitudes and opinions data de
1997 e foi utilizado como instrumento para o estudo
europeu EURONIC. 32 Foi construído para registar dados
sobre a organização e as políticas da UCIN, para examinar
as opiniões e as atitudes dos profissionais de saúde quanto à
transmissão de informações aos pais, e ao processo de
tomada de decisão ética na UCIN em relação aos aspectos
sociais, culturais, legais e origens éticas de diferentes países.
O questionário National Survey of NICU Nurses' Perceptions of
End-of-Life Care, foi utilizado num estudo misto e tem como
objetivo identificar as percepções dos enfermeiros sobre os
cuidados de fim de vida. Baseou-se em quatro questionários
semelhantes aplicados a enfermeiros em unidades de
cuidados intensivos de adultos, urgência, oncologia e
cuidados intensivos pediátricos. A Neonatal Palliative Care
Attitude Scale - NiPCAS 11 foi desenvolvida para examinar as
atitudes dos enfermeiros neonatais face aos cuidados
paliativos, atitudes que podem constituir barreiras ou
facilitadores para os CP na UCIN. É uma escala de cinco
pontos (1 a 5) que varia do discordo totalmente a concordo
totalmente. Avalia três dimensões, nomeadamente, a
Artigo de revisão
organização, os recursos e os clínicos. Esta escala tem sido
utilizada em vários estudos, traduzida e validada para outros
países12,25,31,33,34 e os resultados obtidos são muito
semelhantes, ou seja, as barreiras identificadas estão
relacionadas com a falta de formação em CP, falta de
comunicação com os pais, a falta de apoio institucional, a
existência de um ambiente não propício à prática dos CP e
os imperativos relacionados com a tecnologia.
Discussão
Na grande maioria dos estudos, as barreiras que influenciam
as atitudes dos enfermeiros face aos cuidados paliativos na
UCIN relacionam-se com a falta de experiência na prestação
de CPN, falta de formação, falta de
habilidades/competências na comunicação com os pais e
entre os profissionais de saúde, dificuldade em lidar com as
próprias emoções e dificuldade na tomada de decisões.
Não ter experiência na prestação de cuidados paliativos ao
recém-nascido, ou ter tido más experiências, pode aumentar
o stress emocional e promover situações de evitação e
dificuldade de comunicação com a família. 9,26,28
A pouca experiência dos enfermeiros em CP, aliada ao
desconhecimento da filosofia, princípios e práticas dos CP,
é uma das barreiras que influenciam as suas atitudes face à
implementação de cuidados paliativos e de apoio ao recém-
nascido e à sua família. 3,9, 19,30,31,35,36 Portanto, os currículos
das escolas de enfermagem 37, os serviços e instituições de
saúde 27 devem promover a formação em CP em diferentes
níveis, e criar uma cultura que promova e apoie a filosofia
dos CP 3,9,38 e o desenvolvimento profissional e pessoal dos
enfermeiros.
Sendo uma área muito exigente e específica, os CPN
requerem formação teórica, preparação técnica e treino de
forma a garantir cuidados de qualidade, culturalmente
sensíveis e que respondam às necessidades do recém-
nascido e da família. Existem recomendações 39 para a
formação de enfermeiros na área dos CP no nível básico,
intermédio e especializado. O objetivo desta formação é
compreender o conceito dos CP, avaliar e gerir os sintomas,
a dor e o desconforto do recém-nascido, das crianças e dos
jovens, adquirir competências de comunicação com estes
grupos etários e suas famílias, e compreender o sofrimento,
o processo de morrer, a morte e o luto. A aquisição de
conhecimentos sobre o controlo dos sintomas,
nomeadamente o controlo da dor, é essencial para garantir
o conforto do recém-nascido e a redução do estresse
parental. A formão em CP disponibiliza ferramentas e
competências que permitem desmistificar a utilização de
determinados medicamentos para alívio da dor em recém-
nascidos, nomeadamente o uso de opiáceos. A equipa de
saúde aprende a reconhecer os sinais e sintomas de dor e
desconforto, avalia objetivamente o nível da dor e justifica
o uso de medicamentos opioides, analgésicos e sedativos,
promovendo a qualidade de vida do recém-nascido e de sua
família e, por fim, a redução do desgaste emocional dos
profissionais de saúde que cuidam da tríade.
Outra questão fundamental no treino e aquisição de
competências em CP é a comunicação de más notícias,
inclusive aquelas relacionadas com o fim da vida. Os
enfermeiros consideram um desafio e uma intervenção
complexa dar más notícias aos pais 40, procedimento
causador de sofrimento emocional, mas essencial para uma
tomada de decisão centrada nas necessidades dos pais e do
recém-nascido. A comunicação é a pedra fundamental dos
CP e dos cuidados centrados na família (CCF), podendo ser
uma barreira que influencia as atitudes dos enfermeiros face
aos CP na UCIN, pois podem existir conflitos entre os pais
e a equipa de saúde 22, e dentro da própria equipa de saúde.
31,3638 O idioma, a cultura e a religião dos pais (mas também
dos profissionais de saúde) podem ser um obstáculo 27,36,
que dificulta a transmissão de informações sobre a condição
clínica do recém-nascido, o diagnóstico e a tomada de
decisão sobre as opções de cuidados curativos versus
cuidados paliativos.31 Os pais podem não compreender e
aceitar a decisão de iniciar os CP, exigindo a continuidade
do tratamento ativo e suporte de vida 22,27,36,38,41,
apresentando à equipa de saúde dilemas éticos e sofrimento
emocional que podem dificultar a mudança dos cuidados
curativos para os cuidados paliativos. De acordo com a
filosofia dos CCF, as informações que os pais recebem
devem ser consistentes, honestas e realistas 7, e os pais
devem ser incluídos na definição do plano de cuidados
antecipatórios 4,30,34, permitindo que eles se adaptem a
situações difíceis, pois os níveis de estresse parental podem
diminuir se a equipa de saúde aderir consistentemente à
prática do CFF, reduzindo inconsistências na
implementação das intervenções e promovendo o uso da
“mesma linguagem” pela equipa de saúde.
Outro tema descrito como uma barreira que influencia as
atitudes dos enfermeiros face aos CPN são as condições
desfavoráveis em que os cuidados paliativos são
prestados.3,7,27,31,3436,41 Um ambiente inadequado que não
permite privacidade3,7,23,25 é percebido pelos enfermeiros
como uma barreira para a prestação de cuidados paliativos.
A grande maioria das UCIN caracteriza-se por ser um
espaço amplo e aberto, onde convivem recém-nascidos, pais
e equipa de saúde, diminuindo a privacidade e o conforto
dos pais. A possibilidade de cuidar do recém-nascido em CP
em quartos separados da UCIN permitiria aos pais usufruir
do apoio de outros familiares, e também libertar as suas
emoções e sentimentos em relação ao. processo de
sofrimento que estão a vivenciar. No entanto, esta opção
exigiria mudanças estruturais e físicas da própria UCIN, e
aumento do rácio dos enfermeiros, o que pode o ser
possível por questões institucionais.27,38 A escassez de
enfermeiros promove uma redução do rácio
enfermeiro/recém-nascido, o que dificulta a disponibilidade
dos enfermeiros para acompanhar e estar com os pais, para
responder aos desejos dos pais e prestar todos os cuidados
de conforto de que necessitam.12,18,27
A cultura e o apoio institucional e organizacional podem ser
uma barreira que influencia as atitudes dos enfermeiros em
relação à implementação dos CPN.
A ausência de recomendações, protocolos, normas e
políticas favorece a implementação ad hoc dos CPN42,43,
pois a tomada de decisões, as tarefas a serem desenvolvidas
e as responsabilidades nas diferentes fases do processo
3HQVDU(QIHUPDJHPYQPDU©R| 13
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
dependem da atitude de cada membro da equipa de saúde
face aos CPN3,9,17,41,44, promovendo inconsistência no
cuidado e aumento do estresse parental e do estresse da
equipa de saúde. A falta de diretrizes, protocolos ou políticas
organizacionais9,21,22,24,26 pode promover situações em que a
tomada de decisão não seja baseada nas necessidades do
recém-nascido e de sua família.
A existência de recomendações, normas e políticas aliadas à
possibilidade de consultar uma equipa de especialistas em
CP pode reduzir barreiras e favorecer a tomada de decisão.
Também as instituições hospitalares devem criar uma
Equipa Intra-Hospitalar de Apoio em Cuidados Paliativos
Pediátricos, dimensionada às características e necessidades
locais que, sempre que a sua intervenção seja solicitada,
possa prestar cuidados diretos e orientar na execução do
plano individual de cuidados a crianças e jovens em situação
de doença crónica complexa e seus familiares.
Uma barreira associada à implementação dos CPN está
relacionada com o uso do termo “fim de vidae o efeito que
tem na prestação de cuidados. O termo “fim de
vida”7,17,19,30,35,44, relaciona os CP com morrer e morte. Essa
relação entre CP e morte promove dilemas éticos e
sofrimento moral nos enfermeiros27, pois vivenciam
sentimentos de fracasso pessoal37 diante da morte e das
expectativas e exigências dos pais27,34,38,41, adotando
intervenções relacionadas com a futilidade terapêutica, o
sofrimento e a dificuldade de mudança do modelo de
cuidados curativos para paliativos.7,19,30,34,41 No entanto, o
foco dos CPN não está inteiramente no fim da vida e na
morte, mas sim na vida e na possível transferência do recém-
nascido para o domicílio. Esta forma de estar perante os CP,
permite que o recém-nascido e a sua família vivam ao
máximo as suas vidas enquanto lidam com condições
médicas complexas45, promovendo a parentalidade e o papel
parental, experiências positivas e memórias para toda a
família enquanto durar a vida do recém-nascido.
Relativamente aos instrumentos identificados para avaliar as
atitudes dos enfermeiros face aos CPN, a entrevista é uma
das técnicas utilizadas na investigação qualitativa e recolhe
informação sobre a experiência e pontos de vista dos
participantes. Sabendo que prestar CPN na UCIN pode
sobrecarregar emocionalmente os enfermeiros, a entrevista
é uma ferramenta adequada para explorar os problemas
complexos que os enfermeiros vivenciam na sua prática e
compreender como e porque as suas atitudes afetam a
prestação de cuidados paliativos.
Com relação aos estudos quantitativos, nesta revisão
scoping foi identificado apenas um instrumento para avaliar
as atitudes dos enfermeiros face aos cuidados paliativos na
UCIN a NiPCAS.11 As barreiras à prestação de CPN,
nomeadamente as atitudinais, educativas, ambientais e
institucionais, identificadas através de questionários ou
escalas, em estudos que utilizaram uma abordagem
quantitativa, são semelhantes às barreiras identificadas
através das entrevistas, em estudos com abordagem
qualitativa.
Nesta revisão scoping foram apenas considerados como
participantes os enfermeiros neonatais sendo excluídos
outros profissionais de saúde, o que pode oferecer uma
perspectiva diferente sobre as barreiras que influenciam as
atitudes dos enfermeiros face aos cuidados paliativos em
neonatologia. O conteúdo de alguns instrumentos, como as
entrevistas, não estava disponível, portanto a análise dos
estudos pode ter sido incompleta.
Conclusão
Esta revisão scoping incluiu 16 estudos cujo objetivo foi
identificar as barreiras que influenciam as atitudes dos
enfermeiros face aos cuidados paliativos na unidade de
cuidados intensivos neonatais, e os instrumentos que
permitem avaliar as atitudes dos enfermeiros face aos
cuidados paliativos na UCIN. Os resultados obtidos
reforçam a necessidade dos enfermeiros neonatais
responderem não só às exigências tecnológicas, mas
também às exigências individuais do recém-nascido e dos
pais, e àquelas que se colocam a si próprios enquanto
pessoas. Os enfermeiros neonatais enfrentam uma série de
barreiras que podem influenciar as suas atitudes face aos
cuidados paliativos neonatais. A falta de experiência e
formação em cuidados paliativos, e o défice de
comunicação entre a equipa de saúde e a estabelecida com
os pais, foram consideradas as maiores barreiras à prestação
de cuidados paliativos neonatais. Assim, podemos dizer que
é urgente e importante desenvolver e dinamizar programas
de formação relacionados com os cuidados paliativos,
nomeadamente os direcionados para a área da
neonatologia, definir políticas e protocolos que
especifiquem as tarefas e responsabilidades que cada
profissional desenvolve nas diferentes fases do processo de
cuidar, para reduzir o sofrimento moral e os dilemas éticos
enfrentados pelos enfermeiros, diminuir o estresse parental
e permitir intervenções focadas no recém-nascido e na sua
família. Diferentes instrumentos são utilizados para avaliar
as atitudes dos enfermeiros face aos cuidados paliativos
neonatais, no entanto, apenas um destes instrumentos é
dedicado à área da Neonatologia. Mais pesquisas com
outros profissionais de saúde são importantes para ajustar
as intervenções e promover a melhoria dos cuidados
paliativos neonatais.
Referências
1. Wolke D, Johnson S, Mendonça M. The Life Course
Consequences of Very Preterm Birth. Annu Rev Dev
Psychol [Internet] 2019 [cited 2021 Jan 15];1(1):69–92.
Available from:
https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annure
v-devpsych-121318-084804
2. Sataloff RT, Johns MM, Kost KM. Integrating palliative
care and symptom relief into paediatrics: a WHO guide for
health care planners, implementers and managers.
-JNJUBÎÜFT
Artigo de revisão
[Internet]. Geneve: World Health Organization; 2018 [cited
2021 Mar 27]. Available from:
https://www.who.int/health-topics/palliative-care
3. Kilcullen M, Ireland S. Palliative care in the neonatal unit:
Neonatal nursing staff perceptions of facilitators and
barriers in a regional tertiary nursery. BMC Palliat Care
[Internet] 2017 [cited 2021 Jan 3];16(1):112. Available
from:
https://widgets.ebscohost.com/prod/customerspecific/ns
000290/authentication/index.php?url=https%3A%2F%2F
search.ebscohost.com%2Flogin.aspx%3Fdirect%3Dtrue%
26AuthType%3Dip%2Cshib%2Cuid%26db%3Dcmedm%
26AN%3D28490381%26lang%3Dpt-pt%26site%3Deds-
live%26scope%3D
4. Quinn M, Gephart S. Evidence for Implementation
Strategies to Provide Palliative Care in the Neonatal
Intensive Care Unit. Adv Neonatal Care (Lippincott
Williams Wilkins) [Internet] 2016 [cited 2021 Jan
3];16(6):4308. Available from:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27775989/
5. Dickson G. A Perinatal Pathway for Babies with Palliative
Care Needs [Internet]. Bristol: 2017 [cited 2021 Mar 27].
Available from: www.togetherforshortlives.org.uk
6. Alshehri H, Olausson S, Öhlén J, Wolf A. Factors
influencing the integration of a palliative approach in
intensive care units: A systematic mixed-methods review.
BMC Palliat Care [Internet] 2020 [cited 2021 Feb 20];19(1).
Available from:
https://www.researchgate.net/publication/343148653_Fa
ctors_influencing_the_integration_of_a_palliative_approac
h_in_intensive_care_units_a_systematic_mixed-
methods_review/link/5fc235aca6fdcc6cc677c24f/downlo
ad
7. Beckstrand RL, Isaacson RF, Macintosh JLBB, Luthy
KE, Eden L. NICU Nurses’ Suggestions for Improving
End-of-Life Care Obstacles. J Neonatal Nurs [Internet]
2019 [cited 2021 Jan 7];25(1):326. Available from:
https://www.scopus.com/inward/record.uri?eid=2-s2.0-
85054506367&doi=10.1016%2Fj.jnn.2018.08.004&partner
ID=40&md5=090eca08aeaa9a90f01877bd0680cd41
8. Kain V, Willkinson D. Neonatal palliative care in action:
Moving beyond the rhetoric and influencing policy. J Res
Nurs [Internet] 2013 [cited 2021 Feb 5];18(5):45968.
Available from:
https://www.researchgate.net/publication/258155898_Ne
onatal_palliative_care_in_action_Moving_beyond_the_rhe
toric_and_influencing_policy
9. Oliveira F, Cleveland L, Darilek U, Silva A, Carmona E.
Brazilian Neonatal Nurses’ Palliative Care Experiences. J
Perinat Neonatal Nurs [Internet] 2018;32(4):E310.
Available from:
https://www.researchgate.net/publication/328499453_Br
azilian_Neonatal_Nurses’_Palliative_Care_Experiences
10. Martin M. Missed opportunities: A case study of barriers
to the delivery of palliative care on neonatal intensive care
units. Int J Palliat Nurs [Internet] 2013 [cited 2021 Jan
20];19(5):2516. Available from:
https://www.researchgate.net/publication/256098015_Mi
ssed_opportunities_A_case_study_of_barriers_to_the_deli
very_of_palliative_care_on_neonatal
11. Kain V, Gardner G, Yates P. Neonatal palliative care
attitude scale: Development of an instrument to measure the
barriers to and facilitators of palliative care in neonatal
nursing. Pediatrics 2009;123(2).
12. Forouzi A, Banazadeh M, Ahmadi R. Barriers of
Palliative Care in Neonatal Intensive Care Units: Attitude of
Neonatal Nurses in Southeast Iran. Am J Hosp Palliat Med
2017;34(3):20511.
13. Arksey H, O’Malley L. Scoping studies: Towards a
methodological framework. Int J Soc Res Methodol Theory
Pract 2005;8(1):1932.
14. Peters MDJ, Marnie C, Tricco AC, Pollock D, Munn Z,
Alexander L, et al. Updated methodological guidance for the
conduct of scoping reviews. JBI Evid Synth [Internet]
2020;18(10):211926. Available from:
https://journals.lww.com/jbisrir/Fulltext/2020/10000/U
pdated_methodological_guidance_for_the_conduct_of.4.a
spx
15. Peters M, Godfrey C, Mclnerney P, Munn Z, Tricco A,
Khalil H. Scoping Reviews. In: Aromataris E MZ, editor.
JBI Manual for Evidence Synthesis. JBI; 2020. page 40651.
16. Tricco A, Lillie E, Zarin W, O’Brien K, Colquhoun H,
Levac D, et al. PRISMA extension for scoping reviews
(PRISMA-ScR): checklist and explanation. Ann Intern Med
2018;169(7):46773.
17. Pereira A. End of life in neonatology: experiences of
health professionals in neonatal palliative care. Millenium -
J Educ Technol Heal [Internet] 2019 [cited 2021 Jan
5];2(9):918. Available from:
https://revistas.rcaap.pt/millenium/article/view/17098
18. Sadeghi N, Hossein H, Seyyd A, Sadeghi S, Sadeghi M.
Barriers to Palliative Care in the Neonatal Intensive Care
Unit from Nurses’ Perspective: A Qualitative Study.
Medical-Surgical Nurs J [Internet] 2021;10(2):18. Available
from:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&Au
thType=ip,shib&db=ccm&AN=153832714&lang=pt-
pt&site=ehost-live
19. Kim S, Savage TA, Song M-KMK, Vincent C, Park CG,
Ferrans CE, et al. Nurses’ roles and challenges in providing
end-of-life care in neonatal intensive care units in South
3HQVDU(QIHUPDJHPYQPDU©R| 15
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
Korea. Appl Nurs Res [Internet] 2019 [cited 2021 Jan
7];50(October):151204. Available from:
https://www.scopus.com/inward/record.uri?eid=2-s2.0-
85074521131&doi=10.1016%2Fj.apnr.2019.151204&partn
erID=40&md5=9d54a24d6a5f3ca9ccd8de7c9ea15e18
20. Chin S, Paraszczuk A, Eckardt P, Bressler T. Neonatal
Nurses’ Perceptions of Palliative Care in the Neonatal
Intensive Care Unit. MCN Am J Matern Child Nurs
[Internet] 2021;46(5):2507. Available from:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&Au
thType=ip,shib&db=ccm&AN=152213416&lang=pt-
pt&site=ehost-live
21. Kim S. Nurses Perceptions of End-of-Life Care Practice
in Korean Neonatal Intensive Care Units. Nurses
Perceptions End-of-Life Care Pract Korean Neonatal
Intensive Care Units [Internet] 2017;1. Available from:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&Au
thType=ip,shib&db=ccm&AN=130413253&lang=pt-
pt&site=ehost-live
22. Silva E, Silva M, Silva D. Perception of health
professionals about neonatal palliative care. Rev Bras
Enferm [Internet] 2019 [cited 2021 Jan 7];72(6):170714.
Available from:
https://www.scielo.br/pdf/reben/v72n6/0034-7167-
reben-72-06-1707.pdf
23. Azzizadeh Forouzi M, Banazadeh M, Ahmadi JS,
Razban F. Barriers of Palliative Care in Neonatal Intensive
Care Units. Am J Hosp Palliat Med 2017;34(3):20511.
24. Abdel Razeq NM, Razeq A, Nadin M, Abdel Razeq NM.
End-of-life Decisions at Neonatal Intensive Care Units:
Jordanian Nurses Attitudes and Viewpoints of Who, When,
and How. J Pediatr Nurs [Internet] 2019 [cited 2021 Jan
7];44(xxxx):e3644. Available from:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&Au
thType=ip,shib&db=ccm&AN=134252881&lang=pt-
pt&site=ehost-live
.DFKORYi0%XæJRYi57KHDWWLWXGHVRIQHRQDWRORJLFDO
nurses to providing perinatal palliative care . Kontakt
[Internet] 2021;23(4):2406. Available from:
https://www.scopus.com/inward/record.uri?eid=2-s2.0-
85124468341&doi=10.32725%2Fkont.2021.036&partnerI
D=40&md5=e0a5fb97ab8520b6fdafc8a199281824
26. Cerratti F, Tomietto M, Della Pelle C, Kain V, Di
Giovanni P, Rasero L, et al. Italian Nurses’ Attitudes
Towards Neonatal Palliative Care: A CrossǦSectional
Survey. J Nurs Scholarsh [Internet] 2020;52(6):66170.
Available from: http://10.0.4.87/jnu.12600
27. Salmani N, Rassouli M, Mandegari Z, Bagheri I, Tafti
BF. Palliative Care in Neonatal Intensive Care Units:
Challenges and Solutions. Iran J Neonatol [Internet]
2018;9(2):3341. Available from:
http://10.0.86.22/ijn.2018.25521.1337
28. Gibson K, Hofmeyer A, Warland J, Ahern K. Nurses
Providing End-of-Life Care for Infants and Their Families
in the NICU: A Review of the Literature. Adv Neonatal
Care (Lippincott Williams Wilkins) [Internet]
2018;18(6):4719. Available from:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&Au
thType=ip,shib&db=ccm&AN=134450524&lang=pt-
pt&site=ehost-live
29. Oliveira F, Cleveland L, Darilek U, Borges Silva AR,
Carmona E. Brazilian Neonatal Nurses Palliative Care
Experiences. J Perinat Neonatal Nurs [Internet]
2018;32(4):E310. Available from:
https://www.scopus.com/inward/record.uri?eid=2-s2.0-
85055611682&doi=10.1097%2FJPN.0000000000000361&
partnerID=40&md5=058f74ad287e620ff160380043d644d
8
30. Silva IN, Salim NR, Szylit R, Sampaio PSS, Ichikawa CR
de F, Santos MR dos. Knowing nursing team care practices
in relation to newborns in end-of-life situations. Esc Anna
Nery 2017;21(4):19.
31. Cerratti F, Tomietto M, Della Pelle C, Kain V, Di
Giovanni P, Rasero L, et al. Italian Nurses’ Attitudes
Towards Neonatal Palliative Care: A Cross-Sectional
Survey. J Nurs Scholarsh [Internet] 2020 [cited 2021 Jan
7];52(6):66170. Available from:
https://doi.org/10.1111/jnu.12600
32. Cuttini M, Nadai M, Kaminski M, Hansen G, De Leeuw
R, Lenoir S, et al. End-of-life decisions in neonatal intensive
care: Physicians’ self-reported practices in seven European
countries. Lancet [Internet] 2000 [cited 2021 Feb
23];355(9221):21128. Available from:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9373868/
33. Jung HN, Ju HO. Comparison of the Attitudes of
Nurses and Physicians toward Palliative Care in Neonatal
Intensive Care Units. Korean J Hosp Palliat Care [Internet]
2021;24(3):16573. Available from:
http://10.0.56.139/jhpc.2021.24.3.165
34. Kyc SJ, Bruno CJ, Shabanova V, Montgomery AM.
Perceptions of Neonatal Palliative Care: Similarities and
Differences between Medical and Nursing Staff in a Level
IV Neonatal Intensive Care Unit. J Palliat Med [Internet]
2020 [cited 2021 Jan 7];23(5):6629. Available from:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31808706/
35. Nurse S, Price J. ‘No second chance’ Junior neonatal
nurses experiences of caring for an infant at the end-of-life
and their family. J Neonatal Nurs [Internet] 2017 [cited 2021
Jan 7];23(2):507. Available from:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jnn.2016.04.008
Artigo de revisão
36. Dombrecht L, Piette V, Deliens L, Cools F, Chambaere
K, Goossens L, et al. Barriers to and Facilitators of End-of-
Life Decision Making by Neonatologists and Neonatal
Nurses in Neonates: A Qualitative Study. J Pain Symptom
Manag [Internet] 2020 [cited 2021 Jan 7];59(3):599.
Available from:
http://10.0.3.248/j.jpainsymman.2019.10.007
37. Marc-Aurele KL, English NK. Primary palliative care in
neonatal intensive care. Semin Perinatol [Internet] 2017
[cited 2021 Jan 3];41(2):1339. Available from:
http://dx.doi.org/10.1053/j.semperi.2016.11.005
38. Ismail MSM, Mahrous E, Mokbel RA, S. Mahrous E,
Mokbel RA. Facilitators and Barriers for Delivery of
Palliative Care Practices among Nurses in Neonatal
Intensive Care Unit. Int J Nurs Heal Sci [Internet] 2020
[cited 2021 Jan 5];6(01):1828. Available from:
https://www.researchgate.net/publication/339377481_Fa
cilitators_and_Barriers_for_Delivery_of_Palliative_Care_P
ractices_among_Nurses_in_Neonatal_Intensive_Care_Uni
t
39. World Palliative Care Alliance. Global atlas of palliative
care at the end of life [Internet]. 2nd ed. London: 2014 [cited
2021 Feb 10]. Available from:
http://www.who.int/cancer/publications/palliative-care-
atlas/en/
40. Marçola L, Zoboli I, Polastrini R, Barbosa S. Breaking
bad news in a Neonatal Intensive Care: the parent ’ s
evaluation. Rev Paul Pediatr [Internet] 2020 [cited 2021 Mar
15];38:6. Available from:
https://www.scielo.br/pdf/rpp/v38/pt_1984-0462-rpp-
38-e2019092.pdf
41. Chin SDN. Neonatal Nurses’Perceptions of Providing
Palliative Care in the Neonatal Intensive Care Unit. 2020;
42. Catlin A, Carter B. Creation of a neonatal end-of-life
palliative care protocol. J Perinatol [Internet] 2002 [cited
2021 Jan 5];22(3):18495. Available from:
https://www.nature.com/articles/7210687.pdf
43. Carter BS. Providing palliative care for newborns.
Pediatr Ann [Internet] 2004 [cited 2021 Jan 5];33(11):7707.
Available from:
https://www.researchgate.net/publication/8167038_Provi
ding_Palliative_Care_for_Newborns
44. Razeq A, Nadin M. End-of-life Decisions at Neonatal
Intensive Care Units: Jordanian Nurses Attitudes and
Viewpoints of Who, When, and How. J Pediatr Nurs
[Internet] 2019 [cited 2021 Jan 7];44:e3644. Available from:
https://doi.org/10.1016/j.pedn.2018.10.014
45. Himelstein BP. Palliative care for infants, children,
adolescents, and their families. J Palliat Med [Internet] 2006
[cited 2021 Feb 15];9(1):16381. Available from:
https://www.researchgate.net/publication/7343352_Pallia
tive_Care_for_Infants_Children_Adolescents_and_Their_
Families
| 17
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / março 2023
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
Como citar este artigo: Frade A, Pinto V, D'Espiney L. Experiências de ter vivido com afasia de Broca:
uma scoping review.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Mar; 27(1):17-31
. Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v
27i1.213
Experiências de ter vivido com afasia de Broca: uma
scoping review
Resumo
Introdução
A afasia de Broca, uma afasia não fluente, é uma condição frustrante com extenso impacto
psicológico, familiar e social. Os relatos das pessoas que já recuperaram ou já se conseguem
expressar são essenciais para aumentar o conhecimento sobre a experiência de viver com a
afasia de Broca. A-FROM é uma estrutura concebida para organizar o pensamento sobre o
impacto de viver com afasia e inclui quatro domínios-chave: Ambiente de comunicação e
linguagem; Linguagem e deficiências relacionadas; Identidade pessoal, atitudes e sentimentos, e Participação
em situações da vida. A intervenção de enfermagem é central para otimizar a recuperação e
influenciar positivamente a experiência de viver com sucesso com esta condição clínica.
Objetivo
Mapear a evidência científica sobre a experiência das pessoas que viveram um período de
afasia de Broca.
Métodos
Foi realizada uma Scoping Review seguindo a metodologia do Instituto Joanna Briggs. A
revisão foi baseada na pergunta de investigação: "Como é que a pessoa relata a experiência de ter
vivido um período de afasia de Broca?", formulada de acordo com a estratégia PCC. A pesquisa
foi realizada nas bases de dados eletrónicas MEDLINE®, CINAHL®, Psychology and
Behavioral Sciences Collection e Scopus em Novembro de 2022. Os artigos foram
selecionados com base nos critérios de elegibilidade. A revisão seguiu a lista de verificação
PRISMA-ScR EQUATOR.
Resultados
Dezassete artigos publicados entre 1961 e 2022 foram incluídos. Os dados obtidos foram
agrupados de acordo com os domínios-chave da ferramenta A-FROM. As informações
relacionadas com Identidade pessoal, atitudes e sentimentos, e Participação em situações da vida foram
as mais citadas, seguidas por Linguagem e deficiências relacionadas e Ambiente de comunicação e
linguagem.
Conclusão
Profissionais de saúde, intervenções terapêuticas, espiritualidade, esperança, contexto,
interações e fatores psicossociais influenciam a experiência da afasia de Broca. É essencial
continuar a investigar como as pessoas relatam a experiência de terem vivido um período de
afasia de Broca para melhorar a qualidade dos cuidados e a qualidade de vida das pessoas.
Palavras-chave
Afasia, Broca; Comunicação; Distúrbios da linguagem; Eventos de Mudança de Vida;
Enfermagem; Revisão da Literatura como Tópico.
Ana Frade1
orcid.org/0000-0002-0590-4290
Vanda Pinto2
orcid.org/0000-0001-7047-1498
Luísa D’Espiney3
orcid.org/0000-0002-9018-0134
1Estudante de Doutoramento em Enfermagem.
Universidade de Lisboa. Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa (ESEL). Centro de
Investigação, Inovação e Desenvolvimento em
Enfermagem de Lisboa (CIDNUR).
2Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL). Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR).
3Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL).
Autor de correspondência
Ana Inês de Almeida Frade
E-mail: ana.ines.frade@esel.pt
Recebido: 14.11.22
Aceite: 02.02.23
Artigo de revisão
Introdução
A afasia, um distúrbio linguístico adquirido, pode afetar a
capacidade de uma pessoa para compreender ou formular
linguagem1. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a causa
mais comum2. A afasia de Broca é uma afasia de expressão,
uma afasia não fluente, e atualmente, é aceite que existam
duas variantes principais3. Numa pura afasia de Broca, danos
extensos envolvem a área de Broca, os campos frontais
circundantes, a matéria branca subjacente e os gânglios
basais4. Na afasia de Broca, ocorre uma perda drástica da
fluência da fala4. A capacidade de nomear e repetir é
perturbada, mas a compreensão oral é normalmente normal
para a linguagem coloquial3. Uma das alterações mais
substanciais é a perda da capacidade de introduzir algumas
regras na forma da fala. A lógica de sequenciar os elementos
constituintes pode estar correta e, no entanto, não existirem
partículas de ligação ou conjugação de verbos3. Estas
alterações criam um compromisso da comunicação e afetam
a qualidade de vida e o bem-estar5. A afasia de Broca é uma
condição frustrante com extenso impacto psicológico,
familiar e social, onde a pessoa está frequentemente
consciente das suas dificuldades de comunicação2,5. Devido
à individualidade de cada pessoa, contexto e etiologia da
lesão, a afasia de Broca é uma experiência única e
idiossincrática6.
Viver com afasia: uma estrutura de Medição de Resultados (A-
FROM) é uma estrutura desenhada para compreender,
orientar e organizar o pensamento relacionado com o
impacto de viver com afasia7. Foi adaptada da Classificação
Internacional de Funcionamento, Deficiência e Saúde (ICF)
da Organização Mundial de Saúde e incorporou conceitos
de outros modelos, tais como o modelo canadiano do
Processo de Criação de Deficiência8. É uma abordagem
ampla e não prescritiva da medição de resultados que
considera o impacto da afasia em áreas importantes da vida
das pessoas com afasia e das suas famílias. Foi concebido
para ajudar os profissionais de saúde e investigadores a
pensar nos resultados da afasia, abordando vários fatores
que afetam o sucesso de viver com afasia7.
A estrutura A-FROM engloba quatro domínios-chave, que
são dinâmicos, sobrepõem-se e interagem entre si: Ambiente
de comunicação e linguagem (qualquer elemento exterior à pessoa
que facilita ou atua como barreira à comunicação, incluindo
atitudes individuais/sociais, atributos do parceiro ou fatores
físicos); Linguagem e deficiências relacionadas; Identidade pessoal,
atitudes e sentimentos e Participação em situações da vida
(envolvimento em relações, funções e atividades diárias)9.
Devido ao compromisso na comunicação, as pessoas com
afasia enfrentam frequentemente barreiras no acesso à
informação sobre saúde10. A sua capacidade de transmitir
sintomas, questionar, solicitar cuidados e expressar
sentimentos, necessidades, vontades e decisões relativas aos
seus cuidados de saúde está comprometida10. Na
enfermagem, compreender e ser compreendido enquanto se
comunica é crucial para a qualidade dos cuidados de saúde e
para satisfazer as necessidades dos cuidados de saúde do
paciente11. As intervenções de enfermagem são centrais para
promover uma comunicação eficaz e terapêutica,
otimizando a recuperação e influenciando positivamente a
experiência de viver com sucesso com esta condição
clínica12.
As pessoas que experienciam a afasia de Broca não podem
comunicar as mudanças nesse momento. Devido a isto,
relatos de pessoas que recuperaram da afasia ou que já se
podem expressar são vitais para compreender a experiência
da afasia de Broca13. A narração do “mundo interno” é uma
fonte vital de informação para compreender a experiência
de viver sem linguagem13. A experiência é o que nos
acontece, o que nos toca e quando nos atinge, molda-nos e
transforma-nos14. Neste contexto, o conhecimento da
experiência é sobre o significado do que aconteceu14, como
a pessoa interpreta, compreende e explica esta experiência,
o que pressupõe uma reflexão individual15. As experiências
de doença estão cheias de significados16, que podem ser
compreendidas através do significado atribuído por aqueles
que as vivenciaram. Compreender a experiência individual
da pessoa que passou por um período de afasia de Broca, a
partir de uma perspetiva retrospetiva e não de uma
experiência vivida imediatamente, aumenta a compreensão
do fenómeno e revela verdades subjetivas. A experiência é
sempre subjetiva, individual e única, incluindo a experiência
da afasia de Broca.
Numa pesquisa preliminar não foi encontrada nenhuma
revisão da literatura sobre a experiência de ter vivido um
período de afasia de Broca, a partir da perspetiva das pessoas
que viveram esta condição clínica. Assim, a elevada
prevalência de AVC’s, sendo a principal causa da afasia2 e o
impacto deste distúrbio linguístico na vida da pessoa,
justificaram a necessidade de desenvolver esta Scoping Review.
Além de mapear e relatar as evidências existentes, esta
revisão irá clarificar conceitos-chave e identificar lacunas no
conhecimento sobre a experiência de ter vivido com afasia
de Broca17. É crucial diminuir o fosso entre a perspetiva das
pessoas que viveram este fenómeno e as perspetivas
externas sobre a afasia18.
Objetivos
O principal objetivo desta Scoping Review é mapear a
evidência científica disponível sobre a experiência dos
adultos que viveram um período de afasia de Broca de
acordo com a sua perspetiva, independentemente da
etiologia. Mais especificamente, o objetivo desta revisão é
identificar o que as pessoas relatam sobre a sua experiência
de afasia de Broca, o impacto e as mudanças, os
sentimentos e necessidades que emergiram, os fatores que
influenciaram a experiência, o apoio e os recursos que
tiveram e que gostariam de ter tido, sempre na perspetiva
do indivíduo.
Explorar as experiências das pessoas com afasia pode
melhorar a qualidade dos cuidados19. Assim, a
compreensão adquirida nesta revisão e a translação destes
conhecimentos para a prática podem melhorar os cuidados
de saúde prestados às pessoas com afasia de Broca,
incluindo a qualidade dos cuidados de enfermagem, através
da implementação de intervenções de enfermagem mais
eficientes que respondam às necessidades desta população.
Artigo de revisão
Este conhecimento também pode ser importante para
pessoas com outras perturbações linguísticas e pode
contribuir para melhorar os resultados em saúde.
Métodos
Foi desenvolvida uma Scoping Review seguindo a metodologia
do Instituto Joanna Briggs como um guia para uma pesquisa
transparente que permite compreender e replicar todo o
caminho20. A revisão foi baseada na questão da investigação:
"Como é relatada pela pessoa a experiência de ter vivido um período de
afasia de Broca?". Foi formulada de acordo com a estratégia
PCC: P=População (adultos que experienciaram afasia de
Broca); C=Conceito (relato da experiência de afasia de
Broca); C=Contexto (ambulatório e hospitalar). Este estudo
adere à lista de verificação PRISMA-ScR EQUATOR.
Critérios de Elegibilidade
Critérios de inclusão do estudo:
xPopulação: adultos com 19 anos ou mais (de acordo
com a definição de adulto da Organização Mundial de
Saúde21) sem limite máximo de idade, que tenham
vivido um período de afasia de Broca (ou afasia de
expressão ou afasia não fluente) ou que ainda se
encontrem em recuperação mas que sejam capazes de
se expressar.
xConceito: A experiência da afasia de Broca na
perspetiva dos participantes, independentemente da
etiologia da afasia de Broca. O que as pessoas relatam
(por exemplo, citação direta, dados de entrevistas) sobre
a experiência de afasia de Broca, o impacto, mudanças,
sentimentos, necessidades específicas, estratégias e
recursos utilizados, fatores que influenciaram a
experiência e que apoios e recursos gostariam de ter
tido.
xContexto: contexto ambulatório e hospitalar.
xEstudos primários, artigos teóricos, revisões da
literatura e relatos de experiências em inglês, espanhol e
português, independentemente do ano de publicação,
publicados em revistas periódicas, com acesso ao texto
integral.
Critérios de exclusão do estudo:
xPopulação: crianças; participantes que são
diagnosticados apenas com outros tipos de afasia;
participantes que têm afasia crónica (afasia crónica foi
definida como coexistindo pelo menos há um ano após
a lesão que a causou22); participantes que não se
conseguem expressar; participantes que têm
dificuldades de comunicação resultantes de perda
sensorial, demência, delírio, ou coma; participantes que
são diagnosticados apenas com perturbações motoras
da fala resultantes de fraqueza muscular ou
descoordenação.
xConceito: experiências apenas da perspetiva de
cuidadores, cônjuges, amigos, e profissionais de saúde.
Fontes de informação e estratégia de pesquisa
A pesquisa foi realizada em Novembro de 2022. Foi
adotada uma estratégia que engloba três fases20. A primeira
etapa incluiu uma pesquisa nas bases de dados
MEDLINE® (Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online Complete) e CINAHL® (Cumulative Index
to Nursing and Allied Health Literature Complete),
utilizando termos em linguagem natural. Posteriormente, os
títulos e as palavras dos resumos foram analisados, assim
como as palavras indexadas utilizadas para descrever o
artigo, o que nos permitiu identificar termos de pesquisa
relevantes para esta Scoping Review. Na segunda fase, foi
realizada uma pesquisa nas base de dados MEDLINE®;
CINAHL®; Psychology and Behavioral Sciences
Collection (via EBSCO) e Scopus utilizando termos de
pesquisa em linguagem natural e termos de indexação
DeCS e MeSH em todos os campos dos artigos sem
selecionar um campo específico, aplicando os operadores
booleanos "OR" e "AND", como explicitado na Tabela 1.
A terceira fase da pesquisa incluiu a análise das listas de
referências dos artigos selecionados para esta revisão, a fim
de encontrar estudos complementares importantes para
responder à pergunta de investigação.
Artigo de revisão
Tabela 1Termos de pesquisa utilizados nas bases de dados
Seleção das fontes de evidência
Após a pesquisa nas bases de dados, os artigos identificados
foram transferidos para a ferramenta eletrónica Rayyan
para organizar os resultados e remover os duplicados. A
seleção dos estudos foi efetuada de acordo com os critérios
de elegibilidade de inclusão e exclusão. Começou-se com a
leitura dos títulos e resumos, seguida da leitura do texto
completo dos estudos identificados para elegibilidade. Os
estudos que não preenchiam os critérios de inclusão foram
excluídos. Dois revisores efetuaram a seleção das fontes de
evidência. O consenso dos revisores independentes resolveu
as discrepâncias na inclusão ou exclusão dos artigos.
Colheita de dados e síntese dos resultados
Para extrair informação relevante dos estudos incluídos na
revisão, foi construído um instrumento (tabela) no
Microsoft Excel, baseado nas diretrizes do Instituto
Joanna Briggs20. Este quadro inclui informação sobre o(s)
autor(es), ano de publicação, país, objetivos, participantes,
metodologia, etiologia da afasia, conceito (experiência de
afasia de Broca) e contexto.
Resultados
Seleção das fontes de evidência
Um total de 1012 artigos foram obtidos a partir da pesquisa
nas bases de dados CINAHL®, MEDLINE®, Psychology
and Behavioral Sciences Collection e Scopus.
Após a remoção dos duplicados, foram obtidos 961 artigos.
A seleção dos estudos foi efetuada de acordo com os
critérios de inclusão e exclusão. Após leitura do título e
resumo, 905 artigos foram excluídos porque não estavam
relacionados com o tema e não cumpriam os critérios de
inclusão. 56 artigos foram procurados para recuperação,
mas não foi possível recuperar 2 artigos. 54 artigos foram
avaliados para elegibilidade. Após análise, 44 artigos foram
excluídos: 15 porque os participantes eram pessoas com
afasia crónica; 23 por não abordarem a experiência da afasia
de acordo com a perspetiva do participante; 2 porque o foco
não era o fenómeno em estudo e 4 porque abordam
somente outros tipos de afasia. Destes artigos, 10 foram
incluídos na revisão. Da análise das referências dos estudos
incluídos, foram adicionados mais 7 artigos, totalizando 17
artigos no final. O fluxograma do PRISMA 202020 (Figura
1) apresenta o processo de seleção dos estudos.
CINAHL MEDLINE
PSYCHOLOGY AND
BEHAVIORAL SCIENCES
COLLECTION
SCOPUS
(Narrati* OR (MH "Narratives") OR
(MH "Narrative Medicine") OR (MH
"Life Histories") OR (MH "Reports"))
AND
((Experience* OR (MH "Life
Experiences") OR (MH "Life Change
Events") OR (MH "Psychosocial
Aspects of Illness") OR Psychosocial
adjustment)
AND
(Aphasi* OR (MH "Aphasia, Broca")
OR (MH "Speech Disorders") OR
Communicat* Disorders OR
Communicat* Difficulties))
(Narrati* OR (MH "Narration") OR
(MH "Narrative Medicine") OR Life
Histories OR Report*)
AND
((Experience* OR Life Experience*
OR (MH "Life Change Events") OR
Psychosocial Aspects of Illness OR
Psychosocial adjustment)
AND
(Aphasi* OR (MH "Aphasia, Broca")
OR (MH "Speech Disorders") OR
Communicat* Disorders OR
Communicat* Difficulties))
(Narrati* OR Life Histories
OR Report*)
AND
((Experience* OR Life
experience* OR Life Change
Events OR Psychosocial
Aspects of Illness OR
Psychosocial adjustment)
AND
(Aphasi* OR Broca Aphasia
OR Speech Disorders OR
Communicat* Disorders OR
Communicat* Difficulties))
(Narrati* OR Life Histories OR
Report*)
AND
((Experience* OR Life
experience* OR Life Change
Events OR Psychosocial Aspects
of Illness OR Psychosocial
adjustment)
AND
(Aphasi* OR Broca Aphasia OR
Speech Disorders OR
Communicat* Disorders OR
Communicat* Difficulties))
Artigo de revisão
Figura 1 - PRISMA 2020 flow chart15
Características dos estudos incluídos
Foram identificados dezassete artigos publicados entre 1961
e 2022. Foram desenvolvidos sete estudos na
Austrália23,24,29,30,31,37,38, cinco nos Estados Unidos da
América26,32,33,34,35, dois no Reino Unido27,36, um na
Holanda28, um na Nova Zelândia25 e um na Argentina13. A
metodologia utilizada nos artigos selecionados variou entre
estudos qualitativos primários23,24,25,26,27,28,30,31,33,34,36,37,38,
relatórios de experiência29,32 e artigos teóricos que contêm
relatos de experiência na primeira pessoa13,35. A etiologia da
afasia nos artigos analisados foi, na sua grande maioria, o
AVC.
É essencial afirmar a dificuldade em encontrar estudos
apenas com pessoas diagnosticadas com afasia de Broca. A
justificação provavelmente é porque, na maioria das
situações, o maior problema ocorre na expressão, mas
muitas vezes não é único, rigoroso, específico e não ocorre
isoladamente. Na pesquisa efetuada, não foi encontrado
nenhum artigo exclusivamente sobre a experiência da afasia
de Broca com participantes que apenas experienciaram
afasia de Broca, sem outros distúrbios linguísticos
associados. Um artigo relata a experiência de afasia de Broca
e de apraxia de fala35. Ainda assim, todos os artigos
selecionados para esta revisão incluem participantes
diagnosticados com afasia de Broca, ou afasia de expressão
ou afasia não fluente.
Apenas um estudo relata explícita e em específico o impacto
da escrita na experiência da afasia de Broca36. Todos os
outros artigos incluídos nesta revisão abordam
principalmente, ou apenas, as perturbações linguísticas
relativas à comunicação oral.
Síntese dos resultados
A análise dos estudos selecionados permitiu-nos responder
à questão de investigação. Os resultados extraídos desta
Scoping Review variaram entre o impacto da afasia de Broca,
que afeta as diferentes dimensões de uma pessoa, fatores
inibidores e fatores facilitadores de viver com sucesso com
esta condição clínica. A seguinte Tabela 2 permite visualizar
Registos identificados nas bases de dados
(n= 1012):
CINAHL (n= 162)
MEDLINE (n= 489)
Scopus (n= 196)
Psychology and Behavioral Science
(n= 165)
Registos removidos antes da triagem:
Registos duplicados removidos
(n= 51)
Registos triados
(n= 961)
Registos excluídos depois da leitura dos
títulos e dos resumos
(n= 905)
Registos procurados para recuperação
(n= 56) Registos que não foi possível recuperar
(n= 2)
Registos avaliados para elegibilidade
(n= 54) Registos excluídos (n= 44):
- Participantes com afasia crónica (n= 15)
- Não aborda a experiência da afasia de acordo com a
perspetiva do participante
(n= 23)
- O foco não é o fenómeno em estudo
(n= 2)
- Abordam somente outros tipos de afasia (n= 4)
Estudos incluídos na revisão
(n= 10)
Registos dos estudos incluídos
(n= 7)
Identificação
Triagem
Incluídos
Artigo de revisão
os resultados extraídos dos artigos analisados e enquadrá-los
com a questão e objetivos da revisão.
Tabela 2Extração dos resultados
Autore(s)/
ano/ país Objetivos Metodologia População Conceito: experiência de Afasia de Broca Contexto
S1 - Ardila A
e Rubio-
Bruno S13
2017
Argentina
Analisar como
as pessoas com
afasia
experimentam o
mundo e o que
relatam sobre a
experiência de
viver sem
linguagem
Artigo teórico
(contém um
relato de
experiência na
primeira
pessoa)
Adultos com
afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
Broca
- As pessoas com afasia vivem num mundo cognitivo idiossincrático.
O mundo cognitivo interno é alterado pela ausência de linguagem.
As estratégias cognitivas precisam de ser reorganizadas ("Tive de
reinventar o mundo à minha volta porque este universo estava só em palavras");
a inteligência (verbal) está comprometida;
- Na afasia, apenas estímulos externos estão disponíveis. Perde-se
uma dimensão particular do mundo (linguagem) e apenas a
informação visual-percetual permanece ("E de repente as palavras
desapareceram");
- As competências não verbais são por vezes afetadas na afasia;
- "Já não era importante descobrir a beleza, uma vez que esta não pode ser
expressa em palavras".
Não
especificado
S2 -
Armstrong E
et al.23
2012
Australia
Apresentar
histórias de viver
com afasia
Qualitativa
Duas pessoas
com afasia de
expressão que
já se podem
expressar e
uma pessoa
que teve
afasia (não
especificada)
mas
recuperou
rapidamente
- Durante a hospitalização, era importante encontrar pessoas para
não se sentirem isoladas ou a única com um problema;
- Frustração devido a dificuldades e falhas, e com algumas atividades
terapêuticas (dificuldade ou não ser capaz de executar tarefas
simples);
- Ênfase na utilização do humor para ajudar;
- Importância da independência para dirigir a própria recuperação da
comunicação;
- Leitura quotidiana do jornal para ajudar a recuperar a linguagem;
- Conversar com os animais em casa para praticar a fala;
- Sentimento que pode ajudar-se a si próprio de forma mais eficaz
do que os terapeutas da fala;
- Era importante sentir-se ligado à família e aos amigos e falar com
eles.
Ambulatório
S3 - Baker C
et al.24
2020
Australia
Descrever, na
perspetiva das
pessoas com
afasia, a
experiência de
mudanças de
humor,
depressão e
prática atual;
descrever as
preferências no
âmbito de uma
abordagem de
cuidados
psicológicos
faseados.
Qualitativa
Dez adultos
com afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Todos os participantes experimentaram mudanças de humor, mas
não experimentaram cuidados psicológicos graduais na reabilitação;
- O início é traumático, com mudanças negativas de humor e
depressão, com consequências emocionais, sociais e
comportamentais negativas (evasão social, humor baixo persistente,
tristeza e afastamento da reabilitação);
- As pessoas tentam ultrapassar as dificuldades de comunicação e
disposição com apoio psicológico limitado e serviços de reabilitação
(o baixo humor e a depressão raramente são abordados e as pessoas
nem sempre são apoiadas para serem independentes ou tomarem
decisões sobre reabilitação com impacto no humor);
- Positividade, apoio à comunicação e acesso a intervenções
terapêuticas individualizadas seriam essenciais, através de cuidados
psicológicos graduais para melhorar os resultados da reabilitação.
Ambulatório
e Hospitalar
S4 - Bright F
et al.25
2013
Nova
Zelândia
Explorar como a
esperança foi
experienciada
por pessoas com
afasia e
identificar os
fatores que a
influenciam
Qualitativa:
descrição
interpretativa
Cinco pessoas
com afasia:
uma com
afasia de
Broca, três
com afasia
anómica e
uma com
afasia de
condução
- A esperança é fluida, muda frequentemente e num curto espaço de
tempo, e é importante;
- Parece estar relacionada com a forma como as pessoas se envolvem
na reabilitação e pode ser influenciada;
- Fatores que influenciam a esperança: família, amigos, profissionais
de saúde (quer apoiando ou reduzindo) e outros pacientes; incerteza
sobre o futuro; ver a esperança com uma dupla face (aspeto positivo
e negativo) e uma sensação de disrupção (na identidade e/ou
envolvimento em atividades significativas).
Ambulatório
Artigo de revisão
S5 - Carcello
K e Susan
M26
2020
Estados
unidos da
América
Obter uma
maior
compreensão do
uso terapêutico
dos blogs para
os sobreviventes
de AVC com
afasia numa
perspetiva psico-
socio-emocional
Análise
qualitativa
indutiva do
conteúdo
Cinco
sobreviventes
de AVC com
afasia: dois
com afasia de
Broca e três
com um tipo
desconhecido
de afasia
Os participantes utilizavam blogs para explorar o que era viver com
afasia:
- Dificuldade em comunicar, escrever e interagir com outros
expressando as suas respostas emocionais e experiências pessoais;
- Perda das palavras: "Estou constantemente a tentar encontrar a palavra que
preciso"; a devastação da afasia e o impacto emocional: "o discurso em
que eu costumava confiar para viver desapareceu...Dói ter de procurar palavras".
- Processo de escrita: "por vezes não me consigo lembrar da palavra que
quero. Por vezes, deixo de fora várias palavras. A minha ortografia é horrível.
Mas o que mais me dói é a gramática ... esta coisa de escrever é difícil";
- A afasia afeta a autoexpressão e muitas vezes a auto-concepção e
identidade: "Antes, eu podia falar de forma inteligente e pensar corretamente.
Depois disto, estou virtualmente mudo (...)".
Não
especificado
S6 - Clancy L
et al.27
2018
Reino Unido
Explorar a
experiência dos
sobreviventes de
AVC com afasia,
prestadores de
cuidados e
profissionais de
saúde
Qualitativa
Seis
sobreviventes
de AVC com
afasia
(incluindo
adultos com
afasia de
expressão),
dez prestado-
res de
cuidados e
seis profissio-
nais de saúde
- A afasia tem um impacto emocional;
- "Interações" e "contexto" podem ajudar ou dificultar o processo
de fazer sentido, a carga emocional e o envolvimento na reabilitação;
- Foram identificados três grandes temas: "estar num país estrangeiro",
"encontrar uma voz" e "ser apenas um número".
Ambulatório
e Hospitalar
S7 -
Dalemans RJ
et al.28
2010
Holanda
Explorar como
as pessoas com
afasia percebem
a sua
participação na
sociedade e
investigar os
fatores que a
influenciam,
centrando-se nas
experiências e
perspetivas
individuais
Qualitativa
Treze adultos
com afasia
(incluindo
adultos com
afasia de
expressão) e
doze
prestado-res
de cuidados
- O envolvimento e o sentimento de pertença em atividades sociais
(a qualidade das atividades é mais importante do que a quantidade);
- As pessoas com afasia sentem-se isoladas, mas querem sentir-se
envolvidas;
- Sentimento de ser um fardo para os outros, de querer funcionar
normalmente;
- Incapacidade de trabalhar regularmente, desejando contribuir de
outras formas;
- Sentir-se estigmatizado, desejando ser respeitado;
- Fatores que influenciam o envolvimento na participação social:
xFatores pessoais: motivação, condição física e psicológica e
capacidades de comunicação;
xFatores sociais: o papel cuidador central e as características
do(s) parceiro(s) de comunicação, nomeadamente vontade,
aptidões e conhecimentos;
xFatores ambientais: paz no lar e familiaridade.
Ambulatório
S8 - Green C
e Waks L29
2008
Australia
Partilhar a
recuperação da
linguagem
(capacidade de
expressão) de
uma pessoa com
afasia
Relato de
experiência
Adulto com
afasia de
expressão que
recuperou
muito
- "Não tinha palavras para me expressar"; "No hospital, não lidam bem com
afasia ou problemas de linguagem. Se uma pessoa não consegue comunicar, todo
o sistema colapsa"; "Tive de reconstruir a minha vida"; "O progresso tem sido
muito lento"; "Descobri que mesmo as coisas mais simples eram difíceis";
"Contactar com uma pessoa que passou por uma situação semelhante na
reabilitação deu-me um vislumbre de esperança";
- Quando chegou a casa não quis entrar e sentiu que já não pertencia
lá, como um estranho na sua própria casa. Embora ele fosse amado,
a vida mudou;
- "Quatro meses depois, só tinha uma mão cheia de palavras"; "Senti que tinha
perdido a coisa mais importante da minha vida. Não vi o futuro"; "Quem me
dera não estar vivo"; Nove meses após o AVC, teve de renunciar à sua
posição; "Eu estava a recuperar a linguagem com o tempo, mas não conseguia
ver isso"; "Senti que a linguagem estava presa"; "Aprendi a desfrutar novamente
da vida"; "A recuperação é extremamente difícil, e as pessoas sentem que
perderam algo e lamentam; "Perdemos os nossos sonhos, a esperança e o futuro
planeado"; "Perdemos a nossa confiança".
Ambulatório
S9 - Grohn B
et al.30
2012
Australia
Descrever a
experiência dos
primeiros três
meses após o
AVC; identificar
os fatores que
facilitam o
sucesso de saber
viver com afasia
Qualitativa:
um estudo
prospetivo
longitudinal
Quinze
pessoas com
afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Fatores que facilitam o sucesso de viver com afasia:
- Estar envolvido na recuperação ser independente. sentir-se no
controlo da vida e ter um objetivo na vida;
- Realizar atividades para melhorar a comunicação: ler, sudoku,
Scrabble, escrever uma lista de compras, utilizar o computador e o
telefone, trabalhos de casa prescritos por terapeutas;
- Apoio social e envolvimento da família e amigos (incluindo a
utilização de estratégias de comunicação) para ajudar a restaurar a
confiança e a sentir-se competente;
- Conhecer pessoas no hospital e terapia de grupo (fonte de apoio,
coragem e motivação);
Ambulatório
e Hospitalar
Artigo de revisão
- Importância da reabilitação, terapia da fala e profissionais de saúde
(importante na recuperação da linguagem, para interações sociais,
fonte de informação, motivação, coragem e confiança);
- Adaptação (utilizando estratégias para melhorar a comunicação);
- Ter uma perspetiva positiva (otimismo, esperança, determinação e
gratidão);
- A incapacidade de participar em atividades que definem o papel e
a identidade anterior leva à angústia sobre o futuro e tem impacto
sobre a identidade/self.
S10 - Grohn
B et al.31
2014
Australia
Descrever a
perspetiva
interior do que é
importante para
viver com
sucesso com
afasia e as
mudanças no
primeiro ano
Qualitativa:
estudo
prospetivo
longitudinal
Quinze
pessoas com
afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- A perceção de melhorias na comunicação;
- Avançando ativamente através de ações positivas e envolvimento
em atividades significativas;
- Apoio social, família e amigos;
- Manter positividade sobre o futuro.
Ambulatório
S11 - Hall
WA32
1961
Estados
Unidos da
América
Não
mencionado
Relato de
experiência
Um adulto
que experien-
ciou afasia de
expressão
- Incapacidade de comunicar sentimentos;
- Não aceitar a incapacidade de falar;
- Sentimentos de piedade e piedade da família e outros;
- Sentimentos de autorrejeição e de inutilidade recebidos com
palavras reconfortantes em vez de rejeição;
- Visitas invadiram o mundo privado;
- Ansiedade;
- A fala e a escrita eram incompatíveis com processos de pensamento
simultâneos;
- O discurso era inadequado para a competição e o sucesso no
mercado de trabalho;
- A importância da terapia da fala e da psicoterapia na reabilitação da
fala.
Hospitalar
S12 - Holland
AL et al.33
2010
Estados
Unidos da
América
Fornecer ideias
sobre
tópicos/con-
teúdo para
tratamento que
sejam
significativas
para as pessoas
com afasia
Qualitativa
Trinta e três
adultos com
afasia (vinte e
nove com
afasia não
fluente)
- Falar sobre as suas experiências de vida, restabelecer a ligação com
as famílias e concentrar-se na comunicação sobre os seguintes
tópicos:
xHistória da vida;
xOrações, testemunhos, discursos e palestras;
xInteresses externos;
xFazer planos;
xFalar com a família e outras pessoas e falar sobre trabalho;
xPesquisar ou fornecer informações (sobre estranhos, sobre a
família; fazer e responder a perguntas);
xFazer um pedido num restaurante;
xTelefone.
Não
especificado
S13 - Laures-
Gore JS et
al.34
2018
Estados
Unidos da
América
Explorar a
experiência
espiritual dos
adultos com
afasia, para
compreender o
papel da
espiritualida-de
na recuperação
Qualitativa
Treze adultos
com afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- A espiritualidade pode contribuir para a recuperação, compreensão
e aceitação das mudanças da vida (estratégia de sobrevivência): como
um poder maior no controlo dos acontecimentos e como auxiliar;
- Outras pessoas são essenciais para a recuperação da afasia (relações
sociais imbuídas de significado espiritual), que oferecem uma melhor
qualidade de vida, a oportunidade de praticar a linguagem e
motivação para a comunicação, que são importantes na procura de
significado;
- Outras formas de lidar espiritualmente com o stress podem
amplificar as reações negativas ao stress e levar as pessoas a adotar
comportamentos inadequados.
Não
especificado
S14 -
Simmons-
Mackie N e
Kagan A35
2007
Estados
Unidos da
América
Descrever a
afasia utilizando
a ICF
Organização
Mundial de
Saúde; abordar o
impacto dos
fatores
contextuais na
experiência da
afasia e a
participação em
atividades de
vida
Artigo teórico
(contém um
relatório de
experiência na
primeira
pessoa)
Um adulto
relata a sua
experiência de
afasia de
Broca e de
apraxia da fala
- Experiência de severas limitações de atividade e restrições de
participação;
- Proteção da família, eliminação de responsabilidades e evitar
atividades, que criam barreiras à participação em situações da vida.
- Sentimentos de incompetência e dependência (níveis de confiança,
otimismo e identidade pessoal são influenciados pelo ambiente
social e desempenho. Quando a confiança e a autoestima diminuem,
são criadas barreiras pessoais à participação).
- A terapia concentrou-se em (1) melhorar a fala e a linguagem
expressiva, (2) obter as capacidades comunicativas necessárias para
realizar as tarefas domésticas, (3) aprender estratégias
compensatórias para participar em interações, (4) regressar às
atividades (5) reduzir as barreiras à participação (formação dos
parceiros para ajudar a eliminar as barreiras de atitude e terapia de
grupo para desenvolver capacidades de conversação e confiança).
Não
especificado
Artigo de revisão
S15 - Thiel L
eConroy P36
2022
Reino Unido
Explorar as
experiências de
pessoas com
afasia que vivem
com dificuldades
de escrita
relacionadas
com a linguagem
e o impacto nas
suas vidas
Qualitativa
Oito pessoas
com afasia
pós AVC e
dificuldades
de escrita
(incluindo
adultos com
afasia de
Broca)
- A participação na sociedade, autoestima e confiança foi afetada por
dificuldades de escrita. Ambulatório
S16 - Worrall
L et al.37
2011
Australia
Compreender o
que as pessoas
com afasia
pretendem dos
serviços;
descrever os
objetivos das
pessoas com
afasia;
codificar os
objetivos de
acordo com a
ICF
Qualitativa:
Descriptive
Cinquenta
adultos com
afasia pós-
AVC,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Desejo de voltar à vida anterior, comunicar necessidades básicas e
opiniões (sentimentos de frustração, desesperança, isolamento e
depressão);
- A afasia tinha uma prioridade mais elevada do que as deficiências
físicas;
- Necessidade de a reabilitação da comunicação estar ligada à vida
real e de fomentar a confiança;
- Desejo de informação sobre a afasia (a comunicação comprometida
dificultava a obtenção de informação adequada), serviços
disponíveis, prognóstico, fases da terapia e da reabilitação (ter
informação que permitisse tomar o controlo e participar nas decisões
sobre a terapia e a reabilitação);
- Desejo de mais terapia da fala, maior autonomia, dignidade e
respeito;
- Importância do envolvimento em atividades sociais, de lazer e de
trabalho, bem como a recuperação da saúde física;
- Desejo de ajudar os outros;
- Os objetivos estão sobretudo ligados a Atividades e Participação,
Fatores Ambientais, Funções Corporais, e Estruturas, e Fatores
Pessoais.
Ambulatório
S17 - Worrall
LE et al.38
2017
Australia
Determinar os
fatores que
contribuem para
o sucesso de
saber viver bem
com afasia nos
primeiros doze
meses após um
AVC
Qualitativa:
estudo de
coorte
longitudinal
prospetivo
Cinquenta e
oito adultos
com afasia,
incluindo
adultos com
afasia de
expressão
- Maior rendimento familiar, maior dimensão da rede social, ser
mulher e ter afasia mais suave foram positivamente associados;
- Níveis educacionais de graduação ou pós-graduação, humor em
baixo e mau funcionamento físico foram negativamente associados
à participação;
- Os aspetos psicossociais foram os preditores mais significativos;
- Os profissionais podem ajudar os cônjuges a comunicar
eficazmente com a pessoa com afasia, ajudar a regressar ao trabalho,
assegurando que a pessoa com afasia está segura e bem cuidada e
assegurar que têm acesso à informação.
Ambulatório
e Hospitalar
Legenda: S – Estudo
Estes resultados foram agrupados de acordo com as
dimensões da estrutura A-FROM9 e são apresentados na
Tabela 3, para facilitar a visualização e interpretação dos
dados. No campo da Ambiente de comunicação e linguagem,
foram incluídos todos os elementos externos à pessoa que
afetam positiva e negativamente a comunicação e
linguagem, tais como os serviços e atitudes de outras
pessoas. O domínio da Linguagem e deficiências relacionadas
incluem mudanças na linguagem e no processo de
comunicação e fatores facilitadores e inibidores que
influenciam a recuperação. A dimensão da Identidade pessoal,
atitudes e sentimentos compreende informação relacionada
com a forma como os pacientes se vêm a si próprios, como
vêm afasia e enfrentam o futuro, sentimentos e atitudes,
bem como fatores facilitadores e inibidores. A área de
Participação em situações da vida inclui dados sobre relações,
papéis, responsabilidades, participação em atividades e
condições facilitadoras e inibidoras9. Os dados associados à
identidade pessoal, atitudes e sentimentos, e participação
em situações de vida, foram mais frequentemente
mencionados nesta revisão bibliográfica, seguidos pela
linguagem e deficiências relacionadas e o ambiente de
comunicação e linguagem, respetivamente.
Artigo de revisão
Tabela 3Apresentação dos resultados (adaptado de A-FROM)7
EXPERIÊNCIA DE AFASIA DE BROCA
AMBIENTE DE
COMUNICAÇÃO E
LINGUAGEM
Fatores facilitadores - Estratégias de apoio e de comunicação; intervenções terapêuticas individualizadas;
interações e contexto; família e cuidadores; terapia da fala e profissionais de saúde; "Encontrar uma voz" (a voz de
um ente querido); apoio social
S3;S6;S9
.
Fatores inibidores - Serviços de reabilitação limitados; ambiente hospitalar (ruidoso, acelerado, em constante
mudança, não propício a uma comunicação eficaz; utilização inconsistente de estratégias de comunicação);
interações e contexto; dificuldade no hospital em lidar com pessoas com afasia
S3;S6;S8
.
LINGUAGEM E
DEFICIÊNCIAS
RELACIONADAS
Experiência - Dificuldade ou incapacidade em comunicar através das palavras (incluindo a expressão de
sentimentos e experiências pessoais); dificuldade em escrever; o mundo cognitivo interno está alterado; as
competências não verbais podem ser afetadas; só restam estímulos externos e informação visual-percetiva, que
adquirem particular importância; a inteligência (verbal) está comprometida; "Tinha a linguagem presa"; necessidade
de utilizar estratégias para melhorar a comunicação; a fala e a mão eram incompatíveis com processos de
pensamento simultâneos; bloqueio ou dificuldade em aceder a informação e a serviçosS1;S5;S8;S9;S11;S16.
Fatores facilitadores - Ler o jornal todos os dias; falar com os animais; Independência para dirigir a própria
recuperação da comunicação;; sensação de se poder ajudar a si próprio; positividade; intervenções terapêuticas
individualizadas; esperança; estratégias de comunicação; leitura, sudoku, Scrabble, escrever uma lista de compras,
usando o computador, telefone, trabalhos de casa prescritos por terapeutas; reabilitação, terapia da fala e
profissionais de saúde; espiritualidade
S2;S3;S4;S9;S11;S13
.
Fatores inibidores - A recuperação é extremamente difícil e o progresso é muito lento S8.
IDENTIDADE PESSOAL,
ATITUDES E
SENTIMENTOS
Experiência - Devastação e impacto emocional; necessidade de reinventar o mundo à volta e reconstruir a vida,
que mudou completamente; mudanças na interpretação emocional do mundo; sentimento de frustração devido
a dificuldades, fracassos e com algumas das atividades terapêuticas; mudanças negativas de humor e depressão,
com consequências emocionais, sociais e comportamentais negativas (evasão social, humor em baixo, tristeza
persistente e afastamento da reabilitação); sensação de "estar num país estrangeiro" (incerteza, desconhecido,
confusão) e o choque de estar doente; sensação de rutura; experiência de rutura biográfica com a necessidade de
dar sentido a esta nova realidade; sensação de ser apenas um número, sem ser visto como um indivíduo único e
sensação de isolamento; sensação de ser um fardo para os outros; frequentemente sentem-se estigmatizados, mas
desejam ser respeitados; sentir-se um estranho na sua própria casa (sensação de não pertença); sensação de ter
perdido o mais importante e de se arrependerem; incapacidade de prever um futuro; sensação de não querer estar
vivo; perda de sonhos, de esperança, do futuro planeado e de confiança; sentimentos de angústia sobre o futuro;
impacto na identidade/self; não aceitar a incapacidade de falar; sentimentos de pena e piedade dos outros,
autorrejeição e sentimento de inutilidade; ansiedade; sentimentos de incompetência e dependência; diminuição
da confiança, do otimismo e da autoestima; sentimentos de frustração, desesperança, isolamento; desejo de
regressar à vida anterior e de comunicar as suas necessidades e opiniõesS1;S2;S3;S5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15;S16.
Fatores facilitadores - Utilização do humor; conhecer pessoas no hospital, em terapia de grupo e na relação
estabelecida com os terapeutas (fonte de apoio, coragem e motivação); família e amigos; acesso a intervenções
terapêuticas individualizadas através de cuidados psicológicos graduais; ter uma visão positiva (otimismo,
esperança, determinação e gratidão); esperança; interações e contexto; cuidadores; sentimento de ser ouvido pela
equipa; recuperação; "Encontrar uma voz" (a sua própria voz); contacto com uma pessoa que tenha passado por
uma situação semelhante; sentir-se amado; perceção de melhorias na comunicação, envolvimento em atividades
significativas; manter a positividade sobre o futuro; terapia da fala e psicoterapia; espiritualidade; maior
rendimento familiar, autoavaliação da vida bem sucedida com afasia e ter afasia mais leve
S2;S3;S4;S6;S8;S9;S10;S11;S13;S17
.
Fatores inibidores - Algumas atividades terapêuticas (dificuldade ou incapacidade em executar tarefas simples);
apoio psicológico e serviços de reabilitação limitados (humor em baixo e depressão raramente são abordados na
reabilitação); interações e contexto; procedimentos são feitos para as pessoas em vez de serem feitos com as
pessoas; o foco dos profissionais de saúde estava na sua condição física, contribuindo para a falta de ateão às
necessidades psicológicas e objetivos sociais; ser infantilizado e despersonalizado; visitas que invadem o mundo
privado
S2;S3;S6;S11
.
PARTICIPAÇÃO EM
SITUAÇÕES DE VIDA
Experiência - Dependência dos outros; frequente incapacidade para trabalhar; desejo de contribuir para a
comunidade de outras formas; necessidade de desistir do emprego; limitações de atividades severas, dificuldade
em executar tarefas, necessitando de mais tempo para executar atividades; restrições de participação;
incapacidade de competir e de ter sucesso no mercado de trabalho; impacto na participação na
sociedade
S5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15
.
Fatores facilitadores - Ter uma visão positiva (otimismo, esperança, determinação e gratidão); recuperação;
independência; interações e contexto; "Encontrar uma voz"; grau de envolvimento, empenho e sentimento de
pertença em atividades sociais (a qualidade das atividades é mais importante que a quantidade), lazer e trabalho;
motivação, condição física e psicológica e competências comunicacionais; cuidador e as características do(s)
parceiro(s) de comunicação (vontade, aptidões e conhecimentos); paz no lar e familiaridade; sentimento de estar
no comando ou no controlo da vida e de ter um objetivo na vida; falar sobre experiências de vida, restabelecer a
ligação com a família e focar-se na comunicação sobre temas que lhes sejam significativos; terapia da fala e
estratégias de comunicação compensatórias; redução de barreiras à participação (formação e aconselhamento de
parceiros e terapia de grupo); informação sobre a afasia, serviços disponíveis, prognóstico e fases de reabilitação;
dignidade e respeito; maior rendimento familiar, maior rede social, ser do sexo feminino e ter afasia mais
leve
S2;S3;S6;S7;S9;S10;S12;S14;S16;S17
.
Fatores inibidores - As pessoas nem sempre são apoiadas para serem independentes ou tomarem decisões;
interações e contexto; funcionamento físico e fadiga; proteção da família, removendo responsabilidades; barreiras
pessoais internas (medo do fracasso, sentimentos de incompetência e dependência, baixa confiança, baixa
autoestima e negativismo); níveis de escolaridade de graduação ou pós-graduação, humor deprimido
S3;S6;S9;S14;S17
.
-FHFOE4o4UVEZ
4"SEJMB"BOE3VCJP#SVOP44"SNTUSPOH&FUBM4#BLFS$FUBM4#SJHIU'FUBM4$BSDFMMP
,BOE4VTBO.
4$MBODZ-FUBM4%BMFNBOT3+FUBM4(SFFO$BOE8BLT-4(SPIO#FUBM4(SPIO#FU
BM
4o)BMM8"4)PMMBOE"-FUBM4-BVSFT(PSF+4FUBM44JNNPOT.BDLJF/BOE,BHBO"
45IJFM-BOE$POSPZ148PSSBMM-FUBM48PSSBMM-&FUBM
Artigo de revisão
Identidade pessoal, atitudes e sentimentos
Emergiu a necessidade de reinventar o mundo e reconstruir
a vida, bem como o impacto negativo da afasia
aS1;S2;S3;S5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15;S16:
-Nível emocional: frustração, depressão, sentimento de
isolamento e estigmatização, de "estar num país
estrangeiro", de ser um fardo para os outros, de não aceitar
a incapacidade de falar e não querer estar vivo, diminuição
da confiança e autoestima, angústia, sentimentos de
autorrejeição e inutilidade, ansiedade, sentimentos de
incompetência, diminuição do otimismo e desesperança;
-Nível social e comportamental: evasão social e desligação
da reabilitação;
-Identidade: sentimento de rutura e experiência de rutura
biográfica com necessidade de dar sentido à sua nova
realidade.
Os fatores facilitadores que influenciam esta dimensão
abrangemS2;S3;S4;S6;S8;S9;S10;S11;S13;S17:
-Condições internas: uso do humor, esperança,
recuperação da linguagem, otimismo, determinação e
gratidão, espiritualidade, e ter afasia suave;
-Condições externas: interações e contexto, família, amigos
e prestadores de cuidados, contactar com uma pessoa que
passou por uma situação semelhante, terapia da fala e
psicoterapia.
Os fatores inibidores que surgiram incluem intervenções
terapêuticas: incapacidade ou dificuldade em realizar
algumas atividades terapêuticas, apoio psicológico limitado
e serviços de reabilitação, os procedimentos serem feitos
para as pessoas e não com pessoas, os profissionais de saúde
concentram-se na condição física, o que contribui para a
falta de atenção às necessidades psicológicas e
despersonalizaçãoS2;S3;S6;S11.
Participação em situações da vida
A informação relacionada com esta dimensão foi a segunda
mais mencionada. O impacto negativo foi evidente nos
papéis (dependência de outros), responsabilidades e
atividades (incapacidade de trabalhar, com a necessidade de
desistir do emprego, dificuldade em executar tarefas e
restrições de participação)S5;S6;S7;S8;S9;S11;S14;S15. Um estudo
aborda especificamente o impacto das dificuldades de
escrita na participação socialS15.
Neste domínio, os fatores facilitadores
incluemS2;S3;S6;S7;S9;S10;S12;S14;S16;S17:
-Condições internas: recuperação, sentimento de controlo,
independência, envolvimento, compromisso e sentimento
de pertença em atividades sociais, motivação, condição
física e psicológica, ter um propósito na vida, aprender
estratégias de comunicação compensatórias, ser mulher e
ter afasia mais suave;
-Condições externas: o contexto, interações, cuidador,
terapia da fala, condição clínica, informação de
recuperação, maior rendimento familiar e maior rede social.
Os fatores inibidores compreendemS3;S6;S9;S14;S17:
-Barreiras internas: medo do fracasso, sentimentos de
incompetência e dependência, baixa confiança, baixa
autoestima e otimismo, níveis educacionais de graduação
ou pós-graduação, humor em baixo e mau funcionamento
físico;
-Elementos externos: interações e contexto, as pessoas
nem sempre foram apoiadas para serem independentes ou
para tomarem decisões e proteção da família.
Linguagem e deficiências relacionadas
Foi a terceira dimensão mais mencionada. Neste contexto,
foram identificados: dificuldade ou incapacidade de
comunicar através das palavras, na sua maioria oralmente
mas também por escrito; dificuldade em expressar
sentimentos e experiências pessoais; mudanças no mundo
cognitivo interno; competências não verbais por vezes
afetadas; inteligência (verbal) estava comprometida e a fala
e a mão eram incompatíveis com processos de pensamento
simultâneosS1,S5,S8,S11. Isto torna complexo aceder a
informação e a serviços de forma adequada e a necessidade
de utilizar outras estratégias para melhorar a
comunicaçãoS1,S8,S9S11,S16. Apenas um estudo aborda
explicitamente as dificuldades de escrita e refere-se ao seu
impacto na participação social, autoestima e confiançaS15.
Como fatores facilitadores da recuperação da afasia
surgiram o desempenho de atividades (falar com os
animais, ler, sudoku, rabiscar, escrever uma lista de
compras, usar o computador e o telefone, e os trabalhos de
casa prescritos pelos terapeutas); as forças internas
(esperança, espiritualidade, sentimento de poder ajudar-se a
si próprio) e as ajudas externas (reabilitação, terapia da fala
e profissionais de saúde)S2;S3;S4;S9;S11;S13. Como aspetos
negativos, a recuperação é complicada e o progresso é
penosoS8.
Ambiente de comunicação e linguagem
Finalmente, os dados dentro do âmbito deste domínio
foram os menos mencionados.
Como fatores positivos emergiram: apoio à comunicação e
acesso a intervenções terapêuticas individualizadas;
interações e contexto; a família e os cuidadores; "encontrar
uma voz" através da voz de um ente querido; sentir-se
ouvido pela equipa; apoio social; utilização de estratégias de
comunicação e o papel da terapia da fala e dos profissionais
de saúdeS3;S6;S9.
Foram identificados fatores que têm uma influência
negativa, nomeadamente: serviços de reabilitação limitados;
o ambiente hospitalar (ruidoso, acelerado, em constante
mudança, não conducente a uma comunicação eficaz e à
utilização inconsistente de estratégias de comunicação); as
interações e o contexto e a incapacidade do hospital para
lidar com a pessoa com afasiaS3;S6;S9.
Discussão
Resumo da evidência
Os resultados desta Scoping Review estão alinhados com o
impacto da afasia nas necessidades fundamentais descritas
por Thompson (2014)1. Correspondendo à Identidade pessoal,
atitudes e sentimentos, Thompson (2014)1 defende que a afasia
Artigo de revisão
tem impacto na identidade; afeto (pela dificuldade em
expressar emoções e afeto) e as pessoas sentem-se tidas
como uma presença física e não como uma pessoa.
Relativamente à Participação em situações da vida, Thompson
(2014)1, afirma que a afasia tem impacto na liberdade (é uma
ameaça à autonomia e as pessoas têm dificuldade em
expressar escolhas e reclamar direitos), na participação (com
sentimentos de isolamento) e na subsistência (pela
incapacidade de comunicar verbalmente). No âmbito da
Linguagem e deficiências associadas, a afasia afeta a proteção
(devido à dificuldade em pedir apoio e à incapacidade de
alertar)1.
A afasia de Broca tem um efeito negativo tremendo e o
impacto psicossocial desta condição clínica foi claro. Foi
também claro que as intervenções terapêuticasS3, contexto e
interacçõesS6, profissionais de saúdeS9,S11,S17, esperançaS4,
espiritualidadeS13 e fatores psicossociais influenciam a
experiência da afasia de Broca.
Segundo Thompson e McKeever (2014)39, a afasia tem um
impacto negativo nas relações ao negar o acesso a redes de
apoio, o que leva ao isolamento. A afasia também resulta
numa "perda de si próprio", intensificada por estratégias
inadequadas de comunicação em matéria de cuidados de
saúde39.
Relativamente à influência das intervenções terapêuticas e
dos profissionais de saúde, um estudo desenvolvido para
explorar os fatores que influenciam a satisfação e
insatisfação das pessoas com afasia relativamente aos seus
cuidados de saúde identificou sete áreas de cuidados19. Duas
destas áreas são a Forma e os Métodos de Prestação de
Serviços (relacionadas com o comportamento individual
dos profissionais de saúde, a abordagem dos profissionais
de saúde aos cuidados de saúde, a personalidade de um
profissional de saúde, o nível de inclusão da pessoa com
afasia, a compreensão demonstrada à pessoa, o nível de
envolvimento na tomada de decisões, estabelecimento de
objetivos e atividades terapêuticas) e Informação,
Comunicação e Conhecimento19.
Acerca da esperança, um estudo realizado concluiu que a
esperança poderia ser importante para as pessoas com
afasia, e os autores identificaram a sua experiência de duas
maneiras: Simplesmente "ter" esperança (sentimento amplo, mas
passivo, que parece ser a principal forma de esperança) e
Esperança ativa (uma forma de esperança ativa e orientada
para o futuro)S4. Nesse mesmo estudo, a esperança parece
estar relacionada com a forma como as pessoas se envolvem
na reabilitação e como ela pode influenc-la. Os fatores que
influenciam a esperança foram identificados como: família;
amigos; profissionais de saúde (quer apoiando ou
reduzindo) e outros pacientes; incerteza sobre o futuro; ver
a esperança com uma dupla face (aspeto positivo e negativo)
e um sentimento de perturbação (na identidade e/ou
envolvimento em atividades significativas)S4. Estes fatores
são influenciados por experiências passadas, realidade
presente e perceção do futuroS4. Em consonância com isto,
um estudo desenvolvido mais recentemente concluiu que o
apoio social, a sensação de progresso e o envolvimento em
atividades e interações significativas parecem essenciais para
apoiar as pessoas a (re)desenvolver esperanças no seu
futuro40.
Na esfera da espiritualidade, de acordo com um estudoS13,
esta pode ser considerada de duas formas: como um poder
superior que é importante para a compreensão de si próprio,
para a recuperação, para a melhoria da comunicação, para o
controlo dos acontecimentos e para dirigir a recuperação, o
que não envolve muita atividade pessoal; e/ou como uma
relação com um poder superior como fonte de ajuda e força,
com práticas religiosas e espirituais mais frequentes
(procurando o Sagrado para conforto, apoio e para
compreender o significado da afasia). Outras pessoas
podem também ser essenciais para a recuperação da afasia
(relações sociais imbuídas de significado espiritual) que
oferecem uma melhor qualidade de vida, uma oportunidade
de praticar a linguagem, motivação para a comunicação e são
essenciais na procura de significadoS13. Ainda assim, outras
formas de enfrentamento espiritual podem ser associadas a
severo sofrimento existencial neste contexto. Podem
ampliar as reações adversas ao stress e levar as pessoas a
envolverem-se em comportamentos inadequadosS13.
Relativamente às interações e ao contextoS6, pode ajudar ou
dificultar o sentido da experiência, a carga emocional e a
forma como o paciente se envolve na reabilitação. Num
estudo realizado, foram identificados três grandes temas:
"estar num país estrangeiro", "encontrar uma voz", e "ser apenas um
número"S6. "Estar num país estrangeiro" inclui incerteza e
confusão relativamente à condição, ao hospital, à
dependência dos outros e ao choque de estar doente
agravado pelo ambiente da enfermaria (ruidoso, acelerado,
em constante mudança, não conducente a uma
comunicação eficaz e ao uso inconsistente de estratégias de
comunicação); "Encontrar uma voz" foi fundamental para dar
sentido ao que aconteceu e para a adaptaçãoS6. Sentir que
"ser apenas um número", em vez de ser visto como um
indivíduo único, está relacionado com a perspetiva de que o
foco dos profissionais de saúde é a condição física,
contribuindo para a falta de atenção às necessidades
psicológicas e objetivos sociais, com a perceção de que a
equipa se concentra nos procedimentos técnicos da
reabilitação e não na pessoaS6.
Limitações do estudo
A pesquisa foi realizada em apenas quatro bases de dados e
apenas foram incluídos artigos escritos em inglês, português
e espanhol, o que pode ter limitado o acesso a outros artigos
com contribuições relevantes para esta revisão. Outra
limitação é que não foi possível aceder ao texto integral de
dois artigos. É importante salientar que a não inclusão de
teses, dissertações e literatura "cinzenta" nesta revisão pode
ter contribuído para não obter evidências científicas
importantes, o que também pode representar uma limitação.
Conclusão
Esta revisão visava mapear a evidência científica disponível
sobre a experiência das pessoas que passaram por um
período da afasia de Broca. A Scoping Review permitiu-nos
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
responder à questão da investigação e aprofundar a
compreensão do fenómeno em estudo. Mais precisamente,
permitiu reconhecer o impacto negativo e as mudanças
resultantes da afasia de Broca, os sentimentos associados,
as necessidades específicas, os fatores que influenciaram a
experiência, que apoio e recursos as pessoas gostariam de
ter tido, do ponto de vista daqueles que passaram por esta
condição clínica. Neste estudo, os dados relacionados com
a Identidade Pessoal, atitudes, sentimentos e Participação em situações
da vida foram os mais frequentemente mencionados na
literatura, seguidos da Linguagem e deficiências relacionadas e do
Ambiente de comunicação e linguagem, respetivamente, no que
diz respeito à experiência da afasia de Broca.
A importância dos profissionais de saúde, intervenções
terapêuticas, espiritualidade, esperança, contexto,
interações e fatores psicossociais, ficaram claras no cuidar
de doentes com afasia de Broca.
O conhecimento adquirido nesta Scoping Review permite aos
profissionais de saúde compreenderem mais
aprofundadamente as necessidades das pessoas com afasia
de Broca e implementar melhorias adequadas nos cuidados
de saúde e na prestação de serviços19. Isto inclui melhorias
nos cuidados de enfermagem, que irão promover o bem-
estar, aumentar a segurança, reduzir os danos e melhorar a
satisfação com os cuidados prestados.
Esta revisão demostra que é essencial continuar a investigar
como as pessoas relatam a experiência de terem vivido um
período de afasia de Broca para compreender melhor a
experiência e as necessidades desta população e melhorar
continuamente a assistência das pessoas com esta condição
clínica. Considerando a dificuldade nesta revisão em
encontrar estudos realizados exclusivamente com pessoas
diagnosticadas com afasia de Broca, como sugestão para
investigações futuras, seria pertinente investigar como as
pessoas relatam a experiência de terem vivido um período
de afasia de Broca, incidindo exclusivamente em
participantes que tenham recuperado completamente deste
tipo específico de afasia. Além disso, seria pertinente
investigar a prática atual relativa ao ensino sobre a
experiência da afasia de Broca em profissões relacionadas
com a saúde, incluindo a enfermagem. Também seria útil
estudar o impacto do que já é conhecido sobre a experiência
desta condição clínica na gestão de cuidados de saúde em
contextos que prestam cuidados a pessoas com afasia de
Broca.
Referências
1. Thompson J, McKeever M. Improving support for
patients with aphasia. Nursing Times [Internet] 2014
[cited 2022 Nov 7]; 110(25):18-20. Available from:
https://cdn.ps.emap.com/wp-
content/uploads/sites/3/2014/06/180614-
Improving-support-for-patients-with-aphasia.pdf
2. Sundin K, Jansson L, Norberg A. Communicating with
people with stroke and aphasia: understanding through
sensation without words. J Clin Nurs. 2000;9(4):481-8.
doi.org/10.1046/j.1365-2702.2000.00379.x.
3. Caldas A. A heranca de Franz Joseph Gall: o cérebro ao
servico do comportamento humano. Amadora:
McGraw-Hill; 1999.
4. Damásio A. Aphasia. The New England Journal of
Medicine. 1992;326:531-539. doi:
10.1056/NEJM199202203260806.
5. Pallavi J, Perumal RC, Krupa M. Quality of
communication life in individuals with broca’s aphasia
and normal individuals: a comparative study. Ann
Indian Acad Neurol. 2018;21(4):285-289.
doi.org/10.4103/aian.AIAN_489_17
6. Frade AI, Pinto VM, d’Espiney L. O valor das
estratégias aumentativas e alternativas de comunicação
para os adultos com afasia de Broca: uma revisão
narrativa da literatura. Cadernos de Saúde.
2022;14(1):12-20.
doi.org/10.34632/cadernosdesaude.2022.11483
7. Kagan A, Simmons-Mackie N, Rowland A, Huijbregts
M, Shumway E, McEwen S, Threats T, Sharp S.
Counting what counts: a framework for capturing real-
life outcomes of aphasia intervention. Aphasiology.
2008;22(3):258-280.
doi.org/10.1080/02687030701282595
8. Noreau L, Fougeyrollas P, Vincent C. The LIFE-H:
assessment of the quality of social participation.
Technology and Disability. 2002;14(3):113-118.
doi.org/10.3233/TAD-2002-14306
9. Kagan A. A-FROM in Action at the Aphasia Institute.
Seminars in Speech and Language. 2011;32(3):216-228.
doi.org/10.1055/s-0031-1286176
10. Frade AIA, d'Espiney L, Pinto VM. Vulnerability,
health information right and the contributions of
augmentative and alternative communication for
people with aphasia. Clinical Ethics [Internet] 2022
[cited 2022 Nov 7];
doi.org/10.1177/14777509221105397 Epub ahead of
print
11. Sundin K, Jansson, L. 'Understanding and being
understood' as a creative caring phenomenon--in care
of patients with stroke and aphasia. J Clin Nurs.
2003;12(1):107-16. doi.org/10.1046/J.1365-
2702.2003.00676.X
12. Poslawsky IE, Schuurmans MJ, Lindeman E,
Hafsteinsdóttir TB. A systematic review of nursing
rehabilitation of stroke patients with aphasia. J Clin
Nurs. 2010;19(1-2):17-32. doi.org/10.1111/j.1365-
2702.2009.03023.x
Artigo de revisão
13. Ardila A, Rubio-Bruno S. Aphasia from the inside: the
cognitive world of the aphasic patient. Appl
Neuropsychol Adult. 2018;25(5):434-440.
doi.org/10.1080/23279095.2017.1323753
14. Bondía JL. Notes on the experience and the knowledge
of experience. Braz J Educ. 2002;19:20-28.
doi.org/10.1590/S1413-24782002000100003
15. Amatuzzi MM. Experiência: um termo chave para a
psicologia. Memorandum [Internet] 2007 [cited 2022
Nov 4]; 13:8-15. Available from:
https://periodicos.ufmg.br/index.php/memorandum
/article/view/6699
16. Lira GV Nations MK, Catrib AMF. Cronicidade e
cuidados de saúde: o que a antropologia da saúde tem a
nos ensinar?. Texto & Contexto Enfermagem
2004;13(1):147-155.
17. Peters MD, Godfrey CM, Khalil H, McInerney P,
Parker D, Soares CB. Guidance for conducting
systematic scoping reviews. Int J Evid Based Healthc.
2015;13(3):141-146.
doi.org/10.1097/XEB.0000000000000050
18. Parr S. Psychosocial aspects of aphasia: whose
perspectives? Folia Phoniatr Logop, 2001;53:266-288.
doi.org/10.1159/000052681
19. Tomkins B, Siyambalapitiya S, Worrall L. What do
people with aphasia think about their health care?
Factors influencing satisfaction and dissatisfaction.
Aphasiology, 2013;27(8):972991.
doi.org/10.1080/02687038.2013.811211
20. Peters M, Godfrey C, McInerney P, Munn Z, Tricco A,
Khalil H. Chapter 11: Scoping Reviews. In: Aromataris
E, Munn Z, editors. JBI manual for evidence synthesis.
The Joanna Briggs Institute; 2020.
doi.org/10.46658/JBIMES-20-12
21. World Health Organization. World Health
Organization Consolidated guidelines on the use of
antiretroviral drugs for treating and preventing HIV
infection. Geneva, Switzerland; 2013.Available from
https://www.who.int/hiv/pub/guidelines/arv2013/in
tro/keyterms/en/
22. Luck AM, Rose ML. Interviewing people with aphasia:
insights into method adjustments from a pilot study.
Aphasiology. 2007;21(2):208-224.
doi.org/10.1080/02687030601065470
23. Armstrong E, Hersh D, Hayward C, Fraser J, Brown
M. Living with aphasia: three indigenous australian
stories. Int J Speech Lang Pathol. 2012;14(3):271-80.
doi.org/10.3109/17549507.2011.663790
24. Baker C, Worrall L, Rose M, Ryan B. It was really dark:
the experiences and preferences of people with aphasia
to manage mood changes and depression. Aphasiology.
2020;34(1):19-46.
doi.org/10.1080/02687038.2019.1673304
25. Bright FAS, Kayes NM, McCann CM, McPherson KM.
Hope in people with aphasia. Aphasiology.
2013;27(1):41-58.
doi.org/10.1080/02687038.2012.718069
26. Carcello K, McLennon S. Personal road map for
recovery: examining the therapeutic use of weblogs by
stroke survivors with aphasia. Disabil Rehabil.
2022;44(10):1933-1938.
doi.org/10.1080/09638288.2020.1812122
27. Clancy L, Povey R, Rodham K. Living in a foreign
country: experiences of staff-patient communication in
inpatient stroke settings for people with post-stroke
aphasia and those supporting them. Disabil Rehabil.
2020;42(3):324-334.
doi.org/10.1080/09638288.2018.1497716
28. Dalemans RJ, Witte L de, Wade D, van den Heuvel W.
Social participation through the eyes of people with
aphasia. Int J Lang Commun Disord. 2010;45(5):537-
50. doi.org/10.3109/13682820903223633
29. Green C, Waks L. A second chance: recovering
language with aphasia. Int J Speech Lang Pathol.
2008;10(3):127-31.
doi.org/10.1080/17549500801971517
30. Grohn B, Worrall LE, Simmons-Mackie N, Brown K.
The first 3-months post-stroke: what facilitates
successfully living with aphasia? Int J Speech Lang
Pathol. 2012;14(4):390-
400. doi.org/10.3109/17549507.2012.692813
31. Grohn B, Worrall L, Simmons-Mackie N, Hudson K.
Living successfully with aphasia during the first year
post-stroke: a longitudinal qualitative study.
Aphasiology. 2014;28(12):1405-1425.
doi.org/10.1080/02687038.2014.935118
32. Hall WA. Return from silence - a personal experience.
J Speech Hearing Disord. 1961;26(2):174-177.
doi.org/10.1044/jshd.2602.174
33. Holland AL, Halper AS, Cherney LR. Tell me your
story: analysis of script topics selected by persons with
aphasia. Am J Speech Lang Pathol. 2010;19(3):198-203.
doi.org/10.1044/1058-0360(2010/09-0095)
34. Laures-Gore JS, Lambert PL, Kruger AC., Love J,
Davis Jr DE. Spirituality and post-stroke aphasia
recovery. J Relig Health. 2018;57:1876-1888.
doi.org/10.1007/s10943-018-0592-4
DOI: doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.213
Artigo de revisão
35. Simmons-Mackie N, Kagan A. Application of the ICF
aphasia. Semin Speech Lang. 2007;28(4):244-253.
doi.org/10.1055/s-2007-986521
36. Thiel L, Conroy P. I think writing is everything: an
exploration of the writing experiences of people with
aphasia. Int J Lang Commun Disord. 2022;57(6):1381-
1398. doi.org/10.1111/1460-6984.12762
37. Worrall L, Sherratt S, Rogers P, Howe T, Hersh D,
Ferguson A, et al. What people with aphasia want: their
goals according to the ICF. Aphasiology,
2011;25(3):309-322.
doi.org/10.1080/02687038.2010.508530
38. Worrall L, Hudson K, Khan A, Ryan B, Simmons-
Mackie N. Determinants of living well with aphasia in
the first year poststroke: a prospective cohort study.
Arch Phys Med Rehabil. 2017;98(2):235-240.
doi.org/10.1016/j.apmr.2016.06.020
39. Thompson J, McKeever M. The impact of stroke
aphasia on health and well-being and appropriate
nursing interventions: an exploration using the theory
of human scale development. J Clin Nurs. 2014;23(3-
4):410-20. doi.org/10.1111/j.1365-2702.2012.04237.x
40. Bright FAS, McCann CM, Kayes NM. Recalibrating
hope: a longitudinal study of the experiences of people
with aphasia after stroke. Scand J Caring Sci.
2019;34(2):428-435. doi.org/10.1111/scs.12745
| 32
3HQVDU(QIHUPDJHPYQDEULO
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Quantitativo
Como citar este artigo: Carvalho J, Aguiar P. Notificação de eventos adversos pelos enfermeiros para maior
segurança em enfermagem pediátrica.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Abr; 27(1):32-38
. Available
from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.212
Notificação de eventos adversos pelos enfermeiros
para maior segurança em enfermagem pediátrica
Resumo
Introdução
Os Eventos Adversos mantêm-se um desafio atual na prestação de cuidados de saúde, sendo
definidos como incidentes que resultaram em dano desnecessário para o doente. A escolha
da população pediátrica como alvo de estudo assenta em determinadas caraterísticas que a
tornam das mais suscetíveis a Eventos Adversos. A Notificação destes surge como ação
chave da estratégia para a diminuição da sua ocorrência, enquanto os Enfermeiros
constituem elementos essenciais ao processo. O objetivo final é a Segurança do Doente, ou
seja, a redução para um mínimo aceitável do risco de danos desnecessários relacionados com
os cuidados de saúde.
Objetivo
Descrever a Adesão dos Enfermeiros à Notificação de Eventos Adversos e os Fatores
Associados a essa Adesão, em contexto pediátrico.
Métodos
Apresentamos um Estudo Observacional Transversal, com base num inqrito por
questionário conduzido no Departamento de Pediatria de um hospital. O estudo contou
com 88 variáveis categóricas, relacionadas com a caracterização da amostra e a perceção dos
participantes sobre os Eventos Adversos, Erros, Incidentes e Segurança do Doente. Os
dados foram trabalhados através de análise univariável, bivariável e de correlações de
variáveis.
Resultados
Um total de 69% dos enfermeiros não notificaram qualquer Evento Adverso no último ano.
Foram notificados com maior frequência os Eventos com conseqncias mais graves para
o doente (58%) e os relacionados com disfunções organizativas da instituição (74-90%). Os
fatores facilitadores à ocorrência de Eventos Adversos englobam a carência de recursos
humanos (19%), falhas de comunicação e sobrecarga horária (17%), sendo a principal
barreira à Notificação o esquecimento quando se verifica maior carga de trabalho (63%).
Conclusão
Ao investigar a adesão dos enfermeiros à notificação, verificámos que a mesma é baixa, o
que destacou a necessidade de investir na Cultura de Segurança da instituição,
consciencializando os profissionais de saúde para a importância do seu papel na melhoria
da Segurança do Doente. Afigura-se-nos fundamental integrar a Notificação na prática diária
dos profissionais, com recurso a sensibilização contínua, reforço das equipas
multidisciplinares, investimento na comunicação e alívio da carga horária, podendo ser
facilitador de melhoria.
Palavras-chave
Segurança do Paciente; Gestão do Risco; Melhoria de Qualidade; Evento Adverso; Erro
Médico; Enfermagem Pediátrica.
Joana Isabel Cordeiro e Carvalho1
orcid.org/0000-0002-4249-7356
Pedro Aguiar2
orcid.org/0000-0002-0074-7732
1Mestrado. Unidade de Neonatologia. Departamento
de Pediatria. Hospital de Santa Maria. Centro
Hospitalar Universitário Lisboa Norte.
2Doutoramento. Escola Nacional de Saúde Pública -
Universidade Nova de Lisboa Comprehensive Health
Research Centre - Universidade Nova de Lisboa.
Public Health Research Centre - Universidade Nova.
Autor de correspondência
Joana Carvalho
E-mail: joanaisabelecarvalho@gmail.com
Recebido: 13.11.2022
Aceite: 16.03.2023
Artigo Original Quantitativo
Introdução
Os Eventos Adversos (EA) podem ser definidos como
incidentes que resultaram em dano desnecessário para o
doente,1 constituindo um grave problema de saúde pública,2
podendo ocorrer em contexto hospitalar, cuidados de saúde
primários ou de longa duração.3 Independentemente do
contexto em que ocorrem, afetam os doentes e a suas
famílias, apresentando consequências a nível profissional,
organizacional, económico e social, levando à falta de
confiança nos profissionais de saúde e nas organizações.3-4
A preocupação com questões relacionadas com a Segurança
do Doente não é recentes e remonta há mais de 150 anos,
com os primeiros registos a surgir com Florence Nightingale
na Guerra da Crimeia.5 Desde então vários intervenientes
procuraram promover a Melhoria da Qualidade e a
Segurança do Doente, destacando-se Ernest Codman,
Avedis Donabedian e o ,QVWLWXWH RI 0HGLFLQH (IOM).5-10 Um
caminho com o mesmo propósito: uma prestação de
cuidados de saúde sem danos desnecessários para os
utentes, atempada e evitando demoras, baseada na evidência
e boas práticas, reduzindo o desperdício, que fosse
transversal a todos os utentes sem discriminação e com
resposta às suas necessidades individuais específicas.11
O avanço científico-tecnológico necessário para tal, e que se
tem verificado, surge com duplo significado. Por um lado,
permitiu avanços significativos na Medicina, por outro
originou situações potencialmente geradoras de erros e EA,
tornando necessário implementar estratégias que evitem e
minimizem estas situações.
Surge a Notificação de situações potencialmente perigosas
para o doente, de 1HDU0LVVHV, erros e de EA como estratégia
eficaz na garantia da Segurança do Doente.11-12 Esta permite
consciencializar para o impacto negativo que um evento
teve no doente, para os fatores que originaram esse evento
e para as estratégias que podem ser identificadas e adotadas
para o evitar.14 Os dados recolhidos através da notificação
permitem construir bases de dados para análise futura pela
equipa de Gestão do Risco, bem como a partilha de
informação com a equipa multidisciplinar e restante
instituição. É este processo que permite identificar os
fatores que originam determinados eventos e desenvolver
estratégias específicas para os prevenir, assim como a outras
situações semelhantes12-13. É uma estratégia que contribui
diretamente para a construção de uma Cultura de Segurança
na instituição, que deve ter por base a confiança e partilha
de experiências, sem receio da punição, e as diretrizes para a
Segurança do Doente instituídas.10,15-16
O aumento da consciencialização dos profissionais de saúde
para a necessidade e a imporncia da notificação de eventos
tem aumentado, no entanto a mesma mantém-se abaixo do
esperado.17-18 Esta baixa adesão parece ser multifatorial,
incluindo o medo da culpabilização, de sanções
administrativas e legais, a resistência à burocracia, a perceção
de que a notificação não têm impacto na qualidade dos
cuidados, a falta de suporte organizacional, o feedback
tardio ou inadequado e a falta de conhecimento acerca do
Sistema de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos
(SNIEA) implementado.17,19-21
Adicionalmente, a falta de recursos humanos na saúde,
médicos e enfermeiros parece também ter influência. A
sobrecarga horária e funcional dos profissionais leva à
necessidade de reorganziar os cuidados, priorizando o
doente e a rápida resolução de situações potencialmente
perigosas ou erros, e deixando para segundo plano questões
burocráticas como a sua notificação. Sabe-se que este
comportamento não promove a Segurança do Doente nem
a Qualidade dos Cuidados, uma vez que não permite a
antecipação de situações potencialmente perigosas para o
doente nem a compreensão do contexto em que os erros
ocorreram, não sendo possível a sua prevenção.
A severidade do evento, o tipo de incidente e o próprio
profissional parecem afetar a adesão à notificação.20 Os
eventos com maior severidade, nomeadamente os que
incluem a morte (dano trágico), incapacidade (dano
moderado) e dano severo para o doente, são notificados
com maior frequência quando comparados com situações
de risco potencial ou eventos sem dano.22-24 Os enfermeiros
são os profissionais de saúde apontados como essenciais
para a notificaçao, não só por se encontrarem na linha da
frente da prestação de cuidados, mas por passarem mais
tempo com os doentes. A evidência científica corrobora esta
ideia e demonstra que os enfermeiros têm três vezes mais
probabilidade de notificar um evento quando comparados
com os médicos.20
É unanimemente reconhecido que a população pediátrica
apresenta maior vulnerabilidade para a ocorrência de EA.25
A sua condição de doença, aliada às suas caraterísticas
intrínsecas, a necessidade de cuidados de saúde complexos,
em diferentes contextos, com múltiplos intervenientes, e
durante os quais é possivel identificar oportunidades para as
falhas na comunicação, são fatores potenciadores da
ocorrência de situações que representem perigo para o
doente.26
A literatura descreve alguns dos Erros que caraterizam esta
população: erros de medicação e alimentação parentérica
total; erros de cuidados respiratórios, ressuscitação e
ventilação; erros de procedimentos invasivos e Infeções
Associadas aos Cuidados de Saúde; erros de identificação de
doentes; erros de diagnóstico;10 erros relacionados com o
leite materno27-28 e Infeções Associadas aos Cuidados de
Saúde.29 Os erros relacionados com a medicação parecem
ser os mais prevalentes e notificados nos diferentes
contextos de saúde.10,15,30-32
Também a adaptação de diretrizes clínicas à população
pediátrica, a utilização de dupla verificação,33 de WULJJHUWRROV,9
e de sistemas de código de barras,30-31 entre outros, surgem
em associação com a notificação na prevenção os erros e
EA.
De forma a descrever a Adesão dos Enfermeiros à
Notifcação de Eventos Adversos e os fatores associados em
contexto pediátrico, foi elaborado um estudo de
investigação. Os seus resultados confirmaram o interesse em
aprofundar o problema e as consequências dos EA, a
necessidade de continuar a investir na notificação e o papel
fundamental dos Enfermeiros neste processo.
Artigo Original Quantitativo
Material e Métodos
Com o objetivo de descrever a Adesão dos Enfermeiros à
Notificação de Eventos Adversos e os fatores associados,
no departamento de Pediatria de um hospital central em
Lisboa, foi elaborado um estudo observacional, transversal
de natureza quantitativa.
A população do estudo foram os enfermeiros a exercer
funções nos serviços do departamento de Pediatria,
incluindo os enfermeiros, enfermeiros especialistas e
enfermeiros gestores, num total de 192 elementos. O
recrutamento dos participantes foi efetuado através de
amostragem de conviniência, sendo constituída por todos
os enfermeiros que se encontravam a exercer funções no
período que decorreu de Novembro 2019 a Janeiro 2020.
Um total de 102 enfermeiros aceitaram participar no
estudo, através do preenchimento do questionário.
A colheita de dados ocorreu através do inquérito por
questionário de Paula Bruno (2010), publicado em “Registo
de Incidentes e Eventos Adversos: Implicações Jurídicas da
Implementação em Portugal”, após autorização concedida
pela autora. O questionário incluiu 13 questões fechadas,
distribuidas em dois grupos: caraterização da amostra
(questões 1, 2, 3, 4 e 5) e perceção dos participantes sobre
a Notificação de EA, Erros, Incidentes e Segurança do
Doente (questões 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12 e 13). Foram
elaboradas pequenas adaptações ao questionário original,
de forma a adequar à população em estudo, não
desvirtuando as suas caraterísticas originais. O questionário
foi escolhido por avaliar a notificação de EA por
profissionais de saúde, permitindo responder ao objetivo
do estudo. Os questionários foram entregues às
enfermeiras gestoras de cada serviço que ficaram
responsáveis pela distribuição individual a cada enfermeiro,
sendo posteriormente recolhidos pelo investigador num
envelope selado e não marcado para proteger a privacidade
e confidencialidade dos participantes.
A análise dos dados realizou-se com recurso ao VRIWZDUH
aplicativo 6WDWLVWLFDO3DFNDJHIRUWKH6RFLDO6FLHQFH(SPSS), versão
26, com aproximadamente 88 variáveis categóricas. Foi
realizada análise univariável das variáveis categóricas em
estudo apresentando-se as tabelas de distribuição de
frequências (%). Efetuada a análise bivariável com
utilização do Teste Qui-Quadrado para comparação de
proporções, e a análise de correlações de variáveis ordinais
com utilização do Coeficiente de Correlação de 6SHDUPDQ.
O Teste Exato de )LVKHU foi utilizado em substituição do
Teste Qui-Quadrado para frequências esperadas baixas,
considerando um nível de significância de 5% nos testes de
hipóteses.
A investigação foi confidencial, garantindo-se o anonimato
dos dados durante todo o processo. A participação foi
voluntária (sem qualquer penalidade) e anónima. A cada
questionário foi anexada uma folha de rosto
correspondente ao consentimento informado que, de
forma a garantir o anonimato e confidencialidade da
informação e a identificação dos participantes, foi separado
do restante questionário e colocado num envelope isolado.
O processo de investigação iniciou-se com a formalização
dos pedidos, por escrito, a todas as entidades envolvidas:
autora do questionário, Director do Departamento de
Pediatria, Enfermeira Diretora e Comissão de Ética do
hospital, tendo sido obtidos todos os consentimentos
solicitados.
Resultados
Neste módulo apresentam-se os resultados obtidos,
representando a perceção dos Enfermeiros sobre as
questões colocadas.34
Tabela 1 Caraterísticas dos Enfermeiros em Pediatria na amostra
Variável em alise
Categoria da variável
Contagem:
Frequência
absoluta
Percentagem:
Frequência
relativa
(n=)
Sexo
Feminino
96
94,1
(n=102)
Masculino
6
5,9
Grupo Etário
21 a 30 anos
33
32,4
(n=102)
31 a 40 anos
30
29,4
41 a 50 anos
17
16,7
51 a 60 anos
18
17,6
>60 anos
4
3,9
Anos de Trabalho
<1 ano
17
16,7
(n=102)
1 a 10 anos
25
24,5
10 a 20 anos
27
26,5
20 a 30 anos
23
22,5
30 a 40 anos
10
9,8
Funções
Enfermeiro
73
71,6
(n=102)
Enfermeiro Especialista
27
26,5
Enfermeiro Gestor
2
2,0
Artigo Original Quantitativo
Tipologia Serviço
Ambulatório
19
18,6
(n=102)
Urgência e Cuidados Intensivos
64
62,7
Pediatria Médica
19
18,6
Conforme representado na tabela 1, a amostra é composta
maioritariamente por enfermeiras (94,1%), com idades entre
21 e 30 anos (32,4%). A maioria dos profissionais trabalha
na instituição entre 1 a 30 anos (37%), sendo a categoria dos
10 aos 20 anos mais prevalente, representando 26,5% da
amostra. A função desempenhada com maior peso é a de
enfermeiro (71,6%). Aproximadamente 62,7% dos
participantes exercem funções nos serviços de Urgência e de
Cuidados Intensivos, seguido dos serviços de Pediatria
Médica (18,6%) e de Ambulatório (16,7%).
Quando questionados sobre o SNIEA, cerca de 98% da
amostra reconhece que o hospital onde exerce funções tem
um sistema, embora apenas 59,8% refiram concordar com
o mesmo. Cerca de 93,1% da amostra tem conhecimento
que o hospital onde exerce funções participa em Programas
de Acreditação, nomeadamente o departamento de
Pediatria.
Dos 98% dos enfermeiros que reconhecem que o hospital
tem um SNIEA, cerca de 69% responderam não ter
notificado nenhum EA no ano transato e 31% referem ter
notificado pelo menos um. De acordo com a severidade, os
EA notificados com maior frequência foram os que
apresentam consequências mais graves para o cliente, como
dano trágico (58%) e dano moderado (33%). Os EA sem
dano para o cliente ou os 1HDU 0LVVHV são raramente
notificados. O serviço com maior número de EA
notificados foi o de Urgência e Cuidados Intensivos (38%),
seguido da Pediatria Médica (21%) e Ambularório (18%).
Analisando a notificação de acordo com a severidade dos
EA e as caraterísticas dos enfermeiros da amostra (sexo,
grupo etário e função na instituição), conclui-se que não
parece haver diferença estatisticamente significativa entre a
frequência de notificação dos diferentes eventos e as
caraterísticas dos enfermeiros.
Quanto ao tipo de EA, verificou-se que os relacionados com
disfunções organizacionais da instituição ocorrem com
maior frequência: avaria ou defeito de material/dispositivos
médicos (89%), falta de material/roupa/equipamentos
(82,4%), falta de material clínico e equipamentos (77,5%),
disfunções do sistema informático (74,5%) e conflitos com
doente/família (73,5%). EA que ocorrem com frequência
significativa são erros de prescrição de produtos ou
fármacos (71,6%), erros de administração de produtos ou
fármacos (64,7%), prescrições incorretamente preenchidas
ou ilegíveis (65,7%), e as infeções associadas aos cuidados
de saúde (52,9%). Uma das questões permitiu analisar a
perceção da amostra relativamente aos EA que ocorrem e
aos que são notificados. De acordo com a perceção dos
enfermeiros verificou-se que os EAs com maior frequência
são os que têm maior percentagem de notificação.
De acordo com a perceção dos enfermeiros, a falta de
recursos humanos (19%), seguida das falhas de
comunicação e da sobrecarga horária (ambos com 17%), são
os principais fatores que contribuem para a ocorrência de
EA. Por seu lado, apontam o esquecimento quando há
excesso de trabalho (63%) como a principal barreira à
Notificação.
Discussão
Os profissionais de saúde reconhecem a importância da
notificação de EA para a Segurança do Doente e Qualidade
dos Cuidados,17 bem como a necessidade de existir um
sistema local e nacional para a Notificação.24 Embora 98%
dos enfermeiros tenham conhecimento do sistema de
notificação do hospital, apenas cerca de 59,8% referem
concordar com o mesmo, o que se encontra em linha com
os resultados de outros estudos.24,35 Podemos questionar se
os enfermeiros compreendem o sistema e a sua adequada
utilização, quais EA devem notificar, como podem notificar
e como se desenvolve o processo de análise e IHHGEDFN.
Cerca de 69% dos enfermeiros referiram não ter reportado
nenhum EA no ano transato, demonstrando uma taxa de
adesão à notificação baixa. No entanto, parece verificar-se
um aumento da consciencialização para a notificação,
quando compara a taxa do estudo (69%) com a notificação
a nível nacional em 2011 (80%).18 Mais recentemente, dados
da National Patient Safety Agency36 demonstram um
aumento na notificação de EA entre 2013 e 2015. A
melhoria observada, um pequeno passo no longo caminho
a percorrer, deve salvaguardar a necessidade de formação
dos profissionais, a elaboração de estratégias e normas
institucionais que permitam o crescimento de uma Cultura
de Segurança.
O nível de severidade dos EA parece ser um fator
preponderante na adesão à sua notificação. Os dados do
estudo indicam que os EA que resultam em dano trágico
(58%) e dano moderado (33%) são reportados com maior
frequência, quando comparados com eventos sem dano ou
situações de risco para o doente, como demonstrado em
estudos prévios.20,22-24
O privilegiar da notificação de eventos mais severos, ao
invés de notificar todas as situações, cria uma situação de
insificiência e ausência de dados reais sobre os EA que
ocorreram, restringindo a prevenção de situações
potencialment perigosas. A necessidade de notificar todos
os tipos de EA, mesmo dos que não tiveram impacto para o
doente, é imperativa para que o processo de aprendizagem
seja o mais útil possível e para as intervenções
implementadas na resolução das situações identificadas.12-
13,17
Os EA que ocorreram com maior frequência foram os
relacionados com as disfunções organizacionais da
instituição, correspondendo aos resultados obtidos por
Bruno24 e Martins.35 No entanto, a nível internacional, os
EA notificados com maior frequência são os relacionaods
com a terapêutica.10,15,30,32,38 Neste estudo, os erros
relacionados com a terapêutica apresentaram percentagens
de ocorrência significativas, nomeadamente erros de
Artigo Original Quantitativo
prescrição de produtos ou fármacos, erros de administração
de produtos ou fármacos e prescrições incorretamente
preenchidas ou ilegíveis. Por outro lado, de acordo com a
perceção dos enfermeiros, os EA que ocorreram com maior
frequência foram também os que apresentaram maior
percentagem de notificação.
A diferença nas percentagens de notificação de EA
detetadas entre os diferentes serviços pode resultar do facto
de a amostra ser maioritariamente composta por
enfermeiros do serviço de Urgência e Cuidados Intensivos
(62,7%) e/ou porque este é um dos serviços com maior
propensão para a ocorrência de EA.31
Os enfermeiros apontaram a falta de recursos humanos,
seguida das falhas de comunicação e sobrecarga horária,
como fatores facilitadores para a ocorrência de EA,
resultados que coincidem com a evidência. Esta é uma
situação recorrente na Saúde, na qual a falta de recursos
humanos é uma realidade,39 resultando na sobrecarga
horária e funcional dos profissionais de saúde.16,40
A comunicação é essencial para garantir a Segurança do
Doente e a Qualidade dos Cuidados, merecendo especial
atenção. A Direção Geral da Saúde41 recomenda uma
comunicaçao eficaz entre os profissionais, afirmando que a
mesma pode falhar, e referindo que 70% dos EA ocorre
durante os momentos de transição de cuidados. Os doentes
e família podem ser aliados dos profissionais na garantia de
uma comunicação eficaz e segura, uma vez que são eles
quem melhor conhece a situação clínica e tem oportunidade
para identificar falhas na comunicação nas passagens de
turno.10
De acordo com a perceção dos enfermeiros, o esquecimento
quando há maior carga laboral é a principal razão para não
notificarem EA. As condições laborais levam à necessidade
de reorganizar o foco dos profissionais de saúde, centrando-
se no doente e na rápida resolução de situações inesperadas,
deixando a notificação de EA para segundo plano. Este
comportamento, mesmo que pareça o mais adequado no
momento, não favorece a Segurança do Doente nem a
Qualidade dos cuidados a longo prazo.
Neste contexto, torna-se essencial integrar a notificação de
EA, Erros, 1HDU0LVVHV e situações potencialmente perigosas
para o doente na prática diária dos profissionais de saúde.
Isto requer sensibilização contínua, reforço das equipas
multidisciplinares, melhoria da comunicação e alívio da
carga horária dos profissionais, bem como maior e melhor
disseminação e acessibilidade ao sistema de notificação da
instituição.
Após a realização deste estudo, preconiza-se, a nível
nacional, o desenvolvimento de políticas de saúde mais
específicas e detalhadas que promovam a notificação de EA,
de forma transversal, e enquadrante do caminho a seguir. A
nível de Gestão do Risco, deve ser incentivada a notificação
de EA e 1HDU0LVVHV por todos os profissionais com o intuito
de resolver as situações potencialmente perigosas
identificadas e prevenir futuros EA,12-13 quer para os
doentes quer para os próprios profissionais de saúde.
Por último, é crucial valorizar e investir na qualificação dos
profissionais na área da Gestão do Risco e Segurança do
Doente, na elaboração de diretrizes, bem como na
construção de equipas com experiência na análise de EA e
na identificação preventiva de possíveis falhas no sistema.
Para reduzir o erro em Enfermagem Pediátrica recomenda-
se a utilização de soluções p-preparadas, fórmulas
adequadas à população pediátrica, de sistema de código de
barras aquando da administração de terapêutica ou
identificação de doentes, e o desenvolvimento de
protocolos.30-31 São também recomendadas a revisão pelos
pares/dupla verificação, melhoria da qualidade clínica e
educação, o treino dos profissionais através de simulação, e
a introdução de uma biblioteca de fármacos nas bombas
infusoras, com um alarme que soa quando a dose sai fora do
intervalo habitual.9 A utilização de prescrição eletrónica e
sistemas de dispensa terapêutica eletrónicos demonstram
uma diminuição significativa dos erros relacionados com a
terapêutica. A utilização de WULJHUWRROV também parece ter um
impacto positivo na prevenção de EA pelo aumento da
deteção de erros em Pediatria.9
Este estudo procurou descrever a Adesão dos Enfermeiros
à Notificação de EA em Pediatria, baseado na perceção dos
enfermeiros sobre essa mesma notificação. Um futuro
estudo, com outras especificações, pode ajudar a clarificar
algumas das questões levantadas e permitir outras medidas
corretivas que facilitem a melhoria dos Sistemas de
Notificação de Incidentes e EA.
Conclusão
A evolução e o aumento da procura por cuidados de saúde
com o mínimo risco para o doente, apropriado às suas
caraterísticas e necessidades individuais, tornou-se o mote
para os cuidados a nível mundial. Neste contexto, e apesar
das estratégias para reduzir o risco e as consequências
negativas associadas aos cuidados de saúde, a ocorrência de
EA mantém-se uma realidade. A notificação surge como
uma destas estratégias. A notificação de todas as situações
potencialmente perigosas ou que levem a consequências
negativas, em particular para o doente, deve ser instituída de
forma a evitar a normalização e a aceitação do erro como
rotineiro, ou como decorrente da prática dos profissionais
de saúde.Os enfermeiros, enquanto prestadores de cuidados
na linha da frente, com um maior e mais próximo contacto
com o doente e família, tornam-se mais conscientes e
experientes no reconhecimento de situações potencialmente
perigosas e que culminem em erro ou EA, refletindo-se na
sua probabilidade de notificação. Se, por um lado, os
resultados obtidos apontam para a necessidade de promover
a Cultura de Segurança da instituição, tornando os
profissionais de saúde conscientes da importância do seu
papel, enquanto indivíduos e enquanto equipa
multidisciplinar para a melhoria da Segurança do Doente,
por outro, acreditamos que os próprios enfermeiros se
encontram sujeitos a EA, devendo esses ser também
notificados.
Acreditamos que o envolvimento dos profissionais de saúde
em programas de adesão à notificação será tanto maior e
mais forte quanto mais próxima for a divulgação e
acessibilidade da plaforma e sensibilização para a sua
utilização. Também o reconhecimento dos benefícios para
Artigo Original Quantitativo
o doente, o conhecimento dos resultados e medidas
corretivas aplicadas, bem como da evolução e interação com
o sistema de notificação contribuem para esta adesão. Se
entendido como transversal à saúde, numa visão integradora
dos direitos e deveres dos profissionais, estes estarão mais
conscientes e motivados para participar individualmente ou
em grupo.
Uma limitação deste estudo foi a diferença entre a data de
recolha dos dados e a sua disseminação, tendo por base o
facto de resultar de uma Tese de Mestrado. Mesmo assim,
considerou-se importante sumarizar e partilhar o trabalho
elaborado devido às suas claras implicações para a prática de
Enfermagem, benefício para o doente, bem como para a
Qualidade e Segurança na prestação de Cuidados.
Referências Bibliográficas
1. World Health Organization. World Alliance for Patient
Safety. The conceptual framework for the international
classification for patient safety version 1.1: final technical
report and technical annexes. Copenhagen: World Alliance
for Patient Safety; 2009.
2. Conselho da União Europeia. Recomendação do
Conselho, de 9 de junho de 2009, sobre a segurança dos
pacientes, incluindo a prevenção e o controlo de infecções
associadas aos cuidados de saúde. [Internet] 2009 [cited
2019 Dec 27] Available from: https://eur-
lex.europa.eu/legal-
content/PT/TXT/?uri=CELEX%3A32009H0703%2801
%29
3. Slawomirski L, Auraaen A, Klazinga N. The economics
of patient safety: strengthening a value-based approach to
reducing patient harm at national level. [Internet]. Paris:
OECD; 2017. [cited 2020 Apr 18] Available from:
https://www.oecd.org/health/health-systems/The-
economics-of-patient-safety-March-2017.pdf
4. Sousa P. Patient safety: a necessidade de uma estratégia
nacional. Acta Med Port [Internet] 2006 [cited 2019 Sep
10]; 19(4):309-318. Available from:
https://repositorio.ipl.pt/handle/10400.21/7828
5. Kudzma EC. Florence Nightingale and Healthcare
Reform. Nursing Science Quarterly. 2006;19(1):61-64.
doi:10.1177/0894318405283556
6. Chun J, Bafford A. History and background of quality
measurement. Clin Colon Rectal Surg. 2014; 27(1):5-9.
doi: 10.1055/s-0034-1366912
7. Neuhauser D. Ernest Amory Codman. Qual Saf Health
Care [Internet] 2002 [cited 2020 Jan 6]; 11:104-5. Available
from:
https://qualitysafety.bmj.com/content/qhc/11/1/104.ful
l.pdf
8. Best M, Neuhauser D. Avedis Donabedian: father of
quality assurance and poet. Qual Saf Health Care. 2004;
13:472-3. doi: 10.1136/qshc.2004.012591
9. Valentini R.P. Patient safety and quality improvement:
what the pediatric trainee needs to know. Prog Pediatr
Cardiol. 2017; 44:47-53.
hdoi.org/10.1016/j.ppedcard.2017.01.006
10. Raju T, Suresh G, Higgins R. Patient safety in the
context of neonatal intensive care: research and educational
opportunities. Pediatr Res. 2011; 70(1):109-15.
doi: 10.1203/PDR.0b013e3182182853
11. Institute of Medicine (US). Committee on Quality of
Health care in America. Crossing the quality chasm: a new
health system for the 21st century. Washington (DC):
National Academies Press; 2001 [cited 2020 Jan 6].
Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK222274/pdf/
Bookshelf_NBK222274.pdf
12. Leistikow I, Mulder S, Vesseur J, Robben P. Learning
from incidents in healthcare: the journey, not the arrival,
matters. BJM Qual Saf. 2017; 26(3):252-256.
doi: 10.1136/bmjqs-2015-004853
13. Hewitt T, Chreim S. Fix and forget or fix and report: a
qualitative study of tensions at the front line of incident
reporting. BJM Qual Saf. 2015; 24(5):303-10.
doi: 10.1136/bmjqs-2014-003279
14. Dickson G. Principles of risk management. Qual Health
Care. 1995; 4(2):75-9. doi: 10.1136/qshc.4.2.75
15. Cernadas J, Bogado L, Rolón F, Galletti M. Voluntary
and anonymous reporting of medication errors in patients
admitted to the Department of Pediatrics. Arch Argent
Pediatr. 2019; 117(6): e592-7.
doi: 10.5546/aap.2019.eng.e592
16. Lawati M, Dennis S, Short S, Abdulhadi N. Patient
safety and safety culture in primary health care: a systematic
review. BCM Fam Pract. 2018; 19(1): 104.
doi: 10.1186/s12875-018-0793-7
17. Louis M, Hussain L, Dhanraj D, Khan B, Jung S, Quiles
W, et al. Improving patient safety event reporting among
residents and teaching faculty. Ochsner J. [Internet] 2016
[cited 2019 Nov 21]; 16(1):73-80. Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27046410
18. Fernandes AM, Queirós PJ. Cultura de segurança do
doente percecionada por enfermeiros em hospitais distritais
portugueses. Referência. [Internet] 2011 [cited 2019 Sep
10]; III Série (4):37-48. Available from:
http://www.scielo.mec.pt/pdf/ref/vserIIIn4/serIIIn4a04
.pdf
19. Waring J. Beyond blame: cultural barriers to medical
incident reporting. Soc Sci Med. 2005; 60:1927-35.
doi.org/10.1016/j.socscimed.2004.08.055
20. Polisena J, Gagliardi A, Urbach D, Clifford T, Fiander
M. Factors that influence the recognition, reporting and
resolution of incidents related to medical devices and other
healthcare technologies: a systematic review. Syst Rev.
2015; 4: e37 doi: 10.1186/s13643-015-0028-0
Artigo Original Quantitativo
21. Dunbar A, Cupit M, Vath R, Pontiff K, Evans N, Roy
M, et al. An improvement approach to integrate teaching
teams in the reporting of safety events. Pediatrics. 2017;
139(2): e20153807. doi: 10.1542/peds.2015-3807
22. Firth-Cozens J. Barriers in incident reporting. Qual Saf
Health Care. 2002; 11(7):6-8. doi: 10.1136/qhc.11.1.7
23. Lawton R, Parker D. Barriers to incident reporting in a
healthcare system. Qual Saf Health Care. 2002; 11(1):15-8.
doi: 10.1136/qhc.11.1.15
24. Bruno P. Registo de incidentes e eventos adversos:
implicações jurídicas da implementação em Portugal: erro
em medicina. Coimbra: Coimbra Editora; 2010.
25. Jordan M, Lam J, Lyren A, Sims N, Yang C. Actionable
patient safety solution (APSS) #3A: medication errors.
Chapman University [place unknown]: Patient Safety
Movement Foundation; [Internet] 2017 [cited 2019 Apr 19]
Available from:
https://digitalcommons.chapman.edu/pharmacy_articles
/458/
26. Carter B, Lantos J. Disclosing adverse events and near
misses to parents of neonates. Semin Perinatol. 2019; 43(8):
e151182. doi:
https://doi.org/10.1053/j.semperi.2019.08.011
27. Reena O, Kachoria R, Dail J, Green J, Walls K,
McClead R. A quality improvement project to decrease
human milk errors in the NICU. Pediatrics. 2017; 139(2):
e20154451.e20154451. doi: 10.1542/peds.2015-4451
28. Steele C, Bixby C. Centralized breastmilk handling and
bar code scanning improve safety and reduce breastmilk
administration errors. Breastfeeding Med. 2014; 9(9):426-9.
doi: 10.1089/bfm.2014.0077
29. Chatziioannidis I, Mitsiakos G, Vouzas F. Focusing on
patient safety in the neonatal intensive care unit
environment. J Pediatr Neonat Individual Med. 2016; 6(1):
e060132. https://doi.org/10.7363/060132
30. Lobaugh L, Martin L, Schleelein L, Tyler D, Litman R.
Medication errors in pediatric anesthesia: a report from the
wake-up safe quality improvement initiative. Anesth Analg.
2017; 125(3):936-42.
doi: 10.1213/ANE.0000000000002279
31. Benjamin L, Frush K, Shaw K, Shook J, Snow S.
Pediatric medication safety in the emergency department.
Pediatrics. 2018; 141(3): e20174066.
doi: 10.1542/peds.2017-4066
32. Alvarez F, Ismail L, Markwosky A. Pediatric medication
safety in adult community hospital settings: a glimpse into
nationwide practice. Hosp Pediatr. 2016; 6(12):744-
9. doi: 10.1542/hpeds.2016-0068
33. The Joint Commission. Hospital: 2023 National Patient
Safety Goals. Oakbrook Terrace, IL: The Joint
Commission; 2023. [cited 2023 Apr 11]. Available from:
https://www.jointcommission.org/-
/media/tjc/documents/standards/national-patient-safety-
goals/2023/npsg_chapter_hap_jul2023.pdf
34. Carvalho, J. Adesão dos enfermeiros à notificação de
eventos adversos em pediatria. [dissertation on the
Internet]. Lisboa: Escola Nacional de Saúde Pública.
Universidade Nova de Lisboa; 2021 [cited 2022 Dec 20].
121 p. Available from:
https://run.unl.pt/bitstream/10362/118993/1/RUN%20
-
%20Disserta%C3%A7%C3%A3o%20de%20Mestrado%2
0-%20Joana%20Carvalho.pdf
35. Martins L. Adesão à notificação de eventos pelos
enfermeiros dos serviços de internamento e unidades de
cuidados intensivos de um hospital central. [dissertation on
the Internet] Lisboa: Instituto Politécnico de Lisboa.
Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa; 2017
[cited 2019 Apr 19] 62 p. Available from:
https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/7321/1/A
des%c3%a3o%20%c3%a0%20notifica%c3%a7%c3%a3o
%20de%20eventos%20pelos%20enfermeiros%20dos%20
servi%c3%a7os%20de%20internamento%20e%20unidad
es%20de%20cuidados%20intensivos%20de%20um%20h
ospital%20central.pdf
36. National Patient Safety Agency. National reporting and
learning system quarterly data workbook: Oct 2003-Dec
2015 [Internet]. Redditch: The National Archives. NHS
England; 2017[cited 2020 May 8]. Available from:
https://webarchive.nationalarchives.gov.uk/20171030124
644/http://www.nrls.npsa.nhs.uk/resources/?EntryId45
=135610
37. Macrae C. The problem with incident reporting. BJM
Qual Saf. 2017; 25(2):71-5. doi: 10.1136/bmjqs-2015-
004732
38. Sutherland A, Phipps D, Tomlin S, Ashcroft D.
Mapping the prevalence and nature of drug related
problems among hospitalized children in the United
Kingdom: a systematic review. BCM Pediatrics. 2019; 19:
e486. doi: 10.1186/s12887-019-1875-y
39. Margato C. A propósito da segurança dos doentes:
editorial. Sinais Vitais. [Internet] 2009; [cited 2020 May 14]
83. Available from:
http://www.sinaisvitais.pt/index.php/revista-sinais-vitais-
publicacoes-78/revistas-1994-2014/22-revistas-2008-e-
2009/480-revista-no-83-marco-2009
40. Observatório Português dos Sistemas de Saúde.
Relatório primavera 2018: meio caminho andado. [Internet]
Lisboa: OPSS; 2018 [cited 2020 May 14] Available from:
http://opss.pt/relatorio-primavera/
41. Portugal. Ministério da Saúde. Direção Geral da Saúde.
Norma 001/2017 relativa à Comunicação eficaz na
transição de cuidados de saúde. [Internet] Lisboa: Direção
Geral da Saúde, 2017. [cited 2019 Dec 9] Available from:
https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-
circulares-normativas/norma-n-0012017-de-08022017-
pdf.aspx
| 39
3HQVDU(QIHUPDJHPYQMXQKR
'2Ζ SHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
Como citar este artigo: Flora M, Malheiro I, Barros L, Coelho A N. Intervenções para a autogestão em
adolescentes com Diabetes Tipo 1: um protocolo de revisão scoping.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Jun
;
27(1):
39-44. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.215
Intervenções para a autogestão em adolescentes
com Diabetes Tipo 1: um protocolo de revisão
scoping
Resumo
Introdução
O desenvolvimento dos adolescentes centra-se na construção de autonomia e independência
face à supervisão parental. Este desafio torna-se mais complexo perante um diagnóstico de
diabetes tipo 1, o que exige responsabilização do adolescente face à gestão da doença. Nesta
fase revela-se crucial a implementação de intervenções promotoras de competências de
autogestão.
Objetivo
Mapeamento de intervenções promotoras de autogestão para adolescentes com diabetes
tipo 1.
Métodos
Esta revisão scoping segue a metodologia proposta pelo -RDQQD%ULJJV,QVWLWXWH.Serão incluídos
estudos publicados em inglês, espanhol e português, entre 2009-2021, sem limitações
geográficas ou culturais. O processo de análise, extração e síntese de dados será realizada
por dois revisores de forma independente, de acordo com os critérios de inclusão. Os
resultados serão apresentados de seguindo as orientações do Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), diagrama para revisões scoping. O
protocolo encontra-se registado no Open Science Framework https://osf.io/z6wbj.
Resultados
O mapeamento de intervenções para adolescentes com diabetes tipo 1, é fundamental para
a construção de uma intervenção estruturada, centrada na promoção de comportamentos
de autogestão, contribuindo para a disseminação científica sobre o tema.
Conclusão
Espera-se que os resultados desta revisão contribuam para a construção de conhecimento
que fundamente o desenvolvimento de intervenções de enfermagem para adolescentes
com diabetes tipo 1.
Palavras-chave
Adolescentes; Diabetes Mellitus, Tipo 1; Programas; Autogestão.
Marília Costa Flora1
orcid.org/0000-0002-9934-9143
Maria Isabel Dias Costa Malheiro2
orcid.org/0000-0002-9093-4821
Luísa Barros3
orcid.org/0000-0002-5075-0104
Adriana Neves Coelho4
orcid.org/0000-0002-6381-7128
1Mestrado. Escola Superior de Enfermagem de
Coimbra, Portugal. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR).
2Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa, Portugal. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR).
3
Doutoramento. Faculdade de Psicologia da
Universidade de Lisboa, Portugal.
4Doutoramento. Unidade de Investigação em Ciências
da Saúde: Enfermagem (UICISA: E), Escola Superior
de Enfermagem de Coimbra, Portugal. Portugal Centre
for Evidence-Based Practice: A Joanna Briggs Institute
Centre of Excellence, Coimbra, Portugal.
Autor de correspondência
Marília Flora
E-mail: liaflora@gmail.com
Recebido: 23.11.2022
Aceite: 09.03.2023
Artigo de revisão
Mundialmente estima-se que mais de 1,1 milhões de
crianças e adolescentes vivam com Diabetes 0HOOLWXV Tipo 1
(T1D), a incidência tem vindo aumentar particularmente
em idades inferiores aos 15 anos, com um aumento da
prevalência na Europa e noutras regiões.1
Os adolescentes encontram-se numa fase crucial de
construção da sua autonomia, assumem progressivamente
maior responsabilidade na tomada de decisão,
autonomizando-se face à supervisão parental.2 Durante
este processo, a educação e a capacitação são elementos
essenciais para a promoção da autogestão.3 O objetivo
prioritário dos adolescentes com T1D é assumir a
responsabilidade pelos autocuidados e autogestão da
diabetes.4
A T1D é uma doença crónica causada por uma reação
autoimune na qual o sistema imunológico destrói as células
beta do pâncreas, impedindo a produção de insulina.5 O
tratamento da diabetes é exigente e complexo, requerendo
um controlo contínuo, feito mediante a gestão da tríade:
alimentação, exercício físico e insulinoterapia.6,7 No caso da
alimentação, é crucial a contagem de hidratos de carbono,
que incluem os amidos (hidratos de carbono complexos) e
os açúcares (hidratos de carbono simples como a glicose, a
frutose, a lactose, a sacarose e maltose), em equilíbrio com
a prática de atividade física e ajuste de insulina.6 Esta gestão
da alimentação e insulinoterapia torna-se ainda mais
rigorosa ao integrar a prática de exercício físico. Assim, a
gestão da T1D exige que se pense em todos os
comportamentos e tomada de decisão, que implicam uma
grande responsabilidade para o adolescente e sua família.8
A autogestão centra-se na autorregulação da doença
crónica e gestão de fatores de risco, nomeadamente:
definição de objetivos, automonitorizão; pensamento
reflexivo; tomada de decisão; planeamento e participação
nos autocuidados, autoavaliação e gestão de respostas
físicas, emocionais e cognitivas associadas à mudança de
comportamento.9 A promoção de comportamentos de
autogestão está associada à promoção de autoeficácia,
conhecimento, funcionalidade e interações sociais, com
ganhos na melhoria do estado de sde psicológico, gestão
eficaz dos sintomas, qualidade de vida e diminuição do
recurso aos serviços de urgência.10,11 Uma adequada
autogestão da doença permitirá melhorar os cuidados de
saúde, com consequente melhoria dos cuidados e gestão de
recursos12, prevenindo complicações micro e
macrovasculares.13,14
A autogestão da doença crónica é condição para o
indivíduo poder gerir os sintomas e o tratamento, com
repercussões na dimensão emocional e psicossocial, e
mudanças no estilo de vida inerentes à doença crónica.15
Kate Lorig 16 destaca três tarefas de autogestão (gestão da
terapêutica, de papéis e emocional), e várias competências
de autogestão (técnica de resolução de problemas, tomada
de decisão, recursos, formação, planeamento e mecanismos
de adaptação).
Para a gestão eficaz da T1D é essencial o planeamento e
organização de estratégias e objetivos bem definidos.9 A
gestão da diabetes inclui o conhecimento sobre a
fisiopatologia e reconhecimento de complicações micro e
40 | )ORUD0
macrovasculares: hipo e hiperglicemia, administração de
insulina, avaliação de glicemias e manutenção da saúde
(alimentação e prática de exercício físico).17
O processo que suporta a promoção da autogestão em
pessoas com doença crónica tem como aspeto central a
gestão da doença, o apoio ao indivíduo e às suas famílias.
Inclui um compromisso com os cuidados centrados na
pessoa.18 A implementação de programas promotores de
autogestão poderá ser um contributo importante na
promoção de comportamentos de autogestão.
A implementação de programas estruturados para a T1D
deverá integrar temas relacionados com a educação,
definição de metas e objetivos, inclusão social e de
autoeficácia associadas a medidas de controlo glicémico.10
Assim, é recomendável que os programas integrem: os
princípios psicoeducacionais, treino das rotinas diárias,
apoio contínuo na promoção da autogestão, envolvimento
dos pais, recurso a novas técnicas cognitivo-
comportamentais bem como a inclusão das novas
tecnologias como fonte de motivação para os
adolescentes.11
Compete às equipas de saúde em articulação em rede
multidisciplinar, e em particular aos enfermeiros, a
intervenção no âmbito da promoção da autogestão da T1D
nos adolescentes, contribuindo deste modo para uma
população mais saudável e competente na gestão da sua
doença. A intervenção destas equipas centra-se a nível do
indivíduo, da família, do grupo, e da comunidade, podendo
ocorrer em vários contextos: em consulta, no domicílio, na
comunidade, na escola ou ainda em ambientes informais
como os campos de férias.19
Foi feita uma pesquisa preliminar na MEDLINE
(PubMed), CINAHL (EBSCO), Cochrane Database of
Systematic Reviews e JBI Evidence Synthesis,
PROSPERO, e Open Science Framework (OSF), não
tendo sido encontradas revisões sistemáticas ou Scoping
(publicadas ou em desenvolvimento).
Foram definidas as seguintes questões de investigação:
-Quais as características das intervenções promotoras da
autogestão em adolescentes com T1D?
-Quais as funções dos profissionais responsáveis pela
implementação dessas intervenções?
-Quais os indicadores de mudança de comportamentos de
autogestão após as intervenções?
A presente revisão scoping tem como objetivo o
mapeamento de intervenções promotoras de autogestão
em adolescentes com T1D.
Método de Revisão
Esta revisão scoping segue as orientações do Joanna Briggs
Institute (JBI) guidelines para revisões scoping.20,21 O
protocolo de revisão foi registado no Open Science
Framework (OSF) (https://osf.io/z6wbj /acedido em 11 de
novembro de 2022).
*OUSPEVÎÍP
'2Ζ SHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
Participantes
Esta VFRSLQJ considerará estudos que integrem intervenções
para adolescentes com T1D e suas famílias, com idades
compreendidas entre os 10 e os 19 anos, que tenham
participado numa intervenção para a autogestão na
diabetes, implementada por profissionais de saúde.
Conceito
Para a revisão serão incluídos estudos que integrem
programas ou intervenções promotoras da autogestão em
adolescentes com T1D: gestão da terapêutica, de papéis e
emocional. Serão excluídos estudos que integrem
programas ou intervenções sem resultados.
Contexto
Serão integrados nesta revisão estudos que considerem
intervenções promotoras de autogestão em adolescentes
com T1D, implementadas em qualquer contexto de
intervenção. Foram integradas intervenções implementadas
via online e presencial (hospitalar ou ambulatório), campos
de férias ou contextos domiciliários.
Tipos de Fontes
A presente revisão visa o mapeamento de intervenções
promotoras da autogestão em adolescentes com T1D. Os
autores consideraram estudos experimentais e quasi-
experimentais, estudos randomizados controlados, estudos
não randomizados com avaliação antes e após a
intervenção. Serão incluídos estudos qualitativos com
abordagens fenomenológica, JURXQGHG WKHRU\, etnográfica,
descritivos e de investigação-ação. Serão ainda
consideradas revisões sistemáticas que respondam aos
critérios de inclusão.
Estratégia de Pesquisa
A estratégia de pesquisa visa a seleção de estudos
publicados ou não publicados. A estratégia de pesquisa foi
feita em três etapas. Iniciou-se por uma pesquisa inicial na
MEDLINE (via Pubmed) e CINAHL (Via EBSCO).
Foram utilizados conceitos apresentados nos títulos e
resumos dos artigos identificados, com recurso aos termos
de indexação “AND” e “OR” para o desenho da estratégia
de pesquisa. Na segunda etapa, a estratégia de pesquisa
incluiu as palavras-chave e termos indexados, ajustados de
acordo com cada base de dados (tabela 1). Por fim, foi feita
a análise das referências bibliográficas da lista de estudos
selecionados. Serão identificados estudos adicionais
publicados em Inglês, Português e Espanhol, entre 2009-
2021.
Serão feitas pesquisas nas bases de dados CINAHL Plus
with Full Text, PubMed, Cochrane Central Register of
Controlled Trials, LILACS, Scopus, Library, Information
Science & Technology Abstracts, PsycINFO, JBI Connect,
e Cochrane Database of Systematic Reviews. Foram ainda
incluídos estudos não publicados, com recurso à pesquisa
no RCAAP Repositório Científico de Acesso Aberto de
Portugal.
Tabela 1 Estratégia de pesquisa realizada em março de 2021
CINAHL complete Cochrane Central Register of Controlled Trials; Nursing & Allied Health Collection; Library, Information
Science & Technology Abstracts (via EBSCO)
Resultados
S6 TI ( adolescen* OR teen* OR youth* OR young* ) AND TI ( diabetes OR "diabetes mellitus, type 1" OR T1DM
OR "diabetes mellitus type 1" OR "DM1" OR "type 1 diabetes" ) AND TI ( manage* OR "self management" OR
"self care" OR “self-efficacy” OR “health and life quality” OR " quality of life" OR "glycaemic control" OR “glycemic
control” OR Glycosylated hemoglobin* OR hemoglobin A* ) AND AB ( intervention* OR program* OR strateg*
OR project* OR action* OR function* OR care* OR preparation OR education OR instruction* OR train* ).
Filtros: Boleano, Inglês, Português e Espanhol (2009-2021)
485
S5 TI ( adolescen* OR teen* OR youth* OR young* ) AND TI ( diabetes OR "diabetes mellitus, type 1" OR T1DM
OR "diabetes mellitus type 1" OR "DM1" OR "type 1 diabetes" ) AND TI ( manage* OR "self management" OR
"self care" OR “self-efficacy” OR “health and life quality” OR " quality of life" OR "glycaemic control" OR “glycemic
control” OR Glycosylated hemoglobin* OR hemoglobin A* ) AND AB ( intervention* OR program* OR strateg*
OR project* OR action* OR function* OR care* OR preparation OR education OR instruction* OR train* ).
Filters: Boleano (2009-2021)
974
S4 TI ( adolescen* OR teen* OR youth* OR young* ) AND TI (diabetes OR "diabetes mellitus, type 1" OR T1DM OR
"diabetes mellitus type 1" OR "DM1" OR "type 1 diabetes" ) AND TI ( manage* OR "self management" OR "self
care" OR “self-efficacy” OR “health and life quality” OR " quality of life" OR "glycaemic control" OR “glycemic
control” OR Glycosylated hemoglobin* OR hemoglobin A* ) AND AB ( intervention* OR program* OR strateg*
OR project* OR action* OR function* OR care* OR preparation OR education OR instruction* OR train* )
1,280
S3 TI (adolescen* OR teen* OR youth* OR young*) AND TI (diabetes OR "diabetes mellitus, type 1" OR T1DM OR
"diabetes mellitus type 1" OR "DM1" OR "type 1 diabetes") AND TI (manage* OR "self management" OR "self
care" OR “self-efficacy” OR “health and life quality” OR " quality of life" OR "glycaemic control" OR “glycemic
control” OR Glycosylated hemoglobin* OR hemoglobin A*)
2,245
S2 TI (adolescen* OR teen* OR youth* OR young*) AND TI (diabetes OR "diabetes mellitus, type 1" OR T1DM OR
"diabetes mellitus type 1" OR "DM1" OR "type 1 diabetes")
15,567
S1 TI adolescen* OR teen* OR youth* OR young* 640,993
Pubmed
adolescent [MeSH Terms] AND diabetes mellitus, type 1 [MeSH Terms] AND ("self-management" [MeSH Terms]
OR self-care [MeSH Terms] OR quality of life [MeSH Terms] OR "glycated hemoglobin a" [MeSH Terms]) AND
(Program Evaluation [MeSH Terms] OR "health promotion" [MeSH Terms]).
Filtros: Inglês (2009-2021)
59
Medline complete (via EBSCO)
$SJUÏSJPTEFFMFHJCJMJEBEF
Artigo de revisão
adolescent [MeSH Terms] AND diabetes mellitus, type 1 [MeSH Terms] AND ("self-management" [MeSH Terms]
OR self-care [MeSH Terms] OR quality of life [MeSH Terms] OR "glycated hemoglobin a" [MeSH Terms]) AND
(Program Evaluation [MeSH Terms] OR "health promotion" [MeSH Terms]).
Filtros: Inglês (2009-2021)
27
Seleção dos Estudos
Os resultados de pesquisa serão exportados para o gestor de
referências Mendeley, onde serão removidos os duplicados.
Dois revisores farão de forma independente a análise de
título e resumo, aplicando os critérios de inclusão. Os
artigos potencialmente relevantes serão integrados para o
total. Posteriormente os revisores farão a leitura integral dos
artigos e analisarão os que cumprem os critérios de inclusão.
Serão apresentados os motivos de exclusão na VFRSLQJUHYLHZ.
Qualquer desacordo existente será solucionado pela
intervenção de um terceiro revisor.
Os resultados da análise dos artigos serão reportados na
revisão scoping com recurso ao Preferred Reporting Items
for Systematic Reviews and Meta-analyses extension for
scoping review (PRISMA-ScR).20
Tabela 2 - Instrumentos de Extração de Dados
Extração de Dados
Dois revisores irão analisar os estudos de forma
independente, extraindo dados qualitativos e quantitativos
para uma tabela de extração de dados desenvolvida para o
efeito, de acordo com as orientações da JBI para VFRSLQJ
UHYLHZV.22 Os dados extraídos incluirão informação referente
aos participantes, conceito, contexto, metodologia e
principais resultados que respondam às questões de
investigação. Para o efeito, será utilizada uma tabela de
extração de dados (tabela 2). A tabela de extração de dados
será revista e modificada face às necessidades identificadas
nos artigos incluídos. As possíveis alterações serão
justificadas na VFRSLQJUHYLHZ. Se se verificar algum desacordo,
será solicitada a opinião de um terceiro revisor. Sempre que
se justificar, os revisores contactarão os autores dos estudos
para clarificação de informação.
Elementos Principais
Extração de dados
Descrição de Dados
Identificação
do Estudo
Referência; Autores; Ano; Título; Revista; nº de Volume
Tipo de estudo 1. Estudo primário
2. Revisões sistemáticas
Critérios de Inclusão
e Exclusão
P – Adolescentes com T1D
C - Programas e/ou intervenções promotoras da autogestão em
adolescentes com T1D. Excluídos programas que não
apresentem resultados.
C
Intervenções via online ou presencial (hospital ou
ambulatório), campos de férias ou contexto domiciliário.
1. Sim
2. Não
Características
da População
Quem são os participantes das intervenções?
Quem são os profissionais de saúde que implementam as
intervenções?
1. Adolescentes
2. Adolescentes e pais /
família
1. Médicos
2. Enfermeiros
3. Psicólogos
4. Psicoterapeutas
5. Nutricionistas
6. Equipa Multidisciplinar
7. Outros, especificar
Características
das intervenções
Qual a tipologia de intervenção implementada?
Características gerais das intervenções
1. Educativa
2. Psicossocial
3. De Suporte
4. Comunicacional
5. Outros, especificar
1. Conteúdos
2. Em grupo
3. Individualmente
4. Duração da Sessões
Características
do Contexto
Qual o contexto de implementação da intervenção?
6. Contexto de
implementação (Hospitalar
ou ambulatório)
7. Cuidados domiciliários
8. Online
9. Outros, especificar
'2Ζ SHQVDUHQIYL
Artigo de revisão
Resultados
Quais os indicadores de mudança de comportamentos de
autogestão após as intervenções?
1. Autogestão
(Complicações agudas e crónicas
da doença: hipo e hiperglicemia,
administração de insulina,
avaliação de glicemia capilar,
manutenção da saúde;
alimentação e exercício físico).
2. Autoeficácia
3. Conhecimento
4. Qualidade de Vida
5. Autocuidado
6. Hemoglobina glicada
Resultados
Análise e Apresentação dos Resultados
Os resultados serão apresentados numa tabela,
considerando as questões de investigação (tabela 3). A tabela
será complementada com uma descrição narrativa dos
resultados, relacionando-os com as questões de investigação
previamente estabelecidas. Apresentaremos o
conhecimento existente sobre o tema em estudo, lacunas na
literatura, bem como possíveis implicações para a saúde e
para a investigação.
Tabela 3 - Instrumento para extração de dados: resultados extraídos
Questões de Revisão
Estudo 1
Estudo 2
Estudo 3
...
a) Quais as características das intervenções promotoras da autogestão em
adolescentes com T1D?
b) Quais as funções dos profissionais responsáveis pela implementação dessas
intervenções?
c) Quais os indicadores de mudança de comportamentos de autogestão após as
intervenções?
Discussão
O mapeamento das intervenções implementadas para
adolescentes com T1D poderá constituir uma importante
ferramenta para a construção de uma intervenção
estruturada com foco na promoção da autogestão da
diabetes, contribuindo deste modo para a construção e
disseminação de conhecimento a este nível. A VFRSLQJUHYLHZ
irá considerar estudos em Inglês, Português e Espanhol,
elementos que poderão ser uma limitação do estudo. No
sentido de minimizar este efeito, caso surjam artigos
considerados relevantes, noutros idiomas, recorremos a
ferramentas que permitirão a tradução e integração dos
artigos no FRUSXVdocumental.
Conclusões
A literatura aponta para o desenvolvimento de intervenções
promotoras da autogestão em adolescentes com T1D, em
diferentes contextos de intervenção, focados no
desenvolvimento de autonomia, qualidade de vida e
redução das complicações da T1D. Espera-se que a VFRSLQJ
UHYLHZ que resultará deste protocolo, possa aprofundar o
conhecimento deste tema, podendo servir como base para
o desenvolvimento de intervenções de enfermagem
promotoras da autogestão em adolescentes com T1D.
Referências
1. International Diabetes Federation. IDF: Diabetes ATLAS
[Internet]. 9th ed. Belgium:International Diabetes
Federation; 2019. Available from:
https://www.diabetesatlas.org
2. Serlachius AS, Scratch SE, Northam EA, Frydenberg E,
Lee KJ, Cameron FJ. A randomized controlled trial of
cognitive behaviour therapy to improve glycaemic control
and psychosocial wellbeing in adolescents with type 1
diabetes. J Health Psychol [Internet]. 2016 Jun
10;21(6):115769. Available from:
http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/135910531454
7940
3. Patton SR, Maahs D, Prahalad P, Clements MA.
Psychosocial needs for newly diagnosed youth with Type 1
Diabetes and their families. Curr Diab Rep [Internet]. 2022
Aug 21;22(8):38592. Available from:
https://link.springer.com/10.1007/s11892-022-01479-8
4. Cameron FJ, Garvey K, Hood KK, Acerini CL, Codner
E. ISPAD Clinical practice consensus guidelines 2018:
Diabetes in adolescence. Pediatr Diabetes [Internet]. 2018
Oct;19(Suppl. 27):25061. Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/pedi.12702
5. Mayer-Davis EJ, Kahkoska AR, Jefferies C, Dabelea D,
Balde N, Gong CX, et al. ISPAD Clinical Practice
Consensus Guidelines 2018: Definition, epidemiology, and
classification of diabetes in children and adolescents. Pediatr
Diabetes [Internet]. 2018 Oct;19(Suppl.27):719. Available
from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/pedi.12773
Artigo de revisão
6. Smart CE, Annan F, Higgins LA, Jelleryd E, Lopez M,
Acerini CL. ISPAD Clinical Practice Consensus Guidelines
2018: Nutritional management in children and adolescents
with diabetes. Pediatr Diabetes [Internet]. 2018
Oct;19(Suppl.27):13654. Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/pedi.12738
7. DiMeglio LA, Acerini CL, Codner E, Craig ME, Hofer
SE, Pillay K, et al. ISPAD Clinical Practice Consensus
Guidelines 2018: Glycemic control targets and glucose
monitoring for children, adolescents, and young adults with
diabetes. Pediatr Diabetes [Internet]. 2018 Oct;19(Suppl.
27):10514. Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/pedi.12737
8. Serlachius A, Northam E, Frydenberg E, Cameron F.
Adapting a generic coping skills programme for adolescents
with Type 1 Diabetes: A qualitative study. J Health Psychol
[Internet]. 2012 Apr 28;17(3):31323. Available from:
http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/135910531141
5559
9. Ryan P, Sawin KJ. The individual and family self-
management theory: Background and perspectives on
context, process, and outcomes. Nurs Outlook [Internet].
2009 Jul;57(4):217-225.e6. Available from:
https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0029655408
002923
10. National Collaborating Centre for Women’s and
Children’s Health. Diabetes (Type 1 and Type 2) in children
and young people: Diagnosis and management. [Internet].
2015 [cited 2022 Oct 16];10767. Available from:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/26334077/
11. Phelan H, Lange K, Cengiz E, Gallego P, Majaliwa E,
Pelicand J, et al. ISPAD Clinical Practice Consensus
Guidelines 2018: Diabetes education in children and
adolescents. Pediatr Diabetes [Internet]. 2018
Oct;19(Supppl. 27):7583. Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/pedi.12762
12. Ory MG, Smith ML, Patton K, Lorig K, Zenker W,
Whitelaw N. Self-management at the tipping point:
Reaching 100,000 americans with evidence-based programs.
J Am Geriatr Soc [Internet]. 2013 May;61(5):8213.
Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/jgs.12239
13. Bjornstad P, Donaghue KC, Maahs DM. Macrovascular
disease and risk factors in youth with type 1 diabetes: time
to be more attentive to treatment? Lancet Diabetes
Endocrinol [Internet]. 2018 Oct;6(10):80920. Available
from:
https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S2213858718
300354
14. Barrett EJ, Liu Z, Khamaisi M, King GL, Klein R, Klein
BEK, et al. Diabetic microvascular disease: An Endocrine
Society Scientific Statement. J Clin Endocrinol Metab
[Internet]. 2017 Dec 1;102(12):4343410. Available from:
http://academic.oup.com/jcem/article/102/12/4343/460
4942
15. Barlow J, Wright C, Sheasby J, Turner A, Hainsworth J.
Self-management approaches for people with chronic
conditions: A review. Patient Educ Couns [Internet]. 2002
Oct;48(2):17787. Available from:
https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0738399102
00032
16. Lorig KR, Holman HR. Self-management education:
History, definition, outcomes, and mechanisms. Ann Behav
Med. [Internet]. 2003 Aug; 26(1):1-7. Available from:
https://doi.org/10.1207/S15324796ABM2601_01
17. Flora M, Gameiro M. Self-care of adolescents with Type
1 Diabetes Mellitus: Knowledge about the disease. Rev
Enferm Ref [Internet]. 2016 Mar 29;IV Série(8):1726.
Available from:
http://rr.esenfc.pt/rr/index.php?module=rr&target=publi
cationDetails&pesquisa=&id_artigo=2565&id_revista=24
&id_edicao=90
18. Hessler DM, Fisher L, Bowyer V, Dickinson LM,
Jortberg BT, Kwan B, et al. Self-management support for
chronic disease in primary care: frequency of patient self-
management problems and patient reported priorities, and
alignment with ultimate behavior goal selection. BMC Fam
Pract [Internet]. 2019 Dec 29;20(1):120. Available from:
https://bmcfampract.biomedcentral.com/articles/10.1186
/s12875-019-1012-x
19. Colson S, Côté J, Gentile S, Hamel V, Sapuppo C,
Ramirez-Garcia P, et al. An integrative review of the quality
and outcomes of diabetes education programs for children
and adolescents. Diabetes Educ [Internet]. 2016 Oct
19;42(5):54984. Available from:
http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/014572171665
8976
20. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun
H, Levac D, et al. PRISMA extension for scoping reviews
(PRISMA-ScR): checklist and explanation. Ann Intern Med
[Internet]. 2018 Oct 2;169(7):46773. Available from:
https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M18-0850
21. Peters M, Godfrey C, McInerney P, Munn Z, Trico A,
Khalil H. Scoping Reviews. In: JBI Manual for Evidence
Synthesis [Internet]. JBI; 2020. Available from:
https://wiki.jbi.global/display/MANUAL/Chapter+11%3
A+Scoping+reviews
22. Peters MDJ, Marnie C, Tricco AC, Pollock D, Munn Z,
Alexander L, et al. Updated methodological guidance for the
conduct of scoping reviews. JBI Evid Synth [Internet]. 2020
Oct;18(10):211926. Available from:
https://journals.lww.com/10.11124/JBIES-20-00167
| 45
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / julho 2023
DOI:10.56732/pensarenf.v27i1.259
Artigo de revisão
Como citar este artigo: Oliveira R, Ramos O, Capelo J, Chamusca D. Medo de cair na pessoa idosa em
meio hospitalar: protocolo de
scoping review. Pensar Enf [Internet]. 2023 Jul; 27(1):45-51.
Available
from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.259
Medo de cair na pessoa idosa em meio hospitalar:
protocolo de
scoping review
Resumo
Introdução
As mudanças expectáveis num processo de envelhecimento contribuem para o aumento
do risco de queda e influenciam a avaliação da própria pessoa quanto ao seu risco de cair.
Além das lesões físicas, as quedas podem originar consequências psicológicas, como o
medo de cair. Este conceito foi definido como uma preocupação contínua de um indivíduo,
quando está de pé ou a caminhar, com a ocorrência de quedas, comprometendo o
desempenho das atividades diárias. Neste sentido, o medo de cair é uma resposta humana
sensível aos cuidados de enfermagem. Enquanto profissionais de saúde, os enfermeiros
devem considerar a avaliação do medo de cair e compreender como este fenómeno se
manifesta na pessoa idosa.
Objetivo
Mapear a evidência científica disponível relativa ao medo de cair na pessoa idosa em meio
hospitalar.
Critérios de inclusão
Serão considerados estudos quantitativos, qualitativos ou mistos, assim como, revisões
sistemáticas e literatura cinzenta. A revisão incluirá estudos sobre o medo de cair nas pessoas
idosas que se encontram em meio hospitalar.
Métodos
Protocolo de scoping review segundo o método do Joanna Briggs Institute. Estratégia de pesquisa
trifásica que terá como objetivo localizar estudos publicados e não publicados nos idiomas
português, inglês e espanhol. Não serão considerados limites temporais, geográficos ou
culturais na pesquisa. A estratégia de pesquisa será adequada a cada base de
dados/repositório na identificação de estudos relevantes. A seleção dos estudos iniciar-se-á
pela análise do título e resumo. O texto integral dos estudos selecionados será analisado por
dois revisores independentes que procederão à extração de dados com recurso a um
instrumento específico.
O protocolo foi registado na plataforma Open Science Framework (DOI -
https://doi.org/10.17605/OSF.IO/B5V6K).
Palavras-chave
Medo de Cair; Idoso; Hospital; Revisão.
Rita Oliveira1
orcid.org/0000-0003-3014-2598
Olga Ramos2
orcid.org/0000-0002-0039-2433
Joana Capelo3
orcid.org/0000-0001-9181-3960
Daniela Chamusca4
orcid.org/0000-0002-5390-2193
1 Mestre. Instituto de Ciências da Saúde | Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal. Unidade Local de
Saúde de Matosinhos - Hospital Pedro Hispano,
Matosinhos, Portugal.
2 Mestre. Instituto de Ciências da Saúde | Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal. Unidade Local de
Saúde de Matosinhos - Hospital Pedro Hispano,
Matosinhos, Portugal.
3 Mestre. Centro Hospitalar Universitário de São João,
Porto, Portugal.
4 Mestre. Centro Hospitalar Universitário de São João,
Porto, Portugal.
Autor de correspondência
Ana Rita Capela Oliveira
E-mail: ritaoliveira2323@gmail.com
Recebido: 13.02.2023
Aceite: 17.04.2023
Artigo de revisão
Introdução
De acordo com a Organização Mundial da Saúde 1, até 2030,
estima-se que o número de pessoas acima dos 60 anos
aumentará 34%, passando de 1 bilião em 2019 para 1,4
biliões. Até 2050, esta população terá duplicado para 2,1
biliões a nível mundial.
Em Portugal, o envelhecimento demográfico continua a
acentuar-se de forma muito expressiva. De acordo com os
Censos 2021 2, o índice de envelhecimento da população,
indicador que compara a população com 65 ou mais anos
com a população dos 0 aos 14 anos, é de 182, o que significa
que existem 182 pessoas idosas por cada 100 jovens.
Com o avançar da idade é expectável que existam mudanças
próprias do processo de envelhecimento. A nível biológico,
verifica-se uma variedade de danos moleculares e celulares,
conduzindo a uma perda gradual nas reservas fisiológicas e
um declínio funcional na capacidade intrínseca da pessoa.3
A fraqueza muscular, o comprometimento no equilíbrio, as
dificuldades na locomoção e o agravamento da cognição são
algumas das mudanças que ocorrem no envelhecimento e
estas contribuem para o aumento do risco de queda das
pessoas idosas.4, 5
A queda pode ser definida como um evento não intencional
que resulta na mudança de posição do indivíduo para um
nível postural mais baixo em relação à sua posição inicial.6
O International Council of Nurses (ICN)7 para além de
considerar que uma queda é um “evento ou episódio”
acrescenta que cair é “descida de um corpo de um nível
superior para um nível inferior devido a desequilíbrio,
desmaio ou incapacidade para sustentar pesos e permanecer
na vertical”.
Nas pessoas idosas, as quedas são eventos frequentes com
possíveis consequências graves para o indivíduo e com
impacto ecomico significativo nas instituições de saúde.
Globalmente, a prevalência de quedas em pessoas idosas é
de 26,5%8, sendo que um terço desta população cai pelo
menos uma vez por ano6, o que contribui para que as quedas
sejam consideradas a segunda principal causa de lesões nas
pessoas idosas.9
Existem vários fatores de risco que contribuem para a
ocorrência de quedas e é consensual utilizar a classificação
de fatores intrínsecos e extrínsecos.
Os fatores intrínsecos são condições que estão relacionados
com o cliente, como a idade, a comorbidade, história de
quedas anteriores, a marcha, o compromisso visual e
auditivo, alterações musculoesqueléticas e o
comprometimento cognitivo.10
Já os fatores extrínsecos relacionam-se com o ambiente
onde o cliente está inserido. A nível hospitalar destacamos a
doença aguda, delírio, período pós-operatório, medicação,
mudança de ambiente, equipamentos de apoio, repouso no
leito e imobilidade, utilização de calçado inapropriado,
iluminação dos espaços, falta de conhecimento sobre
prevenção de queda, falha na comunicação entre o cliente e
o profissional de saúde.6, 10 Desta forma, é percetível que o
meio hospitalar é um contexto onde as pessoas idosas
podem apresentar um risco de queda extremamente
elevado.
Relativamente às consequências das quedas, além das lesões
físicas, como a existência de fraturas e lesões cerebrais
traumáticas, importa analisar as consequências psicológicas,
sendo estas prejudiciais para a pessoa idosa a longo prazo e
contribuem para a diminuição da qualidade de vida. A perda
de confiança e o medo de cair são dois exemplos das
consequências psicológicas e podem resultar num
compromisso nos níveis de atividade, levando a uma
redução na função física e nas interações sociais.11
O ICN 7 define medo como uma “emoção negativa: sentir-
se ameaçado, em perigo ou perturbado devido a causas
conhecidas ou desconhecidas, por vezes acompanhado de
uma resposta fisiológica do tipo lutar ou fugir”.
O medo de cair foi reconhecido pela comunidade científica,
a partir da década de 80, como um problema de saúde nas
pessoas idosas. Este conceito foi denominado por ptofobia,
em 1982, e é entendido como a reação fóbica em manter-se
de pé e a andar, mesmo não havendo nenhuma alteração
neurológica ou ortopédica.12
Posteriormente, o medo de cair foi definido como uma
preocupação contínua de um indivíduo, quando está de pé
ou a caminhar, com a ocorrência de quedas,
comprometendo o desempenho das atividades diárias.13
Atualmente, o medo de cair pode ser considerado uma
condição protetora ou patológica. Por um lado, o medo
enquanto fator protetor levará a pessoa idosa a evitar
comportamentos de risco e a procurar a promoção da
segurança, quer através de medidas que evitem as quedas
como nas adaptações da marcha que aumentem a
estabilidade. Por outro lado, o medo de cair patológico pode
levar a um declínio na qualidade de vida e aumentar o risco
de quedas por meio da redução das atividades necessárias
para manter a autoestima, confiança, força e equilíbrio.5, 14
O medo de cair pode causar uma perda de confiança na
capacidade de realizar tarefas do quotidiano, levando a
pessoa idosa a restringir as suas atividades diárias15, ao
isolamento social, ao declínio da capacidade física e à perda
de independência16, o que pode resultar em alterações da
saúde mental, nomeadamente o surgimento de estados
depressivos e ansiosos.1719 Outros aspetos psicológicos,
como a autoeficácia relacionada com a queda e a
autoperceção do estado de saúde estão associadas ao medo
de cair.16
O medo de cair revela-se um fator de risco de queda nas
pessoas idosas quer tenham ou não histórico de quedas
anteriores.20 As pessoas que têm medo de cair tendem a não
confiar na sua capacidade de prevenir ou evitar quedas, o
que aumenta o risco de cair e exige uma intervenção
psicoterapêutica e de reabilitação física.21
A estimativa de prevalência das pessoas idosas com medo
de cair ronda os 36%, sendo este mais evidenciado nas
pessoas que apresentaram uma queda nos últimos três
meses.22 Em meio hospitalar, o medo de cair nas pessoas
idosas que se encontram em internamento varia entre 36 e
83%.17, 23
Sabe-se ainda que nas pessoas idosas internadas em
contexto hospitalar, o medo de cair pode ter uma maior
influência na recuperação funcional do que a presença de
dor ou alterações emocionais. O medo de cair também
DOI:10.56732/pensarenf.v27i1.259
Artigo de revisão
reduz a participação dos indivíduos nos exercícios durante
o processo de reabilitação, pois apresentam limitação
funcional e relutância em se movimentarem.17, 24
A classificação internacional de diagnósticos de enfermagem
da NANDA International, Inc. (NANDA-I) 25 apresenta o
diagnóstico “Risco de quedas em adultos” que é definido
como a “suscetibilidade do adulto a vivenciar um evento que
resulte em deslocamento inadvertido ao solo, chão ou outro
nível inferior que pode comprometer a saúde”.25(p468) Ainda
neste diagnóstico é possível constatar que o medo de cair,
surge nos fatores de risco, nomeadamente nos “fatores
psiconeurológicos”.25
Neste sentido, é percetível que o medo de cair é uma
resposta humana sensível aos cuidados de enfermagem.
Enquanto profissionais de saúde, os enfermeiros devem
considerar a avaliação do medo de cair e compreender como
este fenómeno se manifesta na pessoa idosa.
Considerando esta problemática, realizou-se uma pesquisa
preliminar de scoping review nas seguintes bases de
dados/fontes: Open Science Framework (OSF), Medical
Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE) (via
PubMed) e Cumulative Index to Nursing and Allied Health
Literature (CINAHL) (via EBSCO). Encontrou-se uma
scoping review18 que mapeou a evidência sobre o medo de cair
em pessoas idosas que residem na comunidade. Para além
disso, a revisão concentrou os resultados de artigos
publicados entre 2015 e 2020 e a pesquisa foi realizada
apenas numa base de dados.
Desta forma, esta revisão diferencia-se da scoping review
mencionada anteriormente na medida em que prevê abordar
o medo de cair da pessoa idosa que se encontra internada
em meio hospitalar. O conhecimento sobre esta temática
carece de completude e uma scoping review facilitará o
necessário mapeamento desse conhecimento.
Além de uma scoping review permitir mapear as evidências
disponíveis sobre um fenómeno, também possibilita a
identificação das principais características ou fatores
relacionados a um conceito, incluindo aqueles que estão
relacionados com a pesquisa metodológica.26
O objetivo desta scoping review é mapear a evidência científica
disponível relativa ao medo de cair na pessoa idosa em meio
hospitalar.
Questão de Revisão
Seguindo as recomendações do Joanna Briggs Institute
(JBI)27 para a elaboração de uma scoping review, a questão de
revisão é desenhada através da mnemónica PCC para scoping
review, onde P representa “participantes”, C de “conceito” e
C de “contexto”.
Para esta revisão definiu-se como Participantes pessoas
com 65 ou mais anos de idade, Conceito medo de cair e
Contexto meio hospitalar, o que nos leva à seguinte
questão de revisão:
Qual a evidência publicada sobre o medo de cair na pessoa
idosa em meio hospitalar?
A partir da questão de revisão definida, esta scoping review
também poderá responder às seguintes questões:
-Qual a evidência publicada sobre os fatores
relacionados/etiológicos inerentes ao medo de cair na
pessoa idosa?
-Qual a evidência publicada sobre os indicadores
clínicos/características definidoras do medo de cair na
pessoa idosa?
-Quais os instrumentos que avaliam o medo de cair na
pessoa idosa em meio hospitalar?
Critérios de Inclusão
A partir da mnemónica PCC, definimos os critérios de
inclusão quanto aos participantes, conceito e contexto.
Participantes
Relativamente aos Participantes, a revisão considerará todos
os estudos que incluam como participantes pessoas idosas.
Não serão consideradas restrições de género, etnia ou outras
características pessoais. Entende-se por pessoa idosa aquela
que tem 65 ou mais anos de idade.28
Conceito
Quanto ao Conceito, na revisão serão considerados os
estudos que exploram o medo de cair. Entende-se por medo
de cair, uma preocupação contínua de um indivíduo, quando
está de pé ou a caminhar, com a ocorrência de quedas,
comprometendo o desempenho das atividades diárias.13
Contexto
No que diz respeito ao Contexto, a revisão irá considerar
todos os estudos desenvolvidos em contexto hospitalar,
independentemente do tipo de estabelecimento, de ser
público ou privado, geral ou especializado, urbano ou rural,
de ensino ou não, e certificado ou não.
Tipos de fontes
Esta scoping review incluirá estudos com desenhos
quantitativos, qualitativos ou métodos mistos.
Os estudos quantitativos incluem qualquer estudo
experimental (incluindo ensaios controlados randomizados,
ensaios controlados não randomizados ou outros estudos
quase-experimentais, incluindo estudos antes e depois) e
estudos observacionais (estudos descritivos, estudos de
coorte, estudos transversais, estudos de caso e estudos de
rie de casos). Já os estudos qualitativos incluem estudos
com análise de dados qualitativos, mas não limitados a
estudos fenomenológicos, teoria fundamentada, etnografia,
descrição qualitativa e pesquisa-ão.
As revisões sistemáticas que atendam aos critérios de
inclusão também serão consideradas, dependendo da
questão de pesquisa. Por fim, a literatura cinzenta,
nomeadamente teses e dissertações, também será englobada
na pesquisa.
Métodos
A scoping review será conduzida de acordo com a metodologia
proposta pelo JBI para scoping review.27
Artigo de revisão
Este protocolo da scoping review encontra-se registado na
plataforma OSF (DOI
https://doi.org/10.17605/OSF.IO/B5V6K).
Estratégia de pesquisa
A estratégia de pesquisa terá como objetivo localizar estudos
publicados e não publicados nos idiomas português, inglês
e espanhol. Não serão considerados limites temporais,
geográficos ou culturais na pesquisa.
O JBI 27, 29 recomenda um processo de pesquisa trifásica que
deve ser utilizado no desenvolvimento de uma estratégia de
pesquisa abrangente:
A primeira fase envolveu a realização de uma pesquisa inicial
limitada nas bases de dados MEDLINE (via PubMed) e
CINAHL (via EBSCO) para encontrar artigos sobre o
fenómeno de interesse, através do uso dos termos de
pesquisa: “fear of falling”; “aged”; “hospital*”. Nos artigos
relevantes, analisaram-se as palavras contidas nos títulos e
resumos, assim como, os termos de indexação usados para
descrever os artigos, de forma a desenvolver uma estratégia
de pesquisa completa para CINAHL complete (via
EBSCO), Web of Science Core Collection, MEDLINE (via
PubMed), Scopus.
As estratégias de pesquisa serão adaptadas e individualizadas
para cada base de dados de estudos publicados, uma vez que
cada uma utiliza o seu próprio vocaburio controlado. A
Quadro 1 apresenta uma proposta de estratégia de pesquisa
numa das bases de dados.
Quadro 1 Estratégia de pesquisa utilizada na base de dados - MEDLINE (via PubMed)
Base de Dados
Estratégia de Pesquisa
Resultados
MEDLINE (via
PubMed)
#1: "fear of falling"[All Fields]
#2: "aged"[MeSH Terms] OR "aged"[Title/Abstract]
#3: "elder*"[Title/Abstract]
#4: “older” [Title/Abstract]
#5: "senior*"[Title/Abstract]
#6: "older adult*"[Title/Abstract]
#7: "older people"[Title/Abstract]
#8: "geriatric*"[Title/Abstract]
#9: "older person*"[Title/Abstract]
#10: #2 OR #3 OR #4 OR #5 OR #6 OR #7 OR #8 OR #9
#11: "hospital setting"[Title/Abstract]
#12: "inpatient*"[MeSH Terms] OR "inpatient*"[Title/Abstract]
#13: “hospital*"[MeSH Terms] OR "hospital*"[Title/Abstract]
#14: "ward*"[Title/Abstract]
#15: #11 OR #12 OR #13 OR #14
#16: #1 AND #10 AND #15
#17: #16 AND (english[Filter] OR portuguese[Filter] OR spanish[Filter])
2,279
3,898,782
302,509
535,444
49,998
113,680
38,820
75,485
13,565
4,221,852
13,929
157,237
1,991,749
71,416
2,066,169
262
246
As fontes de estudos não publicados, nomeadamente
literatura cinzenta, incluem OpenGrey, RCAAP
(Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal) e
Banco de teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) (Brasil). A pesquisa
nesta literatura cinzenta foi realizada com o termo “fear of
falling.
A segunda fase envolve a execução das pesquisas
específicas da base de dados em cada uma das bases de
dados bibliográficas e fontes de informação selecionadas e
relatado no protocolo.
A terceira fase envolve a inclusão de quaisquer estudos
adicionais relevantes nas listas de referências bibliográficas
de todos os estudos selecionados para a revisão.
Seleção dos estudos
Todas as referências bibliográficas identificadas serão
agrupadas e geridas no software Rayyan Intelligent Systematic
Review, (Cambridge/Estados Unidos da América,
Doha/Qatar), e as duplicadas serão removidas.
Após a pesquisa, a seleção dos resultados relevantes iniciar-
se-á com a análise dos títulos e resumos por dois revisores
DOI:10.56732/pensarenf.v27i1.259
Artigo de revisão
independentes, com base nos critérios de inclusão para a
revisão já descritos anteriormente.
Posteriormente, o texto completo dos estudos selecionados
será avaliado em detalhe com base nos critérios de inclusão
por dois revisores independentes. Após a análise do texto
integral, os estudos que não atendam aos critérios de
inclusão serão excluídos. Os motivos de exclusão destes
estudos serão descritos num dos apêndices da scoping review.
Quaisquer divergências que surjam entre os revisores serão
resolvidas por meio de discussão e consenso ou com recurso
a um terceiro revisor.
Não será realizada a avaliação da qualidade metodológica
dos estudos incluídos por se tratar de uma scoping review.29
O processo de pesquisa será exposto na íntegra sob forma
narrativa e apresentado sob forma esquemática através de
um diagrama de fluxo conhecido como Preferred Reporting
Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA),
utilizando a extensão para scoping reviews denominada Preferred
Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses extension
for Scoping Reviews (PRISMA-ScR).30 Este diagrama
demonstra, de forma detalhada, como a pesquisa foi
realizada, a seleção dos resultados utilizados atendendo aos
critérios de inclusão e a eliminação de duplicados.27
Extração de dados
A extração de dados dos artigos incluídos será realizada por
dois revisores independentes, com o apoio de um terceiro
revisor para resolver alguma divergência.
Irá ser utilizado um instrumento que considera detalhes
específicos sobre a população, o conceito, o contexto e os
métodos de investigação relevantes para a questão e o
objetivo declarado desta scoping review, como indicado pela
metodologia desenvolvida pelo JBI (Quadro 2).
Quadro 2 - Instrumento de extração de dados
Detalhes da
Scoping Review
Título da revisão:
Medo de cair na pessoa idosa em meio hospitalar: uma scoping review
Objetivo da revisão:
Mapear a evidência científica disponível relativa ao medo de cair na pessoa idosa em
meio hospitalar.
Questão de revisão:
Qual a evidência publicada sobre o medo de cair na pessoa idosa em meio hospitalar?
Critérios de Inclusão
Participantes
Os estudos que incluam como participantes pessoas idosas com idade de 65 ou mais
anos.
Conceito
Os estudos que exploram o medo de cair.
Contexto
Os estudos desenvolvidos em meio hospitalar, especificamente hospitais,
independentemente do tipo de estabelecimento, de ser público ou privado, geral ou
especializado, urbano ou rural, de ensino ou não, e certificado ou não.
Tipos de fontes
Estudos quantitativos, qualitativos ou mistos. Revisões sistemáticas e literatura
cinzenta.
Detalhes e Características dos Estudos
Título do artigo
Revista (volume, edição, páginas)
Ano de publicação
Autor(es)
País
Contexto
Participantes
Metodologia utilizada para a colheita e análise de dados
Resultados encontrados
Medo de cair na pessoa idosa em meio hospitalar
Fatores relacionados/etiológicos inerentes ao medo de cair na
pessoa idosa
Indicadores clínicos/Características definidoras do medo de cair
na pessoa idosa
Instrumentos que avaliam o medo de cair na pessoa idosa em
contexto hospitalar
Recomendações/Sugestões de Investigação
Referências bibliográficas relevantes
De forma aos investigadores se familiarizem com o
instrumento de extração de dados, será realizado um teste
piloto com os primeiros cinco artigos. Caso seja necessário,
o instrumento de extração de dados poderá sofrer alterações
Artigo de revisão
pertinentes, de acordo com as conclusões do teste piloto e
das necessidades emergentes da análise dos artigos elegíveis.
Análise e Apresentação de dados
A organização e síntese da informação recolhida será
realizada com o recurso a tabelas e quadros que facilitem a
interpretação do leitor. Desta forma, os dados recolhidos
serão apresentados em forma esquemática através de uma
tabela e acompanhados de quadros resumo descritivo dos
artigos incluídos na scoping review. As conclusões dos estudos
selecionados serão descritas através de um resumo
narrativo.
Posteriormente, proceder-se-á à categorização dos
resultados encontrados de acordo com a sua similaridade,
estando em sintonia com o objetivo e questões de revisão
que foram propostas neste protocolo.
Em suma, a apresentação dos dados permitirá identificar,
caracterizar e sintetizar o conhecimento sobre o medo de
cair na pessoa idosa em meio hospitalar.
Contributos dos autores
RO: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Redação do manuscrito.
OR: Análise e interpretação dos dados; Redação do
manuscrito.
JC: Revisão crítica do manuscrito.
DC: Revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interesses
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelas autoras.
Referências
1. World Health Organization. UN Decade of Healthy
Ageing: plan of action. 2020 [cited 2023 Jan 3]; Available
from: https://www.who.int/initiatives/decade-of-healthy-
ageing
2. Instituto Nacional de Estatística IP. Censos 2021
resultados definitivos: Portugal. [Internet]. Lisboa: INE;
2022 [cited 2023 Jan 6]. Available from: www.ine.pt
3. World Health Organization. World report on ageing and
health. [Internet]. Geneve: World Health Organization;
2015 [cited 2023 Jan 6]. Available from:
https://apps.who.int/iris/handle/10665/186463
4. Alves Junior ED. Envelhecimento e vida saudável. Rio de
Janeiro: Apicuri; 2009.
5. World Health Organization. WHO global report on falls
prevention in older age [Internet]. Geneve: World Health
Organization; 2007. Available from:
https://www.who.int/publications/i/item/978924156353
6. World Health Organization. Step safely: strategies for
preventing and managing falls across the life-course
[Internet]. Geneve: World Health Organization; 2021.
Available from:
https://www.who.int/publications/i/item/978924002191-
7. International Council of Nurses. ICNP Browser
[Internet]. 2019 [cited 2023 Jan 10]. Available from:
https://www.icn.ch/what-we-do/projects/ehealth/icnp--
browser
8. Salari N, Darvishi N, Ahmadipanah M, Shohaimi S,
Mohammadi M. Global prevalence of falls in the older
adults: a comprehensive systematic review and meta-
analysis. J Orthop Surg Res [Internet]. 2022 Jun
28;17(1):334. Available from: https://doi.org/
10.1186/s13018-022-03222-1
9. Kramarow E, Chen LH, Hedegaard H, Warner M. Deaths
from unintentional injury among adults aged 65 and over:
United States, 2000-2013. NCHS Data Brief, 199. [Internet]
2015. Available from:
https://www.cdc.gov/nchs/data/databriefs/db199.pdf
10. Callis N. Falls prevention: Identification of predictive
fall risk factors. Appl Nurs Res [Internet]. 2016; 29:538.
Available from:
https://doi.org/10.1016/j.apnr.2015.05.007
11. Sherrington C, Fairhall NJ, Wallbank GK, Tiedemann
A, Michaleff ZA, Howard K, et al. Exercise for preventing
falls in older people living in the community. Cochrane
Database Syst Rev. [Internet] 2019 Jan 31;1(1):CD012424.
Available from:
https://doi.org/10.1002/14651858.CD012424.pub2
12. Bhala RP, O’Donnell J, Thoppil E. Ptophobia: Phobic
fear of falling and its clinical management. Phys Ther.
[Internet]. 1982 Feb 1;62(2):18790. Available from:
https://doi.org/10.1093/ptj/62.2.187
13. Tinetti M, Powell L. Fear of falling and low self-efficacy:
a cause of dependence in elderly persons. J Gerontol.
[Internet]. 1993;48 Spec_issue:358. Available from:
https://doi.org/10.1093/geronj/48.special_issue.35
14. Schoene D, Heller C, Aung YN, Sieber CC, Kemmler
W, Freiberger E. A systematic review on the influence of
fear of falling on quality of life in older people: Is there a
role for falls? Clin Interv Aging [Internet]. 2019 Apr 24;
14:701-19. Available from: https//doi.org/
10.2147/CIA.S197857
15. Lee JH, Choi MK, Kim CO. Falls, a fear of falling and
related factors in older adults with complex chronic disease.
J Clin Nurs. [Internet]. 2017 Dec 1;26(2324):496472.
Available from: https://doi.org/10.1111/jocn.13995
DOI:10.56732/pensarenf.v27i1.259
Artigo de revisão
16. Santos EPR, Ohara DG, Patrizzi LJ, Walsh IAP, Silva
CFR, Silva Neto JR, et al. Investigating factors associated
with fear of falling in community-dwelling older adults
through structural equation modeling analysis: A cross-
sectional study. J Clin Med. [Internet]. 2023 Jan 9;12(2):545.
Available from: https://doi.org/10.3390/jcm12020545
17. 'DPDU +7 %LOLN g %DNVL $ $N\LO ú ([DPLQLQJ WKH
relationship between elderly patients’ fear of falling after
spinal surgery and pain, kinesiophobia, anxiety, depression
and the associated factors. Geriatr Nurs [Internet]. 2021 Sep
1;42(5):100611. Available from:
https://doi.org/10.1016/j.gerinurse.2021.06.010
18. MacKay S, Ebert P, Harbidge C, Hogan DB. Fear of
falling in older adults: A scoping review of recent literature.
Can Geriatr J [Internet]. 2021 Dec 1;24(4):379-94. Available
from: https://doi.org/10.5770/cgj.24.521
19. Silva KM, Azevedo RCS, Reiners AAO, Oliveira AD,
Silva AMC. Prevalência e fatores associados ao medo de cair
em idosos sem histórico de quedas. Rev Enf UFSM
[Internet]. 2021 Dec 22;11:e80. Available from:
https://doi.org/10.5902/2179769264533
20. Pena SB, Cristina H, Carvalho Q, Guimarães P, Lopes
JL, Guandalini LS, et al. Medo de cair e o risco de queda:
revisão sistemática e metanálise. Acta Paul Enferm.
[Internet]. 2019;32(4):45663. Available from:
https://doi.org/10.1590/1982-0194201900062
21. Visschedijk J, van Balen R, Hertogh C, Achterberg W.
Fear of falling in patients with hip fractures: Prevalence and
related psychological factors. J Am Med Dir Assoc.
[Internet]. 2013;14(3):21820. Available from:
https://doi.org/10.1016/j.jamda.2012.10.013
22. Boyd R, Stevens JA. Falls and fear of falling: Burden,
beliefs and behaviours. Age Ageing. [Internet]
2009;38(4):42328. Available from:
https://doi.org/10.1093/ageing/afp053
23. Dadgari A, Hojati H, Mirrezaie SM. The relationship
between the risk of falling and fear of falling among aged
hospitalized patients. Nurs Prac Today. [Internet]. Dec
1;7(1):307. Available from:
https://doi.org/10.18502/npt.v7i1.2297
24. Visschedijk J, Achterberg W, Van Balen R, Hertogh C.
Fear of falling after hip fracture: A systematic review of
measurement instruments, prevalence, interventions, and
related factors. J Am Geriatr Soc [Internet]. 2010;
58(9):173948. Available from:
https://doi.org/10.1111/j.1532-5415.2010.03036.x
25. Herdman TH, Kamitsuru S, Lopes CT. NANDA
International Nursing Diagnoses: Definitions and
classification 2021-2023. 12th ed. New York: Thieme
Medical Publishers; 2021.
26. Munn Z, Pollock D, Khalil H, Alexander L, McLnerney
P, Godfrey CM, et al. What are scoping reviews? Providing
a formal definition of scoping reviews as a type of evidence
synthesis. JBI Evid Synth [Internet]. 2022 April; 20(4):950
52. Available from: https://doi.org/10.11124/JBIES-21-
00483
27. Peters MDJ, Godfrey C, McInerney P, Munn Z, Tricco
AC, Khalil, H. Chapter 11: Scoping Reviews (2020 version).
In: Aromataris E, Munn Z (Editors). JBI Manual for
Evidence Synthesis, JBI, 2020. Available from
https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-12
28. OECD. Elderly population (indicator). [Internet]. 2023
[cited 2023 Jan 8]. Available from:
https://data.oecd.org/pop/elderly-population.htm
29. Peters MDJ, Godfrey C, McInerney P, Khalil H, Larsen
P, Marnie C, et al. Best practice guidance and reporting
items for the development of scoping review protocols. JBI
Evid Synth. [Internet]. 2022 Apr 9;20(4):95368. Available
from: https://doi.org/10.11124/JBIES-21-00242
30. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun
H, Levac D, et al. PRISMA extension for scoping reviews
(PRISMA-ScR): Checklist and explanation. Ann Internl
Med. [Internet]. 2018; 169:46773. Available from:
https://doi.org/10.7326/M18-0850
| 52
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / julho 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.214
Artigo de revisão
Como citar este artigo: Tavares A, Olivença L, Vilas Boas M. Cuidados de enfermagem na prevenção de
quebras de pele no idoso: revisão integrativa da literatura.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Jul; 27(1): 46-55
.
Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.214
Cuidados de enfermagem na prevenção de quebras
de pele no idoso: revisão integrativa da literatura
Resumo
Introdução
As quebras de pele, ou skin tears, são consideradas lesões de etiologia traumática que podem
resultar de uma variedade de forças mecânicas, como cisalhamento ou forças de atrito,
trauma contuso, quedas, manuseamento inadequado, lesão provocada por equipamento ou
remoção de pensos aderentes.
São feridas agudas que têm alta probabilidade de se tornarem feridas crónicas complexas.
Causam dor, aumentam os custos de saúde, reduzem a qualidade de vida dos utentes e são
fonte de stress para a pessoa. Prolongam o tempo de internamento e aumentam o risco de
morbilidade.
As quebras de pele são uma problemática crescente, tornando-se fulcral investir nesta
temática com o intuito de promover a sua prevenção e o tratamento adequado.
Objetivo
Identificar os cuidados de enfermagem e as estratégias na prevenção de quebras de pele no
idoso.
Métodos
Foi realizado um levantamento bibliográfico de publicações no motor de busca
EBSCOhost, que incorpora as bases de dados CINAHL Complete, MEDLINE Complete
e Cochrane Database of Systematic Reviews e na base de dados PubMed, realizado em junho
de 2022. Num total de 26 registos, foram devolvidos cinco satisfazendo os critérios de
inclusão. Os estudos incluídos (n=5) foram realizados entre os anos de 2012 e 2022.
Resultados
Na amostra dos artigos foi possível identificar os benefícios da aplicação bidiária de
produtos tópicos, cremes hidratantes e emolientes, e a relevância da administração oral
durante 8 semanas de um suplemento nutricional oral na hidratação do estrato córneo e na
elasticidade da pele, assim como, a imporncia da prevenção primária e a promoção da
educação para a saúde nos cuidados à pele do idoso.
Conclusão
Os cuidados preventivos para evitar quebras de pele no idoso centram-se na aplicação tópica
bidiária de cremes hidrantes e emolientes, nutrição (administração de suplementos
nutricionais orais com 10g de peptídeos de colagénio) e hidratação adequadas; acautelar
traumas cutâneos proporcionando um ambiente seguro com dispositivos adequados, e
através da promoção da educação para a saúde.
Palavras-chave
Quebras de Pele; Prevenção; Eficácia; Idosos, Cuidados de Saúde, Cuidados de
Enfermagem.
Ana Carina Tavares1
orcid.org/0000-0003-4328-0957
Luísa Olivença2
orcid.org/0000-0002-8762-9148
Marisa Vilas Boas3
orcid.org/0000-0001-6690-0018
1 ACES Amadora / UCC Amadora+, Amadora,
Portugal.
2 Hospital das Forças Armadas Pólo de Lisboa /
Serviço Medicina Subaquática e Hiperbárica, Lisboa,
Portugal; Diaverun Portugal, Sintra, Portugal.
3 Hospital das Forças Armadas Pólo de Lisboa /
Departamento Cirúrgico Ala A, Lisboa, Portugal
Autor de correspondência
Ana Carina Tavares
E-mail: anacarinatavares@gmail.com
Recebido: 17.11.2022
Aceite: 03.05.2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.214
Artigo de revisão
Introdução
O envelhecimento é caracterizado pelo declínio natural,
dinâmico e progressivo do qual ocorrem modificações
morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas,
aumentando assim a vulnerabilidade das pessoas idosas e a
uma maior ocorrência de processos patológicos.
Com o avanço da idade, segundo Papaléo,6 a pele tende a
tornar-se mais flácida e fina, havendo uma diminuição da
espessura da epiderme-derme, do tamanho dos
queratinócitos, da proliferação celular no estrato basal e das
alterações estruturais e arquitetónicas das fibras elásticas que
tornam o sistema de colagénio vulnerável às forças
mecânicas. Existe também um comprometimento
acentuado do metabolismo do colágeno, e
consequentemente, a pele torna-se menos elástica e mais
fina.
Para Oriá et al.,7 a função de barreira da pele também fica
alterada, ocorrendo diminuição da hidratação do estrato
córneo, comprometimento das glândulas sebáceas e
sudoríparas e diminuição do leito vascular com fragilidade
dos vasos sanguíneos. De acordo com LeBlanc et al.,8 estas
alterações fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento
levam ao aumento da ocorrência de quebras de pele e
consequentemente ao comprometimento da homeostasia
do corpo humano.
As quebras de pele, quebras cutâneas ou skin tears são
consideradas lesões de etiologia traumática que podem
resultar de uma variedade de forças mecânicas, como
cisalhamento ou forças de atrito, trauma contuso, quedas,
manuseamento inadequado, lesão provocada por
equipamentos ou remoção de pensos aderentes. Podem
ocorrer em qualquer região anatómica, mas são mais
frequentes nas extremidades, em particular nos membros
superiores, onde ocorrem 70 a 80% nas mãos e
antebraços.5,9,10
As quebras de pele são uma problemática com alguma
prevalência nos idosos e com um impacto negativo quer na
sua qualidade de vida, quer no aumento dos custos para a
pessoa e sistema de saúde. Por isso, é fulcral a abordagem
desta temática e analisar as evidências científicas, em estudos
nacionais e internacionais, sobre os cuidados de
enfermagem na prevenção em idosos.
Tendo em conta os diversos contextos profissionais das
revisoras, foi consensual que as quebras de pele são cada vez
mais prevalentes e transversais aos distintos serviços,
suscitando a necessidade de aprofundar conhecimentos e de
melhorar a qualidade dos cuidados de enfermagem
prestados, de forma a prevenir possíveis complicações.
Para a realização deste estudo tivemos como questão de
partida: “Quais os cuidados de enfermagem na prevenção
de quebras de pele no idoso?”, em que o objetivo geral é
avaliar o estado da arte relativamente à prevenção de
quebras de pele no idoso. Como objetivo específico temos:
Identificar os cuidados de enfermagem e as estratégias na
prevenção de quebras de pele no idoso. Esta revisão
integrativa é dividida em quatro partes: a metodologia, onde
é realizada uma descrição do método de elaboração da
pesquisa e apresentação do fluxograma do processo de
seleção dos artigos; os resultados da amostra organizados
pelo nome do artigo, ano, objetivo, amostra, tipo de estudo,
a metodologia utilizada e as principais conclusões; a
discussão dos principais resultados da revisão e as limitações
do estudo; a conclusão que engloba a interpretação geral dos
resultados, relevância para a prática clínica, implicações para
futuras investigações e pontos fortes e limitações da revisão.
Métodos
Segundo Soares et al.,11 uma revisão integrativa da literatura
é desenvolvida com a finalidade de reunir e sintetizar
resultados de estudos realizados, através de diferentes
metodologias, para o aprofundamento do conhecimento do
tema escolhido.
Partindo da questão de partida: “Quais os cuidados de
Enfermagem na prevenção de quebras de pele no idoso?”,
procedeu-se a uma pesquisa no motor de busca na
EBSCOhost integrando a base de dados CINAHL
Complete, MEDLINE Complete e Cochrane Database of
Systematic Reviews e na PubMed, por forma a identificar os
artigos no âmbito da temática, utilizando as palavras de
linguagem natural e termos indexados mediante os
elementos PEO descritos, empregando os operadores
booleanos “OR” e “ANDe uso de truncaturas (consoante
a tabela 1).
Artigo de revisão
Tabela 1 - Combinação OR e AND em todos os conceitos-chave identificados para a estratégia de pesquisa.
P - População AND E - Exposiçäo AND O - Resultados
Idosos com mais de 65 anos Prevenção de Quebras de Pele Cuidados de Enfermagem
Elderly
OR
"old man"
OR
"aged"
OR
"frail elderly"
OR
"Old people"
OR
"65 over"
OR
"older people"
Prevent*
OR
Effectiv*
'Skin tears"
OR
"skin laceration"
"nursing care"
OR
'nursing strategies"
OR
"nursing tasks"
OR
nursing procedures"
OR
'nursing guidelines"
OR
"nursing involvement"
OR
"nursing activities"
OR
"Nurses's Role"
OR
'Nursing"
OR
"nursing interventions"
OR
"nursing instructions"
OR
'nursing recommendations"
"Health care"
Foram considerados todos os artigos que abordassem a
questão de investigação, em texto completo disponíveis
online nas bases de dados utilizadas, de forma gratuita,
publicados entre os anos de 2012 e de 2022, escritos em
português, inglês e espanhol, por serem os idiomas
dominados pelas revisoras.
Definiu-se como critério de inclusão de pesquisa a faixa
etária: idosos (maiores de 65 anos) e sem contexto social, ou
seja, estavam englobadas pessoas em regime ambulatório ou
internadas em hospitais, centros de dia, unidades de
convalescença ou outras instituições de saúde.
Desta busca realizada nas bases de dados supramencionadas
em junho de 2022, obteve-se a soma de vinte e seis artigos,
entre os quais um era duplicado, doze foram excluídos pela
leitura do título, cinco rejeitados pela leitura do resumo e
três eliminados pela leitura do texto completo. O resultado
final foi a inclusão de cinco artigos para a realização da
revisão, após a sua leitura integral conforme explicitado na
figura 1.
AND
OR
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.214
Artigo de revisão
Figura 1 - Fluxograma do processo de seleção dos artigos após aplicação dos critérios de inclusão.
As etapas de pesquisa dos artigos obtidos foram realizadas
de forma independente pelas três revisoras, para apreciação
do cumprimento dos critérios de elegibilidade para a
presente revisão. Após esta primeira seleção foram extraídos
Artigo de revisão
os textos integrais (da potencial evidência relevante), e
avaliados detalhadamente com o intuito de detetar quaisquer
desvios dos critérios de inclusão.
Para a progressão de um artigo para a fase de leitura integral,
era necessário que pelo menos duas das três revisoras o
considerasse elegível para tal.
Resultados
Os resultados da amostra estão apresentados na tabela
abaixo, organizada pelo nome do artigo, ano, objetivo,
amostra, tipo de estudo, metodologia utilizada e as
principais conclusões referentes aos artigos finais que
foram englobados nesta revisão integrativa.
Tabela 2 – Resultados dos artigos finais englobados na revisão integrativa
Nome do
artigo
Objetivo Amostra
Tipo de
Estudo
Metodologia Principais conclusões
The effectiveness of a twice-daily skin-moisturising regimen for reducing the incidence of skin tears;
Carville K,
et al, 2014 4
Avaliar a
eficácia de
um regime
de
hidratação
padronizad
o, duas
vezes ao
dia, na
prevenção
de quebras
de pele em
utentes
internados
em
instituições
de saúde.
980 utentes
internados
em 14
instituições
de saúde da
Austrália
Ocidental
Ensaio clínico controlado randomizado de cluster
As instituições de idosos foram divididas em 7
pares, definidos quanto a número de camas e
prestação de alta ou baixa assistência clínica. Uma
unidade de saúde de cada par combinado foi
randomizada para o grupo de intervenção e a
outra para o grupo de controle.
No grupo de intervenção, os idosos receberam
uma aplicação duas vezes ao dia de um hidratante
padronizado de pH neutro e sem perfume, nas
extremidades do corpo, aplicado suavemente e de
cima para baixo. Os idosos das unidades de saúde
de controle não receberam nenhum regime
padronizado de hidratação da pele.
Para analisar os dados recolhidos ao longo de 6
meses foi utilizado o software aplicativo SPSS,
versão 19.
A aplicação de hidratante, duas vezes ao dia,
reduziu a incidência de quebras de pele em
quase 50% dos utentes que vivem nas
instituições de saúde.
A percentagem mais alta de quebras de pele
a nível das extremidades dos membros
inferiores verificou-se nas instituições de
baixa assistência clínica.
Os idosos mais dependentes apresentaram
quebras de pele a nível dos braços.
O principal fator que contribuiu para as
quebras de pele em ambos os grupos foi a
fragilidade da pele, relacionada com a idade.
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.214
Artigo de revisão
Skin tear prevention in elderly patients using twice-daily moisturiser; Finch K, et al, 2018 12
Testar a
eficácia da
aplicação
duas vezes
ao dia de
hidratante
nas
extremidade
s dos
utentes
idosos
hospitalizad
os, durante
12 meses
(janeiro a
dezembro
de 2013).
Incluídos 762
utentes
elegíveis no
grupo de
intervenção
e 415 utentes
no grupo de
controle
histórico
(mais de 65
anos)
Estudo de intervenção prospetivo
O estudo de intervenção prospetivo foi realizado
e comparado com os resultados dos controles
históricos (estudo realizado de julho a dezembro
em 2011, que envolveu 415 utentes, com duração
de 6 meses). Os utentes foram admitidos no
hospital privado de Brisbane (45 camas na
enfermaria de reabilitação e 30 na enfermaria
acute/subacute).
Aplicados os seguintes critérios de Exclusão:
utentes que não assinaram o consentimento; em
internamento diurno na enfermaria de
reabilitação; os inaptos pelo médico; e os que por
condições médicas não poderiam aplicar o creme.
Critérios de inclusão: idade do utente; sexo; ala
internamento; avaliação do risco de úlcera por
pressão (utilizando a Waterlow Scale); risco de
quedas do utente; estado cognitivo; características
da pele, como seca ou descorada; número de
lesões cutâneas; dia e horário de ocorrência do
skin tear; localização anatómica das lesões
cutâneas; a Classificação STAR Skin Tear; fatores
que podem ter contribuído para uma lesão
cutânea (avaliada por um membro da equipa após
discussão com o utente) e o local da enfermaria
onde ocorreu a lesão cutânea. Os utentes do
grupo de intervenção foram sujeitos à aplicação
bidiária de hidratante não perfumado com pH
neutro nos braços e pernas, enquanto os utentes
do grupo de controle não foram submetidos a
qualquer aplicação de creme.
As taxas mensais de incidência de lesões cutâneas
foram calculadas como número de lesões
cutâneas/dias de camas ocupadas e as estatísticas
foram realizadas com o IBM SPSS for Windows,
Versão 2.3.
A aplicação de creme hidratante não
perfumado e com pH neutro, duas vezes ao
dia reduziu as quebras de pele em quase
50%. Esta frequência auxilia na manutenção
da hidratação da pele e na sustentação e
reparação da função de barreira cutânea,
independentemente do estabelecimento de
cuidados de saúde.
Produz evidências para apoiar os benefícios
da aplicação duas vezes ao dia de creme
hidratante nas extremidades de utentes
idosos hospitalizados quando o objetivo é
reduzir a incidência de quebras de pele.
Esta intervenção de custo relativamente baixo
tem o potencial de reduzir os custos dos
cuidados de saúde e melhorar os resultados
dos cuidados.
Artigo de revisão
Effect of an Oral Nutrition Supplement Containing Collagen Peptides on Stratum Corneum Hydration and Skin Elasticity in
Hospitalized Older Adults: A Multicenter Open
-label Randomized Controlled Study; Nomoto T, Iizaka S., 2020 13
Investiga
r o efeito
da
administr
ação oral
de um
suplemen
to
nutricion
al
contendo
peptídeos
de
colagénio
na
hidrataçã
o do
estrato
córneo
39 utentes com
65 anos ou
mais
Estudo aberto e controlado randomizado
Um estudo multicêntrico, aberto e
controlado randomizado, foi
conduzido para determinar o efeito
da administração oral durante 8
semanas de um suplemento de
nutrição oral, contendo 10g de
peptídeos de colágeno, na hidratação
do estrato córneo e na elasticidade
da pele em 39 idosos internados em
enfermarias de reabilitação e
convalescença.
Comparação com os residentes do
grupo de controlo.
O IBM Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS) versão 19 foi usado
para analisar os dados.
Suplementos nutricionais orais que contêm peptídeos de
colágeno podem reduzir a vulnerabilidade da pele em
idosos e, assim, prevenir condições como as q
uebras de
pele.
Após 8 semanas, a hidratação do estrato córneo e a
elasticidade da pele foram significativamente maiores no
grupo de intervenção que consumiu suplementos
nutricionais orais do que no grupo de controlo que não
consumiu. Isso indica que os su
plementos nutricionais
orais contendo peptídeos de colágeno podem reduzir a
vulnerabilidade da pele dos idosos, ajudando a prevenir
problemas como quebras de pele.
Os mecanismos de tais melhorias são desconhecidos,
mas a ingestão dos peptídeos de colagénio contidos nos
suplementos nutricionais orais pode estimular o
crescimento de fibroblastos da pele e a síntese de ácido
hialurónico.
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.214
Artigo de revisão
Skin Tear in the Elderly; Spin M, e et al ; 2021 14
Identificar, na literatura
científica, o conheci-
mento produzido sobre
quebras de pele em
idosos.
Oito artigos,
selecionados,
agrupados em
categorias
qualitativas e
quantitativas e
categorizados
em temas, de
acordo com a
similaridade
das conclusões
dos estudos
analisados.
Revisão integrativa de literatura
Pesquisa realizada nas
plataformas/bases de
dados da
National Library
of Medicine, Biomedical
Answers Virtual Health
Library, com descritores e
operadores booleanos
“and” e “or entre os anos
2014-
2019, utilizando os
seguintes critérios de
inclusão: artigos
completos
disponibilizados
gratuitamente e na
íntegra em português,
inglês e/ou espanhol.
A questão de
investigação foi definida
com base na estratégia
PICO.
Os pacientes que apresentavam desnutrição, desidratação e
baixos níveis de albumina sérica estavam mais propensos ao
aparecimento de quebras de pele.
Atividades realizadas durante os cuidados diários podem reduzir
pela metade a incidência de quebras de pele, (uso de produtos
tópicos para a pele, como hidratantes hipoalergénicos à base de
ácido lático ou de ureia duas vezes ao dia).
Para o banho, o uso de sabonetes pode afetar as características
fisiológicas da pele e tor-la propensa ao aparecimento de
lesões. O uso de sabonetes alcalinos, antibacterianos ou
perfumados pode alterar o microclima da pele, por isso
recomenda-se substituí-los por sabonetes com pH neutro, uso de
água morna e diminuição da duração e periodicidade do banho (é
recomendado o banho a cada dois dias).
Para a prevenção de quebras de pele em idosos emergiram os
seguintes pilares do cuidado:
x manutenção da homeostase orgânica e tissular com foco
na nutrição e hidratação apropriada;
x evitar traumas na pe
le frágil, proporcionando um
ambiente seguro com dispositivos adequados;
x sistematização da assistência e educação em saúde do
cuidado com a pele do idoso.
x mecanismos de prevenção que englobam a realização da
prevenção primária por meio de um plano de cuidados
singular e as atividades de educação para a saúde, focadas
nos fatores de risco e nas vulnerabilidades, minimizando
danos e complicações.
Artigo de revisão
Preventing skin tears among older adults in the community; Palmer SJ, 2021 15
Prevenção de quebras
de pele no idoso na
comunidade -
orientações da Wounds
UK e Wounds
International de 2018.
Não aplicado
Opinião de especialista
Não aplicado
A prevenção das quebras de pele deve centrar-se nos fatores de risco
da pessoa portadora de quebras de pele.
A terapia emoliente promove a saúde geral da pele, e a aplicação
duas vezes ao dia reduz a incidência de quebras de pele em 50%.
O banho deve ser realizado com pro
dutos emolientes e com pH
neutro quando necessário. A frequência do banho deve ser
minimizada. A temperatura da água não deve ser muito quente para
não destruir a epiderme, tendo o cuidado de secar a pele do utente
(não esfregar), com o uso de panos macios e toalhas que não sejam
abrasivas para a pele.
O regime de prevenção de quebras de pele também deve envolver
elementos holísticos que considerem a saúde geral do utente, a
nutrição e a hidratação adequadas e a polimedicação.
Incentivar o utente acerca das medidas preventivas e saúde geral da
pele pode ser benéfico para que ele possa monitorizar a sua própria
pele relativamente a alterações cutâneas. Os utentes também podem
ser motivados a estar cientes dos potenciais riscos e atentos ao seu
ambiente, evitando, assim, autolesão na pele frágil.
Uma lista de verificação de autocuidado pode ser fornecida aos
utentes que são capazes de compreendê-la e usá-la, para que possam
monitorizar a sua própria saúde e bem-estar da pele.
O risco de trauma pode ser mitigado
com algumas considerações:
evitar atrito e cisalhamento, e realizar as técnicas suaves de
transferência dos utentes e recorrendo a equipamentos quando
necessário. Podem-
se almofadar os equipamentos com superfícies
pontiagudas e móveis, a fim de garantir um ambiente seguro, assim
como, usufruir de iluminação adequada e sem obstáculos.
A educação e a consciencialização são vitais, tanto para o utente
como para o profissional de saúde, para minimizar o risco de lesões
na pele.
Discussão
A discussão de resultados visa dispor a informação mais
relevante, atual e credível obtida pela leitura integral da
amostra, de forma a dar resposta à nossa questão de partida:
“Quais os cuidados de Enfermagem na prevenção de
quebras de pele no idoso?”
A amostra é composta por artigos de diferentes tipos de
estudos, nomeadamente: de intervenção prospetiva; ensaio
clínico controlado randomizado de cluster; estudo
multicêntrico, aberto e controlado randomizado; revisão
integrativa da literatura; e artigo de opinião de especialista.
Dos estudos finais: dois avaliaram os benefícios de aplicação
de produtos tópicos, cremes hidratantes e emolientes; outro
sobre o efeito da administração oral de um suplemento
nutricional durante 8 semanas na hidratação do estrato
córneo e na elasticidade da pele; a revisão integrativa
identificou na literatura científica o conhecimento
produzido sobre a prevenção das quebras de pele no idoso;
e por fim um artigo de opinião de especialistas abordou a
prevenção de quebras de pele no idoso na comunidade.
Os estudos que avaliaram os benefícios do uso de
preparações tópicas demonstram que a incidência de
quebras de pele nos idosos diminuiu drasticamente,
independentemente do local de internamento.4,12 É
importante realçar que os estudos recorreram aos membros
superiores e membros inferiores para aplicação das
preparações tópicas, visto que, as quebras de pele são mais
propensas a ocorrerem nestes locais anatómicos.
O estudo de Finch et al.12 demonstrou que a aplicação de uso
hidratante duas vezes ao dia, numa amostra de 762 utentes,
reduziu as quebras de pele quase em 50%, destacando os
benefícios associados à aplicação deste, independentemente
da unidade de cuidados de saúde.
Carville et al.4 concluíram que numa amostra de 980 idosos
em 14 instituições residenciais na Austrália Ocidental,
durante seis meses, uma aplicação suave e de cima para
baixo, nos braços e pernas, duas vezes ao dia de um
hidratante padronizado, com pH neutro e sem perfume,
reduzia a incidência de quebras de pele em quase 50% dos
idosos. A percentagem mais alta de quebras de pele a nível
das extremidades dos membros inferiores verificou-se nas
instituições de baixa assistência de cuidados. Os idosos mais
dependentes apresentaram maior percentagem de quebras
de pele a nível dos braços.
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.214
Artigo de revisão
O uso de produtos tópicos para a pele, como hidratantes
hipoalergénicos à base de ácido lático ou ureia, duas vezes
ao dia, pode reduzir pela metade a incidência de lesões
cutâneas, e o uso de sabonetes alcalinos, antibacterianos ou
perfumados pode alterar o microclima da pele, por isso
recomenda-se substituí-los por sabonetes com pH neutro,
uso de água morna e diminuição da duração e periodicidade
do banho, (recomendado banho a cada dois dias), defendido
por Spin et al..14
Esta conclusão também é alcançada no artigo de Palmer,15
ao referir que a terapia emoliente promove a saúde geral da
pele e a aplicação bidiária reduz a incidência de quebras
cutâneas em 50%. A frequência do banho deve ser
minimizada e realizada somente quando necessário, com
uso de produtos emolientes e com pH neutro. A
temperatura da água não deve ser muito quente para não
destruir a epiderme, tendo o cuidado de secar a pele do
utente (não esfregar), com o uso de panos macios e toalhas
que não sejam abrasivos para a pele.
Segundo Palmer,15 a prevenção das quebras cutâneas deve
envolver elementos holísticos, que considerem a saúde geral
do utente, a nutrição e a hidratação adequadas.
Aconselhar o utente sobre quebras de pele e as medidas
preventivas pode ser benéfico para que os utentes possam
monitorizar alterações da sua própria pele e evitar autolesão
da pele frágil.
O risco de trauma potencial pode ser mitigado com algumas
considerações, tais como: evitar atrito e cisalhamento, boas
cnicas de manuseio manual, recorrendo a dispositivos
como guinchos e transferes; deve-se almofadar os
equipamentos e móveis; e garantir um ambiente seguro (por
exemplo, com iluminação adequada e sem obstáculos).
O estudo de Nomoto & Iizaka,13 conclui que a
administração de suplementos nutricionais orais contendo
peptídeos de colagénio durante 8 semanas podem reduzir a
vulnerabilidade da pele em idosos e, assim, prevenir as
quebras de pele. Os mecanismos de tais melhorias são
desconhecidos, mas a ingestão dos peptídeos de colagénio
contidos nos suplementos nutricionais orais podem
estimular o crescimento de fibroblastos da pele e a síntese
de ácido hialurónico.
Spin et al.,14 referem que os utentes que apresentam
desnutrição, desidratação, e baixos níveis de albumina sérica,
estão mais propensos ao aparecimento de lesões, pois o
índice de massa corporal contribui para o envelhecimento
precoce da pele.
Assim, e segundo Spin et al.,14 para a prevenção das quebras
de pele em idosos emergiram quatro pilares do cuidado:
x manutenção da homeostase orgânica e tissular com foco
na nutrição e hidratação apropriadas;
x evitar traumas na pele envelhecida, proporcionando um
ambiente seguro com dispositivos adequados;
x sistematização da assistência e educação para a saúde do
cuidado com a pele do idoso;
mecanismos de prevenção, que englobem um plano de
cuidados singular e atividades de educação para a saúde,
focadas nos fatores de risco e nas vulnerabilidades,
minimizando danos e complicações.
A educação e a conscientização são vitais tanto para o
utente, como para o profissional de saúde poder minimizar
o risco de lesões na pele.
Conclusão
A elaboração desta revisão integrativa da literatura permitiu-
nos obter algumas respostas à questão PEO inicialmente
proposta.
Com a análise dos artigos, que integraram a amostra,
concluímos que existe uma relação entre a aplicação tópica
de produtos de cuidados à pele, como cremes hidrantes e
emolientes, e a redução da prevalência de desenvolvimento
de quebras de pele, em cerca de 50%.
Apesar do estudo ter uma amostra pequena, demonstrou
que a administração de suplementos nutricionais orais com
10g de peptídeos de colagénio podem reduzir a
vulnerabilidade da pele dos idosos e, assim, prevenir as
quebras de pele.
A prevenção primária e a promão da educação para a
saúde nos cuidados à pele do idoso têm um papel crucial na
prevenção das quebras de pele nesta faixa etária. A visão
holística da pessoa portadora de quebra de pele, a promoção
dos cuidados da pele, a gestão dos cuidados de higiene, um
ambiente seguro e uma dieta equilibrada são fulcrais para a
prevenção de quebras de pele no idoso independentemente
de estar em contexto domiciliar ou em contexto
institucional.
Após a revisão sistemática da literatura foi percetível a
escassez de estudos para fundamentar os cuidados de
enfermagem na prevenção de quebras de pele no idoso.
Tendo em conta que as quebras de pele são dolorosas,
afetam a qualidade de vida da pessoa portadora da lesão e
dos cuidadores, podem ser um foco de infeção e provocam
encargos para a pessoa/família e para o sistema de saúde, é
imprescindível a realização de mais estudos sobre esta
problemática no futuro.
Este estudo, para as profissionais de saúde que o
elaboraram, foi enriquecedor na medida em que foram
obtidos conhecimentos sobre os benefícios da aplicação de
produtos de cuidados da pele como cremes hidratantes e
emolientes (principalmente com a sua aplicação duas vezes
ao dia), servindo de base para a elaboração de uma
orientação técnica nas suas instituições de saúde.
Como enfermeiros, temos responsabilidade de instruir as
famílias e cuidadores, bem como os técnicos operacionais
de saúde, para a prevenção das quebras de pele. Este estudo
servirá de fundamentação para a elaboração de futuras
formações em serviço sobre a temática, direcionadas aos
profissionais de saúde da equipa multidisciplinar e/ou os
cuidadores informais.
Com cuidados de baixo custo e de fácil aplicabilidade,
podemos reduzir a incidência de quebras de pele em cerca
de 50%, aumentar a qualidade de vida da pessoa, e diminuir
os encargos deste tipo de lesão tecidular ao sistema de saúde
e aos utentes/famílias.
Artigo de revisão
Contribuições autorais
ACCT: Elaboração do artigo, desde a recolha de dados,
analise e interpretação dos dados, redação do trabalho e
revisão do artigo.
LMSCO: Elaboração do artigo, desde a recolha de dados,
analise e interpretação dos dados, redação do trabalho e
revisão do artigo.
MIRVB: Elaboração do artigo, desde a recolha de dados,
analise e interpretação dos dados, redação do trabalho e
revisão do artigo.
Conflito de interesses
Não há conflito de interesses declarados pelas autoras.
Referências
1. Chang YY, Carville K, Tay AC. The prevalence of skin
tears in the acute care setting in Singapore. Int Wound J
[Internet]. 2016;13(5):97783. Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/iwj.12572
2. Munro EL, Hickling DF, Williams DM, Bell JJ.
Malnutrition is independently associated with skin tears in
hospital inpatient setting findings of a 6-year point
prevalence audit. Int Wound J. [Internet]. 2018;15(4):527
33. Available from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/iwj.12893
3. LeBlanc K, Campbell K., Beeckman D, et al. Best practice
recommendations for the prevention and management of
skin tears in aged skin: ISTAP best practice
recommendations [Internet]. London: Wounds
International; 2018. 21 p. Available from
https://www.woundsinternational.com/uploads/resources
/57c1a5cc8a4771a696b4c17b9e2ae6f1.pdf
4. Carville K, Leslie G, Osseiran-Moisson R, Newall N,
Lewin G. The effectiveness of a twice-daily skin-
moisturising regimen for reducing the incidence of skin
tears. Int Wound J. [Internet]. 2014;11(4):44653. Available
from:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/iwj.12326
5. Idensohn P, Beeckman D, Santos VLC de G, Langemo
D, Gloeckner M, Woo K, et al. Ten top tips: skin tears.
Wounds Int [Internet]. 2019;10 (2): 104. Available from:
https://www.woundsinternational.com/journals/issue/57
7/article-details/ten-top-tips-skin-tears
6. Netto MP; Borgonovi N Biologia e Teorias do
Envelhecimento. In Papaleo Neto. Gerontologia: a velhice
e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo:
Atheneu; 2002. p. 44-59.
7. Oriá RB, Ferreira FVA, Santana ÉN, Fernandes MR,
Brito GAC. Estudo das alterações relacionadas com a idade
na pele humana, utilizando métodos de histo-morfometria e
autofluorescência. An Bras Dermatol. [Internet].
2003;78(4):42534. Available from:
https://doi.org/10.1590/S0365-05962003000400004
8. LeBlanc K, Baranoski S. Skin tears: state of the science:
consensus statements for the prevention, prediction,
assessment, and treatment of skin tears©. Adv Skin Wound
Care. [Internet]. 2011;24(9 Suppl):215. Available from:
https://journals.lww.com/aswcjournal/Fulltext/2011/090
01/Skin_Tears__State_of_the_Science__Consensus.1.aspx
9. Hawk J SM. Prevalence of skin tears in elderly patients: a
retrospective chart review of incidence reports in 6 long-
term care facilities. Ostomy Wound Manag [Internet]. 2018;
64 (4): 306. Available from:
doi.org/10.25270/owm.2018.4.3036
10. Vernon T, Moore K, Vowden K, Vowden P. A safe first-
line approach to managing skin tears within an acute care
setting (part 2). Wounds UK [Internet]. 2019;15(3):5662.
Available from: https://www.wounds-
uk.com/journals/issue/581/article-details/safe-first-line-
approach-managing-skin-tears-within-acute-care-setting-
part-2
11. Soares CB, Hoga LAK, Peduzzi M, Sangaleti C,
Yonekura T, Silva DRAD. Revisão integrativa: conceitos e
todos utilizados na enfermagem. Rev Esc Enferm USP
[Internet]. 2014; 48(2):335-45. Available from:
https://www.scielo.br/j/reeusp/a/3ZZqKB9pVhmMtCn
svVW5Zhc/?format=pdf&lang=pt
12. Finch K, Osseiran-Moisson R, Carville K, Leslie G,
Dwyer M. Skin tear prevention in elderly patients using
twice-daily moisturiser. Wound Pract Res J [Internet].
2018;26(2):99109. https://journals.cambri Available from:
https://journals.cambridgemedia.com.au/application/files
/4015/8520/6574/finch.pdf
13. Nomoto T, Iizaka S. Effect of an Oral Nutrition
Supplement Containing Collagen Peptides on Stratum
Corneum Hydration and Skin Elasticity in Hospitalized
Older Adults: A Multicenter Open-label Randomized
Controlled Study. Adv Ski Wound Care [Internet].
2020;33(4):18691. Available from:
https://journals.lww.com/aswcjournal/Fulltext/2020/040
00/Effect_of_an_Oral_Nutrition_Supplement_Containing
.4.aspx
14. Spin M, Vocci MC, Sardeli KM, Serafim CTR, Velozo
BC, Popim RC, et al. Skin Tears in the Elderly. ESTIMA,
Brazilian J Enteros Ther [Internet]. 2021;19. Available
from:
https://www.revistaestima.com.br/estima/article/view/10
02/394
15. Palmer SJ. Preventing skin tears among older adults in
the community. Br J Community Nurs [Internet].
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.214
Artigo de revisão
2021;26(6):2869. Available from:
https://doi.org/10.12968/bjcn.2021.26.6.286
| 64
3HQVDU(QIHUPDJHPYQMXOKR
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Quantitativo
Como citar este artigo: Figueiredo S, Brites M, Sousa J. Capacitação da pessoa hipertensa e família para a
gestão da doença: uma intervenção de enfermagem comunitária.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Jul; 27(1):64-75
.
Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.258
Capacitação da pessoa hipertensa e família para a
gestão da doença: uma intervenção de enfermagem
comunitária
Introdução
A hipertensão arterial é uma doença crónica com elevada prevalência nacional, bem como,
é o principal fator de risco para a doença cérebro cardiovascular. Deste modo, a capacitação
para a gestão da doença é essencial para o controlo e evicção de complicações. Através da
determinação do nível de conhecimento da pessoa e família sobre a hipertensão, foi
possível estruturar a intervenção visando a promoção da autonomia para a tomada de
decisão consciente, adoção de estilos de vida saudáveis e participação ativa no seu projeto
de saúde.
Objetivo
Capacitar para a gestão da doea a pessoa hipertensa na faixa etária compreendida entre
os 45 e os 65 anos e família, inscritos numa Unidade de Saúde Familiar (USF) na área de
intervenção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS) Almada/Seixal.
Métodos
O estudo observacional transversal analítico, decorreu com base na metodologia de
Planeamento em Saúde, assente no referencial teórico de enfermagem do Modelo de
Autocuidado de Dorothea Orem. Para a realização do Diagstico de Situação foi
construído e aplicado um questionário para a obtenção da caracterização sociodemográfica
da amostra, identificação dos comportamentos para gestão da doença. A amostra foi
constituída através da técnica de amostragem intencional. Para a operacionalização foi
previamente obtido parecer favorável da comissão de ética para a saúde da Administração
Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) com a referência
5043/CES/INV2022.
Resultados
O diagnóstico de situação revelou défice de conhecimentos sobre a doença e sua gestão,
bem como, défice de autocuidado, o que compromete a qualidade de vida dos participantes.
Com a priorização dos problemas, foi selecionada a educação para a saúde enquanto
estratégia. Após a intervenção comunitária, 70% dos participantes avalia e regista os valores
de TA diariamente; 100% destes identifica corretamente os comportamentos de risco para
o agravamento da HTA; 63% dos participantes pratica atividade física regular; 87% dos
participantes refere ter reduzido a ingestão diária de sal; e, 100% dos familiares identificou
duas áreas em que o seu familiar necessita de maior suporte, sendo as mais frequentes, o
estímulo para a atividade física e restrição/substituição do sal na alimentação.
Conclusão
O presente projeto foi um importante contributo para a capacitão da pessoa hipertensa
e família para a gestão da doença, uma vez que, após o seu término verificou-se um aumento
de conhecimentos dos participantes, bem como, alterações comportamentais associadas a
estilos de vida saudáveis.
Palavras-chave
Capacitação; Gestão da Doença; Adesão Terapêutica; Hipertensão Arterial; Enfermeiro.
Soraia Nobre Figueiredo1
orcid.org/0000-0001-7857-6614
Maria Jorge Brites2
orcid.org/0000-0002-7650-0066
José Edmundo Sousa3
orcid.org/0000-0003-2136-4471
1 Mestrado. Serviço de Hemato-oncologia, Centro
Hospitalar e Universitário de Lisboa Central, Lisboa,
Portugal.
2 Mestrado. Unidade de Saúde Familiar Ponte, ACeS
Almada-Seixal, Almada, Portugal.
3 Doutoramento. Professor Doutor da Escola Superior
de Enfermagem de Lisboa, Professor Adjunto
Departamento de Saúde Comunitária, Lisboa,
Portugal.
Autor de correspondência
Soraia Nobre Figueiredo
E-mail: soraia.nobre87@gmail.com
Recebido: 07.02.2023
Aceite: 19.05.2023
Artigo Original Quantitativo
Introdução
A Hipertensão Arterial (HTA) afeta mil milhões de pessoas
em todo o mundo, sendo responsável por 7,6 milhões das
mortes prematuras a nível mundial. É o fator de risco mais
prevalente para as doenças cardiovasculares (DCV),
causando cerca de 14% do total de mortes a nível mundial,
e 143 milhões de anos de vida associados à incapacidade
[Disability Adjusted Life Years, (DALYs)]. 1,2 Em Portugal,
segundo os dados do Instituto Nacional de Saúde Doutor
Ricardo Jorge (INSA)3, decorrentes do Inquérito Nacional
com Exame Físico (INSEF)3, a prevalência nacional de
HTA é de 36%. Constitui-se como um problema de saúde
pública, dada a sua elevada prevalência na população adulta,
os baixos níveis de adesão terapêutica e frequentemente o
diagnóstico tardio.4
É uma doença crónica não transmissível, que consiste na
elevação mantida dos valores de pressão arterial sistólica
igual ou superior a 140mmhg e dos valores de pressão
diastólica igual ou superior a 90mmhg.5,6 A sua instalação é
progressiva, motivo pelo qual, inicialmente, os seus sinais e
sintomas não são percetíveis, contudo a sua elevação
contínua no tempo gera lesões nos vasos fragilizando-os,
podendo dar origem mais tarde a aneurismas, acidente
vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca (IC), enfarte
agudo do miocárdio (EAM), insuficiência renal, entre
outras.1 Os seus sintomas são inespecíficos e facilmente
associáveis a outras causas, levando a diagnósticos tardios.4
É classificada em três níveis de gravidade: (1) Grau 1 -
hipertensão arterial ligeira (140-159/90-99 mmHg); (2)
Grau 2 - hipertensão arterial moderada (160-179/100-119
mmHg); e (3) Grau 3 - hipertensão arterial grave (180/110
mmHg), quanto à etiologia é classificada como: HTA
essencial, primária ou idiopática, a mais frequente (causa
desconhecida); e HTA secundária, menos frequente, deriva
de uma patologia associada (potencialmente tratável ou
não), como, por exemplo, doença renal, síndrome de apneia
obstrutiva do sono; obesidade; entre outros.4,5,6 A HTA é
uma condição multifatorial, segundo a Sociedade
Portuguesa de Hipertensão (SPH)7 os fatores de risco para
o seu desenvolvimento são, essencialmente, fatores
genéticos não controláveis, relacionados com a etnia, idade,
história familiar; fatores comportamentais, vinculados aos
estilos de vida não saudáveis, passíveis de modificação; e
fatores socioeconómicos como o nível de escolaridade,
baixos rendimentos familiares e más condições
habitacionais. Quanto aos fatores de risco potencialmente
modificáveis, foram identificados pela World Health
Organization (WHO)1 o excesso de peso e/ou obesidade,
o tabagismo, o sedentarismo, o excesso do consumo de
bebidas alcoólicas, ingestão excessiva de alimentos ricos em
gorduras e sal. Em Portugal cerca de dois terços dos
hipertensos não sabem que o são, e dos que estão
diagnosticados apenas 11% têm a sua HTA controlada.3
Amorim et al.8 sugerem que a gestão da HTA deve ser na
sua maioria responsabilidade dos cuidados de saúde
primários, assim neste sentido, urgindo a necessidade de
identificação de estratégias eficazes para a gestão da doença,
prevenindo situações de incapacidade e redução da
qualidade de vida, que acarretam uma elevada expressão no
consumo de serviços de saúde, medicamentos e episódios
de internamento.1 As atuais normas da Direção-Geral da
Saúde (DGS)9 ditam que “a pessoa com HTA deve ter a
oportunidade de tomar decisões informadas sobre o seu
tratamento(p.14) e que para isso o tratamento deverá “ser
culturalmente adequado e acessível” 9(p.4), bem como deve
permitir aosfamiliares serem envolvidos nas decisões
sobre os cuidados ao doente e tratamento indicado”. 9(p.5)
Sendo fundamental envolver a pessoa e família no processo
terapêutico, regendo-nos pelo pressuposto que quanto
melhor informados estiverem sobre a doença, terapêutica e
estilos de vida saudáveis, maior será a autonomia na gestão
da doença, alcançando melhores resultados de saúde.4
Alinhando os pressupostos referidos com o Plano Nacional
de Saúde (PNS) 2021-2030 “a complexidade dos problemas
de saúde e os seus determinantes, e suas dinâmicas de
interpenetração e dependência exigem que passemos (...)
para abordagens multidimensionais”,10(p.36) este elege como
uma das estratégias de intervenção dirigidas aos
determinantes de saúde a “Educação para a (Auto)Gestão
da doença crónica”. 10(p.182)
No domínio da gestão da doença crónica (DC), a
intervenção diferenciada do Enfermeiro Especialista em
Enfermagem Comunitária (EEEC), visa a capacitação
sistematizada e coesa da pessoa e família para a gestão da
doença crónica.11 De forma a promover uma prática
baseada na evidência científica mais atual, tal como refere
Ferreira et al.12 é fundamental promover a adesão ao regime
terapêutico, principalmente no que diz respeito à atividade
física e aos cuidados dietéticos, devendo o EEEC atuar
nestes determinantes por forma a aumentar a eficácia da
gestão da HTA. Assim, e segundo os estudos consultados,
quanto às intervenções de enfermagem com maior eficácia
para a capacitação da pessoa hipertensa e família, destaca-
se o potencial da Educação para a Saúde (EpS) em grupo
ou individualmente, com enfoque na alteração de
comportamentos no quotidiano, o acompanhamento, a
promoção da literacia em saúde, o cuidado centrado na
pessoa e, o envolvimento familiar.
Objetivo
Capacitar para a gestão da doea a pessoa hipertensa na
faixa etária compreendida entre os 45 e os 65 anos e família,
inscritos numa Unidade de Saúde Familiar (USF) na área de
intervenção do Agrupamento de Centros de Saúde (ACeS)
Almada/Seixal.
Método
Realizou-se um estudo observacional transversal
analítico,13 desenvolvido segundo a metodologia de
Planeamento em Saúde (Tavares, 1990)14, alicerçado no
Modelo de Autocuidado de Orem (2001)15, visando a
predeterminação de um conjunto de ações para atingir os
resultados esperados.16,17 Planear, em saúde, “é um
processo contínuo de previsão de recursos e de serviços
Artigo Original Quantitativo
necessários, para atingir objetivos determinados segundo a
ordem de prioridades estabelecida, permitindo escolher a(s)
solucão(ões) ótima(s) em várias alternativas; essas escolhas
tomam em consideração os constrangimentos atuais ou
previsíveis no futuro”. 14(p.29) Consiste, então, num processo
contínuo de dinâmico, com várias etapas que preveem o
rigor metodológico.
A intervenção comunitária foi desenvolvida na área de
influência do ACeS A-S. A população desta área geográfica,
apresenta grande diversidade cultural, baixo nível de
escolaridade e a maior taxa de desemprego e de morbilidade
do ACeS A-S.17 Com uma taxa de analfabetismo de 5,21%
é a mais elevada a nível nacional. Apresenta uma taxa de
desemprego de 19%. 17(p.13) Segundo o PLS A-S17 quanto
aos grupos populacionais prioritários, “(...) a análise do
estado de saúde da população evidenciou o elevado risco
de morte prematura da população residente no concelho de
Almada, designadamente associada à doença isquémica
cardíaca(...)”.17(p.13) Sendo as doenças do aparelho
circulatório a causa mais frequente de morbilidade e
mortalidade proporcional em todas as idades e sexo dentro
da área de influência do ACeS.
A população do projeto são todos os indivíduos inscritos
na USF, definiu-se como populacão-alvo, os utentes
inscritos na USF com diagnóstico de HTA sem
complicações na faixa etária compreendida entre os 45 e 65
anos, inscritos na USF, o que se traduz num total de 113
pessoas. Como critérios de inclusão foram definidos:
população com diagnóstico de HTA sem complicações
(codificados com o código K86 do ICPC-2 no sistema
informático MedicineOne); na faixa etária suprarreferida; e,
que aceitaram participar voluntariamente no estudo. A
amostra foi constituída com recurso à técnica de
amostragem por conveniência ou intencional, composta
pelas pessoas com diagnóstico e faixa etária referidos, que
realizaram consulta de vigilância com o médico de família
e/ou consulta de enfermagem no período compreendido
entre 8 e 30 de junho de 2022, e destas, as que se
disponibilizaram e deram o seu consentimento informado
para participar na recolha de informação. Integrada por
trinta participantes. Foi construído e aplicado um
questionário, que se estrutura em tres partes: 1.ª parte -
caracterizacão sociodemográfica; 2.ª parte - situacão clínica
e estilo de vida e 3.ª parte - Escala de Medida de Adesão
Terapeutica (MAT).18 A escala é composta por sete
questões estruturadas de forma a se conseguir sintetizar os
bitos e crencas da adesão ao tratamento medicamentoso,
foi criada por Morisky, Green e Levine (1986) traduzida,
adaptada e validada para a população e cultura portuguesa,
por Delgado e Lima18, a quem foi solicitada e obtida a
autorização para a sua aplicação. Para garantir uma
intervenção eticamente sólida, foi solicitada a autorização
para a realização do projeto à Coordenadora da USF e ao
Ex.mo Sr. Diretor do ACeS Almada/Seixal, tendo sido
concedida. Obteve parecer favorável (5043/CES/2022), da
Comissão de Ética para a Saúde (CES) da Administração
Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT).
Após o parecer favorável da CES ARSLVT, informaram-
se os participantes sobre a metodologia, finalidade e os
objetivos do projeto, e foram aplicados os questionários a
todos os participantes da amostra, assegurando que os
mesmos preencheram e assinaram o consentimento
informado. Assegurando que entenderam os riscos e os
benefícios da sua participação, os seus direitos, incluindo o
de não participar ou de abandonar a participação a qualquer
momento sem qualquer prejuízo. Foi entregue a cada
participante o duplicado do consentimento informado. Os
questionários foram autopreenchidos, à exceção das
situações em que os participantes necessitaram de auxílio
para o seu preenchimento, por analfabetismo e/ou
alterações de visão, sendo substituídos nesta tarefa por um
dos investigadores do projeto. Contudo, visando a
minimização do enviesamento dos dados, os questionários
foram preenchidos no início da consulta de enfermagem,
sendo que os que foram preenchidos com auxílio, foram
lidas as perguntas conforme redigidas no questionário. Os
dados colhidos, foram codificados, assegurando o
anonimato e confidencialidade.
O material empírico, proveniente da aplicação do
instrumento de colheita de dados, foi tratado com recurso
à análise de estatística descritiva, através do software SPSS
Statistical Package for the Social Sciences (versão 28.0.0.0).
Resultados
Os participantes têm uma média de idades de 56,27 (DP=
6,38) anos, 47% dos participantes são do sexo masculino.
Relativamente à constituição do agregado familiar da
amostra, 34% dos inquiridos habitam em família do tipo
díade nuclear após a saída dos filhos, 23% em família
nuclear com cônjuge e filhos, 13% família monoparental e
30% refere viver sozinho, sendo o motivo mais frequente,
o falecimento do cônjuge. Foi questionado se no agregado
familiar existe mais algum elemento com HTA, 47%
respondeu que sim, referindo ser o cônjuge, 60% dos
participantes encontram-se profissionalmente ativos, em
diferentes áreas profissionais. No referente à vigilância dos
valores de Tensão Arterial (TA) 66% dos inquiridos apenas
avalia em consulta semestral na USF. No que concerne à
prática exercício físico, 87% dos participantes revelam
elevados níveis de inatividade física e sedentarismo. Foi
questionado se após o diagnóstico de HTA alteraram os
seus hábitos de vida, 73% refere não ter alterado, e os 27%
que responderam afirmativamente, e quais os hábitos
alterados, tendo estes, respondido a redução de sal na
alimentação, o especificando qual a quantidade de sal
ingerida anteriormente, nem a atual redução, o questionário
não nos permite quantificar o número de gramas ingerido
por dia. Sobre as medidas de controlo que utiliza no
quotidiano, 80% dos participantes referem apenas cumprir
a medicação prescrita sem associar outras medidas de
controlo. Quanto à restrição de sal na sua dieta diária, 53%
refere não restringir. Sobre o apoio familiar para a
implementação das medidas para controlo da sua HTA,
70% refere não ter apoio do seu agregado familiar. Na sua
maioria os participantes não consideram a mudança de
hábitos de vida como um benefício no controlo da HTA.
Foi também aplicada a escala de MAT18 para identificação
Artigo Original Quantitativo
do comportamento de adesão medicamentosa, uma vez
que, 80% refere apenas cumprir a medicação como medida
de gestão da HTA. Tendo como referência a indicação dos
autores, 39% dos participantes não reúnem a totalidade dos
critérios de adesão ao tratamento. Foram analisadas
isoladamente as respostas às questões que compõem a
escala, e enumeradas as fragilidades nos critérios de adesão,
sendo estes: o esquecimento da toma, o atraso no horário
da toma, abandono do tratamento por sentir melhorias e
abandono por término da medicação. Em média, os
participantes do estudo apresentaram excesso de peso,
sendo a média de peso de 75,46 kg, relativamente aos
antecedentes pessoais, 60,0% Diabetes Mellitus não
insulino dependente e 80% dos participantes sofrem de
dislipidemia.
Após o levantamento dos problemas e consequentes
necessidades, foram elaborados os diagnósticos de
enfermagem segundo a Classificação Internacional para a
Prática de Enfermagem (CIPE)19: (1) vigilância de saúde
[sobre a HTA] comprometido; (2) conhecimento sobre
regime de exercício físico comprometido; (3)
conhecimento sobre o regime dietético comprometido; (4)
conhecimento sobre o processo de mudança de
comportamentos comprometido; (5) conhecimento [sobre
a HTA] comprometido; (6) conhecimento da família sobre
a doença comprometido; (7) adesão ao regime terapêutico
comprometida; (8) autocuidado comprometido; (9)
capacidade da família para gerir o regime comprometida;
(10) risco de função cardiovascular prejudicada. Definindo,
assim, o ponto de partida sobre o qual será avaliado o
benefício da intervenção.14 A priorização das necessidades
reais de saúde foi realizada com o suporte dos peritos,
segundo o Método de Hanlon. O método foi aplicado de
forma adaptada à amostra, considerando os critérios
enunciados por Tavares14: (1) Amplitude/Magnitude do
Problema; (2) Gravidade; (3) Eficácia da Solução e (4)
Exequibilidade do Projeto classificada com o acrónimo
PEARL (P- Pertinência, Exequibilidade Económica,
Aceitação da Comunidade, Recursos e Legalidade).
Segundo os resultados obtidos, o objetivo e o limite
temporal do projeto, intervimos nos problemas que
obtiveram maior pontuação, nomeadamente, vigilância de
saúde comprometido; conhecimentos da família sobre a
doença comprometido; autocuidado comprometido;
conhecimento [sobre a HTA] comprometido;
conhecimento sobre o processo de mudança de
comportamentos comprometido; conhecimento sobre o
regime de exercício comprometido; e conhecimento sobre
o regime dietético comprometido. Prosseguimos com a
fixação de objetivos, formulando o objetivo geral
Capacitar para a gestão da doença a pessoa hipertensa e
família, inscritos na USF, de outubro de 2022 a janeiro de
2023 e os objetivos específicos para população-alvo no
mesmo período temporal: (1) capacitar a pessoa hipertensa
e família para a importância da vigilância em saúde; (2)
capacitar a pessoa hipertensa e família para a gestão do
regime de exercício; (3) capacitar a pessoa hipertensa e
família para a gestão do regime dietético; (4) capacitar a
pessoa hipertensa e família para a identificação de fatores
de risco; (5) capacitar a pessoa e família sobre os ganhos em
saúde da alteração de comportamentos no controlo da
HTA; e, (6) envolver a família no processo de gestão da
doença do familiar hipertenso. No que concerne à seleção
de estratégias, foi fundamental repensar o conceito de
gestão da DC. Segundo WHO20, os custos imputáveis à DC
para os sistemas de saúde mundialmente equivalem a 60%-
80% das despesas totais, revelando a sobrecarga e
problemas de sustentabilidade financeira para os sistemas
de saúde. Em Portugal, segundo os dados do INSA3, cerca
de 43,9% da população portuguesa sofre de DC. Factos que
destacam a importância de implementação de estratégias
promotoras da gestão da DC, enquanto garante de ganhos
evidentes em saúde com repercussões positivas a nível dos
custos em saúde e qualidade de vida.20 Por definição, o
conceito de gestão da DC, consiste num sistema
coordenado de intervenções direcionadas ao indivíduo,
grupo ou população, através da implementação de
estratégias e/ou criação de programas que integrem as
normas e guidelines mais recentes, para a promoção da
autonomia para o autocuidado da pessoa com DC.21
Considerando que, a intervenção comunitária desenvolvida
corresponde ao nível da prevenção secundária, visando
capacitar a pessoa e família, para a tomada de decisão
autónoma, aumentando a sua motivação para alterar
comportamentos e promover a capacidade para a gestão da
doença, conciliamos um conjunto de estratégias
promotoras de saúde, como a educação para a saúde,
envolvimento da pessoa e família e
acompanhamento. Neste processo foram acauteladas as
possíveis barreiras à aprendizagem existentes e assim
implementadas estratégias facilitadoras da aprendizagem e
de motivação e incentivo à participação dos indivíduos e
família. As atividades desenvolvidas permitiram a
consecução dos objetivos definidos, e tiveram como
objetivo proporcionar um acompanhamento adequado aos
participantes, criando um ambiente promotor da aceitação
da DC, motivando-os para a aquisição de conhecimentos,
mudança de comportamentos e gestão da doença. Como
métodos recorremos à discussão em grupo, analogias,
preleção, demonstração e prática, perguntas e respostas. As
sessões em grupo constituíram uma oportunidade de
estímulo dos participantes para a identificação de
estratégias, partilha de experiências e identificação.
Procedemos também ao acompanhamento de forma
individualizada à pessoa e família em contexto de consulta
de enfermagem e visitação domiciliária dos participantes
que revelaram algum grau de
dependência segundo a escala de Barthel avaliada em
Sclinic®, com recurso ao modelo de avaliação familiar de
Figueiredo22, mais especificamente no domínio funcional
(papel do cuidador). As atividades englobaram, uma
caminhada, jogos lúdicos- pedagógicos, exibição de vídeos,
treino da autoavaliação da TA, e a informação transmitida
foi compilada e distribuída em formato de folhetos
informativos. Para avaliar os objetivos, atividades e
indicadores da intervenção comunitária, foram
considerados os conhecimentos obtidos pelos participantes
Artigo Original Quantitativo
referentes às temáticas abordadas, coadunando-se aos
objetivos e indicadores de resultado definidos. Através da
ponderação: das respostas dos participantes após término
de processo educativo individual em consulta de
enfermagem de HTA; respostas aos questionários
aplicados após término das sessões de EpS; e por fim, após
o término de todas as atividades, foi aplicado um
questionário final composto por algumas questões
extraídas do instrumento de colheita de dados e questões
que pretendem aferir a aquisição de conhecimentos e a
possível alteração de comportamentos para a gestão da
doença. A sua análise e comparação com valores obtidos na
fase de DS permite inferir que todos os objetivos foram
atingidos conforme representado no quadro 1. Quanto às
alterações obtidas com a intervenção, analisamos com
recurso à estatística descritiva, os dados obtidos com o
questionário final, que apresentamos nos quadros 2,3,4,5 e
6.
Quadro 1Avaliação do indicador de resultado, referente aos objetivos operacionais definidos
Objetivo: 30% dos participantes avalia-se e regista-se os seus valores tensionais
Indicador de Resultado
Valor obtido
% de participantes que avalia e regista valores tensionais regularmente
70%
Objetivo: 70% dos participantes e seus familiares que estiveram presentes nas atividades identificassem os
comportamentos de risco
Indicador de Resultado
Valor obtido
% de participantes que identificou comportamentos de risco apos CE.
100%
Objetivo: 50% dos participantes que estiveram presentes nas atividades identificassem a importância de praticar
30 minutos seguidos de atividade física diária ou pelo menos em três dias da semana
Indicador de Resultado
Valor obtido
% de participantes que considera importante realizar atividade física regular
100%
Objetivo: 50% dos participantes que estiveram presentes nas atividades restringissem a ingestão de sal na sua
alimentação diária
Indicador de Resultado
Valor obtido
% de participantes que restringe a ingestão de sal
87%
Objetivo: 70% dos participantes que estiveram presentes nas atividades identificassem as opções para a
substituição do sal na alimentação diária.
Indicador de Resultado
Valor obtido
% de participantes que identifica corretamente opções de substituição de sal na
alimentação, através do questionário de avaliação da 2º EpS “controle o seu coração,
reduza o sal na alimentação”
100%
Foram também analisados os dados referentes à
alteração de comportamentos, que apresentamos
em quadro, contrastando os dados iniciais e os
obtidos com a intervenção.
3HQVDU(QIHUPDJHPYQMXOKR| 69
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Quantitativo
Quadro 2Comparação da variável frequência de avaliação e registo da TA no 1º momento e 2º momento
Com que frequência avalia e
regista a sua Tensão Arterial?
1º Momento (Julho 2022)
Diagnóstico de situação
f=30
2º Momento (Janeiro 2023)
Avaliação final
f= 30
f
%
f
%
Sempre
0
0%
21
70%
Quase sempre
0
0%
9
30%
Quadro 3Comparação da variável medidas de controlo da HTA no 1º momento e 2º momento
Que tipo de medidas toma para
controlar a HTA
1º Momento (Julho 2022)
Diagnóstico de situação
f=30
2º Momento (Janeiro 2023)
Avaliação final
f= 30
f
%
f
%
Apenas medicação
24
80%
0
0%
Diminuição da ingestão de
gorduras
1
3%
7
23%
Medicação e redução da
ingestão de sal
5
17%
23
77%
Quadro 4Comparação da variável prática de atividade física no 1º momento e 2º momento
Pratica atividade física
1º Momento (Julho 2022)
Diagnóstico de situação
f=30
2º Momento (Janeiro 2023)
Avaliação final
f= 30
f
%
f
%
Sim
4
13%
19
63%
Não
26
87%
11
37%
Quadro 5Comparação da variável restrição de sal na alimentação no 1º momento e 2º momento
Restrição de sal na alimentação
1º Momento (Julho 2022)
Diagnóstico de situação
f=30
2º Momento (Janeiro 2023)
Avaliação final
f= 30
f
%
f
%
Sim
14
47%
26
87%
Não
16
53%
4
13%
Artigo Original Quantitativo
Quadro 6Comparação do variável apoio familiar no 1º momento e 2º momento
Apoio familiar para seguir as
recomendações de controlo da
HTA
1º Momento (Julho 2022)
Diagnóstico de situação
f=30
Momento (Janeiro 2023)
Avaliação final
f= 30
f
%
f
%
Sim
9
30%
24
80%
Não
21
70%
6
20%
Após análise e avaliação, todos os objetivos foram
atingidos, bem como, os valores pré-estabelecidos,
relativamente aos indicadores de processo e de atividade.
Os resultados refletem a aquisição de conhecimentos por
parte dos participantes, bem como, a aquisição de
competências promotoras da alteração dos
comportamentos, adotando estilos de vida mais saudáveis.
Discussão
O aumento da DC a nível mundial, é um fenómeno
multifatorial, contudo relaciona-se essencialmente com os
estilos de vida e os padrões de consumo da sociedade
atual. Aproximadamente metade das pessoas portadoras
de DC desenvolve comorbilidades associadas à
dificuldade de gestão da doença.1,23 Facto que remete para
a importância da adoção de estratégias de promoção de
saúde numa abordagem promotora da gestão da doença.
A HTA é uma DC com elevada prevalência nacional 3,25,
associada à não adesão ao regime terapêutico.1,25,26, Os
comportamentos e estilos de vida inadequados são
geradores de comorbilidades que levam à perda de
qualidade de vida e elevado impacto ecomico, social e
familiar, bem como o aumento de mortes
prematuras.27,28,30 Emergindo assim, a fulcral importância
do EEEC no processo de capacitação da pessoa e família
para o desenvolvimento de competências que facilitem a
tomada de decisão e implementação de comportamentos
de autocuidado, tal como refere Silva et al.29
Na intervenção comunitária desenvolvida as principais
necessidades identificadas na etapa de DS corroboram o
verificado em outros estudos desenvolvidos em
Portugal30,31,32,33, onde se salientam, a necessidade de
promover intervenções de enfermagem para a orientação,
aquisição de conhecimentos, desenvolvimento de
competências e instrumentação no autocuidado. Assim,
segundo os objetivos definidos, foi utilizada como
estratégia a EpS, visando a capacitação para a gestão da
doença da pessoa hipertensa e família. Conforme referido
por Oliveira et al.,35 no seu estudo, a EpS enquanto
estratégia promotora da adesão a estilos de vida saudáveis
para controlo e gestão da HTA é a estratégia com maior
eficácia, no que concerne às alterações dos estilos de vida,
tendo encontrado uma mudança significativa
relativamente ao consumo de sal, prática de atividade
física, e no controlo dos valores tensionais. O mesmo é
reafirmado por Gama et al.36 na revisão bibliográfica,
onde se destaca a EpS como intervenção com maior
eficácia para o aumento dos níveis de conhecimentos,
adesão às recomendações e estilos de vida saudáveis da
pessoa hipertensa.
Assim, relativamente à amostra, a variável sexo, merece
uma especial atenção, pois apesar de não se verificar
diferenças significativas de prevalência entre sexos dentro
da amostra, existem comportamentos de autocuidado
distintos, sendo os participantes do sexo feminino mais
participativos nas atividades desenvolvidas, facto que
relacionamos com a diferente perceção da sua condição
de saúde, maior procura dos serviços de saúde, bem
como, maior cumprimento das recomendações dos
profissionais de saúde, conforme verificado no estudo
desenvolvido por Motter et al.37
Quanto ao nível de escolaridade, maioritariamente os
participantes apresentam baixos níveis de escolaridade, tal
como, no estudo realizado por Ribeiro32, corroborando
os dados expressos no INSEF3, onde se verifica uma
maior prevalência de HTA nos indivíduos com menor
grau de escolaridade. Relativamente à fase de DS aferiu-
se uma má vigilância dos valores de Tensão Arterial (TA),
a maioria dos participantes apenas avaliava a tensão em
contexto de consulta na USF ou pontualmente na
farmácia quando sintomatologia associada (tonturas,
cefaleias ou zumbidos), revelando os diminutos
conhecimentos sobre a doença, bem como competências
para a vigilância e avaliação de TA no domicílio. Estudos
recentes destacam a importância da monitorização da TA
na gestão da doença.27,30,36 Um elevado índice de
sedentarismo e inatividade física, com 87% dos
participantes a não praticar atividade física regular, valor
superior aos valores descritos no Relatório sobre o ponto
de situação global da atividade física33, 27,5% dos adultos
o cumprem os níveis de atividade física recomendados
pela OMS.34 Relativamente à restrição de sal na sua dieta
diária, 53% refere não restringir, valor coincidente com
estudos nacionais, tal como no programa prioritário para
a alimentação saudável.39,41,25
No que concerne à alteração dos hábitos de vida após o
diagnóstico de HTA, a maioria dos participantes não
procedeu a nenhuma alteração, facto similar os resultados
de estudos recentes, onde os participantes previamente à
intervenção não tinham autonomamente na sequência do
Artigo Original Quantitativo
diagnóstico alterado hábitos de vida35,40, o que
relacionamos com o défice de conhecimentos sobre a
doença, curso e gestão da mesma. Relativamente às
medidas de controlo que utiliza no quotidiano para a
gestão da HTA, à data do DS a maioria dos participantes
apenas cumpria a medicação prescrita pelo médico, não
aderindo às medidas não farmacológicas de controlo da
HTA25, dados coincidentes com o estudo de Ferreira et
al.12; Pereira38; Dantas et al.44, onde a taxa de adesão às
medidas de controlo varia entre os 16,9% e os 49,8%.
Quanto ao apoio do agregado familiar para a
implementação das medidas para controlo da sua HTA,
70% dos participantes nega ter apoio familiar para o
controlo da HTA, revelando o não envolvimento da
família no processo de gestão da doença. Destacando
assim, mais uma vez a necessidade de promover a adesão
ao regime terapêutico, incrementando a qualidade dos
cuidados prestados à pessoa e à família, e assim
consequentemente os ganhos em saúde.32,44,46,46
Os resultados obtidos após a intervenção revelam o
sucesso na consecução dos objetivos definidos,
corroborando a evidência científica consultada, que
destaca a EpS como recurso fundamental na intervenção
terapêutica do enfermeiro, para o aumento de
conhecimentos e alteração de
comportamentos.36,38,42,43,44,45
A implementação do processo educacional, em contexto
de consulta de enfermagem, sessões de EpS em grupo e
visitas domiciliárias revelaram um elevado potencial na
aquisição de conhecimentos e consequente motivação
para a alteração de comportamentos.30 Tendo sido
possível promover o estreitamento do vínculo entre o
profissional de saúde, a pessoa e família, fomentando o
desenvolvimento de processos educacionais direcionados
à pessoa e às especificidades de cada família, que enquanto
suporte social da pessoa hipertensa, são cruciais para a
implementação e manutenção de hábitos
saudáveis.29,30,43,45
Na USF onde decorreu a intervenção comunitária, não
existe implementada uma consulta de enfermagem de
HTA (CEHTA), assim foi elaborado e aplicado em
consulta de enfermagem o guião de boas práticas para a
CEHTA, que integra protocolos e guidelines mais recentes
de atuação para gestão da HTA, que possibilitou orientar
a intervenção de forma adaptada à pessoa e família,
guiando o processo educacional em cada consulta para as
necessidades sentidas evitando, ensinos
redundantes,29,35,43 estimulando a adesão às
recomendações para a gestão da HTA, através do
aconselhamento e acompanhamento.22,30,42
Consideramos assim, que as atividades desenvolvidas, a
distribuição de material informativo, o treino in loco de
autoavaliação de TA, o fornecimento de instrumentos
(descodificador de rótulos) que facilitem a interpretação
da quantidade de sal de cada alimento no momento da sua
compra e os jogos lúdicos, permitiram estabelecer uma
correlação positiva entre o processo educacional
desenvolvido, a adesão às recomendações referentes aos
estilo vida e a diminuição dos fatores de risco relacionados
à doença, como exemplo disso temos o aumento dos
participantes que avaliam e registam os valores tensionais
frequentemente, que diminuíram o consumo de sal diário
e aumentaram a prática de atividade física regular. Em
suma, o EEEC através das competências específicas48
promove o processo de capacitação da pessoa e família
para a gestão da doença, aumentando o envolvimento
destes no projeto de saúde, fomentando uma atitude
promotora de autonomia para a tomada de decisão
informada. A estratégia de EpS contribuiu para a melhoria
das condições de saúde do grupo, aumento da literacia em
saúde, envolvimento e identificação, fortalecimento da
relação terapêutica, melhoria da qualidade dos
cuidados.36,45,49 Os resultados obtidos permitem afirmar
que o planeamento da intervenção adequada à população,
a consulta de enfermagem de HTA, o aconselhamento no
domicílio e as parcerias que reforçaram a transmissão de
informação sobre o regime dietético, atividade física,
vigilância em saúde, autocuidado e envolvimento da
família, promoveram uma maior adesão ao regime
terapêutico, bem como, incrementaram a alteração no
padrão comportamental.
No decurso da intervenção comunitária foram
identificadas algumas limitações, atrasando o seu início e
desenvolvimento, dada a demora nas respostas aos
diversos pedidos necessários para assegurar os
procedimentos éticos. Numa fase inicial foram várias as
solicitações de autorizações e pareceres que não poderiam
ser solicitados em simultâneo, foi primeiramente
submetido o pedido de parecer ao NIF do ACES A-S e
só após a resposta com parecer positivo, foi possível
submeter à CES da ARSLVT), o que condicionou o início
da aplicação do instrumento de recolha de dados. Após
os pareceres foram convocados os participantes que dada
a faixa etária são profissionalmente ativos, o que
dificultou a sua disponibilidade em comparecer na USF,
levando a uma amostra de trinta participantes num
universo de cento e treze. Contudo, foi posvel e de
extrema importância o levantamento das necessidades
reais da população, tal como, o seu contributo para o
desenvolvimento adequado da intervenção comunitária.
Conclusões
O aumento da esperança de vida, aliado às modificações
dos estilos de vida da população, gera um aumento da
DC.39 A elevada prevalência de HTA a nível nacional
conduz a elevados custos, a nível económico, social e
individual40, pelo que se torna urgente intervir. A HTA
deve ser abordada considerando as intervenções de
enfermagem que apresentam maior efetividade, através da
prática baseada na evidência, considerando o curso
evolutivo da doença, para a obtenção de ganhos em saúde.
Por esta razão é fundamental a intervenção do EEEC48
que recorre na sua prática diária a parcerias quer com
outros profissionais, quer com a pessoa e família,
promovendo a participação ativa dos mesmos em todo o
processo.
Artigo Original Quantitativo
A pessoa com DC e família carecem de um
acompanhamento sistemático dada a especificidade das
suas necessidades29,42,45,46, por meio de uma abordagem
integrada, considerando as alterações que conseguem
realizar, a adaptações necessárias, os recursos internos,
redes de apoio e situação de vida. A intervenção
comunitária desenvolvida, sustentada pela metodologia
de Planeamento em Saúde e no referencial teórico de
Orem15, contribuiu para a capacitação da pessoa
hipertensa e família para a gestão da doença de uma USF
do ACeS A-S, constituindo-se como um contributo para
a prática evidenciando o benefício da intervenção do
EEEC no processo de capacitação da pessoa hipertensa
para a gestão da DC, conduzindo a uma abordagem
centrada na pessoa e família com foco na evicção de
complicações, manutenção da qualidade de vida e
envolvimento da família. Destaca o contributo da
intervenção do EEEC na melhoria da saúde da população
por via de intervenções alicerçadas na Promoção e
Educação para a Saúde. Revela que as estratégias de EpS
no âmbito da gestão da DC mobilizada pelos enfermeiros
potenciam a tomada de decisão autónoma e informada da
pessoa hipertensa no seu quotidiano com o apoio familiar
adequado. Consiste também num contributo para a
formação no sentido que, fomenta o desenvolvimento da
competência educativa integrada nos currículos do curso
de enfermagem, com a mobilização de recursos
individuais na prática clínica. Considerando que para tal,
a formação deverá ser iniciada no curso de licenciatura,
tendo aprofundamento nos cursos de especialização, com
a transmissão de pressupostos teóricos e resultados de
investigação, que permitam o desenvolvimento de
competências específicas de relação interpessoal e
conhecimento, orientadoras de condutas e disseminação
de informação pertinente para o público-alvo.
Por fim, constitui-se a mesma como contributo para a
investigação, enquanto evidência científica, sobre o
benefício das intervenções em contexto de consulta de
enfermagem, sessões de EpS e visita domiciliária, no
processo de capacitação da pessoa e família para a gestão
da DC. Com o término da intervenção de enfermagem
comunitária, na sua maioria os participantes do projeto
aumentaram os conhecimentos relativos ao curso da
doença, medidas de controlo e vigilância da HTA e estilo
de vida saudável adaptado à sua condição, revelando
alterações comportamentais no seu quotidiano.
Relativamente ao referencial teórico optou-se pela
utilização do sistema apoio-educação, preconizado na
Teoria do Défice de Autocuidado de Orem1, que se
revelou adequado e essencial para a aquisição de
conhecimentos e capacitação da pessoa e família para a
tomada de decisão consciente e informada a gestão da
doença. Este sistema pressupõem a associação de técnicas
de ajuda efetiva com a com o apoio, provisão, guia e
ensino, onde os requisitos da pessoa estão relacionados
com a tomada de decisão, controlo de comportamento,
aquisição de conhecimentos e estratégias, através da
aprendizagem de comportamentos, tornando-se o
próprio um agente de autocuidado. Quanto às
necessidades de ajuda da pessoa e família, relacionaram-
se com a tomada de decisão, controlo do comportamento
e aquisição de conhecimentos e desenvolvimento de
competências, onde se estimulou a capacitação para a
gestão da doença dos intervenientes. Sendo que, Orem1
encara o autocuidado como uma habilidade, que pode ser
treinada e assim melhorar o estado de saúde da pessoa,
grupo ou comunidade.
Com a execução da intervenção comunitária, foi possível
promover a capacitação dos participantes, as sessões de
EpS foram uma estratégia fundamental de promoção do
autocuidado da pessoa e família, favorecendo a
identificação dos pares, partilha de conhecimentos,
vivências e a aquisição de conhecimentos. A avaliação,
enquanto etapa da metodologia, indicou o sucesso da
intervenção através dos indicadores de processo,
atividade e resultado, permitindo identificar os ganhos
efetivos em saúde. Verificou-se um aumento de
conhecimentos e alteração de comportamentos de
autocuidado, contudo, existe uma discrepância entre os
conhecimentos e a sua operacionalização consistente no
quotidiano, que pretendemos reduzir com a
implementação da consulta de enfermagem de HTA,
promovendo a efetividade dos momentos de ensino, de
comprometimento com o processo de mudança,
capacidade de autocuidado e literacia em saúde. Tal como,
a visitação domiciliária, que conforme constatamos, foi
uma estratégia com bastante sucesso, enquanto
instrumento de assistência, assente no plano de cuidados
para capacitação relativa à gestão da doença,
possibilitando o processo educacional, treino in loco e de
interação familiar, a família é a primeira unidade social
onde o indivíduo se insere e tem um papel fundamental
na manutenção e incentivo para a gestão da doença
crónica. A promão dos comportamentos e estilos de
vida saudáveis não pode ser descontextualizada do
ambiente socioeconómico e político onde a pessoa e
família está inserida, destacando assim a importância da
intervenção do EEEC47, dado a proximidade com a
comunidade identifica os problemas de saúde, tendo um
papel primordial no apoio e acompanhamento da
comunidade, através das suas intervenções específicas que
levam à melhoria da prestação de cuidados, com a
implementação de projetos que respondam às
necessidades identificadas.
Deste modo, assegurando a continuidade do presente
projeto, os resultados obtidos foram apresentados à
equipa multidisciplinar da USF, o material pedagógico
desenvolvido foi cedido à equipa de enfermagem,
possibilitando a continuidade da sua aplicação. Durante o
projeto a consulta de enfermagem, alicerçada no guião de
boas práticas que compila todas as normas e políticas
nacionais referentes à gestão da doença e os processos de
capacitação no domicílio, revelaram uma mais-valia para
os resultados obtidos, foi também cedido todo o material
que permite implementação e operacionalização,
permitindo para além da continuidade a melhoria com
introdução de novas estratégias e intervenções, que
permitam o acompanhamento, aconselhamento e ensino.
Artigo Original Quantitativo
E quanto à visita domiciliária, o treino in loco da pessoa
hipertensa e família, centrando a atenção na interação
familiar.
Apesar da evidência que comprova a gestão da HTA
através de medidas não farmacológicas e/ou
farmacológicas eficazes, as taxas de controlo desta doença
permanecem baixas41, constituindo-se como um dos
maiores desafios globais, destacando a relevância do
estudo desenvolvido, visto que, o processo de educação
para a saúde, as parcerias estabelecidas e o envolvimento
da equipa multidisciplinar possibilitou o aumento de
conhecimentos quer dos profissionais onde foi possível
validar a pertinência das estratégias e atividades
implementadas, quer dos participantes no que toca à
literacia em saúde e desenvolvimento de competências
para a gestão da doença.
Posto isto, reforçamos a necessidade de prosseguir a
investigação neste âmbito, com a implementação de
projetos de intervenção na comunidade, fomentando a
capacitação da pessoa e família para a gestão da doença
crónica, identificando as estratégias promotoras da
capacitação para a gestão da doença crónica e de medidas
capazes de incrementar a mesma reduzindo os custos para
a pessoa, família e sociedade. Em estudos futuros
julgamos pertinente, alcançar mais participantes,
principalmente os menos frequentadores dos serviços de
saúde.
Contribuições autorais
SF: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Análise estatística;
Redação do manuscrito.
MB: Análise e interpretação dos dados; Revisão crítica do
manuscrito.
ES: Conceção e desenho do estudo; Análise e
interpretação dos dados; Análise estatística; Revisão
crítica do manuscrito.
Conflito de interesses
Nenhum conflito de interesse a declarar pelos autores.
Referências
1. World Health Organization. A Global Brief on
Hypertension: sillent killer a global public health
crisis. Geneva: WHO; 2013. 39 p.
2. Forouzanfar MH, Liu P, Roth GA, et al. Global
Burden of Hypertension and Systolic Blood Pressure
of at Least 110 to 115 mm Hg, 1990-
2015. JAMA. 2017; 317(2):165-182. Avaliable from:
https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle
/2596292
3. Instituto Nacional de Saúde dr. Ricardo Jorge.
Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico.
Lisboa; INSA; 2015. 50 p.
4. Sociedade Portuguesa de Hipertensão. Tradução
Portuguesa das Guidelines de 2018 das ESH / ESC
para o Tratamento da Hipertensão Arterial. Lisboa:
SPH; 2020. 76. 10-12. 111p.
5. World Health Organization. International
Classification of Diseases 11th Revision (CID-11)
[Internet]. Geneva: WHO; 2022 [cited 2022 apr 23].
Avaliable from:
https://www.who.int/standards/classifications/clas
sification-of-diseases.
6. Direção-Geral da Saúde. Norma n.º 020/2011.
Hipertensão arterial: definição e classificação
[Internet]. Lisboa: DGS; 2011 [cited 2022 mar 03].
Avaliable from: https://normas.dgs.min-
saude.pt/wpcontent/uploads/2019/09/hipertensao-
arterial_definicao-e-classificacao.pdf
7. Sociedade Portuguesa de Hipertensão. Conheça
melhor a hipertensão arterial. [Internet]. Lisboa: SPH;
2022 [cited 2022 mar 2]. Avaliable from:
https://www.sphta.org.pt/pt/base8_detail/24/89
8. Amorim L, Caldas P, & Roca S. Perfil dos valores de
tensão arterial em indivíduos submetidos a mapa em
cuidados de saúde primários. Revista Portuguesa de
Hipertensão e Risco Cardiovascular. 2019; (72), 11-
16.
9. Direção-Geral de Saúde. Norma nº 020/2011:
Hipertensão Arterial: definição e classificação
[Internet]. Lisboa: DGS; 2013 [cited 2023 jan 23].
Avaliable from: https://normas.dgs.min-
saude.pt/wp-
content/uploads/2019/09/hipertensao-
arterial_definicao-e-classificacao.pdf
10.
11. Direcão-Geral da Saúde Plano Nacional de Saúde
2021-2030. Lisboa: DGS; 2019 [cited 2022 jun 04].
Avaliable from: https://pns.dgs.pt/pns-2021-
2030/plano-nacional-de-saude/
12. Disease management association of America
[Internet].c2004 [cited 2022 may 20]. Avaliable from:
https://diseasemanagementassociationofamericawpa
n.wordpress.com .
13. Ferreira, RSS; Graça, LCC & Calvinho, MSE. Adesão
ao regime terapêutico de pessoas com hipertensão
arterial em cuidados de saúde primários. Revista de
Enfermagem Referência. 2016; 4(8): 7-15.
14. Fortin, MF. Fundamentos e etapas do processo de
investigac֊ão. Loures: Lusociencia. 2009. 595 p.
15. Tavares A. Métodos e Técnicas de Planeamento em
Saúde. Lisboa: Ministério da Saúde; 1990. 223 p.
16. Orem D. Nursing: concepts of practice 6th ed. St.
Louis: Mosby; 2001. 542 p.
17. Imperatori, E, Giraldes M. Metodologia do
Planeamento da saúde. Manual para uso em serviços
centrais, regionais e locais. 3ed.Lisboa: Escola
Nacional de Saúde Pública; 1993. 200 p.
18. Serviço Nacional de Saúde. Bilhete de identidade dos
cuidados de sde Primários, regulamento interno
[Internet]. Lisboa: SNS; 2022 [cited 2022 apr 05].
Avaliable from: https://bicsp.min-
saude.pt/pt/Paginas/default.aspx
Artigo Original Quantitativo
19. Delgado AD & Lima ML. Contributo para a validação
concorrente de uma medida de adesão aos
tratamentos. Psicologia, Saúde & Doenças; 2001; 2
(2), 81-100.
20. International Council of Nurses. CIPversão 2015
- classificacão internacional para a prática de
enfermagem. Loures: Lusodidacta; 2015. 278 p.
21. World Health Organization. The World Health
Statistic Monitoring health for SDGs [Internet].
Geneva: WHO; 2022 [cited 2022 mar 10]. Avaliable
from:
https://www.who.int/data/gho/publications/world
-health-statistics.
22. Ordem dos Enfermeiros. Servir a comunidade e
garantir qualidade: os enfermeiros na vanguarda dos
cuidados na doença crónica: «Delivering quality,
serving communities: nurses leading chronic care»
[Internet]. Lisboa: OE; 2010 [cited 2023 nov 03].
Avaliable from:
https://www.ordemenfermeiros.pt/arquivo/publica
coes/Documents/KIT_DIE_2010.pdf
23. Figueiredo MH. Modelo dinâmico de avaliação e
intervenção familiar. Loures: Lusociência; 2012. 205
p.
24. Pan American Health Organization. Improving
Chronic Illness Care (ICIC) [Internet]. Regional
Office of the World Health Organization; c2012.
[cited 2022 Mar 2]. Avaliable from:
https://www.paho.org/hq/dmdocuments/2012/PA
HO-Factsheet-Chronic-care-2012.pdf
25. Tan CS, Hassali MA, Neoh CF, & Saleem F. A
qualitative exploration of hypertensive patients’
perception towards quality use of medication and
hypertension management at the community level.
Pharmacy Pratice [Internet].2017; 15(4), 1-12.
Avaliable from:
https://doi.org/10.18549/PharmPract.2017.04.10
74.
26. Polonia J, Martins L, Pinto F, Nazaré J. Prevalência,
sensibilização, tratamento e controlo da hipertensão e
consumo de sal em Portugal: mudanças ao longo de
uma década. O estudo PHYSA. Journal of
Hypertension. 2014; 32(6): 1211-1221.
27. Barreto M da S, Reiners AAO, Marcon SS.
Conhecimento sobre hipertensão e fatores associados
à não adesão ao tratamento medicamentoso. Rev
Latino-Am Enfermagem [Internet]. 2014 [cited 2022
mar 5]; 22 (3): 484-90. Avaliable from:
http://doi.org/10.1590/0104-1169.3447.2442.
28. Fu SN, Dao MC, Wong CKH, & Cheung, BMY. The
Association of Health Literacy with High-Quality
Home Blood Pressure Monitoring for Hypertensive
Patients in Outpatient Settings. International Journal
of Hypertension [Internet]. 2020 [cited 2022 mar 2];
(1): 1-15. Avaliable from:
https://www.hindawi.com/journals/ijhy/2020/7502
468/
29. World Health Organization. Noncommunicable
diseases country profiles 2018 [Internet]. WHO, 2018
[cited 2022 apr 27] 224 p. Avaliable from:
https://apps.who.int/iris/handle/10665/274512
30. Silva SSBE da, Oliveira S de F da SB de; Pierin AMG.
The control of hypertension in men and women: a
comparative analysis. Rev Esc Enferm USP
[Internet]. 2016 [cited 2022 nov 6]; 50(1): 50-58.
Available from:
https://www.scielo.br/j/reeusp/a/VKhjcBcGHFY
dghKYXHrGqkj/?format=pdf&lang=en
31. Santiago M, Carvalho R, Pereira C, Magalhães A,
Penetra J, Baptista A, Campos A, et al. Arterial
hypertension: its knowledge, compliance and quality
of life impact in hypertensive patients. Rev Port Hiper
e Risco Cardiovascular [Internet]. 2016 [cited 2022
mar 2]; (56): 3-38. Avaliable from:
https://www.sphta.org.pt/files/sphta_56_2016_111
2.pdf
32. Macedo ME, Lima MJ, Silva AO, Alcantara P,
Ramalhinho V, Carmona J. Prevalence, awareness,
treatment and control of hypertension in Portugal: the
PAP study. J Hypertens. 2005; 23(9): 16616.
33. Ribeiro, DC. Adesão terapêutica e qualidade de vida
em adultos e adultos idosos com hipertensão: fatores
motivacionais [dissertation on the internet]. Lisboa
(Portugal): Universidade do Porto; 2013 [cited 2022
mar 30] Avaliable from: https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/111008/2/255821.pd
f
34. Direção-Geral da Saúde. Relatório sobre o ponto de
situação global da atividade física 2022: sumário
executivo [Internet]. Lisboa: DGS; 2022 [cited 2023
jan 04]. Avaliable from:
https://apps.who.int/iris/handle/10665/365405
35. World Health Organization. Guidelines on physical
activity and sedentary behaviour: at a glance
[Internet]. Geneva: WHO; 2020 [cited 2023 jan 04].
Avaliable from:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/
337001/9789240014886-eng.pdf
36. Oliveira T, Miranda L, Fernandes P & Caldeira P.
Eficácia da educação em saúde no tratamento não
medicamentoso da hipertensão arterial. Acta Paulista
de Enfermagem. 2013; 26 (2) 179-184.
37. Gama EJS, Queiroz JWG de, Rodrigues AKBF.
Intervenções educativas no contexto da hipertensão
arterial sistêmica: uma revio sistemática. Temas em
Educ. e Saúde [Internet]. 2021 [cited 2022 jun 06];
7(00) e021010. Avaliable from:
https://periodicos.fclar.unesp.br/tes/article/view/1
4729.
38. Motter F, Olinto M. & Paniz V. Avaliação do
conhecimento sobre níveis tensionais e cronicidade
da hipertensão: estudo com usuários de uma farmácia
básica no sul do Brasil. Cadernos de Saúde Pública.
2015; 31 (2), 395-404.
39. Pereira, AM. Adesão ao tratamento: estudo com
usuários hipertensos em uma unidade básica de saúde
no município de São José de Ribamar. [master’s
thesis] Coimbra: Instituto Politécnico; 2018. 50 p.
Artigo Original Quantitativo
40. Ribeiro, DC. Adesão terapêutica e qualidade de vida
em adultos e adultos idosos com hipertensão: fatores
motivacionais [dissertation on the internet]. Lisboa
(Portugal): Universidade do Porto; 2013 [cited 2022
mar 30] Avaliable from: https://repositorio-
aberto.up.pt/bitstream/10216/111008/2/255821.pd
f
41. Godinho F, Andrade C e Silva C. Acompanhamento
dos doentes hipertensos nos cuidados de saúde
primários - a nossa prática. Revista Portuguesa de
Hipertensão e Risco Cardiovascular. 2017; (60): 16-
17.
42. Direcão-Geral da Saúde. Programa nacional para a
promoção da alimentação saudável [Internet]. Lisboa:
DGS; 2020 [cited 2022 jun 11]. Avaliable from:
https://alimentacaosaudavel.dgs.pt/
43. Sousa P, Pereira G. Intervenção na hipertensão
arterial em doentes em cuidados de saúde primários.
Psicologia, Saúde & Doenças [Internet]. 2014 [cited
2022 dec 19]; 15 (1) 245- 261. Available from:
https://www.redalyc.org/pdf/362/36231157020.pdf
44. Barbosa ME, Bertelli EV, Aggio CM, Scolari GAS,
Marcon SS, & Carreira L. Fatores associados à adesão
de adultos/idosos ao tratamento da hipertensão
arterial na atenção básica. Revista Enfermagem UERJ
[Internet]. 2019 [cited 2022 dec 11]; (27): 1-8.
Available from: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/enfermagemuerj/artic
le/view/45894/33102
45. Dantas RCO & Roncalli AG. Protocolo para
hipertensos assistidos na atenção básica em saúde.
Ciência & Saúde Coletiva [Internet]. 2019 [cited 2023
jan 03]; 24 (1): 13 p. Available from:
https://www.scielo.br/j/csc/a/SPzQTQ6dJjYvgf8
w7czq8MQ/?lang=pt#.
46. Costa Y, Araújo C, Almeida LB, & Viegas S M. O
papel educativo do enfermeiro na adesão ao
tratamento da hipertensão arterial sistêmica: revisão
integrativa da literatura. O Mundo da Saúde
[Internet]. 2014 [cited 2022 jun 30]; 38(4): 473-481.
Available from:
https://revistamundodasaude.emnuvens.com.br/mu
ndodasaude/article/view/364/310
47. Barreto SM, Marcon SS. Participação familiar no
tratamento da hipertensão arterial na perspectiva do
doente. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2014
[cited 2022 jun 30]; 23(1): 38-46 Available from:
48. https://pdfs.semanticscholar.org/97d9/f36925d251
114f901752a6fcc40345bbb476.pdf
49. Direcão-Geral da Saúde. Programa nacional para as
doencas cérebro cardiovasculares: Lisboa. DGS; 2017
[cited 2022 apr 09]. Available from:
https://www.dgs.pt/pns-e-programas/programas-
de-saude-prioritarios/doencas-cerebro-
cardiovasculares.aspx
50. Regulamento n.º 428/2018. Regulamento de
competências específicas do enfermeiro especialista
em enfermagem comunitária na área de enfermagem
de saúde comunitária e de saúde pública e na área de
enfermagem de saúde familiar. Diário da República,
II Série (nº 135 de 16-07-2018), 19354-19359.
51. Abegaz TM, Shehab A, Gebreyohannes EA,
Bhagavathula AS, Elnour AA. Nonadherence to
antihypertensive drugs: a systematic review and meta-
analysis. Medicine [Internet]. 2017 [cited 2022 jun 8];
96(4): e5641. Available from:
https://doi.org/10.1097/MD.0000000000005641
| 76
3HQVDU(QIHUPDJHPYQDJRVWR
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Quantitativo
Como citar este artigo: Cunha F, Pinto MR, Vieira M. Capacidade de autocuidado de pessoas idosas
portuguesas residentes em contexto domiciliário
. Pensar Enf [Internet]. 2023 Ago; 27(1)76-81
. Available
from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.262
Capacidade de autocuidado de pessoas idosas
portuguesas residentes em contexto domiciliário
Resumo
Introdução
Neste artigo apresenta-se uma análise da Capacidade de Autocuidado de pessoas idosas
residentes em contexto domiciliário, identificando variáveis que nela interferem. O
envelhecimento é uma etapa da vida em que as necessidades de saúde sofrem continuas
modificações decorrentes das situações de doença e do processo de envelhecimento, pelo
que a implementação de um adequado e eficaz apoio à capacidade para cuidar de si
contribuirá na promoção da saúde e bem-estar.
Objetivo
Identificar variáveis que interferem na Capacidade de Autocuidado de pessoas idosas
residentes em contexto domiciliário.
Métodos
Trata-se de um estudo de natureza não experimental, transversal, quantitativo de tipo
descritivo e correlacional, no qual participaram 400 pessoas que cumpriam os critérios de
inclusão definidos. Avaliação da capacidade de autocuidado com recurso à Exercise of Self-
Care AgencyESCA.
Resultados
Baseados na análise multivariada da variância, identificou-se a existência de diferenças
estatisticamente significativas em alguns domínios da Capacidade de Autocuidado de
acordo com a idade, escolaridade e autoperceção do estado de saúde da pessoa idosa. Em
termos globais, constataram-se correlações positivas entre a idade e o domínio Iniciativa e
responsabilidade (3.6%) e entre a escolaridade e o domínio do Conhecimento e procura
informação (5.2%) e correlação negativa entre a idade e o domínio Conhecimento e procura
de informação (3.7%). Identificou-se ainda que as pessoas idosas que se percecionam como
incapazes de cuidar de si apresentaram pontuações inferiores no domínio do Conhecimento
e procura de informação, comparativamente àquelas que se percecionam com capacidade
para cuidar de si, tanto quando se autopercecionam como saudáveis ou portadoras de
doença (diferença de pontuações médias de -.38 e -.53, respetivamente, p< .05).
Conclusão
Perante estes dados, e sendo o envelhecimento uma etapa de múltiplos desafios no
autocuidado, sugere-se que o enfermeiro equacione múltiplas estratégias para que a pessoa
idosa consiga aceder, compreender, interpretar e integrar o conteúdo da informação que
lhes permita cuidar de si.
Palavras-chave
Autocuidado; Cuidados de Enfermagem; Envelhecimento; Pessoa Idosa.
Fátima Cunha1
orcid.org/0000-0001-7847-7739
Maria Rosário Pinto2
orcid.org/0000-0001-6786-6069
Margarida Vieira3
orcid.org/0000-0002-9439-2804
1 Centro de Investigação em Qualidade de Vida
(CIEQV)| Centro de Investigação Interdisciplinar em
Saúde (CIIS); Escola Superior de Saúde - Instituto
Politécnico de Santarém, Santarém, Portugal.
2 Unidade de Investigação em Ciências da Saúde:
Enfermagem (UICISA-E) | Centro de Investigação,
Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de
Lisboa (CIDNUR), Escola Superior de Enfermagem
de Lisboa, Lisboa, Portugal.
3 Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde
(CIIS), Instituto Ciências da Saúde - Universidade
Católica Portuguesa, Porto, Portugal.
Autor de correspondência
Fátima Cunha
E-mail: fatima.cunha@essaude.ipsantarem.pt
Recebido: 16.02.2023
Aceite: 03.05.2023
Artigo Original Quantitativo
Introdução
No século XXI, a tendência para o envelhecimento
populacional é notória, sendo a longevidade uma das
maiores conquistas da humanidade.1 As Nações Unidas2
identificam os idosos como o grupo etário com maior
crescimento nos últimos 72 anos, representando 13,9% da
população global. O mesmo Organismo estima que a
população mundial com 60 anos ou mais deve duplicar até
2050 e mais do que triplicar até 2100, passando de 962
milhões em 2017 para 3,1 mil milhões em 2100. Em
Portugal, o índice de envelhecimento em 2020 situava-se
em 167%, sendo a percentagem de pessoas com mais de 65
anos a quarta mais alta da União Europeia.3
Nesta etapa de vida, as necessidades em saúde sofrem
contínuas modificações decorrentes do processo de
envelhecimento e/ou situações de doença, interferindo ou
podendo interferir na capacidade das pessoas idosas para
cuidarem de si, na sua capacidade de autocuidado, uma
potencialidade que é parte integrante do ser humano.
De acordo com a Teoria de Orem,4 o autocuidado está
associado ao desempenho ou à prática de atividades que os
indivíduos realizam em seu benefício para manter a vida, a
saúde e o bem-estar, ao potencial para se envolverem em
ações que visam cuidar de si, numa estreita relação a
autonomia da pessoa. Tal como a autora refere, no
autocuidado o foco é colocado no poder humano ativado e
evidenciado pela pessoa quando ela investiga, julga, toma
decisões e produz self-care operations.4 A forma como cada
pessoa desenvolve as atividades de autocuidado leva à
existência de níveis distintos de capacidade/défice de
autocuidado e, consequentemente, à capacidade de
desenvolvimento de comportamentos de promoção da
saúde e de um envelhecimento saudável.
Configura-se assim uma problemática que já tem vindo a
ser objeto de estudo em diferentes realidades, com vários
estudos a evidenciarem associações estatisticamente
significativas entre a capacidade de autocuidado,
comportamentos de promoção de Saúde e bem-estar na
pessoa idosa.5,6,7,8 A relevância da dimensão do autocuidado
em contexto de saúde, ganha ainda destaque com o número
crescente de estudos que disponibilizam instrumentos para
avaliação da capacidade de autocuidado em pessoas
idosas,9,10 permitindo objetivar as suas necessidades
associadas à diversidade de eventos que ocorrem ao longo
de todo o curso da vida e não apenas um resultado direto
da idade cronológica,11 e contribuir para que sejam
desenvolvidas intervenções que respondam à
individualidade de vida da pessoa.
Neta linha de pensamento, o mais recente relatório mundial
sobre o envelhecimento e saúde apresenta um enfoque
social para a abordagem desta temática,11 destacando que a
idade avançada não implica dependência e que, embora na
sua maioria as pessoas idosas coexistam com múltiplas
comorbilidades, a diversidade das suas capacidades e
necessidades não é aleatória.
Da mesma forma, a Teoria do Défice do Autocuidado em
Enfermagem de Orem4 identifica fatores condicionantes
sicos que influenciam o autocuidado que transcendem a
idade (sexo, estado de desenvolvimento, padrão de vida,
fatores ambientais, disponibilidade e adequação de
recurso). No entanto, na evidência científica disponível,
identifica-se um número reduzido de estudos que relatam a
influência de variáveis como o género5,12 e a escolaridade.5
Emerge, assim, o interesse na análise das capacidades da
pessoa idosa para tomar conta de si, contribuindo para a
manutenção da sua saúde, identificando de que forma as
variáveis sociodemográficas interferem na capacidade de
autocuidado.
Considerando esta perspetiva, alinhada com a proposta de
recomendar um enfoque no envelhecimento da população
que potencie a transformação dos sistemas de saúde por
forma a substituir os modelos curativos pelos preventivos,
com foco nas necessidades das pessoas idosas,11 emerge
como essencial a identificação das variáveis que interferem
na capacidade de autocuidado das pessoas idosas por forma
a implementar um adequado e eficaz apoio ao
desenvolvimento destas capacidades.
Objetivo
Identificar variáveis que interferem na Capacidade de
Autocuidado de pessoas idosas residentes em contexto
domiciliário.
Métodos
Estudo de natureza não experimental, transversal,
quantitativo de tipo descritivo e correlacional, com parecer
favorável da Comissão de Ética da Administração Regional
de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo
(Proc.086/CES/INV/2018), desenvolvido assegurando as
dimensões éticas e legais subjacentes a estudos desta
natureza. Amostra constituída por 400 pessoas idosas
residentes em contexto domiciliário, recrutadas em centros
de dia (6 contextos) e consultas de enfermagem (6
Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados e 8
Unidades de Saúde Familiar), através de uma amostragem
por conveniência. Os dados foram recolhidos em formato
de papel e o investigador esteve presente ao longo do
processo para assegurar o cumprimento dos critérios de
amostragem, nomeadamente a capacidade cognitiva para
compreensão das questões, consentimento informado e
esclarecimento de linguagem incluída no questionário e/ou
leitura do mesmo, em participantes que não sabiam ler ou
tinham diminuição da acuidade visual. Para determinar a
autoperceção do estado de saúde, a pessoa idosa poderia
responder considerando três níveis: a) Incapaz de cuidar de
si, necessita ajuda outros; b) Capacidade para cuidar de si
apesar da doença e c) Saudável, com capacidade para cuidar
de si.
A avaliação da capacidade de autocuidado concretizou-se
através da aplicação da Exercise of Self-Care Agency ESCA
de Kearney e Fleischer,13 revista por Riesch e Hauck14 e
traduzida, adaptada culturalmente e validada para a
população portuguesa pelas autoras do presente artigo,
processo durante o qual se desenvolveu um estudo da
fiabilidade através da análise da consistência interna com
Artigo Original Quantitativo
recurso ao coeficiente de Alpha de Cronbach e da validade de
constructo pela análise fatorial exploratória, numa amostra
de 625 pessoas idosas residentes em contexto domiciliário.
O instrumento resultante é constituído por 29 itens (menos
6 que a escala original), distribuídos por 4 domínios
conceptualmente congruentes com os autores originais e
com características psicométricas adequadas para sua
utilização em contexto clínico ou na investigação (escala
global ơ = .871; subescalas: Autoconceito ơ= .705,
Iniciativa e Responsabilidade ơ = .843, Conhecimento e
procura de informação ơ = .755 e Passividade ơ = .646).
Análise dos dados realizada com recurso ao programa da
IBM SPSS Statistics Base, na versão 27.0. A estatística
descritiva (medidas de tendência central e medidas de
dispersão) foi utilizada para caraterização da amostra. Para
a análise multivariada de variância, foram verificados os
pressupostos de independência das observações e
homogeneidade de variância/covariância. Utilizámos o
Traço de Pillai devido à sua robustez para violações modestas
à normalidade e o Lambda de Wilks sempre que se verificou
homogeneidade, aspetos que consideram as
recomendações de Marôco.15
Resultados
No que diz respeito às caraterísticas da amostra, ela foi
constituída maioritariamente por pessoas idosas do género
feminino (68.5%), com idades compreendidas entre os 65
e os 97 anos (M = 75.52 anos; DP = 7.16). Relativamente à
escolaridade, a maioria tinha o ensino primário (61.3%),
seguido dos que frequentaram ou concluíram o ensino
Secundário (27.3%). Com menor representatividade, os que
tinham habilitações de nível superior (7.2%) e os que nunca
frequentaram a escola (4.3%). A maioria das pessoas idosas
referiram percecionar-se com capacidade para realizar
atividades habituais de cuidar de si, apesar da doença (55%),
33.5% referiram percecionarem-se como saudáveis e
apenas 11.5% afirmaram uma autoperceção de
incapacidade para realizar atividades habituais de cuidar de
si, necessitando da ajuda de outrem.
Como resultados deste estudo, constatou-se que o género
não interfere na Capacidade de Autocuidado, já que os
dados da análise multivariada da variância não revelaram
diferenças estatisticamente significativas [Lambda de Wilks
= .988, F(4, 395) = 1.23, p = .297, Ƨp2 = .012, (1-Ƣ) = .386].
Os testes univariados também não identificaram qualquer
diferença estatisticamente significativa.
No que diz respeito à idade, a análise do Coeficiente de
correlação de Pearson, permitiu identificar uma correlação
positiva de baixa magnitude com a dimensão Iniciativa e
responsabilidade (r = .191, p< .01), e uma correlação
negativa, igualmente de baixa magnitude, entre a idade e o
Conhecimento e procura de informação (r = .193, p< .01)
(ver Tabela 1). Identificou-se ainda que, quanto maior é a
idade da pessoa idosa maior tende a ser a Iniciativa e
responsabilidade e menor o Conhecimento e procura de
informação.
Tabela 1 - Coeficientes de correlação de Pearson entre a idade dos participantes e as medidas ESCA
Idade dos participantes
Coeficiente de correlação de Pearson (r)
ESCA (escala global)
.036
Iniciativa e responsabilidade
.191**
Autoconceito
-.005
Conhecimento e procura de informação
-.193**
Passividade (invertido)
.031
* p < .05 **p < .01
Relativamente à influência do nível de escolaridade a análise
multivariada da variância, demonstrou influência do nível
de escolaridade na capacidade de autocuidado, já que se
observou um efeito global estatisticamente significativo
[Traço de Pillai= .150, F(12, 1185)= 5.18, p< .001, Ƨp2= .050,
(1-Ƣ)> .999]. Este efeito deve-se à existência de diferenças
ao nível das dimensões Conhecimento e procura de
informação (magnitude correspondente a Ƨp2= 5.2%),
Autoconceito (Ƨp2= 2.6%) e Iniciativa e responsabilidade
(Ƨp2= 2.0%) (ver Tabela 2).
Artigo Original Quantitativo
Tabela 2 - Pontuações médias e desvios-padrão da ESCA em função da escolaridade dos participantes: Testes univariados (F),
PDJQLWXGHGRHIHLWRH[SHULPHQWDOƧp2) e poder da investigação (1-Ƣ
Escolaridade
Não frequentou a
escola
(n= 17)
Ensino primário
(n= 245)
Ensino secundário
(n= 109)
Ensino superior
(n= 29)
Total
(N= 400)
M DP M DP M DP M DP M DP
F
(3, 396)
Ƨ
p
2
1-Ƣ
ESCA (global)
3.14
.56
3.20
.45
3.20
.50
3.12
.40
3.19
.46
Iniciativa e responsabilidade 3.50 .56 3.36 .56 3.25 .59 3.13 .51 3.32 .57 2.76* .020 .666
Autoconceito
3.49
.65
3.63
.37
3.56
.42
3.41
.40
3.59
.40
3.46*
.026
.774
Conhecimento e procura de
informação
2.33 1.23 2.84 .89 3.14 .69 3.21 .49 2.93 .86 7.20** .052 .983
Passividade (invertido)
2.58
.93
2.50
.81
2.58
.98
2.52
.71
2.52
.86
.25
.002
.098
* p < .05 **p < .01
A realização dos testes de Games-Howell indicou diferenças
estatisticamente significativas ao nível do Autoconceito,
exclusivamente nas pontuações médias entre as pessoas
idosas que possuem o Ensino Primário e os que detêm o
Ensino Superior (diferença de pontuaçõesdias de .22,
p< .05). Ao nível do Conhecimento e procura de
informação, as diferenças estatisticamente significativas
situaram-se entre as pessoas idosas que não frequentaram a
escola ou possuem o Ensino Primário e as que detêm o
Ensino Superior (diferença de pontuações médias de .88 e
.36, respetivamente, p<.05), assim como, entre os
participantes com o Ensino Primário e o Ensino
Secundário (diferença de -.30, p< .01). Para além destes
aspetos, constatou-se que as pessoas idosas que não
frequentaram a escola apresentavam níveis baixos de
Conhecimento e procura de informação (M=2.33;
DP=1.23). Identificou-se ainda um aumento progressivo
dos valores obtidos com o aumento da escolaridade (ensino
primário M= 2.84; DP=.89; ensino Secundário M=3.14;
DP=0.69 e ensino superior M=3.21; DP=0.49) (ver tabela
2).
Relativamente à influencia da Autoperceção do estado de
saúde na Capacidade de Autocuidado, os resultados da
análise multivariada revelaram um efeito global
estatisticamente significativo, com uma magnitude para o
teste multivariado na ordem dos 6.5% [Traço de Pillai= .130,
F(8, 790)= 6.84, p< .001, Ƨp2= .065, (1-Ƣ)>.999].
A realização dos testes de Games-Howell permitiu identificar
maiores pontuações ao nível do Autoconceito em pessoas
idosas saudáveis, em comparação com os que se
percecionam como incapazes de cuidar de si (diferença de
pontuações médias de .25, p< .05). As pessoas idosas que
se percecionam como capazes de cuidar de si apesar da
doença apresentaram, também, maiores pontuações
comparativamente às que se percecionam como incapazes
de cuidar de si, necessitando de apoio de outros (diferença
de pontuações médias de .31, p< .01).
No referente ao fator Conhecimento e procura de
informação, as pessoas idosas cuja autoperceção é de
incapacidade para cuidar de si apresentaram pontuações
inferiores àquelas que se percecionam com capacidade para
cuidar de si apesar da doença e aos que se percecionam
como saudáveis (diferença de pontuações médias de -.38 e
-.53, respetivamente, p< .05).
Na dimensão Passividade (invertido), as pessoas idosas
autopercecionadas como saudáveis indicaram maior
atividade comparativamente às que se percecionam como
incapazes de cuidarem de si e àquelas que afirmaram
percecionar-se com capacidade para cuidar de si apesar da
doença (diferença de pontuações médias de .56 e .23,
respetivamente, p< .05) (ver tabela 3).
Tabela 3 - Pontuações médias e desvios-padrão da ESCA em função da variável Autoperceção do estado de saúde: Testes
univariados )PDJQLWXGHGRHIHLWRH[SHULPHQWDOƧp2) e poder da investigação (1-Ƣ
Autoperceção do estado de saúde
Incapaz de cuidar de
si, necessita de ajuda
de outros
(n = 46)
Capacidade para cuidar
de si, apesar da doença
(n = 220)
Saudável, com
capacidade para
cuidar de si
(n = 134)
Total
(N = 400)
M DP M DP M DP M DP
F
(2, 397)
Ƨ
p
2
1-Ƣ
ESCA (global)
2.95
.44
3.21
.44
3.25
.49
3.19
.46
Iniciativa e responsabilidade
3.22
.59
3.35
.55
3.32
.60
3.32
.57
1.02
.005
.228
Autoconceito
3.34
.53
3.65
.34
3.58
.42
3.59
.40
11.63***
.055
.994
Conhecimento e procura de
informação
2.54 .88 2.92 .86 3.07 .80 2.93 .86 6.78** .033 .918
Passividade (invertido)
2.16
.70
2.49
.85
2.71
.87
2.52
.86
8.00**
.039
.955
* p < .05 **p < .01
Artigo Original Quantitativo
Discussão
Ao identificarmos variáveis que interferem na Capacidade
de Autocuidado de pessoas idosas residentes em contexto
domiciliário, constatamos o existirem diferenças
estatisticamente significativas ao nível do género, o que vai
de encontro aos resultados identificados em pessoas idosas
turcas5 e chinesas.12
Já em relação à idade, a Iniciativa e responsabilidade tende
a aumentar com o avançar desta, verificando-se o contrário
em relação ao Conhecimento e procura de informação.
Estes resultados poderão estar relacionados com a
intencionalidade atribuída pela pessoa idosa à procura de
informação, já que para Orem4,16 a preocupação consigo
próprio, a motivação e a hierarquia de valores são aspetos
fundamentais para o envolvimento em ações de
autocuidado. Por outro, uma vez que a perceção, a
memória e as habilidades de aprendizagem são
consideradas disposições fundamentais para a ação de
autocuidado,16 as perdas de carácter biológico que se
tornam progressivas com o avançar da idade, poderão estar
na base de níveis mais baixos no domínio Conhecimento e
procura de informação em idades mais avançadas.
Identifica-se também uma influência do nível de
escolaridade nos domínios Autoconceito, Iniciativa e
responsabilidade, bem como, no domínio Conhecimento e
procura informação. Em termos globais, constatamos que
um aumento progressivo da escolarização se associa a um
aumento do nível de Conhecimento e procura de
informação. Estes resultados estão em linha com as
conclusões de outros estudos que revelam: uma baixa
escolaridade acompanha um conhecimento insuficiente
sobre a doença e tratamento12,17 e menor capacidade para o
envolvimento em ações de autocuidado.5
Apesar de ser importante mobilizar a dimensão de
desenvolvimento de competências ao longo da vida, na
verdade as pessoas idosas com baixa escolaridade podem
ter maior dificuldade em aceder a informação relacionada
com a sua saúde e com os cuidados de saúde, bem como,
menor capacidade para compreender e gerir informação
que lhes permita tomar decisões relacionadas com a sua
saúde. Apesar de uma vasta quantidade de informações
poder estar disponível para o público, proveniente de
diferentes formatos e fontes de informação, muitas pessoas
podem ter dificuldade em as interpretar e aplicar, o que
pode contribuir para uma maior complexidade ao colocar
boas práticas de saúde em curso, apesar da informação
disponibilizada.18 Outro fator que pode estar associado a
esta problemática é o baixo grau de literacia em saúde da
população idosa em Portugal, que pode condicionar a
capacidade de obter e aplicar informações relevantes sobre
saúde19,20,24 ou a gestão de situações de doença.20,21,24
Quando a esta situação se associa a autoperceção de
incapacidade para cuidar de si, verificamos a existência de
níveis mais baixos de autoconceito, o que poderá estar
relacionado com o impacto da dependência na identidade
da pessoa. Alguns autores afirmam que as situações de
doença em que há perda de controlo da pessoa, perante as
suas próprias rotinas, provocam alterações profundas no
autoconceito.22,23
Face a estes resultados, que assumem relevância na
compreensão de estratégias para o planeamento de
cuidados e que se alinham com as orientações do Modelo
de Orem4,16 e com a estrutura de raciocínio proposta pela
autora, sugere-se o desenvolvimento de intervenções que
permitam um acompanhamento que conduza à integração
da informação na forma como a pessoa cuida de si,
mobilizando, para tal, a orientação inerente ao sistema de
apoio e educação para o autocuidado proposto pela
autora.3,16
Conclusões
Como enfermeiros, devemos equacionar múltiplas
estratégias para que as pessoas consigam aceder,
compreender, interpretar e integrar o conteúdo da
informação que lhes permita cuidar de si, dado que, nas
pessoas mais idosas, com níveis mais baixos de escolaridade
e com a perceção de serem incapazes de cuidar de si, foram
encontradas ponderações mais baixas no domínio do
Conhecimento e procura de informação.
Na vivência de situações de incapacidade, a promoção do
autoconceito surge também como uma das dimensões
relevantes para a capacidade de autocuidado pelo que esta
deve ser uma dimensão a integrar no planeamento dos
cuidados.
Considerando que este estudo apenas integra pessoas
idosas em contexto domiciliário, sugerem-se novos estudos
incluindo contextos de internamento em diferentes
tipologias. Uma análise de outras variáveis que tenham por
base os fatores condicionantes básicos enunciados por
Dorothea Orem4 na sua Teoria do Défice do Autocuidado
em Enfermagem contribuiriam para uma compreensão
mais alargada da problemática.
Contribuições autorais
FC: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Análise estatística;
Redação do manuscrito.
MRP: Colaboração na análise estatística; Redação do
manuscrito.
MV: Conceção e desenho do estudo; Análise e
interpretação dos dados.
Conflito de interesses
As autoras declaram que não há conflito de interesses.
Financiamento
Financiamento: Trabalho de tradução para língua inglesa
financiado por fundos nacionais através da FCT
Fundação para a Ciência e Tecnologia, I.P., no âmbito do
projeto nº UID/CED/04748/2020 (CIEQV).
Artigo Original Quantitativo
Referências
1. Galvão A, Pereira F, Silva A. Promoção do autocuidado
no envelhecimento gratificante. In: Galvão A. Literacia
em Saúde e Autocuidados: Evidências que Projetam a
Prática Clínica. Algés: Euromédice; 2021. p. 211-221.
2. Nações Unidas. Centro regional de informação para a
Europa Ocidental Envelhecimento [Internet]. ONU;
2023 [cited 2023 April 23] Available from:
https://unric.org/pt/envelhecimento/
3. Instituto Nacional Estatística. Estimativas de
População residente em Portugal. 2020. INE; 2021.
4. Orem D. Nursing: concepts of practice. 6ª edition. St.
Louis: Mosby; 2001. 385.
5. <DQDUGDø 0= g]HU g g]PHQ S. Investigating Self-
Care Agency and Well-Being of Elderly People. Soc
Work Public Health [internet]. 2021 May 19;36(4):496-
508. doi: 10.1080/19371918.2021.1915908.
6. Du M, Kong H, Ran L, Ran Y, Bai L, Du Y, Guan H,
Dong Y, Zhao Y. Associations among health-
promoting lifestyle, self-care agency and health-related
quality of life in Bai older adults with hypertension in
Yunnan China. BMC Geriatr. 2022 Dec 7:22(1):942.
doi: 10.1186/s12877-022-03608-0
7. Liu Y, Xue L, Xue H, Hou P. Health literacy, self-care
agency, health status and social support among elderly
Chinese nursing home residents. Health Education
Journal [Internet]. 2018. 77(3): 303-311. Available
from: https://doi.org/10.1177/0017896917739777
8. Tanimura C, Matsumoto H, Yoshimura J, Tokushima
Y, Yamamoto Y, Fujihara Y, Miyoshi M, Hagino H. A
Path Model Analysis of the Causal Relationship
between Self-care Agency and Healthy Behavior in
Community-dwelling Older People from the GAINA
Study. Yonago Acta Med. 2019 Mar 28:62(1):137-145.
doi: 10.33160/yam.2019.03.019
9. Alhambra-Borrás T, Durá-Ferrandis E, Garcés-Ferrer
J, Sánchez-García J. The Appraisal of Self-Care Agency
Scale - Revised (ASA-R): Adaptation and Validation in
a Sample of Spanish Older Adults. Span J Psychol. 2017
Oct 23:20: E48. doi: 10.1017/sjp.2017.52
10. Guo L, Zauszniewski JA, Ding X, Zhang L, Gao H,
Guo Q, Liu K. The Appraisal of Self-Care Agency
Scale-Revised (ASAS-R): Reliability and Validity
Among Older Chinese People. West J Nurs Res. 2017
Nov 39(11):1459-1476. doi:
10.1177/0193945916672821
11. OMS (2015). Relatório mundial de envelhecimento e
saúde. Resumo, OMS
12. Hu J, Gruber KJ, Liu H, Zhao H, Garcia AA. Diabetes
knowledge among older adults with diabetes in Beijing,
China. J Clin Nurs [internet]. 2013 Jan;22(1-2):51-60.
doi: 10.1111/j.1365-2702.2012.04273.
13. Kearney BY, Fleischer BJ. Development of an
instrument to measure exercise of self-care agency. Res
Nurs Health [internet]. 1979 Mar;2(1):25-34. doi:
10.1002/nur.4770020105.
14. Riesch SK, Hauck MR. The exercise of self-care agency:
an analysis of construct and discriminant validity. Res
Nurs Health [internet]. 1988 Aug;11(4):245-55. doi:
10.1002/nur.4770110406
15. Marôco, J. Análise de equações estruturais:
Fundamentos teóricos, msoftware e aplicações. Pêro
Pinheiro: ReportNumber; 2014. 1013.
16. Taylor S, Renpenning K. Self-care science, nursing
theory, and evidence-based practice. Springer
publishing company. New York; 2011. 256.
17. Borba AK, Arruda IK, Marques AP, Leal MC, Diniz
AD. Knowledge and attitude about diabetes self-care of
older adults in primary health care. Cien Saude Colet
[internet]. 2019 Jan;24(1):125-136. doi: 10.1590/1413-
81232018241.35052016
18. Carvalho C, Santos P, Pereira J. Literacia em saúde.
Volume I. Porto: Escola Superior de Saúde do Porto.
Politécnico do Porto. 2020. 23.
19. Serrão C, Veiga S, Ribeiro G. Literacia em saúde: um
desafio na e para a terceira idade. Projeto de literacia em
saúde. Portugal: Tipografia Lessa; 2014. 77.
20. Luyckx K, Rassart J, Aujoulat I, Goubert L, Weets I.
Self-esteem and illness self-concept in emerging adults
with Type 1 diabetes: Long-term associations with
problem areas in diabetes. J Health Psychol
[internet].2016 Apr;21(4):540-9, doi:
10.1177/1359105314531467.
21. Jacobs RJ, Ownby RL, Acevedo A, Waldrop-Valverde
D. A qualitative study examining health literacy and
chronic illness self-management in Hispanic and non-
Hispanic older adults. J Multidiscip Healthc [internet].
2017 Apr [cited 2022 Feb 19]; 20:10:167-177. Available
from: https://doi.org/10.2147/JMDH.S135370
22. Medina, D. Literacia em Saúde: Um estudo sobre a
população idosa portuguesa. [dissertation on the
internet]. Lisboa (Portugal): Faculdade de Ciências
Humanas e Sociais da Universidade Fernando Pessoa;
2019 [cited 2023 jan 23]. 70 p. Available
from: http://hdl.handle.net/10284/7456
23. Townsend, A., Wyke, S., Hunt, K. Self-managing and
Managing Self: Practical and Moral Dilemmas in
Accounts of Living with Chronic Illness, Chronic Illn.
2006 Sep;2(3):185-94. doi:
10.1177/17423953060020031301.
24. Arriaga MT, Santos B, Silva A, Mata F, Chaves N,
Freitas G. Plano de Ação para a literacia em saúde 2019-
2021. Lisboa, Ministério da Saúde-Direção-Geral da
Saúde; 2018. 26.
| 82
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / agosto 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.269
Artigo Teórico
Como citar este artigo: Bianconi ALM, Marcon SS, Malaquias TSM, Haddad MCFL. Habilidades sociais de
enfermeiros da atenção básica e o agir comunicativo de Jürgen Habermas
.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Ago;
27(1)
82-86. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.269
Habilidades sociais de enfermeiros da atenção
básica e o agir comunicativo de Jürgen Habermas
Resumo
Objetivo
Promover reflexão sobre as habilidades sociais na atuação de enfermeiros da atenção básica,
na perspetiva do agir comunicativo de Habermas.
Método
Trata-se de um artigo de reflexão que propõe uma discussão sobre as habilidades sociais na
atuação de enfermeiros da atenção básica, embasada pela Teoria do Agir Comunicativo de
Habermas.
Desenvolvimento
As habilidades sociais referem-se aos comportamentos no repertório do indivíduo para
lidar com as demandas e situações sociais que ocorrem no dia a dia. No processo laboral o
enfermeiro, por ser o gestor da equipe, deve desenvolver suas potencialidades para ampliar
as habilidades pertinentes à gestão da assistência, especialmente, quanto à comunicação
efetiva.
Conclusão
Conclui-se que a Teoria da Ação Comunicativa de Jurgen Habermas contribui para a prática
gerencial do enfermeiro e apoia para um desempenho social favorável, visto que, ao
submeter suas atitudes a um agir comunicativo, o enfermeiro estará em busca de maior
interação com sua equipe, pacientes, família e demais profissionais que constituem as redes
de atenção.
Palavras-chave
Atenção Básica; Comunicação; Enfermagem; Filosofia em Enfermagem; Relações
Interpessoais.
Aline Loiola Moura Bianconi1
orcid.org/0000-0002-1470-2164
Sonia Silva Marcon2
orcid.org/0000-0002-6607-362X
Tatiana da Silva Melo Malaquias3
orcid.org/0000-0001-5541-441X
Maria do Carmo Fernandez Lourenço Haddad4
orcid.org/0000-0001-7564-8563
1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Programa de
Pós-
Graduação em Enfermagem, Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, Brasil.
2 Enfermeira. Doutora em Filosofia. Departamento de
Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá,
Maringá, Brasil.
3 Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Departamnto
de Enfermagem, Universidade Estadual do Centro-
Oeste, Guarapuava, Brasil.
4 Enfermeira. Dou
tora em Enfermagem.
Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual
de Londrina, Londrina, Brasil.
Autor de correspondência
Tatiana da Silva Melo Malaquias
E-mail: tatieangel@yahoo.com.br
Recebido: 30.03.2023
Aceite: 04.05.2023
Artigo Teórico
Introdução
A Atenção Básica (AB) é compreendida como o conjunto
de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que
abarcam promoção, prevenção, proteção, diagnóstico,
tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados
paliativos e vigilância em saúde, realizada por meio de
práticas de cuidado integrado e gestão qualificada,
desenvolvida por uma equipe multiprofissional para a
população em um território definido, sobre as quais as
equipes assumem responsabilidade sanitária.1,2
As ações da AB estão pautadas em quatro pilares: os
cuidados do primeiro contato, a continuidade do cuidado, o
cuidado integral e a coordenação do cuidado. Para o
cumprimento desses objetivos, é necessário realizar gestão
compatível com as necessidades da população, seguindo os
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), e
contar com profissionais capacitados para a liderança das
equipes.1,2
Nessa perspetiva o enfermeiro representa o ator principal
nas ações de saúde, pois tem assumido posições de liderança
nos cenários atuais que podem ser definidoras da qualidade
do cuidado prestado. A atuação do enfermeiro na AB
brasileira vem-se configurando como uma ferramenta de
mudanças nas práticas de atenção à saúde no SUS,
propiciando um novo modelo assistencial que não está
centrado no biologicismo, mas na integralidade do cuidado,
na intervenção frente aos fatores de risco, na prevenção de
doenças e na promoção da saúde e da qualidade de vida.1,2
Autores afirmam que o trabalho do enfermeiro na AB está
pautado em duas dimensões: a) produção do cuidado e
gestão do processo terapêutico; e b) atividades de
gerenciamento do serviço de saúde e da equipe de
enfermagem. Assim, o enfermeiro, como gestor da equipe
de enfermagem, além de articular as atividades de vários
outros profissionais da equipe de saúde, deve desenvolver
potencialidades para ampliar as habilidades pertinentes à
gestão do processo de trabalho, especialmente, na
comunicação efetiva, relacionamento interpessoal e
desenvolvimento de um clima favorável ao exercício da
liderança.3
Destarte, a atuação do enfermeiro, nesse cenário, envolve
várias dimensões da prática clínica, como o cuidado, a
assistência, o ensino, a pesquisa e a gestão, incorporando
ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças.
Para alcançar os objetivos dessa modalidade de atenção, é
necessário ser um profissional que busca constantemente
desenvolver as suas competências sociais e interpessoais.3
As habilidades sociais (HS) englobam classes de
comportamentos valorizados em determinada cultura, com
alta probabilidade de resultados favoráveis para o indivíduo,
seu grupo e comunidade, que podem contribuir para um
desempenho socialmente competente em tarefas
interpessoais. Tais habilidades estão divididas em
automonitoramento, comunicação, civilidade,
enfrentamento: direitos e cidadania, empatia, HS de trabalho
e HS de expressão de sentimento positivo.4, 5
Esse repertório de comportamentos pode nascer com a
pessoa, eles podem ser adquiridos ao longo de sua vida, por
meio de programas de capacitação ou por vivência. Dessa
forma, é possível que uma pessoa socialmente incompetente
possa executar de maneira competente uma determinada
tarefa.6
Considerando que as relações interpessoais e as HS
necessitam de tratamento vigoroso e não reducionista, e
considerando o processo de trabalho do enfermeiro,
reconhecido como uma prática social que promove a
construção das relações grupais de caráter complexo, para o
desenvolvimento desta reflexão, será utilizada a teoria do
Agir Comunicativo de Habermas.7, 8
Assim, tem-se por objetivo promover reflexão sobre as
habilidades sociais na atuação de enfermeiros da atenção
básica, na perspetiva do agir comunicativo de Habermas.
Considera-se que tal reflexão é importante, visto que
contribuirá para a (re)construção de práticas comunicativas
eficientes e, assim, pode tornar esse espaço de atuação mais
efetivo no cuidado às pessoas, famílias e comunidades.
Método
Trata-se de um artigo de reflexão que propõe uma discussão
sobre as habilidades sociais na atuação de enfermeiros da
atenção básica, baseada na Teoria do Agir Comunicativo de
Habermas,8 considerando que o trabalho do enfermeiro é
reconhecido como uma prática social que promove a
construção das relações grupais de caráter complexo e não
reducionista.
Desenvolvimento
Teoria do Agir Comunicativo de Jürgen Habermas
Jürgen Habermas, filósofo e sociólogo alemão, nascido em
1929, é um dos mais importantes filósofos e sociólogos do
século XX e considerado um dos últimos representantes da
escola de teoria social e filosofia de Frankfurt. No conjunto
de sua obra podem ser destacadas três ideias fundamentais:
a primeira reside na construção de uma Teoria da Ação
Comunicativa; a segunda, na defesa da existência de uma
esfera pública, na qual os cidadãos, livres de domínio
político, poderiam expor ideias e discuti-las; a terceira ideia
defende que as ciências naturais seguem uma lógica
objetiva.9
Habermas defende que as sociedades são complexas e estão
deficientes de integração social. Consequentemente,
constituem espaços potenciais de conflitos, dificultam
estudos sobre valores morais, e prejudicam a liberdade dos
indivíduos. Considerando o mencionado, “os seres
humanos de forma geral estão frequentemente à busca de
interesses pprios, espelhados através de cálculos de
vantagens e decisões arbitrárias. Atua-se sobre o outro e não
com o outro, isto é, um agir racional com direção a fins
meramente estratégicos”.10(p177)
A Teoria da Agir Comunicativo busca um conceito
comunicativo de razão e uma sociedade na qual a
comunidade participa das decisões tanto individuais como
nas coletivas, de forma ativa, consciente e responsável. Essa
teoria compreende o indivíduo como ser participativo que
Artigo Teórico
antes de agir avalia as possíveis consequências, considerando
as regras, normas, valores e leis. Portanto, não deve agir
mecanicamente.10-11
A presente teoria diz respeito a dois tipos de ações: ação
instrumental e ação comunicativa. As sociedades que
possuem locais onde há a prevalência da ação instrumental
são identificadas pelo filósofo como mundo sistêmico, e
aquelas nas quais a prevalência é da ação comunicativa são
nomeadas como mundo da vida.12
O mundo sistêmico seria aquele mundo em que predomina
a racionalidade instrumental e reparadora. Portanto, a crítica
da razão instrumental está relacionada a uma ampliação do
conceito de racionalidade. Assim, Habermas desenvolve o
conceito de racionalidade comunicativa, que se constitui
fundamental para o mundo do trabalho ou razão
comunicativa, onde o objetivo principal é a busca de
interesses próprios.9
O mundo da vida seria a esfera privada da família e das
amizades, e a esfera pública é onde os sujeitos chegam a um
entendimento sobre as outras esferas do sistema social, por
meio do processo comunicativo, da ação comunicativa, que
por sua vez traz uma decisão melhor para os indivíduos. O
mundo da ação comunicativa é o mundo vivido ou o mundo
da vida.10
O Quadro 1 representa aspectos que fundamentam a
compreensão do entendimento mútuo e da interface entre o
mundo da vida e o agir pautado em normas, ou seja, mundo
sistêmico.13
Quadro 1 - Pilares teóricos da Teoria do Agir Comunicativo, Londrina/PR,
Brasil, 2021
PILARES
TEÓRICOS
Orientações para o entendimento mútuo
YHUVXV orientação para o sucesso
O entendimento mútuo como mecanismo
de coordenação de ações
Situação de ação e situação da fala
O pano de fundo do mundo da vida
Processo de entendimento mútuo entre o
mundo e o mundo da vida
Referências ao mundo e pretensões de
validez
Perspetiva do mundo
Fonte: Adaptado de Habermas (1989)
Para tanto, a comunicação deve ser inteligível, considerando
o universo do recetor quando for elaborar um discurso,
afinal, o principal objetivo da comunicação é o
entendimento. A ênfase dada por Habermas é o paradigma
de que a razão dialógica é fruto do processo de
entendimento intersubjetivo, pois os sujeitos, situados
historicamente, por meio da fala, estabelecem uma relação
interpessoal na qual pode-se tentar compreender que o
mundo contemporâneo é regido pela razão comunicativa.13
Interfaces entre habilidades sociais na atuação do
enfermeiro na atenção básica e o agir comunicativo
As atividades do enfermeiro na AB impulsionam ações entre
o sistema de saúde e as pessoas, por meio da produção do
cuidado, da gestão da equipe de enfermagem e do
gerenciamento. “A gestão do cuidado está relacionada às
atividades privativas do enfermeiro em relação a planejar,
executar, coordenar, supervisionar e avaliar a assistência de
enfermagem, considerando o ponto de vista ético-
legal”.14(p1)
O enfermeiro, na prática diária, em virtude de exercer a
posição de liderança, necessita proporcionar para sua equipe
momentos de integração que favoreçam o pensar, refletir,
sentir e agir de todos os envolvidos, nas atividades
relacionadas ao atendimento ao paciente e comunidade.
Frente a isso, é imprescindível que este profissional seja
hábil nos processos de comunicação e relacionamento, pois
eles são inerentes à sua atuação gerencial. Para tanto, deve
possuir um repertório apurado de habilidades sociais.15
Neste cenário, a prática diária do enfermeiro perpassa o
aspecto mecanicista e reducionista. Portanto, um processo
comunicacional adequado é fundamental, considerando a
diversidade de ações sob sua responsabilidade, além de
articular as atividades entre sua equipe e outros
profissionais, setores de saúde e das redes de atenção como
um todo, com o intuito comum de atender à comunidade.
Desta forma, é necessário implementar uma comunicação
efetiva no cotidiano laboral da enfermagem, em especial,
pelo enfermeiro como líder desta equipe.15,16
Cabe destacar que, segundo Habermas, é fundamental
provocar um aprendizado constante e renovador, “uma vez
que o consenso existe até o momento do dissenso”, quando
algo ou situações podem ser renegociados. Explica que o
“consenso não ocorre quando o mundo da vida é muito
distinto”, pois em situações que as culturas são muito
distintas pode não haver a motivação de uma ou de ambas
as partes no sentido de investigar, ir em busca de
entendimento por meio da comunicação. Portanto,
comunicação não se restringe ao que é dito ou escrito, pois
se transforma em ação, e é assim que os indivíduos
interagem entre si, “num vai e vem argumentativo”. 15,16
As ideias mencionadas anteriormente permeiam o universo
das HS, visto que as classes de habilidades englobam
comportamentos relativos ao repertório do indivíduo para
um desempenho favorável na sociedade. Portanto, as HS
são interdependentes no cotidiano social do homem, e a
comunicação é uma habilidade que transpassa entre todas as
outras e está estritamente entrelaçada ao agir comunicativo.
Quando uma ação necessita do entendimento mútuo e
cooperação dos pares para um objetivo comum, deve haver
uma compreensão dos contextos individuais e
posicionamento do recetor frente ao ato da fala.16
Por meio da linguagem, o enfermeiro é capaz de reduzir as
fragilidades e potencializar as fortalezas comuns nos
relacionamentos entre os membros da equipe de saúde. O
entendimento da relevância e a capacidade do agir
comunicativo fazem com que as individualidades, que
formam a heterogeneidade da equipe e as particularidades
Artigo Teórico
de seus entes, deixem de ser peças que prejudicam a
comunicação e passem a ser contribuições do consenso
construído pela participação de todos.17
Para colocar em prática o repertório de comportamentos
das HS e obter um desempenho social favorável, para o
indivíduo ser considerado socialmente habilidoso, é
fundamental ter como princípio a automonitoria, e para tal
o autoconhecimento é indispensável. Assim, de acordo com
Habermas, é essencial acreditar que as pessoas que se
comportam irracionalmente se enganam no seu
autoconhecimento, e pessoas que conseguem ter uma
atitude reflexiva sobre sua subjetividade, por meio da
autorreflexão, têm condições de alcançar seus sonhos e
objetivos por meio da própria vivência.16-18
Contudo, nítida é a imprescindibilidade de se transcender o
processo comunicativo característico do mundo da vida
para se adentrar no processo de racionalidade reflexiva e
crítica. Na linguagem gerencial do universo das atribuições
do enfermeiro socialmente habilidoso, utilizar a
racionalidade reflexiva para uma boa leitura de cenário e
solução dos nós críticos no processo assistencial é
fundamental. É preciso, por meio do procedimento
argumentativo, que o grupo busque o consenso a partir de
princípios que busquem a assegurar sua validade. Assim, a
verdade não é oriunda da reflexão isolada, mas é exercida
por meio do diálogo orientado por regras estabelecidas
pelos membros do grupo, numa situação dialógica ideal. A
situação ideal de fala consiste em evitar a coerção e dar
condições para todos os participantes do discurso
exercerem os atos de fala. Para Habermas o critério da
verdade não consiste na correspondência do enunciado com
os fatos, mas sim no consenso discursivo. 16-18
Algumas fragilidades encontradas no processo de
comunicação podem afetar o agir comunicativo do
enfermeiro e sua equipe, como registos de dados
inadequados, velocidade de disseminação de informações
(fake ou não) extremamente rápida, gerando complicações
de várias proporções e dificultando o controle do processo
comunicativo.19
Dessa forma, faz-se necessário que o enfermeiro, como
gestor da equipe, averigue se suas ações estão sendo
pautadas apenas no agir estratégico, para não se deparar com
a falta de entendimento. Assim, para subvencionar seu agir,
deve ir à busca de elementos das ciências sociais e
sensibilizar-se com a importância da comunicação no
processo de cuidar e gerenciar, de maneira que possa
transformar as relações enfermeiro-cliente, enfermeiro-
equipe e equipe-cliente. Quando o enfermeiro atua de
acordo com suas habilidades sociais e embasado no agir
comunicativo, poderá propiciar entendimento e grandes
transformações sociais. 15, 18
Salienta-se que a comunicação efetiva é imprescindível para
o trabalho em equipe. Para que se possa prestar uma
assistência de saúde com qualidade e mais humana, precisa-
se estabelecer uma comunicação efetiva entre todos os
envolvidos, isto é, gestores, trabalhadores, pacientes e
familiares.17
Destarte, é imprescindível focar mais a ação comunicativa
do processo de trabalho do enfermeiro, a fim de permitir
um melhor desempenho e relacionamento interpessoal, com
autonomia de seus agentes e construção mútua de objetivos
comuns entre a equipe de saúde como um todo. Desse
modo, os integrantes do processo se reconhecem como
atores de um mundo social em meio a divergências culturais,
saberes e subjetividades, com intuito de propiciar um
relacionamento eficaz.17
Por fim, enfatiza-se que, na teoria habermasiana, o agir
comunicativo é um ato que tem como finalidade o
entendimento mútuo, por meio de ajuda entre os
envolvidos, correspondendo a uma estratégia eficaz para
outras ações, e se desenvolve a partir de um processo anular,
em que o ator é iniciador e produto do processo.20
Conclusão
A Teoria da Ação Comunicativa de Jurgen Habermas
contribui para a prática gerencial do enfermeiro e apoia para
um desempenho social favorável, visto que, ao submeter
suas atitudes a um agir comunicativo, o enfermeiro estará
em busca de maior interação com sua equipe,
pacientes/clientes, família e demais profissionais que
constituem as redes de atenção. Profissionais da saúde em
geral precisam estar comprometidos em desenvolver suas
habilidades sociais e de comunicação, a fim de promover
mais humanização e reduzir atos mecanicistas.
Considerando que Habermas sugere que a interação é
indispensável para a organização social, o entendimento de
todos deve ser o objetivo, sempre em busca do consenso,
sem coação de forma alguma. O agir do enfermeiro com sua
equipe visa à promoção da saúde e do bem-estar de todos,
incluindo clientes internos e externos. O agir comunicativo
deve ser uma preocupação de todos os profissionais.
Contribuições autorais
ALMB: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Redação do manuscrito;
Revisão crítica do manuscrito.
SSM: Conceção e desenho do estudo; Análise e
interpretação dos dados; Redação do manuscrito; Revisão
crítica do manuscrito.
TSMM: Conceção e desenho do estudo; Análise e
interpretação dos dados; Redação do manuscrito; Revisão
crítica do manuscrito.
MCFLH: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Redação do manuscrito;
Revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interesses
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelas autoras.
Referências
1. Farah BF, Dutra HS, Sanhudo NF, Costa LM. Percepção
de enfermeiros supervisores sobre liderança na atenção
primária. Rev Cuid [Internet]. 2017 [citado 2021 Nov 14];
8(2): 1638-1655. Disponível em:
Artigo Teórico
http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&p
id=S2216-09732017000201638&lng=pt.
http://dx.doi.org/10.15649/cuidarte.v8i2.398.
2. Martins ACT, Paula AP, Cardoso JR, Borges MIG,
Botelho MB. O Projeto AcolheSUS na Atenção Primária à
Saúde do Distrito Federal, Brasil. Ciênc. saúde colet.
[Internet] 2019 [citado 2021 Nov 14]; 24(6): 2095-2103.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/1413-
81232018246.08492019.
3. Silva VL, Camelo SH, Soares MI, Resck ZM, Chaves LD,
Santos FC, Leal LA. Leadership Practices in Hospital
Nursing: A Self of Manager Nurses. Rev Esc Enferm USP
[Internet] 2017 [citado 2021 Set 20] 3(51):e03206.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1980-
220X2016099503206
4. Del Prette A, Del Prette ZAP. Psicologia das habilidades
sociais: diversidade teórica e suas implicações. Petpolis:
Vozes, 2013, p.24-30.
5. Del Prette A, Del Prette ZAP. Competência Social e
Habilidades Sociais: Manual teórico-Prático. Petrópolis:
Vozes, 2017, p.8-27.
6. Caballo VE. Manual de avaliação e treinamento das
habilidades sociais. São Paulo: Santos, 2010, p.1-17.
7. Habermas J. Direito e democracia: entre facticidade e
validade. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003, p.17-23.
8. Habermas J. Teoria de la Accion Comunicativa, Tomo I,
Madrid: Taurus Ediciones, 1999, 521p.
9. Koury MGP. Jürgen Habermas e a teoria do agir
comunicativo: breves notas introdutórias. RBSE [Internet]
2015 [citado 2021 Set 15];14(40):27-35. Disponível:
https://www.researchgate.net/publication/290444963_Jur
gen_Habermas_e_a_teoria_do_agir_comunicativo_Breves
_notas_introdutorias
10. Bustamante AP. Aplicação do agir comunicativo de
Habermas na mediação comunitária: o dialógo como
instrumento transformador. Revista da Faculdade de
Direito Candido Mendes [Internet] 2013 [citado 2021 Ago
12]; 18(18): 175-193. Disponível em:
https://www.candidomendes.edu.br/wp-
content/uploads/2019/05/RevistaFDCM-Ucam18.pdf
11. Sales, LMM. Justiça e mediação de conflitos. Belo
Horizonte: Del Rey, 2004, 334 p.
12. Andrade LFS, Alcantara VC, Pereira JR. Comunicação
que constitui e transforma os sujeitos: agir comunicativo em
Jürgen Habermas, ação dialógica em Paulo Freire e os
estudos rganizacionais. Cad. EBAPE.BR [Internet] 2019
[citado 2021 Set 21]; 17(1);12-24. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/1679-395164054.
13. Habermas J. Consciência moral e agir comunicativo. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro; 1989.
14. Andrade SR, Schmitt MD, Schittler ML, Ferreira A,
Ruoff AB, Piccoli T. Configuration of the management of
nursing care in Brazil: a documentary analysis. Enferm.
Foco [Internet]. 2019 [cited 2021 Set 02 20]; 10(1):127-33.
DOI:https://doi.org/10.21675/2357707X.2019.v10.n1.19
26.
15. Montezeli JH, Almeida KP, Haddad MCFL. Percepções
de enfermeiros acerca das habilidades sociais na gerência do
cuidado sob a perspetiva da complexidade. Rev. esc. enferm.
USP [Internet] 2018 [citado 2021 Nov 11]; 52:e03391.
Disponível em: Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017048103391.
16. Alves KYA, Bezerril MS, Salvador PTCO, Feijão AR,
Santos VEP. Comunicação efetiva em Enfermagem à luz de
Jürgen Habermas REME Rev Min Enferm. [Interntet]
2018[citado em 2021 Nov 23];22:e-1147. Disponível em:
http://www.dx.doi.org/10.5935/1415-2762.20180078
17. Araújo MPS, Medeiros SM, Quental LLC.
Relacionamento interpessoal da equipe de enfermagem:
fragilidades e fortalezas. Rev enferm UERJ [Internet] 2016
[citado 2021 nov4];24(5):e7657. Disponível em:
https://doi.org/10.12957/reuerj.2016.7657
18. Larocca LM, Mazza VA. Habermas e Paulo Freire:
referenciais teóricos para o estudo da comunicação em
enfermagem. Rev Gaúch Enferm. [Internet] 2003[citado
2021 Set 22];24(2):169-76.
19. Ilha P, Fernandez DLR, Tourinho FSV, Barbosa SS,
Kreusch PS, Santos EKA. Refletindo a ação comunicativa
de Habermas como fator de qualificação do atendimento ao
trauma. Sau. & Transf. Soc. [Internet] 2019 [citado 2023 Mai
03];10(1/2/3): p.195-200. Disponível em:
https://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/saudeetr
ansformacao/article/view/5157
20. Habermas J. Racionalidade e comunicação. Lisboa:
Edições 70; 1996, p. 149-163.
| 87
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / agosto 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.218
Artigo Teórico
Como citar este artigo: Santos J. Enfermagem avançada: recordar o passado, apreciar o presente e
perspetivar o futuro.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Ago; 27(1)87-94.
Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.218
Enfermagem avançada: recordar o passado,
apreciar o presente e perspetivar o futuro
Resumo
Introdução
O presente artigo surge da análise da prática de cuidados como Enfermeiro, num sentido de
melhoria contínua. Deste modo, compreendendo a história profissional, os paradigmas da
profissão e o posicionamento da Enfermagem em termos sociais no mundo atual, pode-se
perspetivar possibilidades de caminhos para a profissão.
Objetivos
Com o presente artigo pretende-se refletir sobre a evolução histórica da Enfermagem em
Portugal e perspetivar o futuro da Enfermagem portuguesa à luz das influências
internacionais.
Desenvolvimento
Foi abordada a perspetiva histórica e as implicações na prática de cuidados de Enfermagem,
o Cuidado Centrado na Pessoa/cliente e a individualização da intervenção e, por fim, a
Enfermagem Avançada e a Prática Avançada de Enfermagem. Analisando a perspetiva
histórica da Enfermagem ao longo dosculos, desde o seu peodo abnegado, passando
pela época romântica pela medicina e pela fase tecnicista, compreende-se algumas práticas
atuais e dúvidas na perspetiva de futuro. O desenvolvimento do conhecimento e da prática
em Enfermagem deverá passar pelo reconhecimento e avanço das competências centrais da
disciplina.
Conclusão
É fundamental para o desenvolvimento da Enfermagem uma aproximação entre a produção
científica e a prática de cuidados. Facilitador deste processo é o desenvolvimento das
especialidades em Enfermagem como curso de mestrado, promovendo não só práticas
diferenciadas, mas também um olhar e pensamento críticos dos profissionais. Neste
processo, não se deverá remeter para segundo plano a existência de outras ciências da
saúde, sociais e humanas, entre outras que fomentarão o desenvolvimento do corpo da
Enfermagem, mas também, torna-se fundamental a divulgação da produção científica em
Enfermagem, de forma a dar visibilidade à ciência e à prática da disciplina.
Palavras-chave
Enfermagem; História da Enfermagem; Enfermagem Centrada na Pessoa; Prática Avançada
de Enfermagem.
João Santos1
orcid.org/0000-0003-0070-2451
1 Mestre. Centro de Medicina de Reabilitação de
Alcoitão, Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
João Santos
E-mail: joao.santos.rn@gmail.com
Recebido: 02.12.2022
Aceite: 10.05.2023
Artigo Teórico
Introdução
Desde que surge a vida, os cuidados existem: é necessário
“cuidar” da vida para que ela possa permanecer. 1 ( p.117)
A Enfermagem não se pode desligar no seu foco nem na
sua história das pessoas. Olhando para o passado, pode-se
afirmar que a Enfermagem e o seu desenvolvimento como
arte e ciência está intrincada na atenção da Mulher. Desde
sempre, que a Mulher assume o papel de cuidadora no seio
familiar, promovendo o desenvolvimento harmonioso dos
filhos, garantindo a higiene e a manutenção do
lar/domicílio, auxiliando na recolha de alimentos e na sua
preparação, para nomear algumas. Estas responsabilidades
inseridas no papel da Mulher-Mãe estão presentes até ao dia
de hoje, apesar das significativas mudanças sociais que a
família e a sua representação atualmente apresentam.
Historicamente, a Mulher teve um papel social menos ativo
até ao século XX O Século das Guerras. Apesar desse
apagamento social, a Mulher não deixou de ser uma pedra
basilar na sociedade ao longo dos séculos, não só pelo seu
crítico desempenho na família unidade estrutural e
fundamental da sociedade mas também pelo seu
envolvimento nas causas sociais, solidárias e
misericordiosas. 2,3
Adicionalmente, não se pode negar a relação histórica da
Enfermagem com a religião. No caso de Portugal, o
Cristianismo, com o seu fundamento altruísta e fraternal,
está associado ao cuidado ao próximo. Olhando para as
obras de misericórdia difundidas pelas Igreja Católica,
salienta-se as sete obras de misericórdia corporais (alimentar
os famintos, dar de beber aos quem têm sede, vestir os
despidos, abrigar os sem abrigo, visitar os doentes, visitar os
presos e sepultar os mortos) e as sete obras de misericórdia
espirituais (ensinar os ignorantes, aconselhar os duvidosos,
advertir os pecadores, suportar os erros pacientemente,
perdoar as ofensas, confortar os tristes, rezar pelos vivos e
pelos mortos)4. Pelo descritivo das obras de misericórdia,
pode-se afirmar que os valores ou princípios fundamentais
da Enfermagem se encontram imiscuídos nestes princípios
religiosos. Esta relação íntima entre a Enfermagem e a
Religião foi exponenciada durante a Idade Média, devido às
epidemias, aos confrontos bélicos e à fome que vieram
agravar as condições sociais e de saúde. Neste sentido, a
religião surgiu como porto de abrigo para a sociedade
medieval, providenciando os cuidados de saúde necessários
através da intervenção das ordens religiosas. 5
Apesar deste papel da religião na sociedade, a expressão
desta atenção na maioria dos casos era feita pela Mulher,
envolvida na ação das ordens religiosas da época. Deste
modo, pode-se constatar a tríade Enfermagem Mulher
Religião, cujo pináculo assume-se em Florence Nightingale
a mãe da Enfermagem moderna. No século XIX, durante
a guerra da Crimeia, a falta de condições assistenciais aos
militares levou Nightingale a reformular e restruturar as
condições existentes higiene e limpeza, alimentação,
ventilação, luminosidade, organização e separação de
circuitos e espaços, entre outras. Este laboratório serviu de
catapulta para o seu contributo nos cuidados de saúde
modernos. 5–7
Esta reflexão surge no seguimento da análise da prática
diária como Enfermeiro, num sentido de melhoria contínua.
Deste modo, compreendendo a história profissional, os
paradigmas da profissão e o posicionamento da
Enfermagem em termos sociais no mundo atual, pode-se
perspetivar possibilidades de caminhos para a profissão.
Com o presente artigo pretende-se refletir sobre a evolução
histórica da Enfermagem em Portugal e perspetivar o futuro
da Enfermagem portuguesa à luz das influências
internacionais. Para o seu desenvolvimento será abordado o
percurso histórico abreviado: de Nightingale ao modelo
biomédico até aos modelos de Enfermagem implicações
na prática de cuidados de Enfermagem; o Cuidado
Centrado na Pessoa/cliente e a individualização da
intervenção; e a Enfermagem Avançada e a Prática
Avançada de Enfermagem.
Formatado para um cuidado holístico desde o início da
formação, criando um distanciamento do modelo
biomédico, centrado em sinais e sintomas, a prática
profissional pautou-se pela individualização dos cuidados.
Neste sentido e no de desenvolvimento de competências,
tornou-se evidente repensar as práticas profissionais para
avançar os cuidados de Enfermagem prestados na fase de
transição de enfermeiro generalista para enfermeiro
especialista.
Percurso Histórico Abreviado: de Nightingale aos
Modelos de Enfermagem Implicações na Prática de
Cuidados de Enfermagem
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde
como “não apenas como a ausência de doença, mas como a
situação de perfeito bem-estar físico, mental e social”. 8 Esta
definição de saúde de meados do século XX tenta abarcar
mais que o domínio físico da saúde, i.e., a ausência de
doença, de origem na física clássica, mecanicista. Pode-se
considerar que esta visão dualista entre saúde e doença está
na base do modelo biomédico, centrado em sinais e
sintomas aspetos objetivos, mensuráveis e no processo
de cura. 9
O modelo biomédico guiou a formação em Enfermagem
devido às relações profissional e formativa íntimas entre o
Médico e o Enfermeiro. Segundo o este modelo, os
cuidados de Enfermagem são centrados em rotinas ou
tarefas que deem resposta às necessidades físicas da pessoa
doente. Nesta linha de pensamento, surge a imagem da
Enfermagem como subalterna da Medicina, tendo como
objetivo a cura ou o controlo da doença, sendo o médico o
principal responsável pelos cuidados de saúde. 9
Retomando a influência da religião o Cristianismo na
Enfermagem, o modelo biomédico veio acrescentar à
Enfermagem os valores do romanticismo e do
pragmatismo. Embebida desde a sua génese em asceticismo,
a Enfermagem sempre teve um foco de doação e dedicação
total ao outro. Com a evolução científica e a consolidação
do modelo biomédico, a subjugação ao médico e a
tecnicidade da profissão tornaram-se também
Artigo Teórico
predominantes na Enfermagem. Com estas conceções
subjacentes, pode-se afirmar que Enfermagem se encontra
entre os cuidados ao corpo, influência da Medicina, e os
cuidados ao espírito ou à alma, resultado do peso religioso.
9
Com a revolução de Nightingale, a Enfermagem
acrescentou Cncia à sua Arte1. O desenvolvimento do
corpo de conhecimento próprio da Enfermagem, pode-se
afirmar que foi iniciado pelo trabalho de Nightingale. 10 No
contexto multidisciplinar da saúde, não se pode ignorar a
influência que as diversas disciplinas têm entre si. Em
constante desenvolvimento, o corpo de conhecimento
próprio da Enfermagem, requisito para a definição da
profissão e da disciplina, sofre mutações que desenvolvem
a prática da Enfermagem.10,11 Para Florence Nightingale, a
Enfermagem centra-se no cuidado à pessoa, ao invés de no
processo de Enfermagem, na relação terapêutica ou no
Enfermeiro. Assim, a Enfermagem molda-se para dar
resposta às necessidades de cada pessoa. O Enfermeiro e a
pessoa cuidada são influenciados pelos fatores ambientais
que devem ser abordados para que sejam modificados no
sentido de um melhor cuidado à pessoa de acordo com as
suas necessidades. Foi com o trabalho de Nightingale que
se desenvolveu a formação em Enfermagem, pois na sua
perspetiva os Enfermeiros deveriam ter treino e formação
específica para o seu trabalho, permitindo a melhoria dos
cuidados prestados. 10,11
Durante o século XX, foram diversos os modelos
conceptuais da Enfermagem desenvolvidos. Pepin et al.10
classificam as teóricas de Enfermagem em cinco escolas de
pensamento:
Escola das Necessidades: centrada nas situações de
dependência, a Enfermagem suplementa ou
complementa a pessoa para satisfazer as
necessidades fundamentais, promovendo a
independência (Roper, Henderson);
Escola da Interação: centrada no processo
terapêutico interpessoal entre o Enfermeiro, a
pessoa e o contexto de forma a facilitar os
processos de transição e maximizar a
funcionalidade em saúde (Peplau, King);
Escola dos Resultados: centrada na adaptação da
pessoa ao meio (interno ou externo), promovendo
respostas adaptativas adequadas (Roy, Neuman);
Escola do Ser Humano Unitário: centrada no bem-
estar da pessoa, maximizando o potencial
individual de saúde, em cada momento e lugar
(Newman, Rogers);
1 Para Hesbeen43, cuidar é uma arte, é uma arte terapêutica, (…)
que lhe vão permitir ajudar alguém, na sua situação singular (p.37).
Escola do Cuidar: centrada no processo
fenomenológico de partilha entre o Enfermeiro e
a pessoa cuidada (Leinninger, Watson).
Os modelos teóricos em Enfermagem servem de lente para
olhar e compreender a realidade dos cuidados de
Enfermagem. Na sua conceção, existem quatro conceitos
metaparadigmáticos que fundamentam o modelo teórico
Enfermagem, Pessoa, Saúde e Ambiente. Resultante da
influência dos paradigmas vigentes as diversas escolas de
pensamento em Enfermagem deram corpo à Ciência
produzida. 10
Na atualidade dos cuidados de Enfermagem prestados,
pode-se afirmar que o paradigma holístico e a Enfermagem
holística estão a nortear a realidade profissional. Assim, a
Enfermagem abrange o cuidado de indivíduos, famílias, grupos e
comunidades, doentes ou saudáveis e em todos os ambientes. […] Inclui
a promoção da saúde, a prevenção da doença e o cuidado de pessoas
doentes, com deficiência e em processo de morte. Proteção, promoção de
um ambiente seguro, investigação, participação na formulação de
políticas de saúde e na gestão de doentes e de sistemas de saúde e
educação são também papéis importantes da Enfermagem. 12 Neste
sentido, a pessoa é muito mais que uma fonte de sinais e
sintomas, tem uma história e uma vivência prévias (cultura,
religião, espiritualidade, relacionamentos, entre outros) que
influenciam a forma de estar e de interagir com o outro
(neste caso com o Enfermeiro). É nesta interação que o
Enfermeiro reforça a existência e singularidade da pessoa
em processo de doença. 13,14
O Cuidado Centrado na Pessoa/Cliente e a
Individualização da Intervenção
O Modelo de Enfermagem Centrada na Pessoa reflete os
ideais de cuidado humanístico, onde existe uma
componente moral e a prática de Enfermagem tem na sua
base uma intencionalidade terapêutica, que se traduz em
relações construídas a partir de relações interpessoais
eficazes.15 Segundo o modelo, a Enfermagem é uma
abordagem à prática estabelecida através da formação e
promoção de relações terapêuticas, tendo como base o
respeito pela pessoa; o direito individual à
autodeterminação; e o respeito e compreensão mútuos,
através de culturas de empoderamento promotoras de
desenvolvimento humanista.15 Segundo McCormack &
McCance15 a Enfermagem Centrada na Pessoa é focada em
3 grandes aspetos:
Competências do enfermeiro (competências
profissionais, competências pessoais,
compromisso com o trabalho e características
pessoais);
Artigo Teórico
Aspetos organizacionais (tempo, combinação de
habilidades e o papel do enfermeiro);
Atributos do cliente.
Além do foco na competência técnica é extremamente
importante o desenvolvimento de práticas de cuidado
humanísticas e holísticas para abraçar todas as formas de
conhecer e agir para promover a escolha e parceria na
tomada de decisão no cuidado. 15
A teoria de médio-alcance de Enfermagem Centrada na
Pessoa caracteriza-se por quatro aspetos fundamentais: 15,16
Pré-Requisitos: focam-se nos atributos do
enfermeiro e incluem ser profissionalmente
competente, desenvolver habilidades
interpessoais, autoconhecimento, estar
comprometido com o trabalho, ser capaz de
demonstrar clareza de crenças e valores e conhecer
a si mesmo;
Ambiente de Cuidado: concentra-se no contexto
onde os cuidados são prestados e incluem uma
combinação apropriada de habilidades; sistemas
que facilitam a tomada de decisão partilhada;
relações entre os elementos da equipa eficazes;
partilha responsável do poder; ambiente físico;
sistemas organizacionais de apoio; potencial para
inovação e tomada de riscos.
Processos Centrados na Pessoa: focam-se na
prestação de cuidados por meio de atividades que
operacionalizam centrada na pessoa Enfermagem
e incluem trabalhar com as crenças e valores do
cliente; partilha de decisões; envolvimento
autêntico; presença empática; prestação de
cuidados holísticos;
Resultados Esperados: incluem uma experiência
positiva com o cuidado prestado; envolvimento no
cuidado/prestação de cuidados; sentimento de
bem-estar; a existência de uma cultura saudável.
Os Cuidados Centrados na Pessoa desenvolvem-se a partir
da comunicação entre a pessoa e o profissional. Assim, as
intervenções do enfermeiro devem enfocar a escuta das
narrativas das pessoas sobre a sua experiência de adoecer, o
significado pessoal que atribui à doença e as restrições
sociais causadas pelo sofrimento e dos sintomas. Através da
compreensão destas experiências, o enfermeiro pode
fortalecer o envolvimento da pessoa nas decies de
cuidados. 17
Quando é estabelecida uma comunicação eficaz,
demonstra-se interesse em escutar e o profissional
disponibiliza-se para compreender a perspetiva da pessoa,
2 Tradução livre do termo Engagement descrito por
McCormack & McCance15.
isso faz com que ganhe mais confiança na pessoa, é criado
um ambiente de cuidados em que existe uma maior partilha
sobre os seus sentimentos e há maior envolvência no
processo de tomada de decisão. 17
O modelo centrado na pessoa realça a interação significativa
entre o enfermeiro e a pessoa. Nesse aspeto, McCormack &
McCance15 ao descrever os processos centrados na pessoa
enuncia o Envolvimento2 como espelho da qualidade da
relação enfermeiro-pessoa. De acordo com a capacidade de
resolução conjunta de problemas e/ou de trabalhar em
conjunto, os autores descrevem três níveis: envolvimento
total, não-envolvimento parcial e não-envolvimento total.
Na revisão de 2017, McCormack & McCance16 renomeiam
o processo para Envolvimento Autêntico3. Na sua descrição,
Envolvimento Autêntico é considerado como a conexão do
Enfermeiro com o doente/pessoa e família (ou outras
pessoas significativas), determinada pelo conhecimento da
pessoa, clareza de crenças e valores, conhecimento de si
mesmo e experiência profissional. Esta interação entre
enfermeiro e pessoa é única, quer pelos indiduos que a
compõem, quer pelo momento em que é estabelecida.
Apesar desta mudança, os autores mantêm os níveis de
envolvimento descritos anteriormente.
Pela análise da prática de cuidados, denota-se nos registos
de Enfermagem a presença do modelo biomédico. Apesar
do modelo teórico de Enfermagem adaptado pela
instituição ser o de Roper, Logan e Tierney sobre as
Atividades de Vida Diária, os registos de Enfermagem
elaborados na maioria das situações dão
resposta/visibilidade às tarefas efetuadas, ao controlo
sintomático, aos programas de melhoria contínua e/ou às
necessidades ou obrigações da componente diretiva/gestão.
A sua forma de organização e de estrutura, os registos têm
como base a satisfação das necessidades/atividades de vida
diária, porém denota-se o registo na funcionalidade.
Considera-se que os registos de Enfermagem documentam
os cuidados prestados, dando visibilidade aos mesmos.
Apesar da sua importância, são remetidos para segundo
plano em situações mais complexas ou de sobrecarga de
trabalho. 1820
Com efeito, o descrito anteriormente vai de encontro ao
descrito por Kärkkäinen et al.21. Os registos parecem
refletir, com frequência, as tarefas desempenhadas pelos
enfermeiros, em vez dos cuidados personalizados.
Adicionalmente, fazem referência à forma de se fazer
registos, que é preconizada pelas instituições o que pode ser
impeditiva da realização de registos centrados nos cuidados
individualizados. Assim, o conteúdo dos registos de
3 Tradução livre do termo Engagement Authentically
descrito por McCormack & McCance16.
Artigo Teórico
Enfermagem não atende a critérios abrangentes e centrados
na pessoa.
Adicionalmente, Kärkkäinen et al.21 consideram que a
visibilidade do cuidado individualizado nos registos de
Enfermagem deve ter em consideração a vivência, as
necessidades e os desejos das pessoas cuidadas e que os
planos de cuidados devem ser elaborados com a
pessoa/doente e família. Ainda que deva existir esta
cooperação entre enfermeiro/pessoa, a documentação dos
cuidados não deve ser excluir o conhecimento técnico do
profissional, a tecnologia, a prática do cuidar nem os
princípios éticos.
A Enfermagem Avançada e a Prática Avançada de
Enfermagem na realidade portuguesa
A Enfermagem em Portugal sofreu um grande
desenvolvimento no último século. Esta explosão verificou-
se não só na sua prática efetiva de cuidados, associada à
evolução do conhecimento médico e à exigência das pessoas
cuidadas face aos cuidados prestados, mas também na sua
formação, através da integração da Enfermagem como
curso superior (bacharelato e posteriormente licenciatura) e
o desenvolvimento dos cursos de mestrado e de
doutoramento em Ciências de Enfermagem. 22
Com a evolução na prática de cuidados, houve a necessidade
de regular a profissão desenvolveu-se o Regulamento do
Exercício Profissional dos Enfermeiros e deu-se a criação
da Ordem dos Enfermeiros. No Regulamento do Exercício
Profissional dos Enfermeiros23, o enfermeiro desenvolve
dois tipos de intervenções, por um lado, as autónomas,
iniciadas pela prescrição do enfermeiro, por outro as
interdependentes, iniciadas na prescrição de outro
profissional de saúde.
Em alguns países, por dificuldades na assistência médica,
desenvolveu-se as competências técnicas de alguns
enfermeiros, ficando legalmente habilitados para o
diagnóstico, prescrição terapêutica e prescrição de exames
complementares de diagnóstico e sua interpretação. Este
acréscimo de competências médicas no enfermeiro veio
fomentar a criação do Nurse Practitioner4. 22,24,25
Na concepção do International Council of Nurses (ICN),
os Nurse Practitioners “são enfermeiros generalistas que, após
formação adicional (mestrado para o nível de entrada), são clínicos
autónomos”. 26 Pode-se equiparar, na realidade nacional, este
avanço na prática de Enfermagem, ao desenvolvimento de
competências interdependentes do enfermeiro. Também
Gardner et al.27 e Silva22 equiparam na sua conceção o Nurse
4 Optou-se por manter a designação original/internacional,
por não haver correspondência na prática portuguesa.
Practitioner como um modelo híbrido entre médico e
enfermeiro, assente no modelo biomédico.
Face a este avanço na prática de Enfermagem, tornou-se
premente definir o caminho para onde se queria
desenvolver o corpo, a prática e a ciência de Enfermagem.
A Canadian Nurses Association definiu enfermeiros de
Prática Avançada como:
Termo abrangente para Enfermeiros e Nurse Practitioners
que integram a preparação educacional de enfermagem de
pós-graduação com conhecimentos de enfermagem clínica
especializados e aprofundados na tomada de decisões
complexas para atender às necessidades de saúde de
indivíduos, famílias, grupos, comunidades e populações. 28
Estes enfermeiros de prática avançada têm competências:
abrangentes/alargadas na prestação de cuidados diretos;
para a otimização dos sistemas de saúde;
educacionais/formativas; de investigação; liderança; e de
consulta e colaboração. 28
Mais recentemente, o ICN definiu a Enfermagem de Prática
Avançada como:
Cuidados de saúde aprimorados e ampliados e intervenções
desenvolvidas por enfermeiros que, numa capacidade
avançada, influenciam os resultados em saúde e fornecem
serviços de saúde diretos a indivíduos, famílias e
comunidades. 26
No mesmo documento, o ICN compreende o Clinical Nurse
Specialist5 como um profissional com conhecimentos
avançados em Enfermagem, além dos desenvolvidos na
formação generalista ou de especialidade, para a tomada de
decisões complexas num determinado contexto específico,
promovendo a qualidade e impactando positivamente os
serviços de saúde.26 Esta designação profissional, surge em
resposta ao desenvolvimento do contexto da prática de
cuidados especializados, exigindo formação acrescida além
da Especialidade em Enfermagem. Comparando com a
realidade portuguesa, a aquisição da Especialidade em
Enfermagem pelo grau académico de mestrado nível de
referência para a atribuição do título de Clinical Nurse
Specialist26 pode ser considerado um caminho para o
desenvolvimento, ou melhor, para o avanço da prática da
Enfermagem portuguesa.
Nesta linha de pensamento e na realidade nacional, Silva22
delineou a Enfermagem Avançada como um
desenvolvimento das competências na área do cuidar e de
tomada de decisão. Deste modo, o desenvolvimento dos
cursos de mestrado e de doutoramento em Enfermagem
m aprofundar o conhecimento das respostas humanas
5 Optou-se por manter a designação original/internacional,
por não haver correspondência na prática portuguesa.
Artigo Teórico
aos cuidados prestados, mas também desenvolver as
competências dos enfermeiros para a prestação efetiva de
cuidados. 29 No contexto do enfermeiro especialista, a
Ordem dos Enfermeiros definiu quatro domínios das
competências comuns: Responsabilidade profissional, ética
e legal; Melhoria contínua da qualidade; Gestão dos
cuidados; e Desenvolvimento das aprendizagens
profissionais. 30
No sentido do desenvolvimento das competências em
Enfermagem, Benner31 conceptualizou-o em cinco níveis
ou fases, podendo as fases de Proficiente e de Perito ser
enquadradas com as competências do enfermeiro
especialista. No seu descritivo, o enfermeiro proficiente
apreende e compreende as situações de cuidados como
parte de um processo de vida, tomando decisões baseadas
no modelo holístico e aprendendo e modelando a
prática/tomada de decisão com a experiência.
Relativamente ao enfermeiro perito, este suporta a sua ão
a partir da intuição, sendo o seu desempenho elevado. 31
Comparando com o Strong Model of Advanced
Practice27,32, pode-se afirmar que as competências comuns
do enfermeiro especialista vão ao encontro das cinco áreas
de prática avançada, sendo a prestação dos cuidados de
especialidade6 correspondentes aos Cuidados diretos
integrais7, e aos processos subjacentes da prática avançada.
Conclusão
Na Lei de Bases de Saúde33 está subjacente os princípios da
qualidade e da segurança em saúde. A Enfermagem, como
ciência da saúde, procura dar resposta a Qualidade e
Segurança em saúde. 25
A OMS entende Qualidade em saúde como um elevado
grau de excelência profissional, com riscos mínimos,
resultados de saúde positivos para os utentes e com
eficiência na utilização dos recursos disponíveis34.
Adicionalmente, considera-se a qualidade em saúde como
uma relação entre os profissionais e os utentes/populações
que visa os melhores resultados em saúde desejáveis, de
acordo com o conhecimento atual. 35
Por outro lado, Segurança em saúde é mais do que “a
prevenção de danos aos pacientes”. 35 Para Mitchell36, patient
safety significa a ausência de danos evitáveis e a redução do
risco de danos desnecessários associados aos cuidados de
saúde a um mínimo aceitável, tendo como base o
conhecimento atual, os recursos disponíveis e o contexto
onde o cuidado foi prestado, em comparação com o risco
6 De acordo com os diversos Regulamentos das
Competências Específicas do Enfermeiro Especialista.
7 Tradução livre de Direct comprehensive care utilizado no
modelo de Mick & Ackerman32.
de não tratamento ou de outro tratamento. Desta forma,
qualidade e segurança em saúde surgem interligadas.
No sentido de excelência profissional e no desenvolvimento
do seu corpo de conhecimento como ciência, torna-se
fundamental para a Enfermagem8 focar-se no incremento
de competências para o desempenho centrado na pessoa
alvo primordial dos cuidados de Enfermagem. 22 Olhando
para a evolução histórica da Enfermagem e para o
paradigma vigente, faz sentido compreender a teoria de
dio alcance dos Cuidados Centrados na Pessoa. No
contexto específico da Reabilitação, a abordagem centrada
na pessoa torna-se uma prática de excelência: abordar a
pessoa de forma holística, para resolver as suas dificuldades
do dia-a-dia, considerando-a como um especialista na sua
vivência/experiência vivencial; e colocar ênfase na
participação e capacitação, respeitando a pessoa além da
deficiência ou doença. 37
Na realidade de cuidados, as principais barreiras aos
cuidados centrados na pessoa vão ao encontro das descritas
por Moore et al.38, nomeadamente práticas e estruturas
tradicionais, a restrição de tempo e a documentação e
organização da instituição. Adicionalmente, a falta de
documentação de suporte aos cuidados centrados na pessoa
e a pouca visibilidade dos reais dos cuidados prestados nos
registos, acentuam as dificuldades na implementação desta
tipologia de cuidados.
A intervenção multidisciplinar em saúde, não só de diversas
especialidades médicas, mas também de diversos
profissionais de saúde, torna os cuidados em saúde um mar
de intervenções, no qual a pessoa se poderá naufragar.
Portanto, apreendendo o paradigma holístico para a sua
prática, a Enfermagem poderá ser considerada uma base
segura, ou melhor um porto de abrigo, a partir da qual, em
conjunto com a pessoa, se desenvolvem estratégias,
processos, entre outros, de melhoria da sua saúde e de
redução do impacto da sua situação de doença no seu
percurso vivencial. 39
Apesar das necessidades sentidas noutros países para a
inclusão de competências do foro médico no enfermeiro40,
em Portugal a média de enfermeiros encontra-se abaixo da
média da OCDE.41 Neste sentido, pode-se afirmar que,
havendo dificuldade na prestação de cuidados de
Enfermagem à população, não fará sentido a aquisão de
competências extraprofissionais. Contudo, na bibliografia
salienta-se que os enfermeiros com competências acrescidas
Nurse Practitioners acrescentam valor na visão e na
prestação de cuidados de Enfermagem à população. 24,27
8 Enfermagem, entenda-se por enfermeiros na prestação de
cuidados, docentes das Escolas Superiores de Enfermagem
e investigadores em Enfermagem.
Artigo Teórico
Em suma, analisando a perspetiva histórica da Enfermagem
ao longo dos séculos, desde o seu período abnegado,
passando pela época romântica9 pela medicina e pela fase
tecnicista, compreende-se algumas práticas atuais e dúvidas
na perspetiva de futuro.9 Assim, o desenvolvimento do
conhecimento e da prática em Enfermagem deverá passar
pelo reconhecimento e avanço das competências centrais da
disciplina. 22 É fundamental para o desenvolvimento da
Enfermagem uma aproximação entre a produção científica
de domínio escolar e a prática de cuidados de domínio
comunitário e hospitalar. Facilitador deste processo é o
desenvolvimento da especialidade em Enfermagem como
curso de mestrado, promovendo não só práticas
diferenciadas, mas também um olhar e pensamento críticos
dos profissionais. 29 Neste processo, não se deverá remeter
para segundo plano a existência de outras ciências da
saúde, sociais e humanas, entre outras que fomentarão o
desenvolvimento do corpo da Enfermagem, mas também,
torna-se fundamental a divulgação da produção científica
em Enfermagem, de forma a dar visibilidade à ciência e à
prática da disciplina. 22,40,42
Contribuições autorais
JS: Redação do manuscrito; Revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interesses
O autor declara que não há conflito de interesses.
Referências
1. Collière MF. Cuidar... A primeira arte da vida. 2a
ed. Loures: Lusociência; 2003.
2. Carvalho ACC. O infirmarius, precursor medieval
do enfermeiro. Pensar Enferm. 2016;20(1):6378.
3. Donoso MTV. O gênero e suas possíveis
repercussões na gerência de enfermagem. REME
Rev Min Enferm. 2000;679.
4. Delany J. Corporal and spiritual works of mercy
[Internet]. Catholic Encyclopedia. 1911 [cited 2021
Mar 29]. Available from:
https://www.newadvent.org/cathen/10198d.htm
5. Santos LFCL. Uma história de enfermagem em
Portugal (1143-1973): a constância do essencial
num mundo em evolução permanente. Lisboa:
Universidade Católica Portuguesa; 2013.
6. Machado MRS. A divulgação do conhecimento em
periódicos de enfermagem e a evolução da
profissão, em Portugal, no século XX e início do
século XXI. Lisboa: Universidade Católica
Portuguesa; 2014.
9 Termo utilizado por Pearson & Vaughan9
7. Hill AJ. Nightingale sainte ou diablesse?
L’infirmière canadienne. 1980 Nov; 22(10):34-36
8. Segre M, Carvalho Ferraz F. O conceito de saúde.
Rev. Saúde Pública. 1997 Out.; 31(5): 538-42.
9. Pearson A, Vaughan B. Modelos para o exercício
de enfermagem. In: Modelos para o exercício de
enfermagem [Internet]. Lisboa: ACEPS; 1992
[cited 2021 Mar 30]. p. 1627. Available from:
https://elearning.esel.pt/bbcswebdav/pid-61877-
dt-content-rid-276003_1/courses/202021-S1-
6734-0-6734003-1/Pearson %26 Vaughan -
Modelo biomédico_teorias_2cop..pdf
10. Kérouac S, Pepin J, Ducharme F. La pensée
infirmière. 4a ed. Quebec: Beauchemin Publisher;
2017.
11. McEvoy L, Duffy A. Holistic practice: a concept
analysis. Nurse Educ Pract. 2008 Nov; 8(6):412-9.
12. International Council of Nurses. Nursing
definitions [Internet]. 2002 [cited 2021 Mar 30].
Available from: https://www.icn.ch/nursing-
policy/nursing-definitions
13. American Nurses Association. Nursing: scope and
standards of practice. Silver Spring, 2nd ed. Silver
Spring, MD: Nursesbooks; 2010;163.
14. Crema R, Brandão DHS. O novo paradigma
holístico: ciência, filosofia, arte e mística. 2ª ed. São
Paulo: Summus Editorial: 1991
15. McCormack B, McCance T. Development of a
framework for person-centred nursing. J Adv
Nurs. 2006;56(5):4729.
16. McCormack B, McCance T. Person-centred
practice in nursing and health care: Theory and
practice. 2a ed. Nova Jersey: Wiley-Blackwell; 2017.
17. Brink E, Skott C. Caring about symptoms in
person-centred care. Open J Nurs.
2013;03(08):5637.
18. De Marinis MG, Piredda M, Pascarella MC,
Vincenzi B, Spiga F, Tartaglini D, et al. “If it is not
recorded, it has not been done!”? Consistency
between nursing records and observed nursing
care in an Italian hospital. J Clin Nurs. 2010;19(11
12):154452.
19. Silva AAP. Sistemas de informação de
enfermagem: uma teoria explicativa da mudança.
Porto: Instituto de Ciências Biomédicas Abel
Salazar; 2001.
20. Suhonen R, Välimäki M, Leino-Kilpi H. The
driving and restraining forces that promote and
impede the implementation of individualised
nursing care: A literature review. Int. J. Nurs. Stud.
2009 Dec; 46(12):163749.
21. rkkäinen O, Bondas T, Eriksson K.
Documentation of individualized patient care: A
qualitative metasynthesis. Nurs Ethics.
2005;12(2):12332.
Artigo Teórico
22. Silva AP. Enfermagem avançada: um sentido para
o desenvolvimento da profissão e da disciplina.
Servir. 2007;55(12):1120.
23. Decreto-Lei n.o 161/1996. Regulamento do
exercício profissional do enfermeiro. Diário da
República, I Série-A. 1996 Abr 21;173957.
24. Gray A. Advanced or advancing nursing practice:
What is the future direction for nursing? Br J Nurs.
2016;25(1):813.
25. Olímpio JA, Araújo JNM, Pitombeira DO, Enders
BC, Sonenberg A, Vitor AF. Prática avançada de
enfermagem: uma análise conceitual. Acta Paul. de
Enferm. 2018;31(6):67480.
26. Schober M. Guidelines on advanced practice
nursing 2020. Switzerland: International Council
of Nurses; 2020.
27. Gardner G, Chang AM, Duffield C, Doubrovsky
A. Delineating the practice profile of advanced
practice nursing: A cross-sectional survey using the
modified strong model of advanced practice. J Adv
Nurs. 2013;69(9):193142.
28. Canadian Nurses Association. Advanced practice
nursing: A pan-canadian framwork. Otawa:
Canadian Nurses Association; 2019.
29. Decreto-Lei n.o 74/2006. Graus académicos e
diplomas do ensino superior. Diário da República,
I Série. 2006 Mar 24;224257.
30. Regulamento n.o 140/2019. Regulamento das
competências comuns do enfermeiro especialista.
Diário da República, II Série. 2019 Fev. 6;4744-50.
31. Benner P. From novice to expert. Am J Nurs.
1982;82(3):4027.
32. Mick DJ, Ackerman MH. Advanced practice
nursing role delineation in acute and critical care:
Application of the strong model of advanced
practice. Heart Lung: J. Acute Crit. Care.
2000;29(3):21021.
33. Lei n.o 95/2019. Lei de bases da saúde. Diário da
República, I Série. 2019 Set. 4;55-66.
34. World Health Organization. Manual de políticas e
estratégias para a qualidade dos cuidados de saúde:
uma abordagem prática para formular políticas e
estratégias destinadas a melhorar a qualidade dos
cuidados de saúde Geneve: WHO; 2020.
35. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS. To err is
human. Washington, D.C.: National Academies
Press; 2000.
36. Mitchell PH. Patient safety and quality: patient
safety and quality: An evidence-based handbook
for nurses. Rockville, MD: Agency for Healthcare
Research and Quality; 2008.
37. Leplege A, Gzil F, Cammelli M, Lefeve C,
Pachoud B, Ville I. Person-centredness:
Conceptual and historical perspectives. Disabil
Rehabil. 2007;29(2021):155565.
38. Moore L, Britten N, Lydahl D, Naldemirci Ö,
Elam M, Wolf A. Barriers and facilitators to the
implementation of person-centred care in different
healthcare contexts. Scand J Caring Sci.
2017;31(4):66273.
39. McCormack B. My vision for nursing. Projetar
Enfermagem. 2019; 2:6-12.
40. Rolfe G. Understanding advanced nursing
practice. Nurs Times. 2014;110(27):20–3.
41. Miller FH. Health care resources. In: Miller FH.
Rights and resources. London: Routledge; 2018. p.
317594.
42. Rycroft-Malone J, Seers K, Titchen A, Harvey G,
Kitson A, McCormack B. What counts as evidence
in evidence-based practice? J Adv Nurs. 2004
Jul;47(1):81-90.
43. Hesbeen W. Cuidar no hospital: enquadrar
cuidados os cuidados de enfermagem numa
perspectiva de cuidar. Loures: Lusociência; 2000.
| 95
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / Agosto 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.257
Artigo de Revisão
Como citar este artigo: Dutra IN, Ferreira MHB. A Internet como fonte de informação e literacia em
saúde na gravidez: uma revisão
scoping. Pensar Enf [Internet]. 2023 Ago; 27(1):95-103. Available
from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.257.
A Internet como fonte de informação e literacia em
saúde na gravidez: uma revisão
scoping
Introdução
As reconfigurações sociais das últimas décadas têm alterado o papel da mulher na
sociedade, afastando-a da família alargada e diminuindo o seu tempo para construir relações
de suporte, fatores essenciais de apoio informal durante a transição para a parentalidade.
Esta nova realidade conduziu ao surgimento de fontes de apoio informais alternativas,
nomeadamente a internet, constituindo-se atualmente como uma das principais fontes de
informação em saúde da mulher grávida. No entanto, não basta ter acesso à informação
online para saber apli-la na tomada de decisões de saúde, é necessário também avaliá-la,
compreendê-la e interpretá-la, ou seja, é necessário ter literacia em saúde.
Objetivo
Mapear a literatura existente sobre a relação entre a internet como fonte de informação e o
vel de literacia em saúde das mulheres grávidas.
Métodos
População em estudo: mulheres grávidas; conceito: literacia em saúde; contexto: internet.
Foram consideradas fontes primárias e secundárias de pesquisas qualitativas e quantitativas,
bem como literatura não publicada, nomeadamente dissertações de mestrado.
Pesquisa em três etapas de acordo com a metodologia da JBI, utilizando as bases de dados
Medline, CINHAL, Web of Science, Google Scholar e Repositório Científico de Acesso
Aberto de Portugal. Considerados artigos publicados desde 2015, em português, inglês,
espanhol e francês. Extração e análise de dados feita em tabela elaborada de acordo com a
metodologia da JBI, 2020.
Resultados
Incluídos 13 artigos. Mulheres grávidas com maior nível de literacia em saúde realizam mais
pesquisas online sobre saúde, recorrendo mais a fontes formais e discutindo a informação
acedida com profissionais de saúde. Mulheres grávidas com menor nível de literacia em
saúde têm mais dificuldade na compreensão, avaliação e aplicação da informação acedida
online, recorrendo mais a fontes como blogues e redes sociais.
Conclusão
O nível de literacia em saúde das mulheres grávidas influencia de forma determinante a
utilização da internet como fonte de informação em saúde, estando positivamente
relacionado com maior frequência de utilização, recorrência a fontes formais e discussão da
informação acedida com profissionais de saúde. Em oposição, um menor nível de literacia
em saúde está associado a maior dificuldade na avaliação e compreensão da informação
acedida, necessitando de apoio de profissionais de saúde. O nível de literacia em saúde das
mulheres grávidas deverá ser considerado para a recomendação personalizada de
informação online válida e fidedigna.
Palavras-chave
Grávida; Internet; Literacia em Sde.
Irina Neves Dutra1
orcid.org/0000-0001-6922-2769
Maria Helena Bértolo Ferreira2
orcid.org/0000-0002-6612-2700
1 Licenciatura. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa, Portugal
(CIDNUR), Lisboa, Portugal.
2 Mestrado. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa, Lisboa
(CIDNUR); Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL), Departamento de Enfermagem de
Saúde Materna, Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Irina Neves Dutra
E-mail: neves.irina@campus.esel.pt
Recebido: 30.01.2023
Aceite: 06.06.2023
Artigo de Revisão
Introdução
A transição para a parentalidade é uma transição de
desenvolvimento provocada por um evento de vida major
1 que começa antes ou durante a gravidez, conduzindo a
que a mulher comece a preparar-se essencialmente através
da procura de informação e do autocuidado. 2 Existem
vários fatores que contribuem e influenciam o
desenvolvimento de competências para o papel de mãe,
nomeadamente o apoio social, que é uma fonte essencial de
informação, compreensão e apoio emocional. 3 No entanto,
a sociedade tem sofrido reconfigurações ao longo das
últimas décadas, com afastamento das redes familiares, com
mulheres a desempenharem papéis cada vez mais
significativos no mercado de trabalho, limitando o tempo
disponível para o desenvolvimento de relações
significativas. 3 Esta realidade tem conduzido a que cerca
de ¾ das mulheres grávidas a nível global recorram a fontes
de informação e de suporte alternativas, nomeadamente a
internet. 4
A internet, definida pelo The Oxford English Dictionary 5
como uma rede global e interconectada de computadores
que providencia uma variedade de informação e meios de
comunicação, constitui-se como um meio para obtenção de
informações de saúde privilegiado, principalmente por
pessoas em idade reprodutiva, 6 chegando a ser preferido
em relação às fontes de informação baseadas em relações
interpessoais, 7 como por exemplo a relação entre o
profissional de saúde e utente.
Durante a transição para a parentalidade, os principais
recursos das mulheres grávidas são os profissionais de
saúde, familiares, amigos e cada vez mais, a internet, 8 um
recurso de informação em crescimento exponencial, que
oferece informação de forma rápida, acessível,
personalizada e anónima. 3 No entanto, a acessibilidade e
disponibilidade de informação online levanta questões
relacionadas com a sua fidedignidade e credibilidade, e
ainda com a adequabilidade da informação face à pessoa
que a pesquisa. 7 Apesar da abundância de informação de
saúde existente online, a que é baseada em evidência
científica, não se encontra facilmente acessível ao público
em geral. 9
Não obstante, para tomar decisões de saúde
fundamentadas no dia-a-dia não basta ter capacidade de
acesso à informação, é necessário ter Literacia em Saúde,
ou seja, o conhecimento, a motivação e as competências
para aceder, compreender, avaliar e aplicar informação de
saúde em situações diversas do quotidiano. 10 A literacia em
saúde é uma ferramenta para empoderar as pessoas, que
deve ser construída e melhorada ao longo do ciclo de vida
11, ajudando-as a gerir a sua saúde, capacitando-as para
utilizarem informação de forma correta e assim obterem
ganhos quer a nível pessoal quer a nível social, sendo um
meio para o desenvolvimento social e humano. 9 Envolve
fatores psicológicos, como a motivação pessoal e a
perceção de autoeficácia, fatores sociais e ambientais, que
influenciam a tomada de decisão e os comportamentos de
saúde, promovendo uma maior capacidade para lidar com
situações de doença, uma utilização mais eficaz dos serviços
de saúde e melhor compreensão e controlo das situações
da vida. 12
Quanto maior o nível de literacia em saúde, maior a
prevalência de comportamentos de procura de informação
em todos os meios disponíveis, nomeadamente a internet.
6 Por outro lado, um baixo nível de literacia em saúde está
associado a menor competência de avaliação da qualidade
da informação que é acedida, sendo que é nas pessoas com
menor nível de literacia em saúde que se regista menor
incidência de comportamentos preventivos e uma elevada
taxa de utilização dos serviços de saúde. 9 Referente à
pesquisa de informação online, as pessoas com menor nível
de literacia em saúde tendem a distrair-se com elementos
extra de um site (como links), a escolher a primeira resposta
que encontram à sua questão, não confirmando a sua
veracidade, têm ainda dificuldade em saber identificar as
diferenças entre a informação de alta e baixa qualidade,
tendem a desistir da pesquisa se não encontrarem de forma
rápida a resposta ao que procuram, desconsiderando ainda
informação com palavras complexas e técnicas ou que não
façam parte do seu léxico. 13
É, portanto, fulcral o papel desempenhado pelos
profissionais de saúde, que vendo a sua tradicional relação
a ser remodelada pelas novas tecnologias 14, deverão
promover a literacia em saúde de quem cuidam,
compreendendo quais as novas fontes de informação em
saúde utilizadas, mediando a sua utilização e aproveitando
a potencialidade das novas tecnologias de comunicação e
informação, como a internet, para expandir o acesso das
pessoas a informação de saúde fidedigna. 10
O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde
Materna e Obstétrica (EEESMO) tem como uma das suas
competências específicas o cuidar da mulher inserida na
família e comunidade durante o período pré-natal 15,
promovendo a sua saúde e bem-estar e individualizando os
cuidados de acordo com as especificidades de quem cuida,
nomeadamente o nível de literacia em saúde. 16
Considerando a internet como uma fonte de informação
privilegiada pelas mulheres grávidas, os enfermeiros
especialistas deverão estar familiarizados com os recursos
online relacionados com a gravidez mais utilizados, bem
como direcionar a mulher para sites fidedignos 16,
capacitando-a para tomada de decisões conscientes e
informadas ao longo da gravidez.
Considerando a utilização crescente da internet como fonte
de informação em saúde pelas mulheres grávidas, bem
como as assimetrias existentes na pesquisa de informação
online entre pessoas com maior e menor nível de literacia em
saúde, o objetivo desta revisão Scoping é identificar na
literatura existente qual a relação entre o nível de literacia
em saúde da mulher grávida e a utilização da internet como
fonte de informação em saúde. Para tal, foi definida a
seguinte questão inicial: Qual a relação entre o nível de
literacia em saúde da mulher grávida e a utilização da
internet como fonte de informação em saúde?
Artigo de Revisão
Métodos
Foi criado um protocolo de revisão, registado na
plataforma OSF Registries (https://osf.io/k8hea)
Foram definidas as seguintes palavras-chave: pregnant women;
internet; health literacy.
Foi realizada a 9 de maio de 2022 uma pesquisa preliminar
nas bases de dados de revisões sistemáticas do Joanna Briggs
Institute (JBI) e da Cochrane Database of Systematic Reviews, não
tendo sido encontradas, até à data, revisões scoping sobre
este tema.
Critérios de inclusão
Os critérios de inclusão foram definidos com base na
mnemónica PCC, P de população, C de conceito e C de
contexto, segundo a metodologia definida pelo JBI17, tendo
sido definida como população em estudo mulheres
grávidas, o conceito de interesse, a literacia em saúde e o
contexto, a internet como fonte de informação.
Como fontes de informação, foram utilizados estudos de
investigação de fontes primárias e secundárias de pesquisas
qualitativas e quantitativas, bem como literatura não
publicada, nomeadamente dissertações de mestrado. Os
critérios de inclusão e exclusão encontram-se
sistematizados no quadro 1.
Quadro 1 Critérios de inclusão e exclusão
Critérios de Inclusão Critérios de Exclusão
Desenho do
estudo
Artigos publicados de fontes primárias e secundárias, de
estudos qualitativos, quantitativos ou método misto;
Literatura não publicada como dissertações de mestrado
Artigos em inglês, francês, português e espanhol
Artigos publicados desde 2015
Artigos publicados noutros idiomas
Artigos publicados antes de 2015
População Artigos com população em estudo mulheres grávidas
Artigos com população em estudo puérperas ou mães de crianças
pequenas
Artigos com população profissionais de saúde que prestam cuidados a
mulheres grávidas que utilizam a internet como fonte de informação
Conceito Artigos que apresentem o conceito de literacia em saúde
Artigos que apresentem apenas um conceito em estudo
Contexto Artigos sobre a pesquisa de informação na internet
Estratégia de pesquisa
O processo de pesquisa teve o objetivo de identificar a
investigação primária e secundária publicada e não
publicada, tendo decorrido entre 9 e 14 de junho de 2022.
Para a pesquisa de investigação não publicada, recorreu-se
ao Google Scholar e ao Repositório Científico de Acesso
Aberto de Portugal, onde foram utilizados os termos
pregnancy, internet e health literacy, agregados com o operador
booleano AND.
A estratégia de pesquisa foi realizada em três etapas, como
é preconizado na metodologia do JBI. 17
Na primeira etapa foi realizada uma pesquisa inicial, nas
duas bases de dados mais relevantes para o tema em estudo,
a MEDLINE e a CINAHL, através da plataforma
EBSCOhost.
Nesta pesquisa foram utilizados os termos pregnancy,
internet e health literacy, tendo sido identificados alguns
artigos e posteriormente analisadas as palavras incluídas
nos títulos e resumos, bem como os termos de indexação.
Na segunda etapa foi concretizada uma pesquisa
organizada em três bases de dados separadamente,
MEDLINE, CINHAL e Web of Science, utilizando o
conjunto de palavras-chave em linguagem natural e termos
indexados identificados. Cada conceito foi pesquisado
como principal, pois era pretendido apenas identificar
artigos em que estes surgissem como conceito principal em
estudo.
Para cada base de dados, foram identificados os termos
indexados para as palavras-chave selecionadas sendo que,
quando verificada a existência de termos com truncatura, foi
feita a sua agregação de acordo com a sua relevância. Os
termos naturais e indexados identificados encontram-se no
quadro 2.
Artigo de Revisão
Quadro 2 Sistematização de palavras-chave nas bases de dados Medline e CINHAL
Termo natural
Termo
indexado
Medline
Termo com
truncatura
Termo
indexado
CINHAL
Termo com
truncatura
População Pregnant Pregnant women Expectant mother
Conceito Health Literacy Health Literacy Health Literacy
Contexto Internet Internet
Web archives as
topic
Internet based
intervention
Internet of things
Internet access
Social media
Internet
Social media
World Wide Web
Email
Gopher
Internet access
Internet connections
Internet protocols
Internet based
intervention
Após a identificação para cada palavra-chave de todos os
termos naturais, indexados e de truncatura relevantes, foi
feita a sua agregação com o operador booleano OR. No
final, entre todas as palavras-chave já agregadas, foi
realizada a sua associação com o operador booleano AND.
Os processos de pesquisa das bases de dados encontram-se
em Apêndice I (MEDLINE), Apêndice II (CINHAL) e
Apêndice III (Web of Science).
Foram considerados artigos publicados em inglês,
português, francês e espanhol. Como limites temporais, foi
considerada a evidência publicada desde 2015, dada a
temática da utilização das novas tecnologias de informação
como fonte de informação em saúde ser relativamente
recente.
Na terceira etapa, foi analisada a lista de referências dos
artigos selecionados, de forma a identificar eventuais
artigos interessantes para a temática em estudo.
Seleção de fontes de evidência
O processo de seleção de fontes de evidência encontra-se
esquematizado no seguinte fluxograma:
Figura 1 - Fluxograma do processo de revisão scoping.
Adaptado de: Moher, D; Liberati, A; Tetzlaff, J & Altman,
D. Preferred reporting items for systematic reviews and
meta-analyses: the PRISMA statement. Ann Intern Med.
[Internet]. 2009,151 (4), 264-269. Available from:
https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1000097
Artigo de Revisão
A pesquisa feita para identificar literatura cinzenta feita na
base de dados do Repositório Científico de Acesso Aberto
de Portugal não identificou resultados. Nas bases de dados
utilizadas após a identificação inicial de artigos através da
pesquisa pelas palavras-chave definidas, foi realizada leitura
e análise do título, resumo e palavras-chave. Foi feita então
a triagem de artigos duplicados, tendo resultado num total
de 29 artigos. Posteriormente foi analisada a lista de
referências dos artigos identificados, não tendo sido
identificado nenhum artigo que correspondesse a todos os
critérios de seleção. Foram então selecionados os artigos a
incluir na revisão scoping de acordo com a sua relevância
para a temática em estudo, através da análise do título e
resumo. Nos artigos cuja relevância não era clara através da
leitura do resumo, foi feita uma análise do texto integral.
independente,
Durante a etapa de seleção de fontes de evidência, foram
excluídos 16 artigos poro corresponderem aos critérios
de seleção definidos; dois artigos foram excluídos por a sua
população serem os profissionais de saúde que cuidam de
mulheres grávidas que recorrem à internet, sendo que os
restantes foram excluídos por apenas apresentarem um
conceito e não os dois simultaneamente.
Foram então selecionados, por ambas as autoras, de forma
independente, 13 artigos a incluir na presente revisão
scoping.
Extração e Análise de dados
A extração dos dados dos artigos selecionados foi feita
através de uma tabela, elaborada de acordo com a
metodologia do JBI 17, tendo como objetivo extrair os
dados relevantes dos artigos identificados, mapeando a
evidência existente sobre a relação entre a utilização da
internet como fonte de informação em saúde e o nível de
literacia em saúde da mulher grávida. Os aspetos éticos
foram preservados ao longo de todo o processo de extração
de dados, sendo todos os autores devidamente
referenciados e o conteúdo dos artigos incluídos
apresentado de forma fidedigna.
Resultados
De forma a apresentar a síntese das principais
características dos estudos incluídos, foi elaborada uma
tabela, apresentada em apêndice IV. Considerando as
assimetrias existentes entre diferentes níveis de LS e a
utilização da internet como fonte de informação, 6,9,13 os
resultados-chave da presente revisão scoping, foram
codificados em maior e menor nível de literacia em saúde,
sendo apresentados no quadro 3:
Quadro 3 Codificação dos resultados-chave da revisão scoping
Autor Objetivo
Resultados
Relação entre nível de Literacia em saúde (LS) e utilização da internet como
fonte de informação
Menor nível de LS Maior nível de LS
Implicações para a prática/
para profissionais de saúde
Hussey, L.; Frazer, C. &
Kopulos, M. (2016)
Analisar o impacto do nível
de LS das mulheres grávidas
millennials na tomada de
decisões de saúde durante a
gravidez.
Menor capacidade de
compreensão e aplicação da
informação acedida online;
Mulheres grávidas com
menor LS requerem apoio
dos profissionais de saúde
para compreender e aplicar a
informação de saúde que
acedem online.
-
Devem avaliar o nível de LS
com instrum
entos validados
para personalizar a
informação.
Fredriksen, E.; Harris, J. &
Moland, K. (2016)
Compreender como os
fóruns de discussão online
influenciam a LS materna.
As interações entre mulheres
grávidas em fóruns online
influenciam o seu nível de LS,
aumentando os seus
conhecimentos e
competências de saúde e
dando orientação na
utilização do sistema de
saúde.
-
-
Sayakhot, P. & Carolan-Olah,
M. (2016)
Investigar de que forma as
mulheres grávidas utilizam a
internet para obter
informação relacionada com
a gravidez.
É necessário empoderamento
através da promoção de
competências de pesquisa de
informação.
Maior propensão
para realizar
pesquisas online.
Deverão alertar que a
informação disponível online
não substitui o contacto com
o profissional de saúde.
Guendelman, S.; Broderick,
A.; Mlo, M.; Gemmill, A. &
Lindeman, D. (2017)
Compreender a extensão da
adoção e uso das
ferramentas digitais;
identificar os principais
fatores psicológicos que
motivam a utilização da
tecnologia entre grávidas
primíparas desfavorecidas.
Menor a utilização das
ferramentas digitais.
Maior o número de
pesquisas online
sobre informação de
saúde;
Maior a utilização de
ferramentas digitais
para a gestão de
questões de saúde.
Deverão questionar sobre os
comportamentos de pesquisa
de informação de saúde online
e avaliar a destreza na
utilização de ferramentas
online que requerem LS;
Deverão definir estratégias
para eliminar as desigualdades
Artigo de Revisão
entre as mulheres com
diferentes níveis de LS digital.
Vamos, C.; Merrel, L.;
Detman, L.; Louis, J. & Daley,
E. (2019)
Explorar as experiências das
mulheres grávidas no acesso,
compreensão, avaliação,
comunicação e utilização de
informação de saúde durante
a gravidez.
Avaliaram 3 componentes da LS:
Compreensão: informação em linguagem corrente;
elementos audiovisuais e informação personalizada;
Avaliação: múltiplas referências; credibilidade da fonte
e presença de patrocínios;
Aplicação: a pesquisa online permite a formulação de
questões prévias ao contacto com os profissionais de
saúde e tomar decisões de saúde sobre temas como
alimentação e exercício físico na gravidez.
A gravidez é um período
privilegiado para a promoção
da LS;
As intervenções de educação
para a saúde pré-natal devem
ser desenvolvidas de acordo
com o nível de literacia em
saúde, assegurando a sua
acessibilidade, compreensão e
aplicabilidade.
Arcia, A.; Stonbraker, S. &
Warner, E. (2019)
Compreender como
mulheres grávidas
desfavorecidas caracterizam
as suas necessidades de
informação digital e
processos de busca;
Identificar os fatores
inibidores e facilitadores
neste processo.
É uma barreira para a correta
interpretação da informação
de saúde que é acedida online;
Está associado a menor
propensão para pesquisa de
informação online;
Está associado à necessidade
de apoio para acesso a
informação online fidedigna.
-
Deverão saber referenciar
fontes online
de referência,
especialmente a mulheres
com menor nível de LS.
Chung, K.; Cho, H.; Kim, Y.;
Jhung, K.; Koo, H. & Park, J.
(2020)
Determinar associações entre
estratégias de busca de ajuda
médica de mulheres grávidas,
mudanças na tomada de
decisões médicas e utilização
de informações de saúde
online com foco no efeito
mediador da autoeficácia na
alfabetização.
-
Pesquisa online de
informação em
fontes formais;
Maior intenção de
discussão com
profissionais de
saúde sobre a
informação acedida
online.
-
ãRäWDULF0-RNLý-%HJLý1
(2020)
Compreender o fenómeno
de pesquisa de informação
de saúde na internet pelas
mulheres grávidas.
Está associado a maior
dificuldade em obtenção de
informação online.
Está associado a
maior realização de
pesquisas online;
Maior competência
de avaliação da
precisão da
informação online.
-
Bäckström, C.; Chamoun, S.;
Tejani, S. & Larsson, V. (2021)
Explorar as perceções dos
pais sobre o apoio parental
digital durante a gravidez e
primeiros 18 meses de
parentalidade.
As ferramentas de apoio online deverão poder ser
individualizadas a diferentes níveis de LS;
Devem estar ativamente
presentes nas ferramentas de
apoio online
, dando apoio a
pessoas com níveis críticos de
LS;
Deverão potenciar as
competências críticas e
analíticas, promovendo a LS.
Donelle, L.; Hall, J.; Hiebert,
B.; Jackson, K.; Stoyanovich,
E.; LaChance, J. & Facca, D.
(2021)
Aumentar a compreensão
sobre a forma como as
tecnologias digitais
contribuem para a
experiência da transição para
a parentalidade.
A quantidade avassaladora de informação dispovel
online dificulta a sua compreensão;
É necessário que as mulheres grávidas aumentem o
seu nível de LS para saberem identificar fontes online
fidedignas.
Devem promover
competências de LS digital;
Devem saber referenciar
fontes online fidedignas.
Álvarez-Pérez, Y.; Perestelo-
Pérez, L.; Rivero-Santana, A.;
Torres-Castanõ, A.; Toledo-
Chávarri, A.; Duarte-Díaz, A.;
Mahtani-Chugani, V.;
Marrero-Díaz, M.; Montanari,
A.; Tangerini, S.; González, C.;
Perello, M.; Serrano-Aguilar,
P. (2022)
Determinar a influência da
criação de cursos online na
melhoria da literacia em
saúde digital de mulheres
grávidas e lactantes.
Deverão promover
competências de avaliação da
qualidade e precisão da
informação disponível online;
Os cursos online poderão ser
uma ferramenta para
empoderarem as mulheres
grávidas, permitindo o acesso
a informação válida e
fidedigna.
Menor recurso a fontes de
informação online de
referência e maior o recurso a
fontes como blogues e redes
sociais.
É potenciado pela
realização de cursos
online.
Bäckström, C.; Carlén, K.;
Larsson, V.; Mårtensson, L.;
Thorstensson, S.; Berglund,
M.; Larsson, T.; Bouwmeester,
B.; Wilhsson, M.& Larsson,
M. (2022)
Explorar a utilização das
fontes digitais pelos pais
expectantes e como a sua
saúde durante a gravidez é
influenciada.
Menor LS está relacionada
com dificuldades individuais
na pesquisa de informação
online.
-
Deverão considerar o nível de
LS para prestação de apoio
personalizado;
Deverão desenvolver
informação online adaptados a
diferentes níveis de LS.
Lu, Y.; Barret, L.; Lin, R.;
Amith, M.; Tao, C. & He, Z.
(2022)
Identificar lacunas de
pesquisa nas necessidades de
informação relacionada com
a gravidez e a informação
disponível em diferentes
fontes.
Está associado a menor
pesquisa online;
Associado a maiores
dificuldades no acesso a
informação de saúde
disponível online.
-
A informação de saúde
disponível online
deverá ser
formulada para um nível de
compreensão básico, de
forma a ser compreensível a
todos os níveis de LS.
Artigo de Revisão
Discussão
A presente revisão scoping permitiu mapear a evidência
científica existente sobre a relação entre os dois conceitos
em estudo: internet e literacia em saúde na população
definida, mulheres grávidas, concluindo-se que o nível de
literacia em saúde das mulheres grávidas influencia de
forma determinante a utilização da internet como fonte de
informação. Os autores referem que é nas mulheres
grávidas com menor nível de LS que se verifica menor
utilização das ferramentas digitais para procura de
informação de saúde, 18, 19, 20 apresentando menor
capacidade de compreensão e aplicação da informação
acedida online, bem como dificuldades individuais na
pesquisa de informação, 21, 22 requerendo apoio dos
profissionais de saúde. 18, 23 É ainda nas mulheres grávidas
com menor nível de LS que se verifica menor recurso a
fontes de informação online de referência e maior o recurso
a fontes como blogues e redes sociais. 24
Por sua vez, as mulheres grávidas com maior nível de LS
realizam mais pesquisas de informação de saúde online, 19, 22,
25 tendo melhores competências de avaliação da precisão da
informação que acedem. 22 Tendem a recorrer a fontes
online formais e têm maior intenção de discussão com
profissionais de saúde sobre a informação de saúde que
acederam. 26
Perante as assimetrias existentes entre mulheres grávidas
com diferentes níveis de LS, devem ser definidas estratégias
pelos profissionais de saúde para eliminar as desigualdades
que emergem na utilização da internet como fonte de
informação em saúde. 19 Em primeira instância, deverão
avaliar o nível de LS com instrumentos validados para
prestação de apoio personalizado 21, 23 e questionar sobre
os comportamentos de pesquisa de informação de saúde
online das mulheres grávidas de quem cuidam. 19 Deverão
saber referenciar fontes online de referência, especialmente
a mulheres com menor nível de LS 18, 27 e promover
competências de avaliação da qualidade e precisão da
informação disponível online. 21, 24, 27 Deverão ainda estar
ativamente presentes nas ferramentas de apoio online, 21
desenvolvendo informação em saúde em linguagem
corrente e com elementos audiovisuais 18, que seja adaptada
a diferentes níveis de LS. 21
Como limitação da presente revisão scoping emerge a
localização da maioria dos artigos incluídos, que são
provenientes de estudos realizados nos Estados Unidos da
América, existindo em menor número estudos realizados
na realidade europeia, salientando-se ainda a inexistência de
estudos realizados em Portugal. Dada a pertinência e
atualidade da temática, emerge como necessidade a
realização de investigação sobre a utilização da internet
como fonte de informação em saúde e o nível de literacia
em saúde da mulher grávida portuguesa.
Conclusões
Os artigos incluídos na presente revisão scoping permitiram
mapear a evidência científica existente sobre a relação entre
a utilização da internet como fonte de informação em saúde
e o nível de literacia em saúde das mulheres grávidas, algo
que não deve ser descurado pelos profissionais de saúde
que prestam cuidados a esta população. O nível de literacia
em saúde das mulheres grávidas influencia de forma
determinante a utilização da internet como fonte de
informação, estando positivamente relacionado com maior
frequência de utilização, recorrência a fontes formais e
discussão da informação acedida com profissionais de
saúde. Em oposição, um menor nível de literacia em saúde
está associado a menor utilização das ferramentas digitais
para pesquisa de informação de saúde, maior recurso a
fontes online informais e maior dificuldade na avaliação e
compreensão da informação acedida, necessitando de
apoio de profissionais de saúde. O nível de literacia em
saúde das mulheres grávidas deverá ser considerado para a
recomendação personalizada de informação online válida e
fidedigna. Considerando a pertinência da temática, urge a
necessidade de continuação de realização de investigação,
com o objetivo de guiar os profissionais de saúde a
prestarem cuidados sensíveis às especificidades das
mulheres grávidas do século XXI.
Contribuições autorais
IND: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Redação do manuscrito.
MHBF: Revisão crítica do manuscrito.
Conflito de interesses
As autoras declaram que não há conflito de interesses.
Financiamento
Esta pesquisa não recebeu financiamento específico dos
setores público, comercial ou de setores sem fins lucrativos.
Referências
1. McCarty D. Maternity & women’s health care. 11th Ed.
St. Louis: Elsevier; 2016. Transition to parenthood.;
p.502-522.
2. Meleis, A. Transitions theory: Middle-range and
situation-specific theories in nursing. New York:
Springer; 2010. Research and practice theoretical
development of transitions; p.13-24.
3. Baker B, Yang I. Social media as social support in
pregnancy and the postpartum. Sex Reprod Healthc.
[Internet]. 2018 Oct; 17, 31-34. Available from:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S
1877575617302604?via%3Dihub
doi:10.1016/j.srhc.2018.05.003
4. Ginja S, Coad J, Bailey E, Kendall S, Goodenough T,
Nightingale S, et al. Associations between social
support, mental wellbeing, self-efficacy and
technology use in first-time antenatal women: data
from the BaBBLeS cohort study. BMC Pregnancy
Childbirth. [Internet]. 2018 Nov, 18(1):441. Available
from:
Artigo de Revisão
https://bmcpregnancychildbirth.biomedcentral.com/
articles/10.1186/s12884-018-2049-x
5. The Oxford English Dictionary [Internet]. Oxford:
Oxford University Press. Available from:
https://www.oed.com/
6. Espanha R, Ávila P, Mendes R. Literacia em saúde em
Portugal. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian;
2016.
7. Ferreira PM, Silva PA. A informação sobre saúde dos
portugueses: Fontes, conhecimentos e
comportamentos. Lisboa: Associação para
Investigação e Desenvolvimento da Faculdade de
Medicina de Lisboa; 2017. Internet: uma fonte
privilegiada no acesso à informação sobre saúde? p. 53-
72.
8. Donelle L, Hall J, Hieber B, Jackson K, Stoyanovich
E, LaChance J, Facca, D. Investigation of digital
technology use in the transition to parenting:
Qualitative study. JMIR Pediatr Parenting, [Internet].
2021;4(1):e25388. Available from:
https://pediatrics.jmir.org/2021/1/e25388
9. Kumaresan J. Health literacy: Improving health, health
systems, and health policy around the world.
Washington DC: National Academies Press US; 2013.
Health literacy work of the World Health
Organization. p.9-13
10. Almeida CV, Silva, CR, Rosado D, Miranda D,
Oliveira D, Mata F, et al. Manual de boas práticas
literacia em saúde: Capacitação dos profissionais de
saúde [Internet]. Lisboa: Direção Geral da Saúde;
2019. Available from:
https://www.dgs.pt/documentos-e-
publicacoes/manual-de-boas-praticas-literacia-em-
saude-capacitacao-dos-profissionais-de-saude-
pdf.aspx
11. Nutbeam D. Health literacy: improving health, health
systems, and health policy around the world.
Washington DC: National Academies Press US; 2013.
The evolving concept of health literacy. p.88-96
12. Loureiro I. A literacia em saúde, as políticas e a
participação do cidadão: Editorial [Internet]. Rev Port
de Saúde Pública. 2015, 33(1). Available from:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S
0870902515000206?via%3Dihub
13. Almeida CV. Literacia em saúde: Desafios da leitura e
do processamento cognitivo da informação online. A
Pátria. [Internet]. 2020. Available from:
https://apatria.org/saude/literacia-em-saude-
desafios-da-leitura-e-do-processamento-cognitivo-da-
informacao-on-line
14. Espanha R. Informação e saúde. Lisboa: Fundação
Francisco Manuel dos Santos; 2013.
15. Regulamento n.º 391/2019. Regulamento das
Competências Específicas do Enfermeiro Especialista
em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica.
Diário da República 85, Série II; 2019maio03:13560
13565. https://dre.pt/web/guest/home/-
/dre/122216892/details/maximized?serie=II&parte_
filter=33&day=2019-05-03&date=2019-05-
01&dreId=122202664
16. Link D. Maternity & Women’s Health Care. 11th Ed.
St. Louis: Elsevier; 2016. Nursing care of the family
during pregnancy; p.301-343.
17. Peters MDJ, Godfrey C, McInerney P, Munn Z,
Tricco AC, Khalil H. Scoping Reviews. In Aromataris
E.; Munn, Z. (Ed.), JBI Manual for Evidence
Synthesis. Joanna Briggs Institute, 2020. Available
from: https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-12
18. Arcia A, Stonbraker S, Warner E. Information needs
and information-seeking processes of low-income
pregnant women in relation to digital maternity
education resources. J Perinat Educ. [Internet]. 2019;
28(3):151162. Available from:
http://dx.doi.org/10.1891/1058-1243.28.3.151
19. Guendelman S, Broderick A, Mlo H, Gemmill A,
Lindeman D. Listening to communities: Mixed-
method study of the engagement of disadvantaged
mothers and pregnant women with digital health
technologies. Med Internet Res. [Internet]. 2017; 19
(7). Available from:
http://www.jmir.org/2017/7/e240/
20. Lu Y, Barret L, Lin R, Amith M, Tao C, He Z.
Understanding information needs and barriers to
accessing health information across all stages of
pregnancy: Systematic review. JMIR Pediatr Parent
[Internet]. 2022; 5(1). Available from:
https://pediatrics.jmir.org/2022/1/e32235
21. Bäckström C, Carlén K, Larsson V, Mårtensson L,
Thorstensson S, Berglund M, et al. Expecting parents’
use of digital sources in preparation for parenthood in
a digitalised society: a systematic review. Digit Health
[Internet]. 2022; 8. Available from:
https://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/205
52076221090335
22. ãRäWDULF 0 -RN-%HJLý 1 7KH LPSRUWDQFH RI WKH
internet in obtaining health-related information in
pregnant women. Soc Psychiatry [Internet]. 2020;
48(2), 210-234. Available from:
https://www.socijalnapsihijatrija.com/en/social-
psychiatry/48/48-2/the-importance-of-the-internet-
in-obtaining-healthrelated-information-in-pregnant-
women/
23. Hussey L, Frazer C, Kopulos M. Impact of health
literacy levels in educating pregnant millennial women.
Int J Childbirth Educ [Internet]. 2016; 31 (3), 13- 18.
Available from: https://icea.org/wp-
content/uploads/2015/12/CBEd-JUL-web-
FINAL.pdf
24. Álvarez-Pérez Y, Perestelo-Pérez L, Rivero-Santana A,
Torres-Castanõ A, Toledo-Chávarri A, Duarte-Díaz
A, et al. Co-creation of massive open online courses to
improve digital health literacy in pregnant and lactating
women. Int J Environ Res Public Health [Internet].
2022; 19 (913). Available from:
https://doi.org/10.3390/ijerph19020913
25. Sayakhot P, Carolan-Olah M. Internet use by pregnant
women seeking pregnancy-related information: A
Artigo de Revisão
systematic review. BMC Pregnancy Childbirth
[Internet]. 2016; 16(65). Available from:
https://doi.org/10.1186/s12884-016-0856-5
26. Chung K, Cho H, Kim Y, Jhung K, Koo H, Park J.
Medical help-seeking strategies for perinatal women
with obstetric and mental health problems and
changes in medical decision making based on online
health information: Path analysis. J Med Internet Res.
[Internet]. 2020; 22(3). Available from:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC70
83619/
27. Donelle L, Hall J, Hiebert B, Jackson K, Stoyanovich
E, LaChance J, et al. Investigation of digital technology
use in the transition to parenting: qualitative study.
JMIR Pediatr Parent [Internet]. 2021;4(1). Available
from: https://pediatrics.jmir.org/2021/1/e25388
| 104
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / Agosto 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.250
Artigo de Revisão
Como citar este artigo: Coelho M, Tereso A. Realidade Virtual como estratégia de alívio da dor no trabalho
de parto: protocolo revisão scoping
. Pensar Enf [Internet]. 2023 Ago; 27(1):104-109
. Available from:
https://doi.org/10.56732/pensar
enf.v27i1.250.
Realidade Virtual como estratégia de alívio da dor
no trabalho de parto: protocolo revisão
scoping
Introdução
Durante o trabalho de parto a dor pode afetar a saúde da parturiente e do feto, sendo o seu
alívio um direito das parturientes e um dever dos profissionais. Na promoção duma
experiência positiva de trabalho de parto é importante que os enfermeiros especialistas em
saúde materna e obstétrica privilegiem a avaliação da dor e o recurso às estratégias não
farmacológicas para o alívio da dor, disponibilizando os recursos necessários e capacitando
as parturientes para a sua utilização. Destas estratégias, destaca-se a realidade virtual pela
facilidade de utilização e por permitir a diminuição dos níveis de dor através do desvio de
atenção do mundo real utilizando computadores e outros dispositivos. Por ser uma
estratégia que ainda não está implementada nas salas de partos em Portugal, importa mapear
os fatores facilitadores e as barreiras associadas à sua utilização, para que possa ser efetuado
o planeamento da disseminação do conhecimento existente e da sua translação para os
cuidados de enfermagem especializados durante a primeira fase do trabalho de parto.
Objetivo
Mapear a evidência sobre os fatores facilitadores e as barreiras na utilização da RV como
estratégia não farmacológica de alívio da dor durante o trabalho de parto em contexto
hospitalar
Métodos
Este protocolo segue as orientações divulgadas pelo Joanna Briggs Institute. Para a pesquisa
são consideradas as bases de dados MEDLINE, CINAHL, Cochrane Database of
Systematic Reviews e MedicLatina através da plataforma EBSCOhost, o Joanna Briggs
Institute EBP Database, através da plataforma Ovid e, é também incluída a literatura
cinzenta. Como critérios de inclusão são considerados estudos qualitativos, quantitativos e
mistos que abordem a realidade virtual como estratégia de alívio da dor durante o trabalho
de parto em contexto hospitalar (com base na mnemónica PCC- População, Conceito e
Contexto), publicados em língua portuguesa, francesa, espanhola (castelhano) ou inglesa
entre 2017 e 2022. Os títulos e resumos das referências identificadas serão analisados
independentemente e avaliados para efeitos de elegibilidade por dois revisores. Em caso de
empate, prevê-se o recurso a um terceiro revisor. Os estudos em texto integral e os dados,
serão extraídos utilizando um formulário. A tabela de extração de dados mostrará os dados
mapeados de uma forma descritiva, respondendo às questões de pesquisa.
Discussão
Os resultados permitirão sintetizar as barreiras e os fatores facilitadores na utilização da RV
para o alívio da dor da parturiente e assim, contribuir para a tomada de decisão no
planeamento da divulgação desta estratégia às grávidas e aos profissionais de saúde e na sua
implementação nas salas de partos.
Registo da Revisão Sistemática
Open Science Framework: osf.io/4b2sj
Palavras-chave
Realidade Virtual; Dor no Trabalho de Parto; Enfermagem Obstétrica; Parturiente.
Marta Coelho1
orcid.org/0000-0003-2085-9739
Alexandra Tereso2
orcid.org/0000-0002-4746-3649
1 Estudante de Mestrado. Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa, Lisboa.
Centro de
Investigação, Inovação e Desenvolvimento em
Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), Lisboa, Portugal.
2 Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa, Lisboa. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR), Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Alexandra Tereso
E-mail: alexandra.tereso@esel.pt
Recebido: 19.01.2023
Aceite: 25.05.2023
Artigo de Revisão
Introdução
A dor durante o trabalho de parto é uma experiência
individual.1 Na forma como a dor é experienciada pela
parturiente estão incluídos processos fisiológicos e
psicossociais2 que dependem de fatores pré-parto e intra-
parto.3 Destes, destacam-se os físicos, os psicológicos
(medo, ansiedade, confiança), a educação pré-natal, a
paridade, a posição adotada pela mulher, os genéticos e
clínicos, o nível de instrução materna, o nível
socioeconómico e cultural e o modelo assistencial de
cuidados durante o parto (p. ex. presença de pessoa de
referência).4 Apesar da dor durante o trabalho de parto ser
uma condição natural e fisiológica, pode afetar o bem-estar
e a saúde da mulher e do feto, a relação emocional da
mulher com o recém-nascido e as suas perspetivas sobre
nascimentos futuros.5
As guidelines nacionais e internacionais sobre a experiência
de parto positiva ou maternidade respeitada defendem que
o alívio da dor é fundamental na prestação de cuidados de
qualidade. A World Health Organization6 divulga que o
alívio da dor deve ser baseado em evidência científica e
disponibilizado de forma oportuna, de acordo com as
escolhas da mulher, a sua cultura e as suas necessidades.
Neste âmbito realçam-se as estratégias não farmacológicas
de alívio da dor que não implicam o risco de efeitos
adversos das estratégias farmacológicas tais como o
aumento da duração de trabalho de parto e a necessidade
do recurso a partos instrumentados.1,7 Estas estratégias têm
o potencial de reduzir os efeitos secundários da analgesia
epidural, aumentar a taxa de adesão à amamentação,
aumentar a tomada de decisão partilhada e o controlo sobre
o trabalho de parto, facilitar a interação com os
profissionais e, em última análise, aumentar a satisfação da
parturiente e da família.8-9
Das estratégias não farmacológicas para o alívio da dor
durante o parto, destaca-se a realidade virtual (RV) por ser
um método não invasivo, apresentar vários benefícios
(aumento da satisfação e diminuição da dor, da duração do
trabalho de parto e da ansiedade), ser eficaz e de fácil
utilização.4,10-11 Musters et al.12 consideram que se tem
assistido a um aumento da evidência científica de que a RV
é eficaz na diminuição da dor durante o parto, e que a sua
utilização pode contribuir para reduzir o recurso a métodos
farmacológicos de controlo da dor e, concomitantemente
os efeitos secundários associados a estes.
A RV é uma nova tecnologia que utiliza computadores e
outros dispositivos, e que permite à parturiente
experimentar uma sensação de presença num ambiente
imersivo tridimensional e interativo, que contribui para
diminuir a perceção da dor, desviando a atenção do mundo
real.13 Esta abstração e experiência sensorial, também
podem ser utilizadas em simultâneo com outras técnicas o
que constitui uma vantagem que deve ser tida em
consideração.14
A perceção da dor está (em parte) relacionada com a
atenção que é dada aos estímulos dolorosos15 e as técnicas
de distração retiram a atenção de um estímulo nocivo,
exigindo a atenção limitada do utilizador. Apesar da
distração através do visionamento de filmes, da audição de
música e de conversas que não incidam sobre aspetos
clínicos se ter tornado mais comum durante os
procedimentos médicos, os sistemas de RV podem
constituir uma alternativa mais eficaz. A distração pode ser
uma técnica de analgesia muito promissora que pode ser
usada com segurança e eficácia para a redução da dor e do
desconforto durante procedimentos médicos.16 Nos
últimos anos, várias pesquisas têm explorado a eficácia da
distração imersiva em RV na redução da dor relacionada
com diferentes procedimentos médicos e também com o
trabalho de parto.15
Algumas das técnicas de distração mais recentes utilizam
tecnologia audiovisual avançada, que combina estímulos
visuais e auditivos em vídeos bidimensionais ou
tridimensionais. Estas técnicas são designadas sistemas
audiovisuais de RV, sistemas de óculos ou simplesmente
distração áudio visual e não recorrem a estímulos cinéticos.
A RV utiliza equipamentos sofisticados como os monitores
3-D (Head Mounted Displays) colocados na cabeça, que
possuem um grande campo de visão, e sistemas de deteção
de movimento que permitem aos utilizadores interagir com
o ambiente virtual. Existe uma multiplicidade de
características e componentes que pode ser acrescentada ou
retirada do equipamento e que se traduz nos custos
implicados para a sua utilização.17
A utilização da RV como técnica de analgesia oferece
imagens mais imersivas devido aos auscultadores oclusivos
que projetam as imagens mesmo em frente dos olhos do
utilizador e, dependendo do modelo utilizado, bloqueiam
os estímulos do mundo real (visuais, auditivos ou ambos).16
McCaffery e Pasero17 designaram este fenómeno como
blindagem sensorial. Nesta, o utilizador é protegido da dor
pela distração resultante da imersão, que é particularmente
aumentada na RV através da utilização de Head Mounted
Displays que direcionam o foco de atenção para o que está
a acontecer no mundo virtual.16
Na primeira fase do trabalho de parto, a RV reveste-se de
especial interesse devido ao seu carácter não-invasivo, ao
seu contributo para o alívio da dor e à ausência de efeitos
secundários significativos.11
Nos estudos realizados por Baradwan et al.4, Akin et al.1 e
Carus et al.18 foram salientados como benefícios da RV: a
redução da perceção da dor nas parturientes, a diminuição
dos níveis de ansiedade, o aumento da satisfação das
parturientes e conviventes significativos, a ausência de
efeitos adversos e a diminuição do risco de complicações
para o feto e de perturbações pós-parto para a mulher.
Neste âmbito é ainda importante referir o estudo
qualitativo realizado por Wong et al.19, no qual foram
analisadas as perceções das parturientes durante a utilização
da realidade virtual e no qual concluíram que as parturientes
se sentiram mais calmas e relaxadas, com diminuição dos
veis de ansiedade e mais concentradas na respiração. Este
estudo demonstrou ainda melhorias significativas na
autoeficácia através da utilização da RV.
Os profissionais de saúde, com os seus conhecimentos e
competências, continuam a ser o fator mais importante na
promoção de um trabalho de parto que dê resposta às
Artigo de Revisão
expetativas das mulheres20, garantindo um ambiente
seguro, concebendo, implementando e avaliando
intervenções na prevenção e controlo da dor.21-22 Durante
a gravidez e o parto, o alívio da dor destaca-se no exercício
profissional dos enfermeiros obstetras e alicerça-se não só
em razões médicas, mas, também em razões humanas.23
A partilha do conhecimento para a inovação dos cuidados,
das estratégias e das intervenções de enfermagem é
fundamental, bem como a aquisição de recursos e a
capacitação dos profissionais para disponibilizarem
alternativas seguras, acessíveis e eficazes24 para o alívio da
dor das parturientes.25 A implementação da RV na primeira
fase do trabalho de parto requer a obtenção de informação
sobre as preferências das parturientes e sobre a forma como
percecionam a dor.12 No âmbito dos cuidados pré-natais,
estes aspetos podem ser clarificados e a elaboração do
plano de parto pode constituir uma boa oportunidade para
tal.
Apesar da sua efetividade no alívio da dor e da segurança
que a sua aplicação permite,26 a RV ainda o é utilizada
nas salas de partos em Portugal. Neste contexto é
fundamental identificar os fatores facilitadores e as
barreiras para a translação do conhecimento que está
disponível, de forma a promover a sua divulgação durante
a gravidez nos cursos de preparação para o parto e a sua
acessibilidade às parturientes.
Métodos
Foi efetuada pesquisa na MEDLINE (EBSCOhost), na
Cochrane Database of Systematic Reviews (EBSCOhost),
e no Joanna Briggs Institute EBP (Ovid) e não foram
identificadas revisões scoping ou revisões sistemáticas sobre
o tema.
Objetivos e Questões de pesquisa
O objetivo desta scoping review (ScR) é mapear a evidência
sobre os fatores facilitadores e as barreiras na utilização da
RV como estratégia não farmacológica de alívio da dor
durante o trabalho de parto em contexto hospitalar.
As questões de pesquisa são:
Quais as barreiras para a utilização da realidade virtual
como estratégia de alívio da dor durante o trabalho de
parto?
Quais os fatores facilitadores na utilização da realidade
virtual como estratégia de alívio da dor durante o trabalho
de parto?
Seguindo a metodologia proposta pelo JBI, este protocolo
scoping é apresentado segundo as orientações para os
protocolos das revisões sistemáticas disponibilizados pelo
Preferred Reporting Items for Systematic review and Meta-Analysis
Protocols (PRISMA-P) checklist (Anexo 1).27 A revisão
planeada vai ser apresentada de acordo com a extensão do
PRISMA para Scoping Reviews (PRISMA-ScR) Checklist
(Anexo 2).28
Este protocolo será conduzido de forma a incluir todos os
estudos que abordem a realidade virtual como estratégia
não farmacológica de alívio da dor durante o trabalho de
parto. Assegurando um trabalho sistemático e replicável, a
estrutura deste protocolo ScR, seguirá as seguintes etapas:
definir e alinhar o objetivo com as questões para a revisão,
desenvolver e alinhar os critérios de inclusão com os
objetivos/questões; descrever a abordagem planeada para a
pesquisa, seleção, extração de dados e apresentação da
evidência; pesquisar e selecionar as provas; extrair e analisar
a evidência; apresentar os resultados e resumir a evidência
em relação ao objetivo da revisão, chegar a conclusões e
anotar quaisquer implicações dos resultados.29
Este protocolo foi registado no Open Science Framework
(registo nº osf.io/4b2sj )
Critérios de elegibilidade
Participantes: este protocolo de ScR inclui estudos sobre a
utilização da realidade virtual para alívio da dor durante o
trabalho de parto.
Conceito: o fenómeno de interesse definido para esta ScR
diz respeito aos fatores facilitadores e às barreiras na
utilização da realidade virtual como estratégia não
farmacológica no alívio da dor durante o trabalho de parto.
A identificação destes aspetos possibilitará prevenir o
impacto de barreiras e promover o sucesso da
implementação desta estratégia nos blocos de partos em
Portugal.
Contexto: hospitalar (Blocos de Partos).
Tipos de Estudos
Este protocolo inclui estudos primários (quantitativos,
qualitativos e mistos) ou secundários (revisões sistemáticas
da literatura e ScR) publicados e literatura cinzenta. Serão
considerados estudos em língua portuguesa e inglesa, uma
vez que, constituem as línguas de domínio das
investigadoras. A linha temporal considerada incluirá os
últimos 5 anos de publicação, com início em 2017. 29
Fontes de informação
Para identificar documentos potencialmente relevantes
para a ScR serão utilizados dois tipos de fontes de
informação:
1.Bases de dados eletrónicas através da plataforma
EBSCOhost: CINAHL Complete, MEDLINE Complete,
MedicLatina e Cochrane Database of Systematic Reviews,
e através da plataforma OVID: JBI EBP.
2.Outros documentos de fontes como o Repositório
Científico de Acesso Aberto de Portugal e de organizações
que emanam orientações relativas aos cuidados de saúde
durante o parto.
Estratégia de pesquisa
A estratégia de pesquisa definida para esta ScR envolverá
três etapas. Uma pesquisa inicial em bases de dados
relevantes: MEDLINE, CINAHL. Através desta pesquisa
são definidos os descritores mais utilizados (linguagem
natural e indexada) nos títulos e resumos dos artigos
Artigo de Revisão
pesquisados e os termos de indexação utilizados para
identificar os artigos relacionados com os fatores
facilitadores e as barreiras na utilização da realidade virtual
como estratégia não-farmacológica de alívio da dor durante
o trabalho de parto.
A expressão de pesquisa em linguagem natural a ser
utilizada na base de dados MEDLINE inclui truncatores e
wild cards e será: (Parturient OR Pregnan* OR Wom?n in
Labo?r) AND ( Virtual Reality OR User-Computer
Interface) AND (Pain Management OR Pain Measurment
OR Pain Relief OR Labo?r Pain) AND (Hospital OR
Obstetric Units).
A expressão de pesquisa em linguagem indexada a ser
utilizada na mesma base de dados será: (MH “Labor,
Obstetric” OR “Pregnancy”) AND (MH “Virtual Reality”
OR MH “User-Computer Interface”) AND (MH “Pain
Management” OR MH “Pain Measurment” OR MH
“Analgesia, Obstetrical” OR MH “Labor Pain”) AND MH
“Hospital Units”.
Como limitadores, utilizar-se-á a data de publicação
(período compreendido entre o ano de 2017 até o ano de
2023) e o idioma [inglês, francês, espanhol (castelhano) e
português].
Em segundo lugar, realizar-se-á uma pesquisa adaptando os
termos descritos no ponto anterior para cada uma das
fontes referidas. A estratégia de pesquisa terá como base a
mnemónica “PCC” segundo as recomendações do JBI.
Como Participantes, definem-se as parturientes; como
Conceito, a realidade virtual como estratégia não
farmacológica para o alívio da dor, e como Contexto, o
hospital (blocos de partos).30 A leitura dos títulos e resumos
pelos dois revisores independentemente (utilizando
perguntas previamente estabelecidas), permitir-lhes-á
selecionar os que satisfazem os critérios de elegibilidade e
que serão escolhidos para serem lidos na íntegra.
Para aperfeiçoamento, as referências bibliográficas de
todos os artigos e estudos identificados serão analisadas
para incluir estudos adicionais.30
Processo de mapeamento dos dados
Após a pesquisa, todos os estudos selecionados serão
enviados para o programa de gestão de referências
Mendeley e os duplicados serão removidos.
Posteriormente, realizar-se-á uma avaliação pormenorizada
dos estudos, sendo a seleção dos mesmos baseada nos
critérios de inclusão e nas questões norteadoras da revisão.
Serão utilizados dois revisores independentes um do outro,
para a identificação, seleção, elegibilidade e critérios de
inclusão. Em caso de dúvida, as questões divergentes serão
debatidas e, um terceiro revisor será contactado para
clarificação.
Os artigos selecionados serão descarregados no programa
Covidence, que, em parceria com a Cochrane, permite a
interação entre revisores e otimizar o processo de revisão
sistemática, tendo por base as recomendações da JBI. Os
dados extraídos incluirão detalhes específicos sobre a
população, conceito e contexto, métodos de estudo e
conclusões-chave relevantes para a questão de estudo.
Síntese dos Resultados
Os resultados serão apresentados no fluxograma PRISMA
(Anexo 3). A tabela de extração de dados mostrá-lo-á de
uma forma organizada e descritiva, considerando as
questões de revisão. Assim, é importante identificar os
fatores facilitadores e as barreiras na utilização da RV no
alívio da dor durante o trabalho de parto. Estes resultados
serão apresentados de forma descritiva e analítica, numa
tabela onde serão descritas as características dos estudos e
dos documentos considerados na ScR.
Discussão
A RV constitui uma alternativa não farmacológica para
alívio da dor31 e mapear os fatores facilitadores e as
barreiras para a sua utilização durante o trabalho de parto
permite planear intervenções para a disseminação e
translação do conhecimento produzido envolvendo os
enfermeiros, os médicos e as mulheres/acompanhantes de
forma a promover a utilização desta estratégia potenciando
os fatores facilitadores e minimizando as barreiras.
Contribuições autorais
Coelho, M: Fundamentação do protocolo, opções
metodológicas e redação do manuscrito.
Tereso, A: Fundamentação do protocolo, opções
metodológicas e redação do manuscrito.
Conflito de interesses
As autoras declaram que não há conflito de interesses.
Financiamento
Não foi recebido qualquer apoio financeiro para esta
investigação.
Referências Bibliográficas
 $NLQ%.RFDN0<.oND\GÖQ=*]HO.7KHHIIHFW
of showing images of the foetus with the virtual reality glass
during labour process on labour pain, birth perception and
anxiety. J Clin Nurs [Internet]. 2021 [cited 2022 dec 23]; 30
(1516): 23018. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/jocn.1
576
2. Koyyalamudi V, Sidhu G, Cornett EM, Nguyen V,
Labrie-Brown C, Fox CJ, et al. New labor pain treatment
options. Curr Pain Headache Rep [Internet]. 2016 [cited
2022 dec 18]; 20 (2): 19. Disponível em:
https://link.springer.com/article/10.1007/s11916-016-
0543-2
3. Jahanishoorab N, Zagami SE, Nahvi A, Mazluom SR,
Golmakani N, Talebi M, et al. The effect of virtual reality
on pain in primiparity women during episiotomy repair: a
randomize clinical trial. Iran J Med Sci [Internet]. 2015
Artigo de Revisão
[cited 2022 nov 23]; 40 (3): 21924. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC443088
3/
4. Baradwan S, Khadawardi K, Badghish E, Alkhamis WH,
Dahi AA, Abdallah KM, et al. The impact of virtual reality
on pain management during normal labor: a systematic
review and meta-analysis of randomized controlled trials.
Sex Reprod Healthc [Internet]. 2022 [cited 2023 jan 5]; 32:
1-7. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.srhc.2022.100720
 (EUDKLPLDQ $ %LODQGL 55 %LODQGĩ MRR, Sabzeh Z.
Comparison of the effectiveness of virtual reality and
chewing mint gum on labor pain and anxiety: a randomized
controlled trial. BMC Pregnancy Childbirth. [Internet].
2022 [cited 2023 jan 5]; 22 (49): 19.
https://doi.org/10.1186/s12884-021-04359-3
6. World Health Organization. WHO recommendations:
intrapartum care for a positive childbirth experience.
Transforming care of women and babies for improved
health and well-being [Internet]. Geneva: WHO; 2018
[cited 2022 nov 29]. 18. Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/27244
7/WHO-RHR-18.12-eng.pdf
7. Massov L, Robinson B, Rodriguez-Ramirez E, Maude R.
Virtual reality is beneficial in decreasing pain in labouring
women: a preliminary study. Aust N Z J Obstet Gynaecol
[Internet]. 2022 [cited 2023 jan 5]; (63) 193197.
Disponível em:
https://obgyn.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/ajo.1
3591
8. Frey DP, Bauer ME, Bell CL, Low LK, Hassett AL,
Cassidy RB, et al. Virtual reality analgesia in labor: the vrail
pilot study - a preliminary randomized controlled trial
suggesting benefit of immersive virtual reality analgesia in
unmedicated laboring women. Anesth Analg [Internet].
2019 [cited 2022 dec 20];128 (6) E936. Disponível em:
https://journals.lww.com/anesthesia-
analgesia/Fulltext/2019/06000/Virtual_Reality_Analgesia
_in_Labor__The_VRAIL.27.aspx
9. Thomson G, Feeley C, Moran VH, Downe S, Oladapo
27 :RPHQ·V H[SHULHQFHV RI SKDUPDFRORJLFDO DQG QRQ-
pharmacological pain relief methods for labour and
childbirth: a qualitative systematic review. Reprod Health
[Internet]. 2019 [cited 2022 dec 20]; 16 (71) 1-20.
Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12978-019-
0735-4
10. Pourmand A, Davis S, Marchak A, Whiteside T, Sikka
N. Virtual reality as a clinical tool for pain management.
Curr Pain Headache Rep [Internet]. 2018 [cited 2022 dec
17]; 22 (53) 17. Disponível
em: https://doi.org/10.1007/s11916-018-0708-2
11. Pratiw IG, Husin F, Ganiem AR, Susiarno H, Arifin A,
Wirahkusuma, F. The effect of virtual reality on pain in
primiparity women. Int J Nurs Heal Sci [Internet]. 2017
[cited 2022 dec 17]; 4 (4): 4650. Disponível em:
https://www.researchgate.net/profile/Intan-
Gumilang/publication/321600779_The_Effect_of_Virtua
l_Reality_on_Pain_in_Primiparity_Women/links/5a8be0f
10f7e9b1a95560994/The-Effect-of-Virtual-Reality-on-
Pain-in-Primiparity-Women.pdf
12. Musters A, Vandevenne AS, Franx A, Wassen MMLH.
Virtual reality experience during labour (virel); a qualitative
study. BMC Pregnancy Childbirth [Internet]. 2023 [cited
2023 jan 19]; 23 (1): 283. Disponível em:
https://bmcpregnancychildbirth.biomedcentral.com/artic
les/10.1186/s12884-023-05432-9#citeas
13. Wiederhold BK, Gao K, Sulea C, Wiederhold MD.
Virtual reality as a distraction technique in chronic pain
patients. Cyberpsychol Behav Soc Netw [Internet]. 2014
[cited 2022 nov 29];17 (6): 34652. Disponível em:
https://www.liebertpub.com/doi/10.1089/cyber.2014.02
07
 2·&RQQRU6 0D\QH$ +RRG %9LUWXDO UHDOLW\-based
mindfulness for chronic pain management: a scoping
review. Pain Manag Nurs [Internet]. 2022 [cited 2023 jan
5]; 3(3):35969. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.pmn.2022.03.013
15. Botella C, Palacios AG, Baños R, Quero S, Breton-
Lopez J. Virtual reality in the treatment of pain. Journal of
Cybertherapy & Rehabilitation [Internet]. 2008 [cited 2022
dec 17]; 1 (1) 93-100. Disponível em:
https://repositori.uji.es/xmlui/bitstream/handle/10234/
73746/33401.pdf?sequence=1&isAllowed=y
16. Wismeijer AAJ, Vingerhoets JJM,. The use of virtual
reality and audiovisual eyeglass systems as adjunct analgesic
techniques: A review of the literature. Ann. Behav. Med
[Internet]. 2005 [cited 2022 dec 7]; 30 (3): 268278.
Disponível em:
https://doi.org/10.1207/s15324796abm3003_11
17. McCaffery M, Pasero C. Pain: Clinical manual 2nd ed.
St. Louis: Mosby:1999. 795 p.
18. Carus EG, Albayrak N, Bildirici HM, Ozmen SG.
Immersive virtual reality on childbirth experience for
women: a randomized controlled trial. BMC Pregnancy
Childbirth [Internet]. 2022 [cited 2023 jan 3]; 22 (354): 18.
Disponível em: https://doi.org/10.1186/s12884-022-
04598-y
19. Wong MS, Gregory KD, Spiegel BMR, Khalil C. Patient
perceptions of virtual reality for pain relief in labor: A
qualitative study. Front. Pain Res [Internet].2022 [cited
2023 jan 3]; (3): 16.
20. Ayres-De-Campos D. Intrapartum fetal surveillance.
Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol [Internet]. 2016 [cited
2022 dec 20]; (30):12 Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.bpobgyn.2015.08.003
21. Ordem dos Enfermeiros. Regulamento nº 391/2019.
Regulamento das competências específicas do enfermeiro
especialista em enfermagem de saúde materna e obstétrica.
Diário da República, II Série (N.º 85 de 03-05-2019):
13560-13565. Disponível em:
https://diariodarepublica.pt/dr/detalhe/regulamento/39
1-2019-122216892
22. Wyatt J. Essential competencies. People & Strategy
[Internet]. 2009 [cited 2022 dec 7]; 32 (2):13. Disponível
em:
https://web.p.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewe
Artigo de Revisão
r?vid=10&sid=8377fbcd-5262-4c96-8159-
b47c8bde58eb%40redis
23. Crowther SA, Hall J, Balabanoff D, Baranowska B, Kay
L, Menage D, et al. Spirituality and childbirth: An
international virtual cooperative inquiry. Women and
Birth [Internet]. 2021 [cited 2022 dec 15]; 34 (2): e13545.
Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.wombi.2020.02.004
24. Costa AP, Sánchez-Gómez MC, Cilleros MVM,
organizadores. A prática na investigação qualitativa:
exemplos de estudos [E-book na Internet].Oliveira de
Azeméis: Ludomedia; 2017 [cited 2022 dec 15]. 165 p.
Disponível em: https://www.webqda.net/wp-
content/uploads/2017/06/ebook_Pratica_Investigacao_
Qualitativa_PT.pdf
25. Jylhä V, Oikarainen A, Perälä M-L, Holopainen A.
Facilitating evidence-based practice in nursing and
midwifery in the WHO European Region. [Internet].
Copenhagen WHO; 2017 [cited 2022 nov 28]. 44 p.
Disponível em:
https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/35367
2/WHO-EURO-2017-5314-45078-64291-
eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y
26. Xu N, Chen S, Liu Y, Jing Y, Gu P. the effects of virtual
reality in maternal delivery: systematic review and meta-
analysis. JMIR Serious Games [Internet]. 2022 [cited 2023
jan 5]; 10 (4): 1-13. Disponível em:
https://games.jmir.org/2022/4/e36695/PDF
27. Moher D, Shamseer L, Clarke M, Ghersi D, Liberati A,
Petticrew M, et al. Preferred reporting items for systematic
review and meta-analysis protocols (PRISMA-P) 2015
statement. Syst Rev [Internet]. 2015 [cited 2022 nov 28]; 4
(1): 1-9. Disponível em: https://doi.org/10.1186/2046-
4053-4-1
 7ULFFR $& /LOOLH ( =DULQ : 2·%ULHQ ..
Colquhoun, H, Levac, D, Moher, D, Peters, MD, Horsley,
T, Weeks, L, Hempel S et al. PRISMA Extension for
scoping reviews (PRISMA-ScR): Checklist and explanation.
Ann Intern Med [Internet] 2018 [cited 2022 nov 28]; 169
(7) 467-473. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30178033/
29. Peters MDJ, Godfrey C, McInerney P, Munn Z, Tricco
AC, Khalil, H. Scoping reviews. In: Aromataris E, Munn Z,
editors. JBI Manual for Evidence Synthesis [Internet], JBI
2020 [cited 2022 nov 16]. Capítulo 11. Disponível em:
https://jbi-global-
wiki.refined.site/space/MANUAL/4687342/Chapter+11
%3A+Scoping+reviews
30. Salmond S, Bennett MJ. Systematic review of qualitative
evidence.In: Holly C, Salmond S, Saimbert M.
Comprehensive systematic review for advanced practice
nursing 3rd. New York : Springer; 2021. p. 295349
31. Wong MS, Spiegel BMR, Gregory KD. Virtual reality
reduces pain in laboring women: a randomized controlled
trial [Internet]. Am J Perinatol 2021[cited 2022 nov 16]; 38
(S01): 167-172. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32485759/
_
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / outubro 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.299
&RFKUDQH&RUQHU
Como citar este artigo: Henriques A, Ferreira RJO, Costa AS, Carneiro AV. Cochrane Corner -
Intervenções telefónicas para apoio educacional e psicossocial a cuidadores informais
.
Pensar Enf [Internet].
2023 Out; 27(1)
110-112. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.299
Cochrane Corner - Intervenções telefónicas para
apoio educacional e psicossocial a cuidadores
informais
Cochrane Corner - Telephone interventions for
educational and psychosocial support for informal
caregivers
Resumo
O telefone é um meio fácil de prestação de apoio educacional e psicossocial por profissionais
de saúde a cuidadores informais. Esta revisão sistemática Cochrane avaliou 21 ensaios
clínicos aleatorizados, envolvendo 1.690 cuidadores e comparando a eficácia das
intervenções de apoio telefónico com cuidados habituais, na prestação de apoio educacional
e psicossocial. Concluiu-se existir um ligeiro benefício destas intervenções para alguns
RXWFRPHV (resultados), como por exemplo, na redução da ansiedade e melhoria da preparação
para cuidar. Contudo, para a maioria dos resultados avaliados, o efeito adicional da utilização
de intervenções telefónicas foi pouco ou nenhum. A maior parte dos estudos possuíam
elevado risco de viés e amostras reduzidas.
Palavras-chave
Cuidador Informal; Telefone; Telemedicina; Teleenfermagem; Educação para a Saúde;
Sistemas de Suporte Psicossocial; Sobrecarga do Cuidador; Qualidade de Vida.
Abstract
The telephone is an easy way for health professionals to provide educational and
psychosocial support to informal caregivers. This Cochrane systematic review evaluated 21
randomised clinical trials involving 1,690 caregivers comparing the efficacy of telephone
interventions against usual care, regarding educational and psychosocial support. It was
concluded that these interventions may have a slight benefit for some outcomes, such as
reducing anxiety and improving preparation for care. However, for most of the evaluated
outcomes, the additional effect of using telephone interventions was little or none. Most
studies had a high risk of bias and few participants.
Keywords
Caregivers; Telephone; Telemedicine; Telenursing; Patient Education as Topic;
Psychosocial Support Systems; Caregiver Burden; Quality of Life.
Adriana Henriques1
orcid.org/0000-0003-0288-6653
Ricardo J. O. Ferreira2
orcid.org/0000-0002-2517-0247
Andreia Silva Costa3
orcid.org/0000-0002-2727-4402
António Vaz Carneiro4
orcid.org/0000-0002-2783-0544
1 Doutoramento. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR), Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL), Lisboa. Instituto de Saúde Ambiental
(ISAMB), Faculdade de Medicina de Lisboa,
Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
2 Doutoramento. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR), Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL), Lisboa. Serviço de Reumatologia,
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
Coimbra. Núcleo de Investigação em Enfermagem
(NIE), Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
um centro clínico da Unidade de Investigação para as
Ciências da Saúde ramo Enfermagem (UICISA:E),
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra,
Coimbra, Portugal.
3 Doutoramento. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR), Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL), Lisboa. Instituto de Saúde Ambiental
(ISAMB), Faculdade de Medicina de Lisboa,
Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
4 Doutoramento. Instituto de Saúde Baseada na
Evidência, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Adriana Henriques
E-mail: ahenriques@esel.pt
Recebido: 11.10.2023
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / outubro 2023 _
&RFKUDQH&RUQHU
Questão Clínica: Qual a utilidade das chamadas
telefónicas para apoiar os cuidadores informais?1
Objetivos
Avaliar a eficácia das intervenções de apoio telefónico,
realizadas por profissionais de saúde, quando comparadas
com cuidados habituais ou intervenções sem utilização de
telefone, na prestação de apoio educacional e psicossocial a
cuidadores informais (CI) de pessoas com doenças agudas
e crónicas, em termos da qualidade de vida (QV) e da
sobrecarga dos cuidadores. Secundariamente, avaliar o
custo efetividade das intervenções telefónicas.
Tipo e descrição do Estudo
Foi realizada uma revisão sistemática da literatura (RS) de
ensaios clínicos controlados e aleatorizados (RCTs),
incluindo aleatorização por FOXVWHUV. Como resultados
principais consideraram-se a QV e a sobrecarga dos
cuidadores, e como secundários os indicadores económicos
da intervenção, bem como a aquisição de competências de
cuidar, a saúde psicológica, o conhecimento, a saúde e bem-
estar, a função familiar, e a satisfação dos cuidadores.
Foram considerados apenas os estudos relativos a
intervenções (individuais ou em grupo) em que a primeira
sessão possa ter sido presencial ou telefónica, mas em que
todas as restantes foram realizadas via telefone, comparado
com cuidados habituais. Excluíram-se estudos com
telechamada online com imagem. Os intervenientes tinham
de ser profissionais de saúde credenciados e os destinatários
CI adultos, independentemente da relação com o doente
(doença aguda ou crónica).
Foram pesquisadas as bases de dados de Ensaios Clínicos
da Cochrane Library (CENTRAL), MEDLINE, Embase,
PsycINFO, ProQuest, e a CINAHL complete, bem como
11 websites específicos de CI, três conferências
internacionais, e dois registos internacionais de ensaios
clínicos.
Resultados
Foram incluídos 21 RCTs, envolvendo 1.690 CI, com
intervenções providenciadas principalmente por assistentes
sociais (n=5), enfermeiros (n=4), psicólogos (n=4), ou
equipas multiprofissionais com enfermeiros, assistentes
sociais e outros (n=3).
Verificou-se que as intervenções de apoio telefónico
(n=19) possuem baixa ou nenhuma probabilidade de ter
efeito na QV do CI (certeza da evidência moderada), bem
como pouco efeito na sobrecarga dos mesmos (certeza de
evidência baixa) em comparação com os cuidados
habituais, imediatamente após a conclusão da intervenção.
Em termos de RXWFRPHV secundários, constatou-se que a
ansiedade possa ser ligeiramente reduzida e a preparação
para cuidar ligeiramente melhorada após a intervenção, mas
o existindo certeza sobre os efeitos na depressão. Em
geral, verificou-se pouco ou nenhum efeito nos resultados
definidos nesta revisão.
Dois estudos compararam intervenções de apoio por
telefone versus por outro meio à distância, existindo pouca
ou nenhuma evidência de efeito superior ao apoio por via
o telefónica.
Conclusões
As intervenções de apoio por telefone a CI, por parte de
profissionais de saúde poderão ter ligeiro benefício na
redução da ansiedade e melhoria da preparação para cuidar,
no final da intervenção, quando comparadas com os
cuidados habituais. Contudo, para a maioria dos resultados,
incluindo a QV e a sobrecarga do cuidador, as intervenções
por telefone aparentam ter pouco ou nenhum efeito. No
entanto, deve-se ter em consideração que os resultados da
revisão foram baseados principalmente em estudos com
alto risco de viés e com poucos participantes.
Comentário
Esta revisão Cochrane1 foi realizada no período pré-
pandemia COVID-19, que como se sabe, aumentou
exponencialmente o desenvolvimento de tecnologias
telemáticas para a realização de consultas em saúde à
distância.2 A telesaúde é, hoje em dia e no geral, bem-
recebida pelos utentes, ainda que permaneça mais acessível
a alguns grupos do que a outros, sendo a qualidade do
atendimento equivalente ao presencial para determinadas
doenças agudas e crónicas.2 Em 2022, foi publicada uma
RS que avaliou a eficácia das intervenções de telesaúde,
com foco nas pessoas com doenças reumáticas e
musculoesqueléticas3 para servir de base à elaboração de
recomendações europeias neste âmbito.4 Um dos
princípios gerais destas recomendações salientam que as
intervenções de telesaúde devem ser desenvolvidas em
colaboração com todos os parceiros, incluindo os
profissionais de saúde, os CI e as pessoas com doença.4
Durante a pandemia COVID-19 forma muitos os
enfermeiros que recorreram à consulta telefónica ou a
outros meios digitais (telenfermagem) para mitigar o
impacto na saúde das populações. Estes profissionais
viram-se confrontados com falta de condições e
orientações apropriadas para levar a cabo esta tarefa com a
qualidade e segurança necessárias. Como tal, a Secção
Regional do Centro da Ordem dos Enfermeiros definiu um
grupo de trabalho com o objetivo de definir
recomendações para promover o desenvolvimento e
uniformização da prestação de cuidados de telenfermagem
em Portugal.5 Denotam-se como principais preocupações
o garante da segurança, qualidade, individualidade dos
cuidados, o que requer a adequabilidade de meios humanos,
técnicos e formativos/organizativos. Na recomendação 5
refere-se que “o enfermeiro e o utente, num processo de
decisão partilhada, devem decidir quais as ferramentas mais
adequadas, entre as existentes, a utilizar em
_Henriques, A.
&RFKUDQH&RUQHU
telenfermagem”, porque se considerou que, em muito
casos, o telefone é ainda o melhor meio de contacto.5
Implicações Clínicas
A prestação de apoio educacional e telefónico, por parte de
profissionais de saúde, a CI pode ser utilizado pelos
profissionais de saúde para aumentar a satisfação dos
utilizadores e reduzindo a sua ansiedade. Outras revisões,
que incluíram estudos posteriores à Pandemia COVID-19,
sustentam de forma mais robusta a utilização de
monitorização à distância, salvaguardando-se a necessidade
de disponibilização dos meios e do treino adequado.
Infelizmente, em termos de impacto nos cuidadores, esta
RS não detetou benefício significativo, talvez porque as
dimensões amostrais dos estudos individuais foi pequena e
estes apresentavam elevado risco de viéses.
Contribuições autorais
Adriana Henriques definiu a estrutura de acordo com
orientações Cochrane. Ricardo Ferreira escreveu o primeiro
rascunho do manuscrito, que foi revisto criticamente por
todos os autores, que concordaram com a versão final.
Conflitos de interesse
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelos autores.
Fontes de apoio / Financiamento
Não há financiadores a relatar para esta submissão.
Bibliografia
1. Corry M, Neenan K, Brabyn S, Sheaf G, Smith V.
Telephone interventions, delivered by healthcare
professionals, for providing education and psychosocial
support for informal caregivers of adults with diagnosed
illnesses. The Cochrane database of systematic reviews
[Internet]. 2019 [cited 2023 Set 23]; 5 (5): Cd012533.
Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31087641/
2. Shaver J. The state of telehealth before and after the
COVID-19 pandemic. Primary care [Internet]. 2022 [cited
2023 Jul 20]; 49 (4): 517-30. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0095
454322000239?via%3Dihub
3. Marques A, Bosch P, Thurah A de, Meissner Y, Falzon
L, Mukhtyar C, et al. Effectiveness of remote care
interventions: a systematic review informing the 2022
EULAR points to consider for remote care in rheumatic and
musculoskeletal diseases. RMD open [Internet]. 2022 [cited
2023 Set 23]; 8: 1-15. Disponível em:
https://rmdopen.bmj.com/content/rmdopen/8/1/e0022
90.full.pdf
4. de Thurah A, Bosch P, Marques A, Meissner Y, Mukhtyar
CB, Knitza J, et al. 2022 EULAR points to consider for
remote care in rheumatic and musculoskeletal diseases.
Annals of the rheumatic diseases [Internet]. 2022 [cited 2023
Set 23]; (81): 1065-71. Disponível em:
https://ard.bmj.com/content/annrheumdis/81/8/1065.fu
ll.pdf
5. Pimentel G, Neves J, Loureiro AR, Ventura F, Vieira A,
Morais A, et al. Consultas de enfermagem à distância em
Portugal: recomendações de peritos. Revista de Investigação
& Inovação Em Saúde [Internet]. 2022 [cited 2023 Jul 20]; 5
(1): 12538. Disponível em:
https://riis.essnortecvp.pt/index.php/RIIS/article/view/1
71/160
| 113
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de Revisão
)
Como citar este artigo: Vidotto PC, Aroni P, Malaquias TSM, Barreto MFC, Haddad MCFL. Custo dos
cuidados paliativos oncológicos em serviços de assistência domiciliar: revisão integrativa. Pensar Enf
[Internet]. 2023
Out; 27(1):113-121. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.278
Custo dos cuidados paliativos oncológicos em
serviços de assistência domiciliar: revisão integrativa
Cost of oncological palliative care in home care
service: integrative review
Resumo
Objetivo
Averiguar os artigos científicos relacionados ao custo do Serviço de Assistência
Domiciliária para pacientes em cuidados paliativos oncológicos.
Métodos
Revisão integrativa da literatura, que incluiu artigos primários indexados nas bases de dados
PubMed, Scopus, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Embase, Science Direct e Scielo,
utilizando os descritores neoplasms; oncology; home care; palliative care; costs analysis;
costs.
Resultados
Foram incluídos dez estudos, sendo três do Reino Unido, três da Espanha, seguidos de dois
da Itália, um dos Estados Unidos da América e um do Canadá. Os estudos demonstraram
menor custo no internamento domiciliário com acompanhamento de equipas de saúde,
inclusive quando analisado pacientes oncológicos em fase terminal e prognóstico da doença.
Conclusão
Evidenciou-se que os custos da assistência prestada a pacientes em cuidados paliativos
oncológicos são menores em ambiente domiciliário do que a nível hospitalar.
Palavras-chave
Oncologia; Serviços de Assistência Domiciliar; Cuidados Paliativos; Custos e Análise de
custo.
Abstract
Objective
Investigate scientific articles related to the cost of the Home Care Service for patients
undergoing oncology palliative care.
Methods
Integrative literature review, which included primary articles indexed in the PubMed,
Scopus, Virtual Health Library (VHL), Embase, Science Direct and Scielo databases, using
the descriptors: neoplasms; oncology; home care; palliative care; cost analysis; costs.
Results
Ten studies were included, three from the United Kingdom, three from Spain, followed by
two from Italy, one from the United States of America and one from Canada. Studies have
shown lower costs for home hospitalization with monitoring by healthcare teams, including
when analyzing terminally ill cancer patients and disease prognosis.
Patrícia Christovão Vidotto1
orcid.org/0000-0003-1516-7236
Patricia Aroni2
orcid.org/0000-0001-5092-2714
Tatiana da Silva Melo Malaquias3
orcid.org/0000-0001-5541-441X
Maynara Fernanda Carvalho Barreto4
orcid.org/0000-0002-3562-847
Maria do Carmo Fernandez Lourenço Haddad5
orcid.org/0000-0001-7564-8563
1 Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Programa de
Pós-
Graduação em Enfermagem, Universidade
Estadual de Londrina, Londrina, Brasil.
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem.
Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual
de Londrina, Londrina, Brasil.
3
Enfermeira. Doutora em Enfermagem.
Departamento de Enfermagem, Universidade
Estadual do Centro-Oeste, Guarapuava, Brasil.
4
Enfermeira. Doutora em Enfermagem.
Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual
do Norte do Para, Bandeirantes, Brasil.
5
Enfermeira. Doutora em Enfermagem.
Departamento de Enfermagem, Universidade Estadual
de Londrina, Londrina, Brasil.
Autor de correspondência
Tatiana da Silva Melo Malaquias
E-mail: tatieangel@yahoo.com.br
Recebido: 15.05.2023
Aceite: 12.09.2023
| 0DODTXLDV7
Artigo de Revisão
It was evidenced that the costs of care provided to patients
undergoing oncological palliative care are lower in a home
environment than at a hospital level.
Keywords
Medical Oncology; Home Care Services; Palliative Care;
Costs and Cost Analysis.
Introdução
O cancro está entre as principais Doenças Crónicas Não
Transmissíveis (DCNT) e representa a segunda principal
causa de morte no mundo, em que uma em cada seis mortes
são relacionadas à doença. Entre os tipos mais comuns de
cancro destaca-se o de pulmão (2,09 milhões de caso), mama
(2,90 milhões de casos), colorretal (1,8 milhões de casos),
próstata (1,28 milhão de casos), cancro de pele não-
melanoma (1,04 milhão de casos) e estômago (1,03 milhão
de casos).1
No que se refere à gravidade das DCNT, uma análise do
Banco Económico Mundial estimou que países como Brasil,
China, Índia e Rússia perdem, anualmente, mais de 20
milhões de anos produtivos de vida em razão das DCNT.2
Nesta perspectiva, as doenças oncológicas representam um
grande problema de Saúde Pública, pelo significativo custo
no tratamento, hospitalização e necessidade da continuidade
de cuidados aos indivíduos em cuidados paliativos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em
conceito definido em 1990 e atualizado em 2002 e 2017,3
cuidados paliativos referem-se a ações que melhoram a
qualidade de vida de pacientes e familiares que enfrentam
problemas associados a doenças que ameaçam a vida. Possui
por objetivo prevenir e aliviar o sofrimento, por meio da
identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor
e de outros problemas físicos, psicossociais ou espirituais.
Destaca-se que os planos de contingência com foco na
desospitalização e otimização de recursos financeiros, são de
extrema relevância, pois constituem-se em estratégias que
visam a análise dos recursos e de ações em saúde que
favoreçam o planeamento adequado, bem como o
direcionamento aos vários níveis de atenção à saúde.4
A assistência ou atenção domiciliar (AD) corresponde ao
conjunto de ações de saúde, integrada a Rede de Assistência
à Saúde (RAS), para garantir o seguimento dos cuidados ao
indivíduo que necessita de atendimento. Este serviço está
disponível no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por
meio de equipas multiprofissionais e também é oferecido
por outros prestadores de serviços privados, conhecidos
como serviços de home care.5
Dentro deste cenário e perspectiva, no Brasil a Resolução nº
41/2018 definida junto a Comissão Intergestores Tripartite
do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS)
e secretarias municipais, dispôs sobre as diretrizes para a
organização dos cuidados paliativos, à luz da atenção
continuada integrada, no âmbito do Sistema Único de Saúde
(SUS). De acordo com o Art. 5º, os cuidados paliativos
devem ser oferecidos em qualquer lugar da rede de atenção
à saúde, sem ônus ao paciente e sua família, notadamente na
atenção básica, atenção domiciliaria, atenção ambulatorial,
urgência/emergência e atenção hospitalar.6
Em todo o mundo, os custos dos cuidados de saúde são
onerosos. Quando se trata de cuidados a nível hospitalar,
são ainda mais elevados. O doente em cuidados paliativos
oncológicos, dependendo da evolução da doença, sofre
várias readmissões. Quando é possível diminuir as taxas de
readmissão e transferir os cuidados para os cuidados
domiciliários, pode levar a uma diferença significativa nas
despesas hospitalares. 7
O custo é a soma dos gastos com pessoal, material, estrutura
física e equipamentos utilizados e deve ser entendido como
uma importante ferramenta de gestão para a análise de
desempenho, produtividade e qualidade dos serviços.8
A primeira etapa do processo consiste na verificação dos
custos dos serviços, procedimentos e tratamentos de saúde.
De acordo com a análise realizada, as avaliações
farmacoeconómicas têm diferentes denominações, dentre
ela está: o custo-minimização, o custo-efetividade, o custo-
utilidade e o custo-benefício.9 Neste sentido, a avaliação
económica em saúde assume um papel de destaque,
exigindo dos gestores o enfrentamento de novos desafios na
busca contínua da eficiência e eficácia das atividades. A
qualidade associada ao uso racional dos recursos deve ser o
novo desafio para os gestores dos serviços de saúde.10-11
Portanto é fundamental mensurar os custos em saúde, para
uma análise criteriosa do cenário dos serviços para
fundamentar a tomada de decisão dos gestores na seleção de
ferramentas e modelos de gestão que qualifiquem o cuidado
prestado a população envolvida, principalmente a pessoa
com cancro em cuidado paliativo. Diante do exposto, o
objetivo deste estudo foi averiguar os artigos científicos
relacionados ao custo do Serviço de Assistência Domiciliária
para pacientes em cuidados paliativos oncológicos.
Métodos
Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura que seguiu
seis etapas padronizadas:12 na etapa I, estabeleceu-se a
definição do problema da pesquisa e a questão norteadora,
utilizando o acrónimo PICo,13 onde o “P” refere-se a
população de estudo ou o paciente, ou o problema abordado
(Population/Patient/Problem), que nesta revisão refere-se a
pacientes com cancro; o “I” é o fenómeno de Interesse
(Interest), no qual foram os custos do serviço assistência
domiciliária para cuidados paliativos e o “Co” ao contexto
(Context), em que foi o cuidado domiciliário. Deste modo,
a questão norteadora da pesquisa foi: Qual o custo dos
cuidados domiciliários para pacientes em cuidados paliativos
oncológicos?
Na etapa II definiu-se os critérios de inclusão, que foram
artigos indexados, textos completos sem definição de
temporalidade ou país de publicação, nos idiomas
$PODMVTJPO
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR|
Artigo de Revisão
português, espanhol e inglês, relacionados à questão
norteadora e desenvolvidos em seres humanos, sem
restrição da faixa etária em cuidados oncológicos paliativos.
Foram excluídos estudos que abordassem cuidados
paliativos na área hospitalar, cartas ao editor, duplicatas,
artigos de opinião e revisão de qualquer natureza, reflexão
teórica, comentários, ensaios, notas prévias, editoriais,
cartas, teses e dissertações, trabalhos de conclusão de curso,
manuais, resumos em anais ou periódicos, dossiês,
documentos oficiais, políticas de saúde, relatórios de gestão
hospitalar, livros e capítulos de livro.
A recolha de dados ocorreu em outubro de 2021 nas bases
de dados e bibliotecas eletrónicas: Scopus; EMBASE;
Science Direct, PubMed (MedLine), Scielo, Web of Science
e na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), com os descritores
apresentados pela estratégia de pesquisa na Tabela 1.
Tabela 1String de busca para identificar estudos sobre os custos dos cuidados paliativos oncológicos em Serviços de
Atenção Domiciliária.
O processo de busca, seleção e análise dos estudos foi
realizado por dois revisores independentes, com o auxílio
do software gerenciador de referências Rayyan e eventuais
discordâncias foram resolvidas por um terceiro revisor.
Os estudos foram analisados descritivamente por meio de
tabelas. A classificação quanto ao nível de evidência foi
realizada de acordo com Melnyk e Fineout-Overhol,14 que
estabelece níveis de 01 a 07: nível 1, a evidência provém de
uma revisão sistemática ou meta-análise de todos os ensaios
clínicos randomizados controlados relevantes ou de
diretrizes clínicas baseadas em revisões sistemáticas de
ensaios clínicos randomizados controlados; nível 2,
evidência derivada de pelo menos um ensaio clínico
randomizado controlado bem delineado; nível 3, evidência
obtida de ensaios clínicos bem desenhados sem
randomização; nível 4, evidência de estudos de coorte e
caso-controle bem delineados; nível 5, evidência de uma
revisão sistemática de estudos descritivos e qualitativos;
vel 6, evidência derivada de um único estudo descritivo
ou qualitativo; nível 7, elementos de prova provenientes do
parecer das autoridades e/ou do relatório dos comités de
peritos.
Por tratar-se de revisão integrativa, a pesquisa não foi
submetida ao Comité de Ética em Pesquisa.
Resultados
Foram identificados 84 artigos de acordo com a estratégia
de pesquisa inicial. Destes, cinco eram duplicados,
resultando em um total de 79. Os artigos que abordaram a
questão da pesquisa foram 18; e após a leitura dos textos
completos, foram selecionados dez estudos para integrar
esta revisão.
A Figura 1 representada pelo Preferred Reporting Items for
Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA)15
apresenta o fluxo de seleção dos estudos.
Base de Dados e
Bibliotecas
Descritores
Estratégia de busca
Quantidade inicial de artigos
PubMed (Medline)
MeSH
“cost analysis AND home care AND palliative
cancer patients”
2
Scopus
MeSH
“cost analysis AND home care AND palliative
cancer patients”
11
BVS
DeCS
(Visita domiciliar OR Atendimento domiciliar)
AND (Tratamento paliativo OR Cuidado Paliativo
OR Assistência paliativa) AND (Oncologia OR
Cancro OR Neoplasia) AND (Análise de custo OR
Custos)
9
Embase (Elsevier)
MeSH
'cost analysis' AND ' home care' AND palliative
AND care
29
Scielo
MeSH
(cost analysis) AND (home care) AND (palliative
care)
3
Science Direct
MeSH
cost analysis' AND 'home care' AND palliative
AND care
30
| 0DODTXLDV7
Artigo de Revisão
Figura 1Fluxograma do processo de identificação, seleção, elegibilidade e inclusão dos estudos.
Fonte: Adaptado do PRISMA 2020
Para a análise e síntese dos dez artigos selecionados, utilizou-
se uma tabela sinóptica contendo título, ano e país e outro
com objetivo(s), método, resultados e
recomendações/conclusões (tabela 2).16
Tabela 2Caracterização dos dez artigos primários incluídos na revisão integrativa de acordo com o título, ano e país
Título
Ano
País
A comparative assessment of home versus hospital comprehensive treatment for advanced cancer patients.
1986
EUA*
A comparative cost analysis of terminal cancer care in home hospice patients and controls
1987
Reino Unido
A cost-minimization study of cancer patients requiring a narcotic infusion in hospital and at home
1991
Reino Unido
Home palliative care as a cost-saving alternative: Evidence from Catalonia
2001
Espanha
Cost analysis of a domiciliary program of supportive and palliative care for patients with hematologic malignancies.
x2007
Itália
Use of resources and costs of palliative care with parenteral fluids and analgesics in the home setting for patients
with end-stage cancer 2010 Reino Unido
Resource utilization and cost analyses of home-based palliative care service provision: The Niagara West End-of-
Life Shared-Care Project
2012
Canadá
Actividad asistencial y costes en los últimos 3 meses de vida de pacientes fallecidos con ncer en Euskadi
2017
Espanha
Comparacn directa de los costes sanitarios en los 2 últimos meses de vida en pacientes oncológicos a partir de
certificados de defunción en un área periurbana según reciban o no atención en su domicilio por un equipo de
cuidados paliativos
2018 Espanha
Early Palliative Home Care versus Hospital Care for Patients with Hematologic Malignancies: A Cost-
Effectiveness Study
2020 Itália
Estudos identificados na base
de dados
(84)
Exclusão de estudos
duplicados
(5)
Estudos selecionados para
leitura de títulos e resumos
(79)
Estudos excluídos as
leitura
(61)
Estudos elegíveis para leitura
de texto completo
(18)
Estudos excluídos as
leitura (08)
1. Abordagem de
cuidados paliativos
vertente hospitalar
(05)
2. Texto completo não
encontrado (03)
Estudos incluídos na revisão
(10)
Identificação
Seleção
Elegibilidade
Inclusão
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR|
Artigo de Revisão
Legenda: EUA* – Estados Unidos da América
Os artigos foram categorizados por tema: comparação do
custo na atenção domiciliária X serviço hospitalar; custo nos
últimos dias-meses de vida; e custo conforme prognóstico
da doença. Destaca-se o quantitativo de artigos publicados
internacionalmente: três do Reino Unido,17-19 três da
Espanha,20-22 um dos Estados Unidos da América,23 dois da
Itália,24-25 um do Canadá, 26 iniciando as publicações em
1986.
A Tabela 3 apresenta dados referentes a análise de custo do
paciente oncológico em serviço de atenção domiciliária.
Tabela 3 Publicações selecionadas referentes à análise de custo de pacientes oncológicos em serviço de atenção domiciliária
comparada ao serviço hospitalar
Base
Título /
Nível de Evidência
Periódico/
Ano/País/DOI
Objetivo Principais resultados
Scopus
A comparative
assessment of home
versus hospital
comprehensive treatment
for advanced cancer
patients.
Evidência - IV
J Clin Oncol. 1986.
Estados Unidos
DOI:
https://doi.org/10.1200/
JCO.1986.4.10.1521
Comparar prospectivamente os
custos do tratamento
domiciliário e hospitalar para
pacientes com cancro avançado
O tratamento no domicílio
apresentou custo diário de US$
256 inferior ao custo hospitalar
Science Direct
A comparative cost
analysis of terminal
cancer care in home
hospice patients and
controls.
Evidência - IV
Journal of Chronic
Diseases. 1987. Reino
Unido
DOI:
https://doi.org/10.1016
/0021-9681(87)90132-9
Comparar os custos dos últimos
90 dias de vida em 98 pacientes
terminais com cancro atendidos
por um serviço de atenção
domiciliária versus o
atendimento hospitalar
Os custos dos cuidados médicos
e de enfermagem nas 24 horas
no domicílio e suporte para suas
famílias apresentaram um custo
médio de US$ 6.477 versos US$
6.502 da diária hospitalar
Scopus
A cost-minimization
study of cancer patients
requiring a narcotic
infusion in hospital and
at home.
Evidência - III
Journal of Clinical
Epidemiology. 1991.
Reino Unido
DOI:
https://doi.org/10.1016/
0895-4356(91)90043-9
Comparar o custo em dólares
canadenses referente ao manejo
do cancro em pacientes que
necessitaram de infusões de
narcóticos no hospital e no
domicílio
Os custos médicos foram em
média de C$ 369,72 / dia de
internação hospitalar e C$ 150,24
/ dia de atendimento domiciliário
(economizando C$ 219,48 / dia,
em 1988).
Os custos de narcóticos foram
iguais para qualquer paciente em
ambos os ambientes
PubMed
Use of resources and costs
of palliative care with
parenteral fluids and
analgesics in the home
setting for patients with
end-stage cancer.
Evidência - IV
Ann Oncol. 2010. Reino
Unido
DOI:
https://doi.org/10.1023/
A:1008364401890
Identificar o custo dos
atendimentos do domiciliário e
o custo do paciente
hospitalizado
O custo diário para cada paciente
ficou entre US$ 250 e US$ 300,
metade dos quais são para
despesas hospitalares. Um grupo
de controle hipotético (n=25) foi
construído com base na prática
atual e revisão de prontuários
custaram cerca de US$ 750 /
dia. Com um período médio de
tratamento de 16 dias, isso
significa uma economia de US$
8.000 por paciente
Scopus
Resource utilization and
cost analyses of home-
based palliative care
service provision: the
Niagara West End-of-
Life Shared-Care
Project.
Evidência - IV
Palliative Medicine. 2012.
Canadá
DOI:10.1177/026921631
1433475
Analisar o custo do paciente
oncológico em atendimento
domiciliário
Os custos para todos os serviços
relacionados ao paciente (em
2007) foram C$ 1.625.658,07 ou
C$ 17.112,19 / paciente, sendo
C$ 117,95 / dia. Observou-se
que o atendimento domiciliário é
menos dispendioso atendimento
hospitalar
Scopus
Early Paliative Home
Care versus Hospital
Care for Patients with
Hematologic
Malignancies: A Cost-
Journal of palliative
medicine 2020.
Italia
Comparar os custos e os
resultados entre um
atendimento domiciliário
paliativo precoce e o
atendimento hospitalar para
pacientes paliativos
A assistência domiciliária gerou
uma economia semanal de
2.314,9 € para o provedor de
saúde, com um custo de 85,9 €
para a família, e foi custo-efetiva
para prevenção de infecções
| 0DODTXLDV7
Artigo de Revisão
Effectiveness Study.
Evidência - III
DOI:
https://doi.org/10.1089/
jpm.2020.0396
hematológicos iniciais ou em
fase terminal
Na Tabela 4 são apresentadas as publicações conforme
categorização, referentes aos pacientes paliativos no fim de
vida, comparado aos custos do paciente paliativo no
hospital.
Tabela 4 Publicações selecionadas referentes a análises dos custos nos últimos dias-meses de vida do paciente com doença
oncológica em serviço de atenção domiciliária
Base
Título /
Nível de Evidencia
Periódico/Ano/País/
DOI
Objetivo Principais resultados
Scopus
Home palliative care as a
cost-saving alternative:
Evidence from Catalonia.
Evidência - IV
Palliative Medicine.
2001. Espanha
DOI:
https://doi.org/10.119
1/02692160167832025
0
Comparar os recursos
assistenciais
consumidos durante o
último mês de vida de
pacientes em
tratamento paliativo
que faleceu de cancro
Os custos do atendimento hospitalar
foi 71% maior do que o atendimento
domiciliário
Scielo
Actividad asistencial y costes
en los últimos 3 meses de
vida de pacientes fallecidos
con ncer en Euskadi.
Evidência - IV
Gaceta Sanitaria. 201.
Espanha
DOI:
https://dx.doi.org/10.1
016/j.gaceta.2016.06.00
5
Analisar a utilização de
recursos de saúde e
orçamento nos últimos
meses de vida da
população que morreu
de neoplasia maligna
no país Aunomo
Basco (Espanha)
Pessoas que morreram no hospital
tiveram um custo médio de 14.794 €
aproximadamente o dobro das pessoas
que morreram em casa, e 7.491 €
Science Direct
Comparacn directa de los
costes sanitarios en los 2
últimos meses de vida en
pacientes oncológicos a partir
de certificados de defunción en
un área periurbana según
reciban o no atención en su
domicilio por un equipo de
cuidados paliativos
Evidência - IV
Medicina Paliativa.
2018. Espanha
DOI:
10.1016/j.medipa.2017.
05.003
Comparar os custos de
saúde do atendimento
nos últimos dois meses
de vida, dos pacientes
com doença
oncológica avançada, a
partir de atestados de
óbito, em uma área
metropolitana de
Madri, dependendo se
eles foram ou não
monitorados em casa
por uma equipe de
cuidados domiciliares
paliativos
O custo médio por pacientes foi de
3.158 €, independente se monitorados
ou não por uma equipe de cuidados
paliativos
A Tabela 5 descreve o estudo que abordou o custo
conforme o prognóstico da doença.
Tabela 5Publicação selecionada referente à análise de custo conforme prognóstico da doença oncológica em serviço de
atenção domiciliária
Base
Título /
Nível de
Evidencia
Periódico/Ano/País/D
OI Objetivo Principais resultados
Scopus
Cost analysis of a
domiciliary program of
supportive and
palliative care for
patients with
hematologic
malignancies.
Evidência - IV
Haematologica. 2007. Itália
x
DOI:
https://doi.org/10.3324
/haematol.10324
x
x
Analisar a utilização
de recursos e os
custos de um
programa de
cuidados paliativos
domiciliares para
quatro diferentes
grupos, subdivididos
de acordo com o
estado da neoplasia
hematológica
O custo do programa de atenção domiciliária
foi menor do que os encargos, mas excedia as
tarifas distritais de pacientes com cancro. Em
pacientes hematológicos, os custos diferem de
acordo com o estado da doença e requisitos de
transfusão
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR|
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de Revisão
Discussão
Os resultados dos estudos demonstram que a
desospitalização de pacientes em cuidados paliativos deve
ser prevista por meio de aspectos económicos descritivos e
qualitativos. Precisa basear-se na troca e discussão de casos
em equipas multidisciplinares, com a participação do
paciente e da família, no período que antecede a alta
hospitalar, procurando contemplar as possíveis
necessidades, caracterizando, desta forma, um processo
contínuo, organizado e estruturado. Assim, a utilização
dessas condutas possibilitaria atender a todos os elementos
necessários para a implementação do procedimento e
solucionar as expectativas do paciente e de sua família sobre
o cuidado domiciliário.27
Alguns estudos também reforçam que o custo-efetividade
e o custo da utilidade são maiores quando se compara a
assistência domiciliar e hospitalar, tanto para o paciente
quanto para a família, enfatizando que a qualidade de vida
dos pacientes e o apoio familiar são maiores.25
evidências de que os custos dos cuidados paliativos
domiciliares são inferiores aos custos da assistência
hospitalar, uma vez que se observou que os cuidados
realizados pelas equipas no domicílio contribuem para
reduzir as taxas de readmissão hospitalar e o tempo médio
de permanência dos pacientes no hospital, além de atenuar
o número de intervenções e complicações decorrentes da
internamento, tais como infeções nosocomiais.28
Um estudo realizado na Itália demonstrou que os custos
dos cuidados paliativos domiciliares para pacientes com
neoplasias hematológicas também são menores do que os
custos do atendimento hospitalar padrão.26
É importante destacar que, para essa modalidade de
cuidado, o consentimento do paciente e/ou familiar é de
extrema importância e, apesar da possibilidade de morte
ocorrer no domicílio, é necessário que, durante o período
de cuidado, o paciente e a família sejam capazes de
desenvolver a capacidade de lidar com tal situação.
O plano de cuidados, elaborado pela equipa, deve orientar
a família e os cuidadores sobre como cuidar do paciente,
pois uma das grandes vantagens observadas no
atendimento em domicílio é o fato de este permitir ao
indivíduo ter as suas necessidades atendidas na medida de
suas preferências, sem ter de seguir a rigidez de regras e
horários de um hospital, além de poder desfrutar da vida
em família.2
Em cidades da Espanha, a média custo por paciente em um
Programa d’Atenció Domiciliària i Equips de Suport
(PADES) é substancialmente menor do que no grupo não
PADES, com um aumento de 71%.19 Assim como o
acompanhamento, o custo dos pacientes que faleceram no
hospital foi de 14.794, quase o dobro daquelas que
faleceram em casa, conforme avaliação de custo realizado
(7.491 €).21
Em um estudo realizado no Brasil,29 relacionando o perfil
de pacientes assistidos com os custos da assistência
domiciliária e na ocorrência de internações hospitalares, os
resultados apontam que o custo médio paciente/dia do
atendimento domiciliário foi de R$ 28,26-DP4,10 (US$
12.03 DP1.74), enquanto o custo médio paciente/dia de
internamento hospitalar foi de R$294,46 -DP308,69 (US$
125.30 dp131.36), ou seja, reafirmam que o paciente em
cuidados domiciliários de maneira geral, tende a ser menor.
A modalidade da atenção domiciliária relativa aos cuidados
paliativos faz parte da agenda de discussão da política de
saúde para os países latino-americanos que, sendo
justificada pelos altos custos das internações hospitalares,
procura saída para otimização dos recursos financeiros. Se,
por um lado, a atenção domiciliária pode diminuir gastos
hospitalares, de outro, pode aumentar os custos do cuidado
em saúde na família. Pesquisas mostram que as famílias
latinas que usam exclusivamente sistemas públicos para o
cuidado médico são aquelas com maior vulnerabilidade
económica.30
Os dados verificados nos estudos favorecem o cuidado
paliativo oncológico no domicílio, pois além dos custos
serem menores, o paciente encontra-se em ambiente
familiar, perto dos seus entes queridos, onde poderá sentir-
se mais confortável e seguro quando recebe o cuidado.
Assim, é importante que os profissionais e futuros
profissionais de saúde possam ser capacitados a partir de
sua formação para atuar no cuidado domiciliar de pacientes
em cuidados paliativos oncológicos, com uma visão para
além do processo saúde-doença, e compreendê-lo em seu
contexto biopsicossocial.
Sugere-se que novas pesquisas possam ser desenvolvidas,
por meio de estudos mais abrangentes, que comparem os
custos da assistência domiciliária e hospitalar para pacientes
em cuidados paliativos oncológicos, para subsidiar a
formulação de políticas públicas efetivas que reforcem a
assistência domiciliária e a desospitalização.
Conclusão
Os resultados dos estudos apresentados nesta revisão
apontam que os custos do atendimento ao paciente
oncológico no ambiente domiciliário são menores do que
nos hospitalares, independentemente da fase da doença.
A assistência domiciliária também pode ser eficiente na
qualidade do acompanhamento ao paciente em seus
últimos dias de vida, desde que seja possível para a família
(cuidador) oferecer suporte emocional e infraestrutura
adequada, bem como tenha o adequado acompanhamento
de uma equipa multidisciplinar, favorecido por Políticas
blicas que reforcem a assistência domiciliária e a
desospitalização de pacientes em cuidados paliativos
oncológicos.
| 0DODTXLDV7
Artigo de Revisão
Limitações do estudo
Como limitação para o desenvolvimento desta revisão
podemos destacar a escassez de publicações voltadas aos
custos relacionados dos cuidados paliativos oncológicos na
assistência domiciliária, impactando na generalização dos
resultados para outras regiões que desempenham este tipo
de assistência.
Contribuições autorais
PCV: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Redação do manuscrito;
Revisão crítica do manuscrito.
PA: Conceção e desenho do estudo; Análise e interpretação
dos dados; Redação do manuscrito; Revisão crítica do
manuscrito.
MFCB: Conceção e desenho do estudo; Análise e
interpretação dos dados; Redação do manuscrito; Revisão
crítica do manuscrito.
TSMM: Concão e desenho do estudo; Análise e
interpretação dos dados; Redação do manuscrito; Revisão
crítica do manuscrito.
MCFLH: Conceção e desenho do estudo; Recolha de
dados; Análise e interpretação dos dados; Redação do
manuscrito; Revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesse
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelos autores.
Referências
1. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Câncer.
[Internet] Washington: OPAS; 2020 [citado 09 de maio de
2023]. Disponível em:
https://www.paho.org/pt/topicos/cancer
2. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva. ABC do cancro: abordagens básicas para o controle
do câncer. 6. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: INCA, 2020.
[citado 09 de maio de 2023]. 112p. Disponível em:
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//m
edia/document/livro_abc_6ed_0.pdf
3. World Health Organization (WHO). Palliative care.
[Internet]. Geneva: World Health Organization; 2020
[citado 09 de maio de 2023]. Disponível em:
https://www.who.int/news-room/fact-
sheets/detail/palliative-care
4. Ministério da Saúde (Brasil). Instituto Nacional do
ncer (INCA). A avaliação do paciente em cuidados
paliativos. [Internet]. Rio de Janeiro: INCA; 2022 [citado
09 de maio de 2023]. 284 p. Disponível em:
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/me
dia/document/completo_serie_cuidados_paliativos_volu
me_1.pdf
5. Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Atenção
Especializada à Saúde. Departamento de Atenção
Hospitalar, Domiciliar e de Urgência. Atenção Domiciliar
na Atenção Primária à Saúde [internet]. Brasília: Ministério
da Saúde; 2020 [citado 02 de maio de 2022]. 98 p.
Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_do
miciliar_primaria_saude.pdf
6. Ministério da Saúde (Brasil). Resolução nº 41, de 31 de
outubro de 2018. Dispõe sobre as diretrizes para a
organização dos cuidados paliativos, à luz dos cuidados
continuados integrados, no âmbito Sistema Único de Saúde
(SUS) [Internet]. Diário Oficial da União. 2018 Nov 23
[citado 09 de maio de 2023]; 225 (secção 1): 276. Disponível
em: https://www.in.gov.br/materia/-
/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/51520746
/do1-2018-11-23-resolucao-n-41-de-31-de-outubro-de-
2018-51520710 - :~:text=Dispõe sobre as diretrizes
para,Único de Saúde (SUS)
7. Ribeiro SZRS, Vidal SA, Oliveira AG, Cavalcante MI,
Vicente CD, Lopes LGF. Custos e qualidade de vida de
pacientes em cuidados paliativos. Rev enferm UFPE online
[internet]. 2018 [citado em 28 de julho de 2023]; 12(6):1688-
95. Doi: http://dx.doi.org/10.5205/1981-8963-
v12i6a234832p1688-1695-2018
8. Etges APBS, Schlatter RP, Neyeloff JL, Araújo DV,
Bahia LR, Cruz L, Godoy MR et al. Estudos de
microcusteio aplicados a avaliações econômicas em saúde:
uma proposta metodológica para o Brasil. J Bras Econ
Saúde [internet]. 2019 [citado em 03 de novembro de
2021];11(1):87-95.
http://www.jbes.com.br/images/v11n1/87.pdf
9. Castilho V, Lima AFC, Fugulin FMT. Gerenciamento de
custos nos serviços de enfermagem. In: Kurcgant P.
Gerenciamento em enfermagem. 3. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2016. p. 171-183.
10. Dallora MEL do V, Forster AC. A importância da
gestão de custos em hospitais de ensino: considerações
teóricas. Medicina (Ribeirão Preto) [internet]. 30 de junho
de 2008 [citado 10 de outubro de 2021];41(2):135-42.
Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/rmrp/article/view/259
11. Finger D, Souza JB, Madureira VSF, Geremia DS,
Tombini LHT. Redes de atenção à saúde: a percepção dos
gestores municipais. Rev Enferm Atenção Saúde [internet].
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR|
Artigo de Revisão
2021 [citado 20 de maio de 2022];10(1):e202105. Doi:
https://doi.org/10.18554/reas.v10i1.3669
12.Polit DF, Beck CT. Fundamentos da pesquisa em
enfermagem: avaliação de evidências para prática de
enfermagem. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.
13. Stern C, Jordan Z, McArthur A. Developing the review
question and inclusion criteria. Am J Nurs [internet]. 2014
[citado 20 de outubro de 2021;114 (4):53-6. doi:
10.1097/01.NAJ.0000445689.67800.86 .
14. Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Making the case for
evidence-based practice. In: Melnyk BM, Fineout-Overholt
E. Evidence-based practice in nursing & healthcare: a guide
to best practice. Philadelphia: Lippincot Williams &
Wilkins, 2005. p. 3-24.
15. Page M J, McKenzie J E, Bossuyt P M, Boutron I,
Hoffmann T C, Mulrow C D et al. The PRISMA 2020
statement: an updated guideline for reporting systematic
reviews. BMJ [internet]. 2021 [citado em 11 de novembro
de 2021]; 372(71) doi:10.1136/bmj.n71
16. Lopes CMM, Galvão CM. Surgical positioning:
evidence for nursing care. Rev. Latino-Am. Enfermagem
[internet]. 2010 [citado 20 de novembro de 2021]; 18 (2).
https://doi.org/10.1590/S0104-11692010000200021
17. Gray D, Macadam D, Boldy D. A comparative cost
analysis of terminal cancer care in home hospice patients
and controls. Journal Of Chronic Diseases [internet]. 1987
[citado 23 agosto de 2021]; 40 (8): 801-810. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/0
021968187901329?via%3Dihub .
18. Ferris FD, Wodinsky HB, Kerr IG, Sone M, Hume S,
Coons C. A cost-minimization study of cancer patients
requiring a narcotic infusion in hospital and at home. J Clin
Epidemiol [internet]. 1991 [citado 12 de janeiro de 2022];44
(3):313-27. doi: 10.1016/0895-4356(91)90043-9.
19. Witteveen PO, van Groenestijn MA, Blijham GH,
Schrijvers AJ. Use of resources and costs of palliative care
with parenteral fluids and analgesics in the home setting for
patients with end-stage cancer. Ann Oncol [internet]. 1999
[citado 21 de novembro de 2021];10 (2):161-5. doi:
10.1023/a:1008364401890.
20. Serra-Prat M, Gallo P, Picaza JM. Home palliative care
as a cost-saving alternative: evidence from Catalonia. Palliat
Med [internet]. 2001 [citado 21 de novembro de
2021];15(4):271-8. doi: 10.1191/026921601678320250.
21. Nuño-Solinísa R, Molinab EH, Floresb SL, Mendíac
JFO, Cabrera-León A. Actividad asistencial y costes en los
últimos 3 meses de vida de pacientes fallecidos con cáncer
en Euskadi. Gaceta Sanitaria [internet]. 2017 [citado 10 de
outubro de 2021];31(6):524-530.
https://doi.org/10.1016/j.gaceta.2016.06.005
22. Miguel C, Piedra MR, Pérez MG, Ruiz AJG, Babarro
AA. Comparación directa de los costes sanitarios en los
2últimos meses de vida en pacientes oncológicos a partir de
certificados de defunción en un área periurbana según
reciban o no atención en su domicilio por un equipo de
cuidados paliativos. Medicina Paliativa [internet]. 2018
[citado 23 de novembro de 2021];25 (4):260-267.
https://doi.org/10.1016/j.medipa.2017.05.003
23. Vinciguerra V, Degnan TJ, Sciortino A, O'Connell M,
Moore T, Brody R, Budman D, Eng M, Carlton D. A
comparative assessment of home versus hospital
comprehensive treatment for advanced cancer patients. J
Clin Oncol [internet]. 1986 [citado 12 de novembro de
2021];4(10):1521-8. doi: 10.1200/JCO.1986.4.10.1521
24. Cartoni C, Breccia M, Giesinger JM, Baldacci E,
Carmosino I, Annechini G et al. Early palliative home care
versus hospital care for patients with hematologic
malignancies: a cost-effectiveness study. Journal of
Palliative Medicine [internet.] 2021 [citado 4 de novembro
de 2021];24(6):887-893.
https://doi.org/10.1089/jpm.2020.0396 .
25. Cartoni C, Brunetti GA, D’Elia GM, Breccia M, Niscola
P, Marini MG, Nastri A et al. Cost analysis of a domiciliary
program of supportive and palliative care for patients with
hematologic malignancies. Haematologica [internet]. 2007
[citado 6 de novembro de 2021];92(5):666-673.
https://doi.org/10.3324/haematol.10324 .
26. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da
Silva. Perfil da assistência oncológica no Brasil entre 2012´
e 2016. Informativo Vigilância do Câncer [internet]. 2020
[citado 03 de outubro de 2021]7. Disponível em:
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/me
dia/document/informativo-vigilancia-do-cancer-n7-
2020.pdf.
27. Klinger CA, Howell D, Marshall D, Zakus D, Brazil K,
Deber RB. Resource utilization and cost analyses of home-
based palliative care service provision: the Niagara West
End-of-Life Shared-Care Project. Palliat Med [internet].
2013 [citado 12 de novembro de 2021];27(2):115-22. doi:
10.1177/0269216311433475
| 0DODTXLDV7
Artigo de Revisão
28. Santos ML, Fonseca F N. Impacto econômico da
atuação de equipes consultoras de Cuidados Paliativos
inseridas em hospital. HRJ [internet]. 2021 [citado 24
janeiro de 2022];2(11):160-81. Disponível em:
https://escsresidencias.emnuvens.com.br/hrj/article/vie
w/134
29. Reis GFM, Soler ZASG , Jerico MC, Maloni AAS,
Jericó PC, Jericó PPC. Análise de custos de um serviço de
Atenção Domiciliar público e o perfil dos pacientes
assistidos. Cienc Cuid Saúde [internet]. 2021 [citado 13 de
janeiro de 2022];200. Disponível em:
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaud
e/article/view/58959
30. Simão VM, Mioto RCT. O cuidado paliativo e
domiciliar em países da América Latina. Saúde debate
[internet]. 2016 [citado 20 de novembro de 2021];
40(108):156-169. https://doi.org/10.1590/0103-1104-
20161080013
| 123
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo de Revisão
Como citar este artigo: Sitja LE, Simon BS, Assis MCS, Busanello J, Stamm B. Indicador de qualidade em
terapia nutricional na oncologia e a interface com a enfermagem: revisão integrativa. Pensar Enf [Internet].
2023
Dez; 27(1): 123-136. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.265
Indicador de qualidade em terapia nutricional na
oncologia e a interface com a enfermagem: revisão
integrativa
Quality Indicator in Nutritional Therapy in
oncology and the interface with nursing: integrative
review
Resumo
Objetivo
Analisar as evidências do Indicador de Qualidade em Terapia Nutricional “volume prescrito
versus volume infundido de terapia nutricional”, em pacientes oncológicos adultos
hospitalizados e as perspetivas para a atuação da enfermagem.
Métodos
Revisão integrativa, realizada no Portal Biblioteca Virtual em Saúde, Base de Dados de
Enfermagem, Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature, Excerpta Medica
dataBASE, Google Scholar, Literatura Latino-americana e do Caribe em Cncias da Saúde,
U.S. National Library of Medicine, SciVerse Scopus e Web of Science. Incluíram-se estudos
publicados em português, inglês ou espanhol nos anos de 2008 a 2021.
Resultados
Dos nove estudos incluídos, a maioria dos autores eram nutricionistas e/ou académicos de
Nutrição (53,8%), seguidos de enfermeiras e/ou académicos de Enfermagem (30,8%). A
maioria dos estudos (67%) não atingiu a meta do indicador, sendo investigados em
enfermaria clínica e/ou cirúrgica (27,3%) e Unidade de Cuidados Intensivos adulto/geral
(27,3%). Os motivos para o não cumprimento da meta do indicador foram relacionados às
complicações clínicas e mecânicas do uso da terapia nutricional.
Conclusão
A meta do indicador “volume prescrito versus volume infundido de terapia nutricional” não
foi atingida na maioria dos estudos, e o paciente oncológico adulto apresenta dificuldades
clínicas para atingi-la.
Palavras-chave
Indicadores de Qualidade em Assistência à Saúde; Indicadores de Qualidade em Terapia
Nutricional; Nutrição enteral; Hospitalização; Neoplasias; Enfermagem.
Abstract
Objective
To analyze the evidence of the Indicator of Quality in Nutritional Therapy “prescribed
versus infused volume in nutritional therapy” in hospitalized adult cancer patients and the
prospects for nursing practice.
Methods
An integrative review conducted in the Portal Biblioteca Virtual em Saúde, Nursing
Database, Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature, Excerpta Medica
dataBASE, Google Scholar, Latin America and the Caribbean Literature on Health
Sciences, U.S. National Library of Medicine, SciVerse Scopus Web of Science. This
research included studies published in Portuguese, English, or Spanish from 2008 to 2021
Laísa Escobar Sitja1
orcid.org/0000-0002-1455-072X
Bruna Sodré Simon2
orcid.org/0000-0003-3855-1310
Michelle Cristina Silva de Assis3
orcid.org/0000-0003-2632-5885
Josefine Busanello4
orcid.org/0000-0002-9950-9514
Bruna Stamm5
orcid.org/0000-0003-4858-7712
1 Enfermeira. Programa de Residência Integrada
Multiprofissional em Saúde Coletiva, Universidade
Federal do Pampa, Uruguaiana, Brasil.
2 Enfermeira. Doutoramento. Docente adjunta do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Pampa, Uruguaiana, Brasil.
3 Enfermeira. Doutoramento. Docente adjunta do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
4 Enfermeira. Doutoramento. Docente adjunta do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Pampa, Uruguaiana, Brasil.
5 Enfermeira. Mestrado. Docente assistente do Curso
de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Pampa, Uruguaiana, Brasil.
Bruna Stamm
E-mail: brunastamm@unipampa.edu.br
Recebido: 06.03.2023
Aceite: 14.09.2023
| 6LWMD/
Artigo de Revisão
Results
Of the nine studies included most of the authors were
nutritionists and/or nutrition academics (53.8%), followed
by nurses and/or nursing academics (30.8%). Most studies
(67%) did not reach the indicator target, being investigated
in clinical and/or surgical wards (27.3%) and adult/general
Intensive Care Units (27.3%). The reasons for not meeting
the indicator goal were related to clinical and mechanical
complications of the use of nutritional therapy.
Conclusion
The goal of the indicator in “nutritional therapy prescribed
versus infused volume” was not achieved in most studies,
and the adult cancer patient presents clinical difficulties in
achieving it.
Keywords
Quality indicators in Health Care; Quality Indicators in
Nutritional Therapy; Enteral Nutrition; Hospitalization;
Neoplasms; Nursing.
Introdução
O paciente oncológico adulto hospitalizado, devido às
condições clínicas que a doença desencadeia, como
alterações metabólicas, distúrbios hormonais e respostas
inflamatórias, torna-se mais suscetível a défices nutricionais,
que se relacionam a aspetos multifatoriais, associados ao
tipo de tumor, estadiamento clínico, modalidade terapêutica,
características individuais do paciente e recursos humanos e
físicos da unidade de internação. 1,2 Estudos3,4 revelam que
o paciente oncológico hospitalizado é uma população em
risco nutricional com grau de desnutrição de 20% a 80%,
principalmente nos idosos em estágio avançado da doença.5
Com o intuito de monitorar o estado nutricional do paciente
com cancro, diretrizes6,7,8 orientam a realização da triagem
nutricional no máximo em até 48 horas do período de
internação para todos que hospitalizam. Assim, para suprir
a demanda nutricional, utiliza-se a Terapia Nutricional (TN),
tendo como uma das modalidades terapêuticas a Terapia
Nutricional Enteral (TNE). No Brasil, o desenvolvimento
da TNE exige uma Equipe Multiprofissional de Terapia
Nutricional (EMTN)8, constituída minimamente por
médica, enfermeira, nutricionista e farmacêutica. A
enfermeira, na EMTN, possui dentre suas atribuições,
escolher a via de administração da TNE em conjunto com
o médico; proceder e assegurar a colocação da sonda
naso/orogástrica ou transpilórica; orientar o paciente, a
família ou o responsável legal quanto à utilização e controlo
da TNE; e garantir o registo claro e preciso de informações
relacionadas à administração e a evolução do paciente.9,10
Entretanto, a TNE não é isenta de riscos e de complicações,
e com base nessa, é que se elaboraram os Indicadores de
Qualidade em Terapia Nutricional (IQTN)11, que tem por
objetivo identificar falhas na realização dos procedimentos
com o intuito de gerar melhoria na assistência prestada
quando há défices de qualidade.12 No Brasil, o International
Life Sciences Institute (ILSI)13 elencou 36 IQTNs,
objetivando mensurar a assistência prestada, mediante
indicadores que traduzem as ações e as operacionalizam
para a observação e a avaliação, proporcionando a correção,
a redefinição e a melhoria das metas estabelecidas. Na
Espanha, a European Society for Clinical Nutrition and
Metabolism (ESPEN),14 uma das principais sociedades de
TN, também fornece instrumentos para medir a qualidade
da TNE tanto em unidades de nutrição clínica, como em
qualquer situação que um paciente requeira o uso desta
terapia. A aplicação periódica dos IQTN destaca-se como
uma das principais vias de mensuração da qualidade a TNE
em hospitais públicos e privados. A Sociedade Brasileira de
Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN)9 orienta a
aplicação de pelo menos três IQTNs nos serviços de saúde,
como forma de monitorar a terapêutica, independentemente
do porte e dos recursos humanos dos hospitais, sendo eles:
triagem nutricional, frequência de pacientes com
intercorrências relacionadas à TN e volume prescrito e
volume infundido de TNE.
O IQTN “volume prescrito versus volume infundido de TN
visa avaliar pacientes em TNE que não atingiram a meta
nutricional estimada, sendo responsabilidade da
enfermagem registrar o seu volume infundido. Em 2018, o
ILSI-Brasil13 atualizou a lista dos IQTNs, acrescentando o
indicador “frequência de dias de administração adequada do
volume prescrito versus volume infundido em pacientes em
TN”, objetivando conhecer a frequência de dias de oferta
do volume adequado nos pacientes em TNE. A meta desse
IQTN é que pelo menos 80% do volume prescrito de TNE
seja infundido.13 Estudo realizado pelo ILSI-Brasil 13 com
instituições hospitalares, clínicas e de investigação, destaca
que um dos IQTN mais usados é o “volume prescrito versus
volume infundido de TN”, representado em 81% das
instituições participantes da investigação.
Diante do exposto, identifica-se que o paciente oncológico
adulto hospitalizado, devido ao seu quadro clínico,
apresenta riscos nutricionais tornando-se vulnerável ao
tratamento e possíveis intervenções. Apesar do
conhecimento científico de que os valores do volume
infundido e prescrito de TNE no paciente oncológico sejam
discrepantes na prática clínica,15,16 de se atentar à
condição de que, além de definir a dieta adequada às
necessidades do paciente com cancro, é necessário garantir
a forma e a condição que essa alimentação será infundida.
Para tanto, incluem-se muitas das responsabilidades que a
enfermagem detém nos serviços hospitalares de saúde,
sendo responsabilidade da enfermeira o registo do IQTN
“frequência de dias de administração adequada ao volume
prescrito versus volume infundido em pacientes em TNE”.
Tal realidade sustenta a importância de explorar essa
temática e sua interface com a enfermagem. Assim,
objetivou-se analisar as evidências do IQTN “volume
prescrito versus volume infundido de TN”, em pacientes
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR|
Artigo de Revisão
oncológicos adultos hospitalizados e as perspetivas para a
atuação da enfermagem.
Métodos
Trata-se de uma Revisão Integrativa (RI),17 realizada nos
meses de maio e junho de 2022, estruturada a partir das
Recomendações Internacionais da Preferred Reporting Items of
Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA).18
Inicialmente, com base no acrónimo PICO: 19 (P) paciente
oncológico adulto hospitalizado; (I) TN; (O) IQTN
“volume prescrito versus volume infundido de TN” (o
elemento comparador ‘C’ foi dispensado), formulou-se a
questão de revisão: “o que a literatura versa sobre o IQTN
volume prescrito versus volume infundido de TN de
responsabilidade da enfermagem, no cuidado ao paciente
oncológico adulto hospitalizado?”. O protocolo de revisão
não foi publicado.
Em relação aos critérios de elegibilidade, definiram-se:
artigos originais; gratuitos disponíveis online na íntegra; nos
idiomas português, inglês ou espanhol; indexados no Portal
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Base de Dados de
Enfermagem (BDENF), Cumulative Index to Nursing & Allied
Health Literature (CINAHL), Excerpta Medica dataBASE
(Embase), Google Scholar, Literatura Latino-americana e do
Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), U.S. National
Library of Medicine (PubMed), SciVerse Scopus (SCOPUS) e
Web of Science; realizados com pacientes adultos oncológicos
hospitalizados em uso de TNE e publicados de 2008 a 2021.
Justifica-se o recorte temporal pela incorporação do IQTN
“volume prescrito versus volume infundido” em 2008 pelo
ILS11, mesmo que, possivelmente, o volume de TN tenha
sido monitorado por outros estudos em anos anteriores ao
estipulado nesta revisão. Em seguida, procedeu-se à
identificação dos descritores ou termos associados
conforme o acrónimo PICO20 e a estratégia de busca foi
adaptada para cada fonte de informação, conforme Quadro
Quadro 1 - Estratégias de busca de acordo com cada fonte de informação. Uruguaiana, RS, Brasil, 2022.
Base de
informação
Estratégia
BVS
(“Enteral Nutrition” OR "Enteral Feeding" OR "Feeding Tube, Gastric" OR "Feeding Tubes, Gastric" OR "Feeding, Enteral" OR
"Feeding, Tube" OR "Gastric Feeding Tube" OR "Gastric Feeding Tubes" OR "Nutrition, Enteral" OR "Tube Feeding" OR "Tube,
Gastric Feeding" OR "Tubes, Gastric Feeding" AND (“nutrition therapy” OR “medical nutrition therapy” OR “nutrition therapy,
medical” OR “therapy, medical nutrition” OR “therapy, nutrition”) AND (volumen OR prescription OR administration) AND (
db:("IBECS" OR "LILACS" OR "BDENF" OR "BIGG" OR "LIPECS" OR "colecionaSUS")) AND (year_cluster:[2008 TO 2021])
BDENF
(“nutrição enteral” OR “alimentação enteral” OR “alimentação por sonda” OR “alimentação por tubo” OR "Terapia Nutricional") AND
("Indicador de Qualidade" OR “Indicadores de Qualidade em Assistência à Saúde”)
CINAHL
TX (enteral nutrition or enteral feeding or tube feeding) AND TX (quality indicators or qi) AND TX (neoplasms or oncology or cancer)
Embase
(neoplasms OR 'benign neoplasm' OR 'benign neoplasms' OR cancer OR cancers OR malignancies OR malignancy OR 'malignant
neoplasm' OR 'malignant neoplasms' OR neoplasm OR 'neoplasm, benign' OR 'neoplasm, malignant' OR 'neoplasms, benign' OR
'neoplasms, malignant' OR 'medical oncology' OR 'oncology, medical') AND ('enteral nutrition':ti,ab,kw OR 'enteral feeding':ti,ab,kw OR
'feeding tube, gastric':ti,ab,kw OR 'feeding tubes, gastric':ti,ab,kw OR 'feeding, enteral':ti,ab,kw OR 'feeding, tube':ti,ab,kw OR 'gastric
feeding tube':ti,ab,kw OR 'gastric feeding tubes':ti,ab,kw OR 'nutrition, enteral':ti,ab,kw OR 'tube feeding':ti,ab,kw OR 'tube, gastric
feeding':ti,ab,kw OR 'feeding tube':ti,ab,kw) AND ('quality indicators, health care':ab,ti OR 'quality indicators':
ab,ti OR 'quality
indicator':ab,ti OR 'healthcare quality indicator':ab,ti OR 'healthcare quality indicators':ab,ti OR 'indicator, healthcare quality':ab,ti OR
'indicators, healthcare quality':ab,ti OR 'quality indicator, healthcare':ab,ti OR 'quality indicators, healthcare':ab,ti)
Google Scholar
(neoplasias OR câncer OR tumor) AND ("nutrição enteral" OR "Alimentação por Sonda" OR "Alimentação por Tubo" OR "Sondas
Gástricas") AND (“Indicador de qualidade" OR “Indicadores de qualidade”)
Lilacs
("Enteral Nutrition" OR "Enteral Feeding" OR "Tube Feeding" OR "Feeding, Tube" OR "Feeding Tube, Gastric" OR "Feeding Tubes,
Gastric") AND ("Quality Indicators" OR "Quality Indicator" OR "Quality Indicators, Healthcare" OR "Quality Indicator, Healthcare")
AND (db:("LILACS") AND (year_cluster: [2008 TO 2021]
PubMed
("Quality Indicators, Health Care" OR "Quality Indicators, Healthcare" OR "Healthcare Quality Indicator" OR "Healthcare Quality
Indicators" OR "Indicators, Healthcare Quality") AND ("Enteral Nutrition" OR "Enteral Feeding" OR "Feeding, Enteral" OR "Tube
Feeding" OR "Feeding, Tube" OR "Gastric Feeding Tubes" OR "Feeding Tube, Gastric" OR "Gastric Feeding Tube" OR "Tube, Gastric
Feeding")
Scopus
(ALL (neoplasms OR neoplasm OR cancer OR cancers OR tumor OR tumors OR oncology) AND TITLE-ABS-KEY ("Enteral
Nutrition" OR "Enteral Feeding" OR "Tube Feeding" OR "Feeding, Tube" OR "Feeding Tube, Gastric" OR "Feeding Tubes, Gastric")
AND TITLE-ABS-KEY ("Quality Indicators" OR "Quality Indicator" OR "Quality Indicators, Healthcare" OR "Quality Indicator,
Healthcare")
1.
| 6LWMD/
Artigo de Revisão
Web of science
("Enteral Nutrition" OR "Enteral Feeding" OR "Tube Feeding" OR "Feeding, Tube" OR "Feeding Tube, Gastric" OR "Feeding Tubes,
Gastric") (Todos os campos) AND ("Quality Indicators" OR "Quality Indicator" OR "Quality Indicators, Healthcare" OR "Quality
Indicator, Healthcare") (Tópico)
Na sequência, procedeu-se à leitura em duplicata, dos títulos
e resumos, para seleção dos artigos que atendessem aos
critérios de elegibilidade. Para qualificar o processo
metodológico, os estudos passaram pela análise de duas
revisoras académicas do curso de Enfermagem, as quais
posteriormente à seleção, discutiram e compararam seus
resultados. Uma terceira revisora, investigadora da área da
NE, foi consultada nos casos de discordância entre as
revisoras iniciais. Por fim, ocorreu a análise dos artigos na
íntegra, concluindo-se a fase de seleção dos estudos.
O banco de dados dos estudos foi organizado no Microsoft
Excel®.
Para apresentar os estudos que compõem o corpus analítico,
foi elaborado um quadro de caracterização, contendo: título,
referência, objetivo, delineamento e nível de evidência. 19
Também, um quadro com os resultados do IQTN “volume
prescrito versus volume infundido de TN” é descrito, com a
perspetiva de sumarizar para a enfermagem as características
dos estudos conforme aqueles que atingiram ou não a meta
do indicador, com as informações: tipo de cancro, unidade
hospitalar, estrutura para terapia, características da NE,
tempo de permanência da TNE, meta do indicador adotado,
valores do indicador e motivos de interrupção da NE
(quando mencionados).
Resultados
Conforme as estratégias de busca definidas para cada base
de informação, identificou-se o total de 602 publicações.
Após a exclusão de 96 duplicatas, restaram 506 estudos, dos
quais 238 foram avaliados conforme os critérios de
elegibilidade, sendo que 24 foram selecionados para leitura
na íntegra. Dos 24 estudos, 11 foram excluídos, restando
nove estudos incluídos para a revisão. A descrição e seleção
dos estudos tiveram como base o PRISMA 15 e encontram-
se ilustradas na Figura 1.
Registros identificados por meio das bases de dados
(n = 602)
Seleção
Inclusão Elegibilidade Identificação
Registros após a remoção das duplicatas
(n = 506)
Registros analizados
(n = 506)
Registros excluídos
(n = 268)
Artigos de texto completo avaliados para elegibilidade
(n = 24)
Artigos de texto completo
excluídos por não
apresentarem
informações do indicador
volume de dieta
(n = 11)
Estudos incluídos na síntese qualitativa
(n = 09)
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR|
Artigo de Revisão
Figura 1 - Fluxograma da seleção de estudos selecionados na revisão. Uruguaiana, RS, Brasil, 2022.
From: Moher D, Liberati A, Tetzlaff J, Altman DG, The PRISMA Group (2009). Preferred Reporting Items for Systematic
Reviews and Meta-Analyses: The PRISMA Statement. PLoS Med 6(6): e1000097. doi:10.1371/journal.pmed1000097
For more information, visit www.prisma-statement.org .
Dos nove estudos selecionados, identificou-se que os anos
de publicação com maiores registos foram 2017 (n=4) e
2020 (n=2). O perfil dos autores, maioritariamente, foi de
nutricionistas e/ou académicos de Nutrição (n=7; 53,8%),
enfermeiras e/ou académicos de Enfermagem (n=4; 30,8%)
e médicos (n=2; 15,4%). O delineamento, em sua maioria,
foi de estudos prospetivos (n=6; 66,7%) e retrospetivos
(n=3; 33,3%), de caráter descritivo (n=4; 44,4%) e/ou
observacional (n=5; 55,6%), com nível de evidência N6
(n=8; 89%). Os participantes dos estudos somaram 1.371
pacientes, sendo 438 relativos aos pacientes oncológicos,
pois a maioria dos estudos incluiu em sua amostra pacientes
com outras condições clínicas, conforme apresentado no
Quadro 2.
Quadro 2 - Caracterização dos estudos selecionados para a revisão. Uruguaiana, RS, Brasil, 2022.
Título/Ano/País de origem
do estudo
Perfil dos autores
Objetivo
Delineamento/Nível de
evidência
Amostra
Caloric and Protein Infusion
versus Dietary Prescription in
Enteral Nutritional Therapy
for Cancer Patients/ 2021/
Brasil
(21)
Nutricionistas e
académicas de
nutrição
Comparar a infusão calórica e proteica com a
prescrição dietética em pacientes oncológicos
sob TNE
Retrospetivo
analítico
observacional
N6
120 prontuários
de pacientes
oncológicos
High Frequency of Non-
Compliance with Quality
Indicators of Enteral and
Parenteral Nutritional
Therapy in Hospitalized
Patients/ 2020 / Brasil
(22)
Nutricionistas
Avaliar a frequência de adequação do IQTN
em pacientes clínicos e cirúrgicos durante a
NE ou NP
Prospetivo
descritivo
N6
727 prontuários
de pacientes
7 oncológicos
Indicadores de qualidade da
terapia
nutricional enteral são
ferramentas úteis para
o monitoramento em pacientes
com câncer
avançado em cuidados
paliativos?/ 2020 / Brasil
(23)
Nutricionistas
Aplicar os indicadores de qualidade da TNE
em pacientes com cancro avançado em
cuidados
Paliativos
Prospetivo
descritivo
observacional
quantitativo
N6
51 pacientes
oncológicos
Accidental enteral feeding tube
dislodgement with the use
of a dedicated feeding tube
attachment device versus
adhesive tape
as the securing method: a
randomized clinical trial/2019
/ Brasil
(24)
Docentes
Enfermeiras e
Médicas
Avaliar o impacto do uso do dispositivo de
fixação do tubo de alimentação (FTAD)
comparado ao método tradicional de fixação
com fita adesiva na ocorrência de
deslocamento acidental da sonda de
alimentação enteral
Prospetivo
ensaio clínico randomizado,
de centro único, não cego
N3
104 pacientes
29 oncológicos
Dieta enteral prescrita versus
dieta infundida/2017 / Brasil
(25)
Nutricionistas
Avaliar o volume prescrito de dieta enteral
versus o volume infundido, identificando as
causas de interrupção da dieta e gastos gerados
por essas interrupções
Retrospetivo
observacional
N6
27 prontuários
de pacientes
1 oncológico
Quality control of enteral
nutrition therapy in cancer
patients at nutritional risk/
2017 / Brasil (26)
Nutricionistas e
Médicos
Analisar a adequação e qualidade da TNE
utilizada em pacientes com diagnóstico de
cancro e em tratamento em hospitais públicos
especializados aplicando IQTN
Prospetivo
observacional
descritivo
N6
211 prontuários
de pacientes
oncológicos
| 6LWMD/
Artigo de Revisão
Causa de interrupção de
nutrição enteral em unidades
de terapia intensiva/ 2017 /
Brasil
(27)
Nutricionistas e
Enfermeiras
Identificar as causas de interrupção da
administração da NE em pacientes internados
em UCIs hospital universitário
Prospetivo, observacional
quantitativo
N6
53 prontuários
de pacientes
6 oncológicos
Monitoramento da Terapia
Nutricional Enteral em
Unidade de Terapia Intensiva:
Adequação calórico proteica e
sobrevida/ 2017 / Brasil
(28)
Nutricionistas
Avaliar o estado nutricional em pacientes
admitidos na UCI, monitorar a TNE,
identificar as causas de interrupção da dieta
enteral
Prospetivo
observacional
N6
32 pacientes
1 oncológico
Eventos adversos relacionados
ao uso
de terapia nutricional enteral/
2014 / Brasil (29)
Académicas de
Enfermagem,
Docente
Enfermeira
Verificar a ocorrência de eventos adversos
relacionados ao uso de NE em pacientes de
um hospital público
Retrospetivo
exploratório longitudinal
descritivo
N6
46 prontuários
12 oncológicos
TNE: Terapia Nutricional Enteral; NE: Nutrição Enteral; NP: Nutrição Parenteral; UCI: Unidade de Cuidados Intensivos; IQTN: Indicador de Qualidade em
Terapia Nutricional.
Fonte: elaboração própria.
Quando sumarizados os estudos que atingiram ou não a
meta do IQTN “volume prescrito versus volume infundido
de TN”, identificou-se que a maioria dos estudos (n=6;
67%) não atingiu sua meta. Dentre os motivos para o não
cumprimento da meta, são descritas complicações
gastrointestinais, mecânicas e respiratórias pelo uso da TN,
conforme disposto no Quadro 3.
Quadro 3 - Caracterização do IQTN “Frequência de dias de administração adequada do volume prescrito versus volume
infundido em pacientes em terapia nutricional”, de acordo com a meta (ILSI, 2018). Uruguaiana, RS, Brasil, 2022.
Atingiram
a meta do
indicador
Estudo
Tipo de
cancro
Unidade
hospitalar
Estrutura
para
TNE
Características
da TNE
Tempo de
permanência
da TNE
Meta do
indicador
aplicado
pela
instituição
Resultados
do
indicador
Motivos da
interrupção da
TNE*
(23)
Cabeça e
pescoço,
TGI,
Mama,
Pulmão
Unidade de
cuidados
paliativos
Possui
EMTN
Sonda
transpilórica
488 dias

Adequação
do volume
prescrito e
infundido:
92,6%
Complicações
gastrointestinais,
Mecânicas,
Respiratórias,
Outros**
(27)
Não
descrito
UCI geral e
cardiológic
a
Possui
EMTN
Sonda
transpilórica
16,6 ± 12,2
dias

Adequação
do volume
prescrito e
infundido:
82,7%
Complicações
gastrointestinais
Mecânicas,
Metabólicas,
Outros**
(28)
Não
descrito
UCI
adulto
Possui
EMTN
Sonda
transpilórica e
nasogástrica
Média 20,5
dias

Adequação
do volume
prescrito e
infundido:
72,6%
Complicações
gastrointestinais,
Mecânicas,
Outros**
Não
atingiram
a meta do
indicador
(21)
Cabeça e
pescoço,
Trato
gastroint
estinal,
Ginecol
ógico e
mama,
Aparelh
o
reprodut
or
masculin
o
UCI
adulto
Não
possui
EMTN
Sonda
transpilórica
4 dias

Média
(diferença de
volumes)
Dia 1: -477,0
Dia 2: -298,0
Dia 3: -261,4
(pico
máximo)
Dia 4: -445,9
Adequação
do volume
prescrito e
infundido:
62,5%
Complicações
gastrointestinais,
Mecânicas
(24)
Não
descrito
Enfermaria
clínica
Não
possui
EMTN
Sonda
transpilórica
16 dias

Adequação
do volume
prescrito e
infundido:
58,5%
Complicações
mecânicas
(25)
Cancro
de
laringe
UCI
adulto
Não
possui
EMTN
Dieta
industrializada
por bomba de
infusão
5 dias

Dia 1: 741,5 -
498,6;
Dia 2: 741,5 -
587,3;
Dia 3: 923,1 -
472,5;
Dia 4: 846,2 -
401,2;
Dia 5: 769,2 -
351,5.
Média do
volume
prescrito:
804,3/462,2
Complicações
gastrointestinais,
Mecânicas
(26)
Cabeça e
pescoço,
Gastroin
testinal,
Torácico
,
Ginecol
ógico,
Urológic
o,
Linfoma
/leucemi
a/mielo
ma
Enfermaria
clínica
(tratamento
para
complicaçõ
es do
cancro
e/ou
quimiotera
pia e
radioterapia
)
Possui
EMTN
Sonda
transpilórica
Dieta em sistema
fechado, por
bomba de
infusão
9,7 ± 7 dias

Adequação
do volume
prescrito e
infundido:
74,3%
Complicações
gastrointestinais
(29)
Não
descrito
UCI adulto
e clínica
médica
Possui
EMTN
Sonda
naso/orogástrica
Dieta por bomba
de infusão
3-30 dias

Média da
diferença do
volume de
dieta recebida
(estimado -
recebido):
176,4 ml
Complicações
gastrointestinais,
Mecânicas
(22)
Não
descrito
Enfermaria
clínica e
cirúrgica
Possui
EMTN
Sonda
transpilórica
7,41 ± 14,22
dias

Adequação
do volume
prescrito e
infundido:
66,7%
Complicações
gastrointestinais,
Mecânicas
TNE: Terapia Nutricional Enteral; NE: Nutrição Enteral; UCI: Unidade de Cuidados Intensivos; EMTN: Equipe Multiprofissional em Terapia Nutricional.
*Motivos da interrupção da NE descritas nos estudos foram classificados em: (a) complicações gastrointestinais: vómito, distensão abdominal, diarreia, refluxo,
émese, resíduo gástrico jejum para exames ou procedimentos, sangramento volumoso, melena, intolerância gastrointestinal; (b) complicações mecânicas:
obstrução de sonda, saída inadvertida da sonda, extravasamento da dieta, atraso da entrega da NE, extubação, procedimentos/exames/cirurgias e erros na
administração da dieta; (c) complicações respiratórias: broncoaspiração; (d) complicações metabólicas: instabilidade hemodinâmica.
**Outros: recusa do paciente, piora clínica, falta de protocolo de TNE, cuidados ao fim de vida e óbito.
| 6LWMD/
Artigo de Revisão
Discussão
De acordo com o objetivo da presente revisão, o IQTN
“volume prescrito versus volume infundido de TN” na
oncologia foi pouco investigado na literatura, e o paciente
oncológico adulto hospitalizado apresenta dificuldades
clínicas para atingir sua meta. Para a enfermagem, a
sumarização das informações do IQTN investigado torna-
se importante no sentido de direcionar, estrategicamente, o
cuidado para a necessidade de nutrição do paciente
oncológico, com vistas a otimizar o tratamento e garantir
melhor qualidade de vida.30
A revisão identificou que o perfil de autores foi composto
maioritariamente por nutricionistas,21-23,25-28 apesar do
indicador em análise ser de responsabilidade de monitoração
da enfermagem.13 No Brasil, legislação específica31
normatiza a atuação da equipe de enfermagem na sondagem
oro/nasogástrica e transpilórica, e evidencia o papel crucial
da enfermeira no processo de instalação do dispositivo,
escolha da via de administração em conjunto com o médico,
além do registo, avaliação do paciente e monitoração das
intercorrências. Entretanto, quando se trata da área da NE,
uma crescente linha de investigações conduzidas por
enfermeiras direcionadas aos cuidados em relação às
técnicas assertivas de posicionamento da sonda,32
administração segura da NE33 a monitoração das
intercorrências34 e de protocolos de enfermagem para
TNE.35
A literatura científica já descreve que pacientes oncológicos
hospitalizados possuem algum grau de desnutrição,5,36 e que
a TNE é um dos principais recursos terapêuticos para o
tratamento e prognóstico desses.37,38 Além disso, o cancro é
uma das principais doenças de base de pacientes adultos
hospitalizados no Brasil.39
No corpus analítico em que a meta do IQTN não foi
atingida,21-26,29 os cancros mais prevalentes foram cabeça e
pescoço,21,26 trato gastrointestinal,21,26 ginecológico21,26 e
urológico.21,29 Naqueles que atingiram a meta,23,27,28 os
cancros mais identificados foram cabeça e pescoço,23 trato
gastrointestinal,23,27 mama23,28 e pulmão.23,24 Esses achados
corroboram outros estudos brasileiros,40,41 que também
identificaram a prevalência desses tipos de cancro nos
pacientes hospitalizados. Tal situação reflete as estatísticas e
as estimativas do cenário oncológico do Brasil, no qual
identifica os cancros de mama e gastrointestinal como os
mais prevalentes na população brasileira.42
Ainda, identificou-se que a maioria dos estudos não
conseguiu atingir a meta do IQTN investigado.21-26,29 Tal
realidade permite a reflexão: Seriam as especificidades do
tumor e do tratamento, como também as repercussões
nutricionais desencadeadas no paciente oncológico,37,38 que
poderiam condicionar o prognóstico do tratamento e suas
repercussões? Com a realização desta revisão, verificou-se
que a oferta nutricional ao paciente com cancro
hospitalizado por via enteral não tem garantido a infusão
adequada/total do volume prescrito de NE, e assim, pode-
se supor que tal via não seja a mais adequada a esses
pacientes, e que a via parenteral possa se mostrar mais
efetiva, visto a debilidade clínica do paciente com cancro ao
longo do seu tratamento. Logo, é fundamental que a
enfermagem, juntamente com a EMTN, seja capaz de
reconhecer tais especificidades, e direcionar um plano de
cuidado singular, a fim de, minimamente, proporcionar
adequado suporte nutricional.43 Tal resultado é relevante no
contexto das práticas da enfermagem, uma vez que, ao
assistir o paciente oncológico, dentro das suas necessidades
humanas básicas, a alimentação deve ser priorizada para
contribuir no tratamento.38,44
O IQTN “volume prescrito versus volume infundido de TN
reflete a evolução e a qualidade da assistência nutricional, e
para que o paciente oncológico consiga receber o volume de
NE prescrito, vários fatores são fundamentais, como a
adequada prescrição dietética, a apropriada via de
administração de NE, a qualidade do dispositivo de NE, a
monitoração e o controlo de intercorrências.13 Diante disso,
investigações 32,33,35 revelam o engajamento e o
protagonismo da enfermagem na área da NE, com
resultados promissores quanto às Boas Práticas na
Administração da NE (BPANE).45 Em estudo desenvolvido
em Israel46 enfermeiras conduziram um protocolo para
abordar e corrigir as deficiências da NE em uma UCI, sendo
que a alimentação foi iniciada significativamente mais cedo
(p = 0,007) no grupo de intervenção (52,3 horas; DP, 42,6)
do que no grupo controlo (70,3 horas; DP, 65,2). A
utilização do protocolo resultou em aumento significativo
da ingestão nutricional em 90% no grupo de intervenção.
Nos estudos que não atingiram a meta do IQTN21-26,29
identificou-se que as unidades hospitalares investigadas
eram clínicas e/ou cirúrgicas,22,24,26 UCI adulto/geral21,25,29 e
clínica médica,29 e somente três dessas instituições22,26,29
possuíam EMTN. Nos hospitais que atingiram a meta do
indicador, eram UCI geral/adulto,27,28 UCI cardiológica27 e
unidade de cuidados paliativos.23 Nesses cenários, o paciente
oncológico já se encontra em um quadro de stress metabólico
que desencadeia inúmeros défices nutricionais, os quais
resultam no aumento das necessidades nutricionais.1,2
Assim, analisa-se que, mesmo em unidades hospitalares
fechadas/controladas, como a UCI, e o fato de a instituição
hospitalar possuir EMTN, não se garante a efetividade da
TNE para o paciente oncológico adulto, o que gera,
minimamente, um movimento de (re)pensar as práticas da
enfermagem em TNE nessas unidades assistenciais.
Portanto, especialmente em populações específicas, a meta
do IQTN “volume prescrito versus volume infundido de
TN” pode-se apresentar acima do que o paciente com
cancro é capaz de receber, e que as condições clínicas desses
pacientes devem ser avaliadas para a mensuração da meta do
indicador.
Quanto ao tempo de permanência da NE e o IQTN,
constatou-se que nos estudos em que a meta não foi
atingida, os pacientes oncológicos usaram a NE, em média,
por mais de cinco dias,22,24,26,29 corroborando um estudo47
em um hospital oncológico, no qual se identificou que
nenhum dos pacientes (n=96) conseguiu atingir o volume
prescrito de NE, nos sete dias de NE exclusiva. As metas
GRLQGLFDGRUSDUDHVVHVHVWXGRVDOWHUQDPHQWUH24-26
 21,26 H  22 indicando que ora as instituições
brasileiras seguem as diretrizes do ILSI Brasil,13 ora
estipulam sua própria meta de acordo com as características
da unidade hospitalar. Para as instituições que adotam metas
distintas (diga-se, mais elevadas) da preconizada em
diretriz,13 é necessário estrutura assistencial planeada, boas
práticas de saúde e implementação de protocolos.13 Desse
modo, um dos elementos fundamentais para bons
resultados é possuir EMTN, nas quais realizam desde a
avaliação nutricional adequada,36 a escolha do dispositivo
correto,48 o início precoce da NE,39 a monitorização de
complicações da NE,34 a aplicação de IQTN 49 e as ações de
educação permanente.35,43,50
entre aqueles estudos que foram capazes de atingir a meta,
o tempo de permanência da NE nos pacientes oncológicos
foi maior que cinco dias,23,27,28 evidenciando a existência de
uma relação proporcional entre o tempo e a capacidade de
se alcançar a adequação do volume prescrito.47 Tal situação
pode ser explicada porque nos primeiros dias de
hospitalização os pacientes oncológicos tendem a apresentar
um quadro clínico instável, maior exposição aos
procedimentos e intervenções de saúde, e um plano de
cuidado ainda em definição e adaptação. 48 Portanto, atingir
a frequência de dias de NE requer mais tempo de sua
administração. Já as metas adotadas por essas instituições
YDULDUDPHQWUH27,28 H26 seguindo as diretrizes
do ILSI-Brasil e suas reformulações.13
A repercussão clínica nos pacientes oncológicos que
recebem menor volume de NE é suscitada em distintos
estudos,3-6 os quais demonstram que não atingir a meta da
NE está correlacionado com piores desfechos clínicos,
como infeção 4 e complicações3,5,6 durante a internação
hospitalar. Neste sentido, a reflexão que necessita ser feita
reside em tentar minimizar a discrepância entre o
planeamento nutricional e a efetivação deste plano. Para a
enfermagem, cabe garantir que o volume prescrito seja
adequadamente infundido, e para isso é necessário capacitar
a equipe de enfermagem quanto às habilidades e
competências que subsidiam o cuidado qualificado com a
NE e a segurança do paciente.51
Um dos motivos pelos quais o volume prescrito de NE não
é infundido em sua totalidade no paciente oncológico adulto
está associado a complicações de caráter gastrointestinais,
metabólicas, mecânicas e respiratórias. Tanto nos estudos
que atingiram quanto nos que não atingiram a meta do
indicador, os motivos de maior complicação da NE foram
gastrointestinais.21-23,25-29 Logo, observa-se que o principal
elemento que faz o paciente com cancro não conseguir
atingir o volume prescrito de TNE está atrelado a sua
fragilidade clínica, que desencadeia as complicações
gastrointestinais, afetando diretamente o volume de NE que
o paciente deve receber. Ou seja, as dificuldades clínicas do
paciente com cancro afetam diretamente o volume de NE
infundido, e não somente os processos do IQTN em si.
Há mais de uma década as enfermeiras desenvolvem
investigações em diferentes perfis de pacientes39-40,50-51 para
monitorar as complicações pelo uso da NE. Em uma coorte
prospetiva52 157 pacientes de UCI foram acompanhados
diariamente durante os primeiros dez dias de internação, e
entre os que receberam e não receberam NE, complicações
como diarreia e necessidade de descompressão gástrica
foram mais frequentes no grupo NE (39,7 % vs. 11,7 %, p
< 0,001 e 34 % vs. 13,3 %, p = 0,004, respetivamente).
Portanto, torna-se necessária a constante reavaliação das
práticas de cuidados com a NE, desde a avaliação da
formulação da dieta, as características da administração da
NE, o posicionamento correto da sonda e o modo de
infusão contínua.53
Dentre as limitações da presente revisão, encontram-se a
busca somente no idioma português realizada no Google
Académico e o critério de elegibilidade de estudos originais
completos disponíveis online na íntegra, que podem ter
limitado o número de estudos revisados e/ou incluídos.
Conclusão
Este estudo permitiu analisar as evidências do IQTN
“volume prescrito versus volume infundido de TN” no
paciente oncológico adulto hospitalizado, revelando que, na
maioria dos estudos, a meta do indicador não foi atingida, e
que o paciente apresenta dificuldades clínicas para atingi-la.
A qualidade da assistência nutricional a esse estrato
populacional permeia a articulação entre os cuidados de
enfermagem e o indicador analisado.
Em suma, os resultados desta revisão apontam para os
aspetos do IQTN “volume prescrito versus volume
infundido de TN” no paciente oncológico adulto
hospitalizado que fragilizam sua adequação, e as reflexões
sobre os cuidados de enfermagem que podem ser realizados
em âmbito hospitalar, para melhorar as BPANE, auxiliando
as enfermeiras no desenvolvimento das competências
necessárias para a tomada de decisão clínica. Ainda, as
evidências suscitadas neste estudo, sobre a interface das
práticas da enfermagem com o IQTN investigado, podem
contribuir para o planeamento do suporte nutricional
individual ao longo do curso da doença, fomentando a
importância da enfermagem nos vários aspetos do cuidado
ao paciente oncológico em uso de TNE. Também se sugere
que novas investigações sejam desenvolvidas para avaliar,
através do IQTN “volume prescrito versus volume infundido
de TN” quais dificuldades institucionais contribuem para
que o paciente oncológico não receba o volume adequado
de NE.
Além disso, o IQTN “volume prescrito versus volume
infundido de TN” foi apresentado na literatura por
diferentes resultados (ora percentual, ora média), o que
dificulta a comparação entre eles. Outra questão refere-se
aos estudos que incluíam em sua amostra pacientes com
outras condições clínicas, não exclusivamente oncológicos,
nos quais, por momentos, não foi possível
fragmentar/selecionar os valores do indicador por
condição, o que pode ter indicado maior impacto negativo
dos resultados do IQTN investigado.
Contribuições autorais
| 6LWMD/
Artigo de Revisão
L. S. E - Conceção e desenho do estudo; recolha de dados;
análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação
do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
B. S. S - Conceção e desenho do estudo; elaboração do
manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
M. C. S. A - Revisão crítica do manuscrito.
J. B - Revisão crítica do manuscrito.
B. S - Conceção e desenho do estudo; recolha de dados;
análise e interpretação dos dados; análise estatística;
obtenção de financiamento; rafting do manuscrito; revisão
crítica do manuscrito.
Conflitos de interesse
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelas autoras.
Referências
1. Virizuela JA, Camblor-Álvarez M, Luengo-Pérez LM,
Grande E, Álvarez-Hernández J, Sendrós-Madroño MJ, et
al. Nutritional support and parenteral nutrition in cancer
patients: an expert consensus report. Clin Transl Oncol
[Internet]. 2017 [citado 12 de Março de 2021];20(5):619-29.
Available from: 10.1007/s12094-017-1757-4
2. Ma Y, Temkin SM, Hawkridge AM, Guo C, Wang W,
Wang XY, et al. Fatty acid oxidation: An emerging facet of
metabolic transformation in cancer. Cancer Lett [Internet].
2018 [citado 12 de Março de 2021]; 435: 92100. Available
from:10.1016/j.canlet.2018.08.006
3. Lima JS, Pontes DL, Miranda TV. Avaliação do estado
nutricional de pacientes com câncer em um hospital da
cidade de Belém/Pará. BRASPEN J [Internet]. 2018
[citado 12 de Março de 2021];33(2):166-70. Available from:
http://arquivos.braspen.org/journal/abr-mai-jun-
2018/09-AO-Avaliacao-do-estado-nutricional.pdf
4. Sánchez JA, Trochez MEA, Ramos L, Amaya A, Mejfa
M, Murillo M, et al. Estado nutricional de pacientes
diagnosticados con cáncer, Hospital General San Felipe,
Honduras. Rev. Fac. Cienc. Méd [Internet]. 2018 [citado 12
de Março de 2021];15(1):10-19. Available from:
http://www.bvs.hn/RFCM/pdf/2018/pdf/RFCMVol15-
1-2018-3.pdf
5. Prockmann S, Freitas AHR, Ferreira MG, Vieira FGK,
de Salles RK. Evaluation of diet acceptance by patients with
haematological cancer during chemotherapeutic treatment.
Nutri Hosp. [Internet] 2015 [citado 12 de Março de
2021];32(2):779-84. Available from:
10.3305/nh.2015.32.2.8958
6. Braspen Journal. Diretriz Braspen de Terapia Nutricional
no Paciente com Câncer e Braspen recomenda: Indicadores
de Qualidade em Terapia Nutricional. BRASPEN J
[Internet]. 2019 [citado 30 de Abril de 2022];34(1).
Available from:
https://www.braspen.org/_files/ugd/a8daef_19da407c19
2146e085edf67dc0f85106.pdf
7. Muscaritoli M, Arends J, Bachmann P, Baracos V,
Barthelemy N, Bertz H, et al. ESPEN practical guideline:
Clinical Nutrition in cancer, Clin Nutr [Internet]. 2021
[citado 30 de Abril de 2022];40: 40: 2898-2913. Available
from: https://www.espen.org/files/ESPEN-
Guidelines/ESPEN-practical-guideline-clinical-nutrition-
in-cancer.pdf
8. August DA, Huhmann MB. ASPEN: Nutrition Support
Therapy During Adult Anticancer Treatment and in
Hematopoietic Cell Transplantation. JPEN [Internet]. 2009
[citado 30 de Abril de 2022]; 33(5): 472 500. Available
from:
https://aspenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10
.1177/0148607109341804
9. Braspen Journal. Diretriz BRASPEN de Enfermagem
em Terapia Nutricional Oral, Enteral e Parenteral.
BRASPEN J [Internet]. 2021 [citado 05 de Maio de
2022];36(3):2-62. Available from:
https://www.braspen.org/_files/ugd/66b28c_8ff5068bd
2574851b9d61a73c3d6babf.pdf
10. Brasil. Ministério da Saúde. Resolução RDC n° 503, de
27 maio de 2021. Dispõe sobre os requisitos mínimos
exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral. Brasília:
Ministério da Saúde [Internet]. 2021 [citado 03 de Agosto
de 2022]. Available from:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2020
/rdc0503_27_05_2021.pdf
11. Waitzberg DL. Indicadores de qualidade em terapia
nutricional. 1 ed. São Paulo: ILSI Brasil; 2008.
12. Waitzberg DL, Caiaffa WT, Correia MI. Hospital
Malnutrition: The Brazilian National Survey
(IBRANUTRI): A Study of 4000 Patients. Nutrition
[Internet]. 2001 [citado 03 de Agosto de 2022];17(7-8):573-
80. Available from: https://doi.org/10.1016/S0899-
9007(01)00573-1
13. ILSI Brasil. Indicadores de qualidade em terapia
nutricional: 10 anos de IQTN no Brasil: resultados,
desafios e propostas. 3ª ed. São Paulo: ILSI Brasil
[Internet]. 2018 [citado 03 de Agosto de 2022]. Available
from: https://ilsibrasil.org/wp-
content/uploads/sites/9/2018/06/Fasci%CC%81culo-
10-anos-de-IQTN-no-Brasil2-Final.pdf
14. Culebras JM, del Llano J, Garcia-Luna PP,e t al.
Coordinador: Garcia de Lorenzo A. Indicadores de calidad
para las unidades de nutricion clinica. Sociedad Espanola
de Nutricion Enteral y Parenteral, 2008.
15. Toledo DO, Piovacari SMF, Horie LM, de Matos LBN,
Castro MG, Ceniccola GD, et al. Campanha “Diga não à
desnutrição”: 11 passos importantes para combater a
desnutrição hospitalar. BRASPEN J [Internet]. 2018
[citado 03 de Agosto de 2022];33(1):86-100. Available
from: http://arquivos.braspen.org/journal/jan-fev-mar-
2018/15-Campanha-diga-nao-aadesnutricao.pdf
16. de Souza IA, Bortoletto MM, Dias AMN, De Almeida
NM, Ribeiro LC, Mendonça EG. Nutrição enteral em
pacientes oncológicos: diferenças entre o que é prescrito e
administrado. Nutr. clín. diet. Hosp. [Internet]. 2018
[citado 03 de Agosto de 2022];38(2):31-8. Available from:
10.12873/382Iury
17. Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão CM. Revisão
Integrativa: método de pesquisa para a incorporação de
evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto
Enferm [Internet]. 2008 [citado 03 de Agosto de
2022];17(4):758-64. Available from:
https://www.scielo.br/j/tce/a/XzFkq6tjWs4wHNqNjKJ
LkXQ/?format=pdf&lang=pt
18. Tricco AC, Lillie E, Zarin W, O’Brien KK, Colquhoun
H, Levac D, et al. PRISMA Extension for Scoping Reviews
(PRISMAScR): Checklist and Explanation. Ann Intern
Med [Internet]. 2018 [citado 03 de Agosto de
2022];169:467-73. Available from:
http://dx.doi.org/10.7326/M18-0850
19. de Paula CC, Padoin SMM, Galvão CM. Revisão
integrativa como ferramenta para tomada de decisão na
prática em saúde. In: Lacerda MR, Costenaro RGS.
Metodologia da pesquisa para a enfermagem e saúde: da
teoria à prática. Porto Alegre: Moriá, 2015. p. 51-76.
20. Melnyk BM, Fineout-Overholt E. Evidence-based
practice in nursing & healthcare. A guide to best practice.
Wolters Kluwe, Lippincott Williams & Wilkins,
Philadelphia, 2011.
21. Da Silva MJ, Da Silva TJS, Sobrinho JAPC, Garcia ER,
Medeiros MTS, Câmara TAV, et al. Caloric and Protein
Infusion versus Dietary Prescription in Enteral Nutritional
Therapy for Cancer Patients. Revista Brasileira de
Cancerologia [Internet]. 2021 [citado 17 de Agosto de
2022];67(3). Available from:
https://doi.org/10.32635/2176-
9745.RBC.2021v67n3.1275
22. Nogueira DA, Ferreira LP, De Lucia RPA, Pena GG.
High Frequency of Non-Compliance with Quality
Indicators of Enteral and Parenteral Nutritional Therapy in
Hospitalized Patients. Nutrients [Internet]. 2020 [citado 17
de Agosto de 2022]; 22:2408. Available from:
10.3390/nu12082408
23. Souza KF, Costa MF, Santos RS. Indicadores de
qualidade da terapia nutricional enteral são ferramentas
úteis para o monitoramento em pacientes com câncer
avançado em cuidados paliativos? BRASPEN J [Internet].
2020 [citado 17 de Agosto de 2022];35(4):402-7. Available
from: 10.37111/braspenj.2020354012
24. Assis MCS, Macedo ABTM, Gazal CHA, Martins
CMBS, Viana LV. Accidental enteral feeding tube
dislodgement with the use of a dedicated feeding tube
attachment device versus adhesive tape as the securing
method: a randomized clinical trial. Nutr Hosp [Internet].
2019 [citado 17 de Agosto de 2022];36(3):504-509.
Available from: http://dx.doi.org/10.20960/nh.02440
25. Simões SAR, Kutz NA, Barbosa MC, Porto MMHAOS.
Dieta enteral prescrita versus dieta infundida. J. res.:
fundam. care. Online [Internet]. 2017 [citado 17 de Agosto
de 2022];9(3):688-95. Available from: 10.9789/2175-
5361.2017.v9i3.688-695
26. Lee A, Oliveira Filho RS, Cardenas TC, Ozório GA,
Gropp JPL, Waitzberg DL. Quality control of enteral
nutrition therapy in cancer patients at nutritional risk. Nutr
Hosp [Internet]. 2017 [citado 17 de Agosto de
2022];34:264-270. Available from:
http://dx.doi.org/10.20960/nh.721
27. Rocha AJSC, Oliveira ATV, Cabral NAL, Gomes RS,
Guimarães TA, Rodrigues WB, et al. Causa de interrupção
de nutrição enteral em unidades de terapia intensiva. Rev
Pesq Saúde [Internet]. 2017 [citado 06 de Setembro de
2022];18(1):49-53. Disponível em:
http://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/revistah
uufma/article/view/7880/4875
28. Gonçalves CV, Borges LR, Orlandi SP, Bertacco RTA.
Monitoramento da Terapia Nutricional Enteral em
Unidade de Terapia Intensiva: Adequação calórico-proteica
e sobrevida. BRASPEN J[Internet]. 2017 [citado 06 de
Setembro de 2022];32(4):341-6. Available from:
http://arquivos.braspen.org/journal/out-dez-2017/08-
Monitoramento-da-terapia.pdf
29. Cervo AS, Magnago TSBS, Carollo JB, Chagas BP,
Oliveira AS, Urbanetto JS. Eventos adversos relacionados
ao uso de terapia nutricional enteral. Rev Gaúcha Enferm
[Internet]. 2014 [citado 06 de Setembro de 2022];35(2):53-
9.Available from: https://doi.org/10.1590/1983-
1447.2014.02.42396
30. da Silva MR, Silva DO, dos Santos TI, Oliveira PP,
Rodrigues AB, Barbosa DA. Mapeamento dos
diagnósticos, resultados e intervenções de enfermagem de
uma unidade oncológica. Rev Enferm UERJ [Internet].
2017 [citado 06 de Setembro de 2022];25:e15133. Available
from: http://dx.doi.org/10.12957/reuerj.2017.15133
31. COFEN. Resolução n° 453/2014. Aprova a Norma
Técnica que dispõe sobre a Atuação da Equipe de
Enfermagem em Terapia Nutricional. Brasília [Internet].
2014 [citado 06 de Setembro de 2022]. Available from:
http://www.cofen.gov.br/wp-
content/uploads/2014/01/ANEXO-
RETIFICACAO.pdf
32. Silveira, GC, Romeiro F. As dificuldades e riscos
durante a introdução e posicionamento da Sonda
Nasoentérica. Revista Nursing [Internet]. 2020 [citado 06
de Setembro de 2022];23(266):4360-66. Available from:
https://doi.org/10.36489/nursing.2020v23i266p4360437
3
33. Macedo ABT, Assis MCS, Milioni KC, Canto DF,
Souza CMB, Chaves EHB. Elaboração e validação de um
protocolo para administração segura de nutrição enteral em
pacientes hospitalizados. Rev Gaúcha Enferm [Internet].
2021 [citado 06 de Setembro de 2022];
| 6LWMD/
Artigo de Revisão
42:e20200181.Available from:
https://doi.org/10.1590/19831447.2021.20200181
34. Bortolotto B, Beccaria LM, Oliveira KA, Faria JIL, et
al. Perda acidental de sonda nasogastroenteral para aporte
nutricional em uma instituição hospitalar. Cuid Enferm
[Internet]. 2020 [citado 06 de Setembro de 2022];14(1):18-
23. Disponível em:
http://www.webfipa.net/facfipa/ner/sumarios/cuidarte/
2020v1/p.18-23.pdf
35. Alhassan RK, Tsikata R, Tizaawaw RN, Tannor PS, et
al. Adherence to standard nursing protocols on nasogastric
tube feeding in a secondary referral hospital in Ghana:
comparing self-ratings by professional and auxiliary nurses.
BMC Health Services Research [Internet]. 2019 [citado 18
de Setembro de 2022];19(119). Available:
https://doi.org/10.1186/s12913-019-3931-6
36. Kázmierczak-Siedlecka K, Skonieczna-Zydecka, K,
Folwarsku M, Ruszkowski J, et al. Influence of malnutrition
stage according to GLIM 2019 criteria and SGA on the
quality of life of patients with advanced cancer. Nutr Hosp
[Internet]. 2020 [citado 18 de Setembro de
2022];37(6):1179-85. Available from: 10.20960/nh.03185
37. Ferreira LEA, de Castro AL, Donoso MTV, Barbosa
JAG. Perfil de pacientes hospitalizados em terapia
nutricional. Rev enferm UFPE on line [Internet]. 2021
[citado 18 de Setembro de 2022];15. Available from:
10.5205/1981-8963.2021.24513
38. Abbade EB. Adoção de terapias nutricionais enteral e
parenteral associada à redução da taxa de óbitos de
pacientes neoplásicos. Medicina (Ribeirão Preto) [Internet].
2020 [citado 18 de Setembro de 2022];53(2). Available
from: https://doi.org/10.11606/issn.2176-
7262.v53i2p115-125
39. Bezerra GKA, Cabral PC. Nutrição enteral precoce em
pacientes críticos e sua associação com variáveis
demográficas, antropométricas e clínicas. BRASPEN J
[Internet]. 2018 [citado 18 de Setembro de 2022];33(4):446-
40. Available from:
http://arquivos.braspen.org/journal/out-dez-
2018/artigos/14-AO-Nutricao-enteral-precoce.pdf
40. Alves TP, Barbosa JM, Veras LN, Cabral NSG.
Avaliação da qualidade da terapia nutricional enteral
ofertada ao paciente oncológico hospitalizado. BRASPEN
J [Internet]. 2019 [citado 18 de Setembro de
2022];34(3):239-44. Available from:
http://arquivos.braspen.org/journal/jul-ago-set-
2019/artigos/03-AvaliacaoDaQualidade.pdf
41. Villardo GP, Segadilha NLAL, Rocha EEM.
Adequação Proteica versus Estado Nutricional de
Pacientes Oncológicos Adultos em Unidade de Terapia
Intensiva. Revista Brasileira de Cancerologia [Internet].
2018 [citado 18 de Setembro de 2022]; 64(4):527-32.
Available from: https://doi.org/10.32635/2176-
9745.RBC.2018v64n4.201
42. Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da
Silva (INCA). Estimativa 2020: incidência de câncer no
Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Saúde [Internet]. 2019
[citado 18 de Setembro de 2022]. Available from:
https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/me
dia/document/estimativa-2020-incidencia-de-cancer-no-
brasil.pdf
43. Kim SH, Park CM, Seo JM, Choi M, Lee DS, Chang
DK, et al. The impact of implementation of an enteral
feeding protocol on the improvement of enteral nutrition
in critically ill adults. Asia Pac J Clin Nutr [Internet]. 2017
[citado 18 de Setembro de 2022];26(1):27-35. Available
from: 10.6133/apjcn.122015.01
44. Nguyen LT, Dang AK, Duong PT, Phan HBT, et al.
Nutrition intervention is beneficial to the quality of life of
patients with gastrointestinal cancer undergoing
chemotherapy in Vietnam. Cancer Med [Internet]. 2021
[citado 10 de Janeiro de 2023];10(5):1668-80. Available
from: 10.1002/cam4.3766
45. Brasil. Resolução de Diretoria Colegiada - RDC N° 503,
de maio de 2021. Dispõe sobre os requisitos mínimos
exigidos para a Terapia de Nutrição Enteral. Ministério da
Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasília -
DF, Brasil [Internet]. 2021 [citado 10 de Janeiro de 2023].
Available from:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2020
/rdc0503_27_05_2021.pdf
46. Orinovsky I, Raizman E. Improvement of nutritional
intake in intensive care unit patients via a nurse-led enteral
nutrition feeding protocol. Critical Care Nurse [Internet].
2018 [citado 10 de Janeiro de 2023];38(3):38-45. Available
from: https://doi.org/10.4037/ccn2018433
47. Menezes NAB, Silva JT, Brito LC, Gois FN, Oliveira
CC. Adequação entre a terapia nutricional enteral prescrita
e a dieta administrada em pacientes críticos. Nutr clín diet
hosp. [Internet]. 2018 [citado 10 de Janeiro de
2023];38(4):57-64. Available: 10.12873/384nara
48. Anziliero F, Corrêa APA, Silva BA, Soler BED,
Batassini E, Beghetto MG. Nasoenteral tube: factors
associated with delay between indication and use in
emergency services. Rev Bras Enferm. [Internet]. 2017
[citado 10 de Janeiro de 2023];70(2):326-34. Available from:
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0222
49. de Souza IA, Bortoletto MM, Dias AMN, De Almeida
NM, Ribeiro LC, Mendonça EG. Nutrição enteral em
pacientes oncológicos: diferenças entre o que é prescrito e
administrado. Nutr. clín. diet. hosp. [Internet]. 2018 [citado
10 de Janeiro de 2023];38(2):31-8. Available from:
10.12873/382Iury
50. Corrêa APA, Nora CRD, Silva SMR, Viegas GL, Sousa
GP, Beghetto MG. Simulação clínica: educação para equipe
de Enfermagem no cuidado aos pacientes com sonda
nasoenteral. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2021 [citado 10
de Janeiro de 2023];35:e41998. Available from:
10.18471/rbe.v35.41998
51. Therrier S, Carlos CM, Costa RF, Simino GPR, Barbosa
JAG. Avaliação da nutrição enteral em unidades de terapia
intensiva. Rev Baiana Enferm [Internet]. 2021 [citado 10 de
Janeiro de 2023]; 35:e38558. Available from:
10.18471/rbe.v35.38558
52. Batassini É, Assis MCS, Sousa GP, Beghetto MG.
Factors associated with enteral nutrition and the incidence
of gastrointestinal disorders in a cohort of critically ill
adults. Nutr Hosp [Internet]. 2021 [citado 10 de Janeiro de
2023];38(3):429-435. Available from:
http://dx.doi.org/10.20960/nh.03245
53. Tatsumi H. Tolerância enteral em pacientes críticos. J
Terapia Intensiva [Internet]. 2019 [citado 10 de Janeiro de
2023];7(30):2-10. Available from: 10.1186/s40560-019-
0378-0
| 6LWMD/
Artigo de Revisão
_
3HQVDU(QIHUPDJHPYQQRYHPEUR
'2ΖSHQVDUHQIYL
$UWLJRGH5HYLV¥R
Como citar este artigo: Sousa IT, Bértolo MH. O papel dos avós na transição para a parentalidade: uma
VFRSLQJ UHYLHZ
. Pensar Enf [Internet]. 2023 Nov; 27(1):137-146. Available
from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.277
O papel dos as na transição para a parentalidade:
uma
scoping review
The role of grandparents in the transition to
parenting: a scoping review
Resumo
Introdução
A transição para a parentalidade envolve um conjunto de mudanças intra e interpessoal, que
afeta não só a mulher e companheiro(a), assim como todo o sistema familiar. Os avós são
evidenciados como figuras de destaque na família contemporânea, constituindo-se a
principal fonte de apoio e suporte para a família neste processo. Torna-se, assim, de extrema
importância perceber como os avós podem influenciar ou não a transição para a
parentalidade, agindo como agentes facilitadores ou como barreiras neste processo.
Objetivo
Mapear a evidência científica disponível sobre o papel dos avós na transição para a
parentalidade dos seus filhos, englobando o período da gravidez, parto e período pós-parto
até 3 anos.
Métodos
Esta revisão VFRSLQJfoi desenvolvida segundo a metodologia do -RDQQD%ULJJV,QVWLWXWH(JBI,
2020, tendo sido efetuada pesquisa em abril e maio 2022 e atualizada em julho 2023. Foram
incluídos estudos de natureza qualitativa, quantitativa ou mista, bem como artigos de revisão,
publicados em ings e produzidos entre 2015 e 2023. Esta revisão VFRSLQJinclui artigos que
abordam o papel dos avós, no contexto da transição para a parentalidade dos filhos,
incluindo o momento da gravidez, parto e período pós-parto até 3 anos.
Resultados
Foram incluídos 11 artigos que cumpriram os critérios de inclusão. Quatro categorias
emergiram: os avós como fonte de suporte; os avós e a influência na nutrição das famílias e
no aleitamento materno exclusivo; a ambivalência de sentimentos e o papel dos profissionais
de saúde.
Conclusão
Os avós podem evidenciar-se como figuras de destaque na família durante a transição para
a parentalidade dos seus filhos, desenvolvendo papéis de suporte instrumental, emocional,
informativo e financeiro; podem influenciar no aleitamento materno exclusivo e na nutrição
familiar. Quando os conceitos e convicções sobre aspetos fundamentais relativos às crianças
diferem, podem surgir sentimentos ambivalentes que conduzem a conflitos intergeracionais.
Há uma lacuna nos cuidados de saúde relativamente à inclusão de pessoas significativas no
cuidado ao casal e criança, nomeadamente dos avós.
Palavras-chave
Avós; papel; transição para a parentalidade; gravidez; parto; pós-parto.
Abstract
Introduction
The transition to parenthood involves a set of intra and interpersonal changes, which affect
not only the woman and her partner, but also the entire family system. Grandparents are
highlighted as prominent figures in the contemporary family, constituting the main source
Inês Tomé Sousa1
orcid.org/0009-0000-6952-0758
Maria Helena rtolo2
orcid.org/0000-0002-6612-2700
1 Estudante de mestrado em Enfermagem de Saúde
Materna e Obstétrica. Escola Superior de Enfermagem
de Lisboa (ESEL), Lisboa, Portugal.
2 Mestrado. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR), Lisboa; Escola Superior de Enfermagem
de Lisboa (ESEL), Departamento de Saúde Materna,
Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Inês Sousa
E-mail: isousa@campus.esel.pt
Recebido: 20.04.2023
Aceite: 11.09.2023
_6RXVDΖ
$UWLJRGH5HYLV¥R
of support for the family in this process. Therefore, it is
extremely important to understand how grandparents can
influence or not the transition to positive parenting, acting
as facilitating agents or as hinderances in this process.
Objective
To map the available scientific evidence regarding the role
of grandparents in the transition to parenthood of their
children, encompassing the period of pregnancy, childbirth
and the postpartum period up to 3 years.
Methods
This scoping review was developed according to the
methodology of the -RDQQD %ULJJV,QVWLWXWH (JBI), 2020, with
research carried out in April and May 2022 and updated in
July 2023. Qualitative, quantitative or mixed studies were
included, as well as review articles, published in English and
produced between 2015 and 2023. This scoping review
includes articles that address the role of grandparents in the
context of the transition to parenting of their children,
including the time of pregnancy, childbirth and the
postpartum period up to 3 years.
Results
11 articles that met the inclusion criteria were included. Four
categories emerged: grandparents as a source of support;
grandparents and their influence on family nutrition and
exclusive breastfeeding; the ambivalence of feelings and the
role of health professionals.
Conclusion
Grandparents can stand out as prominent elements of the
family during the transition to parenting of their children,
developing instrumental, emotional, informational and
financial support roles; may influence exclusive
breastfeeding and family nutrition. When concepts and
beliefs about fundamental aspects relating to children differ,
ambivalent feelings can arise and that lead to
intergenerational conflicts. There is a gap in health care
regarding the inclusion of meaningful people in the care of
the couple and the child, in this case the grandparents.
Keywords
Grandparents; role; parenthood transition; pregnancy;
childbirth; post-partum.
Introdução
A parentalidade pode ser entendida como um dos aspetos
mais exigentes e desafiadores da vida de uma pessoa.
Tornar-se mãe e pai é um marco importante e pode ser
simultaneamente um período de grande alegria, mas
também um evento de vida stressante.1 Assim, a
parentalidade pode ser entendida como um conjunto de
laços afetivos, conhecimentos, atitudes, e comportamentos
das mães e dos pais, que é influenciada por vários fatores,
como as experiências anteriores (da sua própria inncia),
as circunstâncias, as expetativas e as crenças pessoais e
socioculturais. É igualmente influenciada pelo sentido de
competência pessoal, da relação conjugal ou da relação
estabelecida com o outro progenitor, com a rede de apoio
(nomeadamente a família), com os serviços sociais
disponíveis, bem como por outras situações de
desigualdade ou vulnerabilidade.2 O conceito de
parentalidade refere-se, portanto, ao conjunto de atividades
e atitudes e à forma de interagir nas relações com os filhos.3
Segundo Meleis4 a transição para a parentalidade é um
conceito multidimensional que pressupõe mudanças de
papéis, definições e redefinições do VHOI e da própria
transição, sendo esta considerada uma passagem ou
movimento de um estado, condição ou local para outro.
A transição para a parentalidade é um processo complexo
de várias alterações e ajustamentos fisiológicos,
psicoemocionais, sociais e culturais. É um processo
exigente, caracterizado por uma constante aprendizagem,
por um desenvolvimento de competências e
relacionamentos e por uma profunda reconstrução
identitária.5 A experiência parental depende das estratégias
e das respostas parentais e estas incluem componentes
cognitivos de aprendizagem e tomada de decisão,
componentes relacionais, como o suporte familiar, e
componentes operacionais, como a partilha de tarefas,
reorganização de rotinas e conciliação de papéis.5 Ter
apoio, seja ele emocional ou físico, pode ser encarado como
uma ajuda crucial neste processo, diminuindo a perceção de
eventos stressantes, e ajudando os pais a lidar com os
mesmos mais eficazmente.6 Deste modo, a natureza da
transição para a parentalidade afeta não só a mulher, como
o seu companheiro(a), e todo o sistema familiar e, por sua
vez, envolve um conjunto de mudanças intra e interpessoal.
Dessen7 evidencia os avós como figuras de destaque na
família contemporânea, constituindo-se a principal fonte de
apoio e suporte para a família neste processo, promovendo
apoio emocional, material e financeiro.
Os pais, vão deparar-se com um conjunto de situações
novas e inesperadas, para as quais a experiência, ou a falta
desta, não fornece ainda respostas eficazes ou convictas.
Nesta altura, o suporte prestado pelos avós, seja ele
instrumental ou emocional, se prestado de forma adequada
torna-se um fator protetor de adaptação dos pais à nova
tarefa que se impõe.8
Para compreender estas transições é fundamental conhecer
a estrutura e as funções da rede de apoio das famílias, uma
vez que estas variam de acordo com o contexto
sociocultural, com o tempo e o estadio de vida do indivíduo
e da própria família enquanto grupo.9 Torna-se, assim, de
extrema importância perceber como os avós podem
influenciar ou não a transição para a parentalidade, agindo
como agentes facilitadores ou como barreiras neste
processo.
3HQVDU(QIHUPDJHPYQQRYHPEUR_
'2ΖSHQVDUHQIYL
$UWLJRGH5HYLV¥R
Por último, e após consulta da base de dados do JBI, foi
confirmado que não existe nenhuma revisão VFRSLQJ sobre
este tema, o que acentua, ainda mais, a sua relevância. Neste
sentido, o objetivo desta revisão VFRSLQJé mapear a evidência
científica disponível sobre o papel dos avós na transição
para a parentalidade dos seus filhos, englobando o período
da gravidez, parto e período pós-parto até 3 anos.
A questão de investigação desta revisão VFRSLQJ é: Qual o
papel dos avós na transição para a parentalidade dos seus
filhos?
Métodos
Com o intuito de orientar esta revisão VFRSLQJ foi elaborado
um protocolo da mesma, publicado na plataforma Open
Science Framework (OSF), com a identificação
DOI 10.17605/OSF.IO/KJC2Y.
Critérios de inclusão
Tipo de População: Esta revisão VFRSLQJ incluirá artigos
que abordem os avós que tenham vivenciado a transição
para a parentalidade dos filhos e outros membros da
comunidade que testemunharam a vivência dos avós na
transição para a parentalidade dos seus filhos.
Conceito: Esta revisão VFRSLQJincluirá artigos que abordem
o papel dos avós que tenham vivenciado a transição para a
parentalidade dos filhos.
Contexto: Esta revisão VFRSLQJincluirá artigos que abordem
o papel dos avós, no contexto da transição para a
parentalidade dos filhos, incluindo o momento da gravidez,
parto e período pós-parto. Considerou-se o período pós-
parto até 3 anos após o parto, uma vez que que se pretende
abranger os desenvolvimentos e ajustamentos físicos,
emocionais, psicológicos, sociais e culturais que esta
transição compreende. Este período mais alargado
evidencia, assim, a importância de considerar a transição
para a parentalidade como um processo contínuo,
complexo e exigente, promovendo uma abordagem mais
abrangente e holística.
Tipos de fontes de informação: Esta revisão VFRSLQJ
considerá todos os estudos de natureza qualitativa,
quantitativa ou mista, bem como artigos de revisão,
publicados em língua portuguesa, inglesa ou espanhola, que
cumpram os critérios de inclusão descritos. Relativamente
à questão temporal opta-se por definir como critério de
inclusão os estudos publicados nos últimos 8 anos (2015 a
2023), com o propósito de reunir a mais recente evidência
científica.
Estratégia de pesquisa
A estratégia de pesquisa desta revisão VFRSLQJ tem como
objetivo identificar artigos publicados em português, inglês
ou espanhol, nos últimos oito anos que retratem o papel
dos avós na transição para a parentalidade dos seus filhos.
Conforme a estratégia definida pelo JBI10, esta foi
planificada em três etapas distintas.
Numa primeira etapa foi efetuada uma pesquisa limitada às
bases de dados CINAHL, MEDLINE, através da
plataforma EBSCOhost, e a base de dados Scopus, para
identificar artigos sobre o tema. Para tal, foram utilizadas as
palavras-chave extraídas dos termos naturais da questão de
investigação. Seguidamente, efetuou-se uma análise das
palavras utilizadas nos títulos e resumos e a identificação
dos termos indexados correspondentes a cada base de
dados. Neste sentido, foi elaborado um quadro referente às
palavras-chave, termos naturais e respetivos termos
indexados (quadro 1), com o objetivo de organizar a
primeira etapa.
Quadro 1. Sistematização dos critérios de inclusão, dos termos naturais e respetivos termos indexados na base de dados
CINAHL, MEDLINE e Scopus.
Palavras-chave
Termos naturais
Termos indexados
CINAHL
Termos indexados
MEDLINE
Termos Scopus
Avós
Grandparents
Grandparents
Grandparents
Grandparents
Papel
Role
Role
Role
Role
Transição para a
parentalidade
Parenthood transition
Parenting transition
Childbirth
Pregnancy
Post
-partum
--
--
Childbirth
Pregnancy
Postnatal period
--
--
Parturition
Pregnancy
--
Parenthood transition
Parenting transition
Childbirth
Pregnancy
Post
-partum
_6RXVDΖ
$UWLJRGH5HYLV¥R
Numa segunda etapa foi efetuada uma pesquisa recorrendo
a todos os termos naturais e termos de indexação
identificados no quadro 1, nas bases de dados
separadamente.
Na base de dados CINAHL realizou-se uma pesquisa dos
termos naturais bem como os respetivos termos de
indexação, cruzando-se posteriormente com o operador
booleano OR. Após a agregação entre os termos naturais e
os respetivos termos de indexação, foi efetuada nova
pesquisa associando os resultados obtidos anteriormente,
com o operador booleano AND. Este processo encontra-
se retratado no Apêndice I e com a expressão de pesquisa:
((grandparents OR (MM “Grandparents”) OR
“grandparents”)) AND ((role OR (MM “role+) OR
“role”)) AND ((parenthood transition OR parenting
transition OR “transition to parenthood” OR “parenting
transition”) OR (childbirth OR (MM “childbirth+”) OR
“childbirth”) OR (pregnancy OR (MM “Pregnancy+”) OR
“pregnancy”) OR (postpartum OR (MM “Postnatal
Period+”) OR “postpartum”)).
Seguiram-se os mesmos passos na base de dados
MEDLINE, com os respetivos termos identificados na
Tabela 1. Este processo é apresentado no Apêndice II.
Relativamente à base de dados Scopus, realizou-se uma
pesquisa apenas dos termos naturais, uma vez que esta base
de dados não apresenta termos indexados, cruzando-se os
termos FKLOGELUWK SUHJQDQF\ H SRVWSDUWXP, com o operador
booleano OR, bem como os termos SDUHQWKRRGWUDQVLWLRQ e
SDUHQWLQJ WUDQVLWLRQ e os restantes termos com o operador
booleano AND. Este processo encontra-se retratado no
Apêndice III.
Por último, na terceira etapa da estratégia de pesquisa foi
realizada uma análise das referências bibliográficas dos
artigos selecionados, procurando mais evidência, sobretudo
primária.
Esta pesquisa foi efetuada entre abril e maio 2022 e
atualizada em julho 2023, alargando o seu limite temporal a
2023.
Seleção de estudos
Os artigos encontrados foram analisados por dois revisores
independentes, tendo em conta a relevância do título e do
resumo. Foram removidos os duplicados e os que não
correspondiam aos critérios de inclusão previamente
definidos.
Posteriormente, os artigos selecionados foram analisados
integralmente através da leitura IXOOWH[W, atendendo todos
aos critérios de inclusão, não tendo sido excluído nenhum.
Esta etapa foi igualmente realizada por dois revisores
independentes, tendo as divergências entre estes sido
resolvidas por meio de discussão.
Foi integrado um artigo através da análise das referências
bibliográficas dos artigos anteriormente selecionados.
Extração de dados
Foi construída uma ferramenta de extração de dados por
um revisor independente, de acordo com as indicações do
JBI10. Esta ferramenta foi testada, com intuito de garantir a
sua clareza e rigor dos dados extraídos. Foi através da
mesma que os dados dos artigos selecionados foram
extraídos.
Assim, os dados extraídos detalham com clareza e
especificidade, aspetos sobre fenómeno de interesse,
população, objetivos, método de estudo e resultados
significativos para a questão de investigação
Apresentação de dados
Os dados extraídos dos artigos selecionados, estão
apresentados em forma de narrativa, bem como em quadro
(Apêndice IV), que organiza os estudos de acordo com o
título, autores, ano de publicação, país de origem, idioma,
tipo de estudo, objetivos, amostra e resultados relevantes
para a questão de investigação A discussão de resultados é
elaborada em forma de narrativa.
Resultados
Resultados da pesquisa
A pesquisa nas três bases de dados identificou um total de
63 artigos. Após serem removidos os duplicados,
permaneceram 57 artigos para análise de títulos e resumos
de acordo com os critérios de inclusão definidos. Nesta
fase, foram excluídos 47 artigos por não corresponderem a
um ou mais critérios de inclusão, ficando para análise em
IXOOWH[W 10 artigos. Foram analisados os 10 artigos e nenhum
foi excluído. Foram, igualmente, consultadas as referências
bibliográficas dos 10 artigos selecionados e foi integrado
mais um artigo em IXOOWH[W, num total de 11 artigos incluídos
nesta revisão VFRSLQJ. Este processo encontra-se
esquematizado no diagrama 3ULVPD a que a figura 1 se refere.
3HQVDU(QIHUPDJHPYQQRYHPEUR_
'2ΖSHQVDUHQIYL
$UWLJRGH5HYLV¥R
Figura 1. Diagrama PRISMA: resultados da pesquisa e seleção de estudos a integrar na revisão VFRSLQJAdaptadoJBI.10
Caraterísticas das fontes de evidência
Os artigos selecionados nesta revisão VFRSLQJ foram
publicados entre 2015 e 2023, sendo que 72% (n=8) foi
publicado nos últimos seis anos. São todos artigos
publicados em revistas internacionais, como a -RXUQDO RI
)DPLO\ ,VVXHV (n=1), 1XUVLQJ ,QTXLU\ (n=1), *OREDO 3XEOLF
+HDOWK (n=1), 0DWHUQDO&KLOG1XWULWLRQ (n=1), ,QWHUQDWLRQDO
-RXUQDO RI &KLOGELUWK (GXFDWLRQ (n=1), 0LGZLIHU\ (n=2),
%UHDVWIHHGLQJ 5HYLHZ (n=1), %0& 3UHJQDQF\ DQG &KLOGELUWK
(n=1), +XPDQ1DWXUH (n=2). Todos os artigos são escritos
em inglês. Dois artigos são provenientes da China, outros
dois dos Estados Unidos da América (EUA), seguindo-se a
Áustria, Gana, Colômbia, Nova Zelândia, Austrália, França
e Namíbia, com um artigo cada. Foram, então, incluídas
quatro revisões da literatura e sete estudos primários de
abordagem qualitativa ou mista.
A população dos artigos é variada, inclui casais que foram
pais, inclui avós, profissionais de saúde, bem como líderes
comunitários.
Sete estudos utilizaram como metodologia entrevistas
semi-estruturadas em profundidade e a maioria dos estudos
tem como objetivo avaliar e explorar experiências de pais e
avós na transição para a parentalidade.
CINAHL COMPLETE: 20
MEDLINE COMPLETE: 36
Scopus: 7
(n = 63)
Artigos removidos antes da seleção:
Duplicados (n = 6)
Artigos analisados por títulos
(n = 57) Artigos excluídos por títulos
(n = 38)
Artigos analisados pelos resumos
(n = 19) Artigos excluídos pelos resumos
(n = 9)
Artigos em full-text analisados para
elegibilidade
(n = 10)
Artigos excluídos em full-text
(n = 0)
Artigos incluídos na VFRSLQJUHYLHZ
(n = 11)
Identificação
Seleção
Inclusão
Artigos identificados pelas referências
bibliográficas
(n = 1)
Artigos identificados nas bases de dados
_6RXVDΖ
$UWLJRGH5HYLV¥R
Resultados da Revisão
Por forma a organizar os resultados que emergiram da
pesquisa, agrupamos os mesmos em quatro categorias: os
avós como fonte de suporte; os avós e a influência na
nutrição das famílias e no aleitamento materno exclusivo; a
ambivalência de sentimentos; e o papel dos profissionais de
saúde.
Os avós como fonte de suporte
Muitos avós desempenham um papel vital na vida das
gestantes ou mulheres/mães e dos seus netos e
representam uma fonte de suporte, seja ela instrumental,
emocional, informativa ou financeira.6.11,12 A distância
geográfica, a cultura, a relação materna e paterna com os
pais e sogros, bem como a idade dos avós podem alterar o
papel que os avós desempenham e, posteriormente, alterar
a influência que exercem sobre a parentalidade dos filhos.
A natureza interconectada das diferentes gerações pode
afetar os estilos parentais, a segurança do bebé, bem como
o desempenho do papel parental.6
As avós foram identificadas como o principal apoio das
gestantes, fornecendo-lhes informação, orientação e apoio
emocional.11,12 o as avós que têm o papel de preservar
tradições culturais relativas a este período, são repositórios
de conhecimento sobre medicina local e são decisoras nos
comportamentos de procura de saúde, isto é, decidem onde
é o parto e a necessidade de recorrer a serviços de saúde.11
Num estudo, conduzido num país africano, a Namíbia,13
identificou-se três domínios em que as avós contribuem,
sendo eles: a) o aprender a ser mães, através das
representações do cuidar e dos exemplos, bem como da
informação; b) o suporte na amamentação; e c) a saúde e
bem-estar no período pós-natal. Conclui-se que o apoio
informativo, emocional e instrumental fornecido às mães e
aos seus recém-nascidos durante o período perinatal pode
ajudar no estabelecimento do vínculo mãe-bebé, promover
o equilíbrio energético materno e melhorar os resultados
nutricionais dos bebés.
O apoio instrumental e emocional prestado pelos avós,
embora esteja depende do tipo de relacionamento entre
pais e filhos e quando não é intrusivo, constitui-se como
um fator protetor para o desenvolvimento de problemas de
saúde mental materna no primeiro ano pós-parto.14 É
reportado também, efeitos benéficos para a criança, pois as
mães sem problemas de saúde mental estão mais
disponíveis emocionalmente e respondem ativamente às
necessidades da criança.
Outro artigo15, refere igualmente que o papel dos avós é de
rede de suporte, de cuidar tanto da mãe como do bebé,
preparando refeições e fazendo outras tarefas domésticas.
O papel dos avós envolve, também, a transmissão
intergeracional de papéis, em que as mães aprendem seja
por observação, conselhos ou imitação dos cuidados.
Os avós e a influência na nutrição das famílias e no
aleitamento materno exclusivo
A cultura da amamentação numa família desempenha um
papel significativo no apoio às novas mães para amamentar
exclusivamente e a prática do aleitamento materno
exclusivo por seis meses não se limita às intenções ou ações
da díade mãe-bebé; é um comportamento relacional
influenciado não apenas pelas redes familiares em torno da
mãe, mas também pelos contextos culturais, históricos e
sociais.16
As avós têm a capacidade de influenciar o aleitamento
materno exclusivo. A opinião positiva sobre aleitamento
materno de uma avó tem o potencial de influenciar uma
mãe até 12% a iniciar a amamentação.17,18 Por outro lado,
também pode ter uma influência negativa, tendo a
capacidade de diminuir a probabilidade de amamentação
até 70%.17 Wagner et al,18 sugerem que as mães que foram
amamentadas quando bebés eram mais propensas a iniciar
e continuar a amamentação do que as mães não
amamentadas. A mãe da mãe e a experiência anterior de
amamentação da mãe têm uma forte influência nas práticas
de amamentação.18
Concha e Jovchelocitch,19 sugerem que as avós
desempenham um papel central na nutrição de muitas
famílias durante os períodos pré-parto, pós-parto,
amamentação ou alimentação complementar,
nomeadamente na preparação das refeições.
A ambivalência de sentimentos
Surgem sentimentos ambivalentes quando o envolvimento
dos avós num ou mais domínios, sejam eles afetivo,
cognitivo ou comportamental, não corresponde aos desejos
e expetativas dos pais.12 Esta ambivalência existe, também,
quando há visões divergentes de pais e avós em relação a
conceitos e convicções sobre a gravidez, educação,
cuidados infantis, nutrição, ou outros aspetos fundamentais
na criação dos filhos. No mesmo estudo, estes sentimentos
ambivalentes ocorreram, igualmente, quando os avós
questionaram os papéis e atitudes dos pais e houve
julgamentos críticos dos avós sobre as suas capacidades
parentais. Outro aspeto relacionado com sentimentos
ambivalentes no envolvimento dos avós é a nível
comportamental, quando os avós não respeitam os limites
impostos pelos pais e, a nível afetivo, quando envolveu
deceção com aspetos emocionais das relações,
nomeadamente sentimentos de competição entre os pais e
os avós.12
Um estudo conduzido na China21 identifica que é esperado
das avós apoio aos pais durante a transição para a
parentalidade, mesmo sem estes o pedirem. O mesmo
refere que, relativamente aos cuidados no pós-parto e ao
recém-nascido, os pais identificam um hiato significativo
entre as suas crenças e as dos avós, referindo que as
3HQVDU(QIHUPDJHPYQQRYHPEUR_
'2ΖSHQVDUHQIYL
$UWLJRGH5HYLV¥R
abordagens da geração mais velha se encontram
ultrapassadas e são pouco científicas. Por outro lado, a
geração mais velha acredita que tem a experiência de ter
filhos e a sabedoria já transmitida há anos. Esta discórdia
gera conflitos familiares. O estudo identifica, ainda, que os
pais apreciam o apoio recebido pelos avós, por permitir
folgas das exigências do cuidar, no entanto, criticam-nos
por potencialmente poderem causar danos ao bebé, pelas
suas abordagens tradicionais. O mesmo estudo, defende,
também que a comunicação clara e direta conduz a uma
melhor relação familiar e entendimento mútuo, em vez das
críticas. Em contrapartida, verificou-se conflitos sempre
que os membros da família expressaram uma comunicação
ineficaz ou inexistente e insistiam em fazer à sua maneira,
o que conduzia a relações familiares precárias. Se os
membros da família o falassem e escondessem os seus
conflitos ou comunicassem de uma maneira vaga, era mais
provável despoletar sentimentos de raiva e agressão
silenciosa. Famílias com limites bem estabelecidos tendem
a ter mais harmonia neste período de transição.15 A maioria
dos avós entrevistados reconheciam o seu papel e os limites
do mesmo e abstiveram-se de expressar os seus pontos de
vista sobre as decisões dos pais. Em algumas famílias houve
competição entre os seus membros para controlo e, quando
esta competição era forte, surgiam conflitos. Este estudo15
refere-se, igualmente, aos limites geracionais, ou seja, às
expetativas de limites percebidos e regras de interação de
todos os membros da família, envolvendo a regulação do
comportamento dos pais e dos avós. Limites claros
requerem que os avós respeitem a autoridade dos pais e
evitem oferecer demasiados conselhos relativos às suas
decisões parentais. Os conselhos indesejados dos avós são
a forma de comunicação mais ineficaz, podendo ser
percebidos como uma critica aos cuidados parentais,
afetando a confiança nas próprias competências parentais.15
Assim, o envolvimento dos avós no papel parental pode
ameaçar a autonomia dos pais e pode não ser bem recebido
por estes.
O papel dos profissionais de saúde
Pais e avós atribuem um papel relevante aos profissionais
de saúde como mediadores de conflitos familiares.21 Os
primeiros alegam que os últimos se encontram em melhor
posição para mediar os conflitos familiares relativos ao
esclarecimento de papéis, divisão de tarefas, comunicação
e estabelecimento de limites no puerpério e no cuidado ao
recém-nascido. É identificada, ainda, a necessidade de
conhecimento e de desenvolvimento de competências
parentais, a necessidade de informação e educação no pós-
parto e apoio psicológico para as mães.21
Existe uma potencial lacuna entre as campanhas de
educação para a saúde que visam as mães como decisoras
autónomas e a realidade de uma estrutura comunitária mais
coletivista na qual as mães raramente tomam essas decisões
sem o apoio de outros membros da comunidade.11
Burgess6 defende que é importante que os profissionais de
saúde que fazem a preparação para o parto e que
promovem a adaptação à parentalidade, reconheçam o
papel dos avós e trabalhem para avaliar o seu conhecimento
sobre as práticas atuais de cuidados e a segurança da
criança, incluindo qual o seu papel nas responsabilidades de
cuidar do bebé. Uma avaliação completa permitirá que os
profissionais de saúde forneçam intervenções e recursos
educacionais e de apoio, apropriados tanto para os pais
como para os avós. O nascimento de um novo bebé não é
uma experiência isolada apenas para a futura mãe, mas uma
transição, também, para os avós.6 Neste sentido, a
prestação de apoio por parte dos profissionais de saúde
pode melhorar a autoeficácia, bem como o crescimento dos
avós como indivíduos. Como educadores, devem estar
atentos ao significado que essa transição pode ter e ajudar
as famílias a abraçar a interconexão que o nascimento desse
novo bebé traz para todos.13
Discussão
Nos últimos oito anos, foram encontrados 11 artigos que
identificam os vários papéis dos avós na transição para a
parentalidade dos seus filhos, dando assim, resposta à
questão de investigação formulada inicialmente. Esta
revisão VFRSLQJpermite, portanto, compreender que os avós
podem desempenhar um papel vital na vida dos filhos e dos
seus netos e representam uma fonte de suporte, seja ela
instrumental, emocional, informativa ou financeira,6,11,12
fornecendo informação e orientação.11 Este apoio
informativo, emocional e instrumental durante o período
perinatal pode ajudar no estabelecimento do vínculo pais-
bebé, promover o equilíbrio energético materno, melhorar
os resultados nutricionais dos bebés13 e melhorar a saúde
mental materna.14
É identificada, também a influência que as avós
representam na nutrição de toda a família no período
perinatal, nomeadamente na preparação de refeições,19 bem
como a sua influência no aleitamento materno exclusivo.
Sabemos que o leite materno se constitui como o melhor
alimento para o bebé até à introdução alimentar e que este
é recomendado em exclusivo até aos 6 meses de idade,20 no
entanto vários fatores concorrem para influenciar a sua
prática. Assim, a prática do aleitamento materno exclusivo
durante os 6 primeiros meses de vida do bebé é um
comportamento relacional influenciado pelas intenções da
mãe, pelas redes familiares e pelos contextos culturais,
históricos e sociais.16 Há evidência científica que corrobora
a capacidade das avós influenciarem o aleitamento materno
exclusivo.17,18 Embora haja diferenças no tipo de resultado
da amamentação e como a influência das avós foi medida,
o efeito geral sobre a amamentação foi positivo quando as
atitudes ou experiências das gerações femininas mais velhas
_6RXVDΖ
$UWLJRGH5HYLV¥R
em relação à amamentação foram favoráveis. A opinião
positiva sobre aleitamento materno de uma avó tinha o
potencial de influenciar uma mãe até 12% a iniciar a
amamentação. Por outro lado, uma opinião negativa tem a
capacidade de diminuir a probabilidade de amamentação
até 70%.17 Neste sentido, torna-se pertinente permitir e
incentivar a presença e participação das avós nos cuidados
de saúde prestados às gestantes e pais, se for o desejo
destes, principalmente no período perinatal.
A ambivalência de sentimentos dos pais em relação aos
avós, foi outro aspeto destacado nesta revisão VFRSLQJ. Se por
um lado, os pais apreciam e reconhecem a importância do
apoio dos avós na transição para a parentalidade, por outro
lado, quando há visões divergentes em relação a conceitos
e convicções relativas às crianças, através do
questionamento das atitudes e papéis parentais e através do
julgamento critico sobre as suas capacidades, existe uma
ambivalência de sentimentos, que pode conduzir a conflitos
intergeracionais.12,21 A comunicação clara e direta leva a
uma melhor relação familiar e entendimento mútuo, em
detrimento da crítica.21 Por outro lado, a forma de
comunicação mais ineficaz traduz-se nos conselhos
indesejados dos avós, podendo estes serem percebidos
como uma critica aos cuidados parentais, afetando a
confiança nas próprias competências parentais.15 Neste
sentido, os profissionais de saúde, podem assumir um papel
de mediadores dos conflitos, através do esclarecimento de
pontos de vista, baseando-se na mais recente evidência
cientifica. De acordo com um estudo qualitativo
exploratório,21 todos os participantes do mesmo
manifestaram o desejo de que os profissionais de saúde
pudessem ajudá-los, acreditando que estes estão em melhor
posição para mediar os conflitos familiares.
Vários artigos referem ainda, uma lacuna nos cuidados de
saúde relativamente à inclusão de pessoas significativas no
cuidado à mulher, nomeadamente dos avós, representando,
estes uma fonte de apoio crucial na transição para a
parentalidade.6,11,21 É importante que os profissionais de
saúde, nomeadamente os que realizam a preparação para o
parto e que promovem a adaptação à parentalidade,
reconheçam o papel dos avós, fazendo uma avaliação
completa, que permitirá prestar cuidados apropriados tanto
para os pais como para os avós, adotando uma abordagem
mais inclusiva.
Conclusão
Os diversos artigos analisados identificaram os vários
papéis que os avós podem ter na transição para a
parentalidade dos seus filhos nos mais distintos locais do
mundo, indo ao encontro do objetivo desta revisão VFRSLQJ,
bem como respondendo à questão de investigação
formulada. Para além de identificar os papéis dos avós na
transição para a parentalidade dos seus filhos, também
identificou os possíveis sentimentos e conflitos que podem
surgir entre estes e os seus filhos neste período, sugerindo
que é através de uma comunicação clara e assertiva, que
estes se podem resolver. Identificou, igualmente, lacunas
relativamente aos cuidados de saúde e à integração dos avós
nos mesmos, sugerindo que os profissionais de saúde
incluam os avós na sua abordagem de cuidados.
Sendo o enfermeiro, um dos principais prestadores de
cuidados de saúde à mulher e casal na transição para a
parentalidade, torna-se importante incorporar os resultados
desta revisão VFRSLQJ, com o intuito de perspetivar uma
contínua melhoria nos cuidados prestados por este, nos
diversos contextos. Assim, este, deve envolver as pessoas
significativas no processo de cuidados, integrando-as,
também, como clientes dos cuidados e estabelecendo
parcerias com as mesmas.
Ao percebermos os diferentes papéis que os avós podem
representar na transição para a parentalidade, melhor
entenderemos a importância de os integrar nos cuidados de
saúde à mulher/casal e criança, neste processo. Porém, este
aspeto implica uma avaliação individual e personalizada,
pois cada pessoa é única. Vivemos numa sociedade cada
vez mais multicultural e com necessidades específicas de
cuidados de saúde. Salientamos como ponto forte desta
revisão VFRSLQJ, a multiculturalidade dos diversos estudos
incluídos, permitindo alargar a visão de cuidados e
alertando para as diferentes perspetivas e especificidades de
cada indivíduo como ser social, cultural e espiritual. Por
outro lado, salientamos como limitações essa mesma
multiculturalidade dos estudos, o que não permite uma
generalização dos resultados; assim como a maioria dos
estudos selecionados focam apenas as mulheres/gestantes
e as avós na transição para a parentalidade. Embora cada
vez mais, se atribui um papel vital também às figuras
masculinas relativamente à parentalidade, ainda hoje, em
muitas culturas esta é vivida, sobretudo no feminino.
Importa, portanto, considerar que por vezes, pode haver
casais que prefiram incluir os pais, nomeadamente as mães,
no seu processo de saúde durante a transição para a
parentalidade.
Considera-se necessário haver mais investigação sobre esta
temática, particularmente em Portugal, com o objetivo de
consciencializar os profissionais de saúde, nomeadamente
os enfermeiros, sobre a importância da integração da
família nos cuidados de saúde. Sugere-se, assim, a realização
de futuros estudos primários, com o intuito de conhecer a
realidade portuguesa sobre o papel dos avós na sociedade
contemporânea.
Contribuições autorais
IS: Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados e Redação do manuscrito.
HB: Recolha de dados; Análise e interpretação dos dados;
Revisão crítica do manuscrito.
3HQVDU(QIHUPDJHPYQQRYHPEUR_
'2ΖSHQVDUHQIYL
$UWLJRGH5HYLV¥R
Conflitos de interesse e Financiamento
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelas autoras.
Fontes de apoio / Financiamento
O estudo não foi objeto de financiamento.
Referências
1. Lau Y, Fang L, Kwong HK. Cross-lagged models of
marital relationships and intergenerational conflicts during
transition to parenthood: effect of patrilineal coresidence.
Fam Process [Internet]. 2020 Dec [citado a 2022 Jun
20];59(4):1569-1587. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/famp.1
2524 DOI: 10.1111/famp.12524.
2. Ordem dos Psicólogos Portugueses. Ser mãe, ser pai. Os
desafios da parentalidade (durante e após a pandemia)
[Internet]. 2021 Jun 8 [citado a 2022 Jun 22]; [noticia 3491].
Disponível em:
https://www.ordemdospsicologos.pt/ficheiros/document
os/ser_mae_pai_desafios_parentalidade.pdf
3. Domenech CS, Cabero SG. Las competencias parentales
en la familia contemporânea: descripción, promoción y
evaluación. Educación social: Revista de intervención
socioeducativa [Internet]. 2011 Jan [citado a 2022 Jun
15];49:25-47. Disponível em:
https://raco.cat/index.php/EducacioSocial/article/view/
250177/369142.
4. Meleis AI. Transitions Theory. Middle-range and
situation-specific theories in nursing research and practice.
New York: Springer Publishing Company. 2010.
5. Martins CA, Abreu WJCP, Figueiredo MCAB. Tornar-
se pai ou mãe: o desenvolvimento do processo parental.
Fronteiras: Journal of Social, Technological and
Environmental Science [Internet]. 2017 Dec [citado a 2022
Jun 15];6(4):146-61. Disponível em:
http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.php/frontei
ras/article/view/2672 DOI
http://dx.doi.org/10.21664/2238-8869.2017v6i4.p146-
161.
6. Burgess A. Interconnectedness: the grandparent’s role in
childbearing and parenting. Int J Childbirth Educ. 2015
Jan;30(1):68-73.
7. Dessen MA. Os avós como rede social de apoio das
famílias de seus filhos. International Journal of
Developmental and Educational Psychology [Internet].
2013 Mar [citado a 2022 Jun 15];1(1):67-74. Disponível em:
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=349852058004.
8. Carvalho PS, Loureiro M, Simões MR. Adaptações
psicológicas à gravidez e maternidade. Psicologia e
Educação. 2006 Dec; 5(2): 39-50.
9. Oliveira MR, Dessen MA. Alterações na rede social
durante a gestação e o nascimento dos filhos. Estudos de
Psicologia Campinas [Internet]. 2012 Jan [citado a 2022 Jun
15];29(1):81-88. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/estpsi/a/Mc8jHRgNP8x9y5Zq7
jq7hHb/?lang=pt
10. Peters MDJ, Godfrey C, Mclnerney P, Munn Z, Tricco
AC, Khalil H. Chapter 11: scoping reviews (2020 version).
In: Aromataris E, Munn Z, (Editors) JBI Manual for
Evidence Synthesis [Internet]. 2020. [citado a 2022 Jun 15]
Disponível em: https://doi.org/10.46658/JBIMES-20-12
11. Gupta ML, Aborigo RA, Adongo PB, Rominski S,
Hodgson A, Engmann CM, et al.
Grandmothers as gatekeepers? The role of grandmothers
in influencing health-seeking for mothers and newborns in
rural northern Ghana. Glob Public Health [Internet]. 2015
Jan [citado a 2022 Jun 20];10(9):1078-1091. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1080/17441692.2014.1002413.
12. Zartler U, Schmidt E, Schalder C, Rieder I, Ricther R.
“A Blessing and a Curse couples dealing with ambivalence
concerning grandparental involvement during the
transition do parenthood a longitudinal study. J
Fam Issues [Internet]. 2021 [citado a 2022 Jun 20]; 42(5)
958983. Disponível em:
https://journals.sagepub.com/doi/pdf/10.1177/0192513
X20950786 DOI: 10.1177/0192513X20950786.
13. Scelza BA, Hinde K. A biocultural study of
grandmothering during the perinatal period. Hum Nat
[Internet]. 2019 Dec [citado a 2022 Jun 20];30: 371-397.
Disponível em: https://doi.org/10.1007/s12110-019-
09356-2.
14. Riem MME, Bakermans-Kranenburg MJ, Cima M, Van
IJzendoorn MH. Grandparental support and maternal
postpartum mental health: a review and meta-analysis.
Hum Nat [Internet]. 2023 Feb [citado a 2023 Jul
11];34(1): 25-45. Disponível em:
https://doi.org/10.1007/s12110-023-09440-8
15. Xiao X, Loke AY. Intergenerational co-parenting in the
postpartum period: a concept analysis. Midwifery
[Internet]. 2022 Apr [citado a 2022 Jun 20];107:1-23.
Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.midw.2022.103275
16. Alianmoghaddam N, Phibbs S, Benn C. The impact of
family culture on six months exclusive breastfeeding: a
qualitative study in New Zealand. Breastfeed Rev. 2018
Mar;26(1):23-36.
6RXVDΖ
$UWLJRGH5HYLV¥R
17. Negin J, Coffman J, Vizintin P, Raynes-Greenow C.
The influence of grandmothers on breastfeeding rates: a
systematic review. BMC Pregnancy Childbirth [Internet].
2016 [citado a 2022 Jun 20];16(91):1-10. Disponível em:
https://doi.org/10.1186/s12884-016-0880-5 DOI
10.1186/s12884-016-0880-5.
18. Wagner S, Kersuzan C, Gojard S, Tichit C, Nicklaus S,
Thierry X, et al. Breastfeeding initiation and duration in
France: the importance of intergenerational and previous
maternal breastfeeding experiences-results from the
nationwide ELFE study. Midwifery [Internet]. 2019 Feb
[citado a 2022 Jun 20];69:67-75. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.midw.2018.10.020.
19. Concha N, Jovchelocitch S. Grandmothers: central
scaffolding sources impacting maternal and infant feeding
practices in Colombia. Matern Child Nutr [Internet]. 2021
[Citado a 2022 Jun 20];17(S1):1-11. Disponível em:
https://doi.org/10.1111/mcn.13162 DOI:
10.1111/mcn.13162.
20. World Health Organization, United Nations Children´s
Fund, editors. Implementation guidance. Protecting,
promoting and supporting breastfeeding in facilities
providing maternity and newborn services: the revised
baby-friendly hospital initiative. Geneva (CH): World
Health Organization, United Nations Children´s Fund;
2018. 52p.
21. Xiao X, Loke AY. Experiences of intergenerational co-
parenting during the postpartum period in modern China:
a qualitative exploratory study. Nurs Inq [Internet]. 2021
[citado a 2022 Jun 20];28(3):1-15. Disponível em:
https://doi.org/10.1111/nin.12403 DOI:
10.1111/nin.12403.
| 146
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / novembro 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.280
Artigo Original Quantitativo
Como citar este artigo: Tereso A, Lopes F, Guterres R, Bértolo H, Carvalhal L, Curado A. Efetividade do
duche terapêutico no alívio da dor no primeiro estádio do trabalho de parto
. Pensar Enf [Internet]. 2023 Nov
;
27(1):
146-154. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.280
Efetividade do duche terapêutico no alívio da dor no
primeiro estádio do trabalho de parto
Effectiveness of therapeutic showering in pain relief
during the first stage of labor
Resumo
Introdução
A prevenção da dor e o seu controlo eficaz são enfatizados como prioridades para a
humanização das unidades obstétricas. O duche terapêutico constitui uma alternativa não
farmacológica fácil de implementar, cuja eficácia não tem sido reconhecida pelos
enfermeiros.
Objetivo
Avaliar a efetividade do duche terapêutico no alívio da dor durante a primeira fase do
trabalho de parto.
Métodos
Estudo TXDVL-experimental tendo como questão de investigação: será que o duche
terapêutico é efetivo no alívio da dor durante a primeira fase do trabalho de parto? Foi
utilizada uma amostra de conveniência (n=81) e os dados foram recolhidos em duas
maternidades. A dor foi avaliada utilizando uma Escala Numérica antes da aplicação da água
como padrão comparativo do nível de dor antes e depois da aplicação de água quente
(imediatamente depois, 10 e 20 minutos depois). A análise dos dados foi realizada utilizando
SPSS®, v.27.
Resultados
A ANOVA de medições repetidas mostrou resultados estatisticamente significativos. A
análise de contraste entre a primeira e a segunda medição revelou diferenças significativas
entre o nível médio de dor imediatamente após e 10 minutos as a aplicação da água.
Contudo, a análise SRVWKRF revelou que após 20 minutos, as diferenças entre as médias não
eram estatisticamente significativas.
Conclusão
O duche terapêutico é eficaz na redução da dor imediatamente após e 10 minutos após a
aplicação da água.
Palavras-chave
Hidroterapia; Dor de Parto; Manejo da Dor; Avaliação da Dor.
Abstract
Introduction
Pain prevention and effective control is emphasized as a priority for the obstetric unit’s
humanization. The therapeutic shower it’s an easy-to-deploy non-pharmacological
alternative whose effectiveness has not been recognized by nurses.
Objective
The aim of this study was to evaluate the effectiveness of therapeutic showering for pain
relief during the first stage of labor.
Alexandra Tereso1
orcid.org/0000-0002-4746-3649
Filipa Lopes2
orcid.org/0000-0013-1676-9466
Rute Guterres3
orcid.org/0000-0001-9999-9499
Helena Bértolo4
orcid.org/0000-0002-6612-2700
Lucinda Carvalhal5
orcid.org/0009-0009-8940-8304
Alice Curado6
orcid.org/0000-0002-9942-7623
1 Doutoramento. Departamento de Saúde Materna,
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL),
Lisboa.
Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR), Lisboa, Portugal.
2 Mestrado. Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
(ESEL), Lisboa. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CIDNUR), Lisboa, Portugal.
3 Licenciatura em Enfermagem. CHLO - Hospital de
São Francisco Xavier, Lisboa. Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa (ESEL), Lisboa. Centro de
Investigação, Inovação e Desenvolvimento em
Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), Lisboa, Portugal.
4 Mestrado. Departamento de Sde Materna, Escola
Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL), Lisboa.
Centro de Investigão, Inovação e Desenvolvimento
em Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), Lisboa,
Portugal.
5 Licenciatura em Enfermagem. CHLO - Hospital de
São Francisco Xavier, Lisboa. Escola Superior de
Enfermagem de Lisboa (ESEL), Lisboa. Centro de
Investigação, Inovação e Desenvolvimento em
Enfermagem de Lisboa (CIDNUR), Lisboa, Portugal.
6 Doutoramento. Escola Superior de Enfermagem de
Lisboa (ESEL), Lisboa. Centro de Investigação,
Inovação e Desenvolvimento em Enfermagem de
Lisboa (CIDNUR), Lisboa, Portugal.
Autor de correspondência
Alexandra Tereso
E-mail: alexandra.tereso@esel.pt
Recebido: 05.06.2023
Aceite: 14.10.2023
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / novembro 2023 |
Artigo Original Quantitativo
Methods
Quasi-experimental study with the following research
question: Is the therapeutic shower effective in relieving
pain during the first stage of labor? Convenience sampling
(n=81) was used. Data were collected in the two maternity
wards. Labor pain was assessed using a Numeric Scale
before water application as a comparative standard of pain
level before and after warm water application (immediately
after, 10 and 20 minutes after). Data analysis was performed
using SPSS®, v.27.
Results
Repeated measurement ANOVA showed statistically
significant results. Contrast analysis between the first and
second measurements revealed significant differences
between the mean level of pain immediately and 10 minutes
after water application. However, post hoc analysis revealed
that after 20 minutes, the differences between the means
were not statistically significant.
Conclusion
Therapeutic showering is effective in pain reduction
immediately and 10 minutes after water application.
Keywords
Hydrotherapy; Labor Pain; Pain Management; Pain
Measurement.
Introdução
A dor pode influenciar de forma significativa o
desenvolvimento do trabalho de parto e interferir nas
decisões e na satisfação das parturientes. Ansiedade e dor
podem estar associadas a trabalhos de parto mais
prolongados, níveis mais elevados de hormonas de stress e
a um maior recurso à analgesia farmacológica.1-5 Os
enfermeiros obstetras enquanto cuidadores privilegiados da
parturiente, do feto e da família, podem ter um papel
fundamental considerando a dor como 5º sinal vital e
promovendo o recurso a estratégias não farmacológicas para
o seu alívio.6
Disponibilizar alternativas não farmacológicas que facilitem
a autonomia das mulheres e a tomada de decisão na gestão
da dor durante o trabalho de parto, pode minimizar o medo
e a ansiedade e facilitar a libertação de hormonas que
favoreçam o processo.7 No primeiro estádio do trabalho de
parto, vários estudos referem que a abordagem
farmacológica convencional pode não ser benéfica para a
evolução fisiológica do parto.8 Neste âmbito, os enfermeiros
obstetras no desempenho das suas competências, podem
contribuir de uma forma objetiva para prevenir os efeitos
indesejados das estratégias farmacológicas, melhorar as
sensações físicas e prevenir e a perceção psíquica e
emocional da dor das parturientes.9
Dentro das alternativas não farmacológicas para o alívio da
dor durante o trabalho de parto, a hidroterapia (definida
como a aplicação externa de água para fins terapêuticos), é
considerada por várias instituições nacionais e
internacionais, como uma das alternativas que pode
proporcionar um alívio da dor mais significativo e otimizar
a experiência positiva de parto da mulher, do feto e da
família.6, 9-12
Em Portugal, a Mesa do Colégio da Especialidade de
Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica da Ordem dos
Enfermeiros9 no seu Projeto Maternidade com Qualidade,
destaca como um dos indicadores da relevância do projeto
e da sua avaliação, a importância da promoção e aplicação
de medidas não farmacológicas de alívio da dor durante o
trabalho de parto. O projeto defende que a utilização da
água durante o trabalho de parto, nomeadamente no 1º e no
2º estádio, é um método de alívio da dor que promove o
bem-estar da mulher e contribui para a diminuição da
incidência de episiotomias e de partos por cesariana. Dois
dos conceitos nucleares dos cuidados de enfermagem
especializados em saúde materna e obstetrícia, são os
cuidados centrados na parturiente e a promoção do parto
normal.13 Neste âmbito, disponibilizar o duche terapêutico
às parturientes e apoiá-las nas decisões relativas à gestão da
dor durante o trabalho de parto, pode ser um contributo
para o reconhecimento do protagonismo da mulher no
parto e da sua despatologização.14
A Ordem dos Enfermeiros15, refere que a utilização
terapêutica do duche de água quente reduz de forma
estatisticamente significativa o recurso à analgesia epidural
durante o período de dilatação e que não apresenta efeitos
adversos com implicações na duração do trabalho de parto,
na taxa de partos cirúrgicos e no bem-estar neonatal.
Disponibilizar a hidroterapia nos hospitais portugueses,
neste caso sob a forma de duche de água quente (também
designado como duche terapêutico), requer um ambiente
empoderador das parturientes e políticas de cuidados
adequadas que enquadrem as estratégias não farmacológicas
para o alívio da dor nas unidades obstétricas. Neste contexto
e tendo em conta os seus efeitos benéficos, é fundamental
encorajar a utilização do duche terapêutico pela sua
facilidade de aplicação e por não requerer grandes
investimentos em recursos.
No entanto, apesar dos contributos mencionados, na
prática, ainda se constata que a sua utilização não é
generalizada e que de acordo com Stark e Miller16, existem
algumas barreiras para que isso aconteça. Estes autores
consideram que é importante desenvolver investigação
sobre a existência de barreiras que inclua as estratégias para
as ultrapassar.
Stark17 procurou testar a efetividade do duche terapêutico
durante o trabalho de parto, num estudo com uma amostra
constituída por 32 parturientes em fase ativa de trabalho de
parto, em que a aplicação da água foi realizada durante 30
minutos. Neste estudo, verificou que em relação ao grupo
| Tereso, A.
Artigo Original Quantitativo
de controlo, houve uma redução estatisticamente
significativa da dor, e que o duche terapêutico revelou
efetividade na redução da dor, desconforto, ansiedade e
tensão e que simultaneamente contribui para o relaxamento
e apoio durante o trabalho de parto.
Não obstante a evidência mencionada, nas maternidades
portuguesas, a utilização da hidroterapia está longe de estar
difundida e frequentemente é preterida em relação às
estratégias farmacológicas. Assim, se por um lado os
recursos materiais (quer no caso do banho de imersão ou na
aplicação da água através do chuveiro) são fundamentais,
por outro, a produção de investigação e a disseminação dos
resultados sobre a sua efetividade, podem ser determinantes
para a motivação dos enfermeiros e para o desenvolvimento
de uma prática baseada em evidência.
Stark18 considera que é importante distinguir o duche
terapêutico do duche higiénico que habitualmente inclui
esforço e movimentos ativos para lavar e limpar. O duche
terapêutico é essencialmente passivo, permitindo que o
fluxo de água atinja o efeito pretendido. As razões
terapêuticas para o duche podem incluir aquecimento,
arrefecimento, humidificação, relaxamento, revitalização e
massagem, bem como alívio da dor.19 Para obter o benefício
desejado do duche, a exposição a um duche quente requer
mais tempo do que o necessário para um duche higiénico.
Apesar de existirem alguns estudos que avaliam a efetividade
da hidroterapia, constata-se que a evidência científica
disponível tem como foco a hidroterapia efetuada através de
banho de imersão. Nalguns países, o duche quente é
habitualmente utilizado durante o trabalho de parto, mas
o é objeto de estudos científicos, nem de debate.20 Neste
âmbito, a avaliação da sua efetividade torna-se essencial para
alicerçar uma prática baseada em evidência que promova
uma experiência de parto mais saudável e gratificante.
Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar a efetividade do
duche terapêutico no alívio da dor durante a primeira fase
do trabalho de parto em hospitais portugueses.
Métodos
As opções metodológicas derivam da natureza do problema
sob estudo, bem como dos objetivos de pesquisa
formulados, e são basilares para atestar a fiabilidade e
qualidade dos resultados da investigação. Foi realizado um
estudo TXDVL-experimental que investigou uma população
específica, neste caso, parturientes que referiram dor na
primeira fase do trabalho de parto, com a seguinte questão
de pesquisa: O duche terapêutico é efetivo no alívio da dor
durante a primeira fase do trabalho de parto?
A evolução do nível de dor, foi avaliada antes da aplicação
da água YHUVXV 3 momentos de aplicação de água
(imediatamente após a aplicação, 10 minutos após e 20
minutos após), na zona pélvica, na zona lombar ou em mais
do que um local. A análise de dados foi efetuada com
recurso à ANOVA de medições repetidas. Os pressupostos
foram analisados com recurso aos testes de Kolmogorov-
Smirnov e Mauchly 21 nomeadamente, a normalidade das
distribuições e a esfericidade da matriz de variâncias-
covariâncias. A variável nível de dor apresentou distribuição
normal nos 2 primeiros momentos avaliados após a
aplicação: imediatamente a seguir à aplicação e 10 minutos
após com S>0.05. No terceiro momento não apresentou
distribuição normal, nem variâncias homogéneas, nem
covariâncias nulas (:=0.974; ;2(2)=1.933; S=0.380),
verificando-se a esfericidade. As comparações múltiplas
foram efetuadas por recurso a contrastes usando a primeira
medição (imediatamente após aplicação da água) como
referência e ao testes SRVWKRF LSD de Fisher. A análise de
dados foi efetuada com recurso ao 6RIWZDUH ,%0 SPSS®
6WDWLVWLFV for Windows, v.27 (IBM &RUS, Armonk, N. Y.,
USA).
Participantes
A amostragem foi não aleatória, acidental, casual ou
conveniente21 com uma dimensão de 81 observações
(n=81), considerando-se como participantes, todas as
mulheres em trabalho de parto que cumprissem os critérios
de inclusão adotados, nomeadamente: parturientes no 1º
estádio do trabalho de parto que verbalizaram dor; idade
superior a 18 anos; gravidez de baixo risco, de termo e com
feto único; critérios clínicos que garantissem a segurança na
intervenção e na sua avaliação. Foram respeitados os
requisitos éticos e legais para participarem e as participantes
assinaram o formulário de consentimento livre e esclarecido.
As parturientes que foram submetidas a outras estratégias
farmacológica ou não farmacológicas para alívio da dor,
foram excluídas.
O estudo foi realizado em duas maternidades portuguesas
(uma pública e outra privada), na área metropolitana de
Lisboa, no período compreendido entre junho de 2018 a
dezembro de 2021 (realça-se que o período de tempo
relativo à colheita de dados foi prolongado devido às
restrições impostas pela pandemia pelo SARS Cov-2 em
Portugal).
Riscos/Benefícios para as participantes
A intervenção (duche terapêutico) não implicava riscos
previsíveis para as parturientes ou para os fetos. Segundo o
American College of Nurse Midwives22, a investigação de
alta qualidade valida que a utilização de hidroterapia para
alívio da dor durante o trabalho de parto não aumenta o
risco para parturientes ou recém-nascidos saudáveis quando
são seguidas diretrizes clínicas baseadas em provas. A
verificação das condições clínicas necessárias à garantia da
segurança para a participação de cada parturiente foi da
responsabilidade do enfermeiro obstetra que estava a
acompanhar a parturiente. A utilização desta estratégia
implicou uma reorganização dos espaços e do equipamento
de forma a disponibilizar os recursos físicos necessários para
o acesso e a aplicação do duche terapêutico, a preservar a
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / novembro 2023 |
Artigo Original Quantitativo
privacidade e a intimidade das parturientes, e a garantir a
segurança durante o procedimento de que se destaca a
prevenção de alterações bruscas na temperatura da água e a
prevenção do risco de quedas. Os benefícios relativos à
participação das parturientes neste estudo disseram respeito
ao alívio da dor como resultado da intervenção proposta.
Instrumento de colheita de dados
Foi desenvolvido um inquérito por questionário que incluía
duas partes. A primeira, remetia para a caracterização
sociodemográfica e obstétrica das participantes e incluía os
seguintes itens: idade, escolaridade, nacionalidade, índice
obstétrico, local de vigilância de gravidez,
elaboração/negociação de plano de parto, frequência do
curso de preparação para o parto e para a parentalidade e a
inclusão do duche terapêutico nesse curso. Na segunda
parte, o instrumento incluía questões relativas à localização
da dor (pélvica, lombar ou em mais do que um local), à
duração da aplicação da água, aos locais de aplicação, e à
avaliação do nível de dor em quatro momentos (antes da
intervenção, imediatamente após, aos 10 minutos e aos 20
minutos após a intervenção). Para a avaliação da dor foi
utilizada a escala numérica com 11 pontos. Esta escala
consiste numa régua dividida em onze partes iguais,
numeradas, sucessivamente, de 0 (que corresponde a o ter
dor) a 10 (que corresponde à dor máxima).23 Esta régua foi
utilizada na sua versão horizontal e a intensidade da dor foi
sempre a referida pela parturiente que foi registada pelos
enfermeiros obstetras nos diferentes momentos de
avaliação. Todas as parturientes receberam uma explicação
prévia da escala com linguagem simples e acessível e foi
confirmado que compreendiam corretamente o seu
significado e forma de utilização.
Aspetos éticos
Foi obtido o parecer favorável das Comissões de Ética para
a Saúde das instituições envolvidas (RNEC: 20170700050).
Foi obtido o consentimento informado sob a forma escrita
de todas as parturientes e foi reforçado que poderiam
interromper a participação em qualquer altura, sem qualquer
tipo de consequência e sem terem de explicar as razões. As
participantes foram também informadas de que informação
recolhida seria tratada como confidencial, seria codificada e
introduzida numa base de dados para análise estastica e
somente seria utilizada para a finalidade a que o estudo se
propõe. O sigilo e o anonimato foram garantidos, bem
como a privacidade e a intimidade durante a intervenção.
Todos os procedimentos a Declaração de Helsínquia e as
diretrizes e regulamentos relevantes.
Intervenção
A intervenção terapêutica consistia na aplicação do duche
terapêutico. A todas as potenciais participantes, foi
proporcionada informação prévia sobre a intervenção pelo
enfermeiro obstetra e foi avaliada a disponibilidade para a
intervenção. Em todas as situações foi avaliada a evolução
do trabalho de parto antes da intervenção e foram
auscultados os batimentos cardíacos fetais antes e depois da
intervenção.
Foi dada a liberdade de escolha dos locais para aplicação da
água e foi efetuado o registo dos locais nos quais as
parturientes incidiram com o chuveiro. A duração da
aplicação da água foi registada em intervalos de tempo:
inferiores a 10 minutos, entre 10 e 20 minutos e superiores
a 20 minutos. No que diz respeito à temperatura, optou-se
por garantir que o duche era efetuado com água quente, mas,
que a temperatura era ajustada por cada parturiente de forma
a proporcionar bem-estar e conforto.
Resultados
As parturientes que participaram no estudo apresentavam
idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos e uma idade
média de 30 anos (M=29.96) com um desvio padrão de 6
(DP=5.54). No que concerne ao país de origem, 77% eram
de origem portuguesa, 11% brasileiras, 5% cabo-verdianas,
4% angolanas e os restantes 3% eram australianas, italianas
e russas (1% cada). Relativamente ao nível de escolaridade,
50% tinham curso superior (bacharelato 3%, licenciatura,
mestrado e doutoramento 47%), 35% tinham entre o 10º e
o 12º ano e as restantes, o 4º ano.
Das participantes, 69% eram primíparas (mães pela
primeira vez) e não frequentaram qualquer curso de
preparação para o parto. As restantes 31% frequentaram
cursos de preparação e 26% destas referiram que a temática
da hidroterapia tinha sido abordada.
A avaliação da dor foi efetuada antes da intervenção como
padrão comparativo do nível de dor antes da aplicação da
água e após aplicação (imediatamente após aplicação, 10
minutos após e 20 minutos após) (Figura 1).
| Tereso, A.
Artigo Original Quantitativo
Figura 1 - Distribuição do nível de dor segundo a localização da dor [Mean+-2 Standard Error (SE)]
Para analisar os níveis médios de dor mediante o tempo de
aplicação da água, usou-se como referência o valor médio
da dor antes da sua aplicação (Mean=6,85, SE=0,22).
Comparativamente com os resultados que se observam na
Figura 2, verifica-se que independentemente dos tempos de
aplicação de água, o nível médio de dor diminui
imediatamente após a aplicação, constatando-se o seu
aumento progressivo aos 10 e aos 20 minutos. No entanto,
o tempo de aplicação da água em minutos mostra uma
maior dispersão dos dados quando é inferior a 10 minutos
e superior a 20, relativamente ao tempo intermédio entre
10 e 20 minutos.
Figura 2 - Distribuição do nível de dor segundo o tempo de aplicação da água
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / novembro 2023 |
Artigo Original Quantitativo
Foram analisados os três momentos de avaliação da dor
relacionados com o local onde foi aplicada a água (zona
pélvica, lombar ou em mais do que um local).
Como ilustra a Figura 1, o acréscimo do nível de dor
(pélvica, lombar e em mais do que um local), tem início
imediatamente após a aplicação da água para os momentos
dos 10 e dos 20 minutos após a aplicação, embora com uma
maior dispersão dos dados quando a dor é localizada na
região lombar.
A ANOVA de medições repetidas, mostra que os
resultados foram estatisticamente significativos
[)(2,10)=23,12; SƧ2p Hư @$DQiOLVH
de contrastes entre a primeira medição (antes da aplicação
da água) e as restantes medições, revelou diferenças
estatisticamente significativas com exceção da análise de
contraste entre a primeira e a segunda medição que revelou
diferenças significativas entre o nível médio de dor avaliado
imediatamente após a aplicação da água e 10 minutos após
a aplicação [()() S ƧSHư @
Contudo, a análise SRVWKRF revelou que após os 20 minutos,
as diferenças entre as médias não eram significativas
(S>0.05).
Discussão
Constata-se que na maioria dos estudos sobre a aplicação
terapêutica do duche de água quente, uma grande parte dos
autores, mencionados como referências ou mobilizados na
discussão dos resultados, investigaram apenas o efeito da
hidroterapia aplicada através do banho de imersão como é o
caso de Benfield HWDO.4, Simkin e Bolding 20, Eckert HWDO. 24,
Cluett HW DO. 25, Silva HW DO. 26 and Gallo HWDO. 27. Destes,
destacam-se Eckert HW DO. 24 que, contrariamente a todos os
outros, concluem que a imersão em água quente não confere
nenhum benefício claro para as parturientes e que quando é
UHDOL]DGDFRPDWHPSHUDWXUDGDiJXDVXSHULRUDʃ&SRGH
ser prejudicial para o feto.
No âmbito da aplicação da hidroterapia para alívio da dor
durante o trabalho de parto, é importante referir que o
duche de água quente tem especificidades e proporciona
contributos que se distinguem dos do banho de imersão.
Johnson HWDO.28 afirmam que habitualmente as parturientes
utilizam o duche de água quente, adotando posições
verticais, o que inclui permanecer de pé, balançar-se,
agachar-se ou sentar-se e que podem ir alternando posições
no duche para direcionarem os jatos para onde for
necessário para proporcionar alívio da dor ou efeitos
calmantes. Assim, o duche oferece inúmeros benefícios
durante o trabalho de parto que são proporcionados pelo
movimento, tais como o alívio da dor, aumento do sentido
de autoeficácia, tranquilidade, conforto e perceção de
controlo sobre o ambiente e a experiência do parto.28
Stark18 também refere que o duche terapêutico promove e
facilita o trabalho de parto fisiológico através do impacto
rítmico da água quente que pode proporcionar uma
distração sensorial agradável, através da liberdade de
movimentos e através da deambulação que o duche implica
devido à necessidade de caminhar para entrar e sair do
duche.
Gayeski HW DO.29 avaliaram a aplicação de métodos não
farmacológicos para alívio da dor durante o trabalho de
parto, do ponto de vista das primíparas (n=188), no dia da
alta hospitalar e constataram que o duche de água quente era
o segundo método não farmacológico mais usado (91.5%)
[o suporte emocional proporcionado pelo acompanhante da
parturiente era o primeiro (97.3%)]. Neste contexto é
também importante mencionar, que alguns autores
consideram que há escassez de evidência científica para
suportar o duche de água quente como uma intervenção
terapêutica. Destes, destacam-se Simkin e O’Hara30, e
Stark18 que afirmam que, se por um lado o duche é
considerado como uma estratégia de coping eficaz durante
o trabalho de parto, por outro constata-se uma escassez de
investigação acerca da sua eficácia.
Da investigação desenvolvida com o objetivo de avaliar o
efeito terapêutico do duche de água quente para alívio da
dor durante a primeira fase do trabalho de parto, realçamos,
o trabalho de Davim HWDO.31 no qual foi observado um alívio
significativo na dor das parturientes após a aplicação do
duche com água à temperatura ambiente, e o estudo
realizado por Barbieri HWDO.32 em que foi utilizado o duche
com água a 37ºC direcionado para a região lombo sagrada
durante 30 minutos, e no qual, os resultados evidenciaram
que não houve diferença significativa no score de dor
avaliado antes da intervenção e 1 hora após. Tal como
Barbieri HW DO.32, Stark18 no estudo que publicou em 2013,
concluiu que o duche terapêuticoo reduziu
significativamente a perceção de dor nas participantes.
Nesse estudo, a direção do jato de água e a temperatura
poderiam ser ajustadas pelas parturientes, e por motivos de
segurança, as parturientes permaneciam sentadas durante o
procedimento.18 Neste estudo a avaliação da dor foi
realizada 10 minutos depois da intervenção e o autor
considerou que se a dor tivesse sido avaliada antes da
parturiente sair do duche, poderia ter havido uma redução
mais evidente e os resultados poderiam ter sido diferentes.
Com resultados diferentes, refere-se o estudo realizado por
Santana HWDO.33, que mostra de uma forma mais esclarecedora
os benefícios do duche de água quente, ao mencionar nas
suas conclusões, que, na fase ativa do trabalho de parto,
quando a intervenção tem uma duração superior a 20
minutos e com uma temperatura entre 37 e 39ºC, é efetiva
na redução da intensidade da dor. Com resultados no
mesmo sentido realçam-se ainda os contributos do estudo
que Stark17 realizou em 2017, no qual concluiu que o grupo
que foi submetido à intervenção, durante 30 minutos (este
período de tempo foi definido com base na pesquisa
realizada por Benfield HWDO.34, cujos resultados com o banho
de imersão com uma duração de 15 minutos revelaram
diferenças significativas) apresentaram reduções
| Tereso, A.
Artigo Original Quantitativo
estatisticamente significativas da dor, desconforto,
ansiedade e tensão e um aumento significativo do
relaxamento, e que o duche terapêutico era efetivo na
redução da dor.
Lee HWDO.8, observaram que a média do sore de dor foi menor
aos 10 minutos após o duche do que aos 20 minutos após.
Apesar de não terem avaliado a dor imediatamente após a
aplicação da água e não terem incluído o registo da
localização da dor nem dos locais de aplicação da água,
apresentam resultados semelhantes aos encontrados no
estudo que se apresenta e que destaca a efetividade do duche
de água quente pelo menos em dois momentos após a
aplicação da água, apesar de no terceiro momento (20
minutos após a aplicação) se tenha verificado um
decréscimo da ação da intervenção. Lee HWDO.8 que definiram
como temperatura adequada para a intervenção durante 20
minutos, os 37°C, afirmam que as parturientes do grupo
experimental, que foram submetidas à aplicação de água
quente através do duche, reportaram scores
significativamente mais baixos na Escala Visual Analógica
da Dor, na dilatação cervical entre 4 e 7 cm e experiências
de parto mais satisfatórias do que no grupo de controle.
Relativamente aos locais de aplicação da água, após a
aplicação de um duche durante 5 minutos em todo o corpo
ou na região dorsal, as parturientes puderam dirigir os jatos
de água para os locais que lhes proporcionassem mais
conforto. Não foi incluído o registo sobre a localização da
dor nem sobre os locais de aplicação da água após os 5
minutos.
Não obstante os estudos que apenas mencionam os efeitos
benéficos do duche terapêutico, é também importante
referir os estudos que não corroboram estes achados como
é o caso dos estudos publicados por Henrique HW DO.1 e
Cavalcanti HWDO.35, nos quais foi observado um aumento dos
scores de dor e a abreviação da duração do trabalho de parto
no grupo das parturientes submetidas à intervenção.
No que diz respeito à investigação desenvolvida com o
objetivo de avaliar aspetos específicos do duche terapêutico
ou duche de água quente, nomeadamente a temperatura, a
duração da aplicação e os locais de aplicação, referimos
Hecox HWDO.36 que defendem que o efeito da água para alívio
GDGRUpPDLRUTXDQGRDWHPSHUDWXUDYDULDHQWUHHʃ&
e quando é aplicada em períodos de tempo que variam entre
20 a 30 minutos, e Lee HWDO.8 TXHGHIHQGHPRVʃ&FRPR
temperatura ideal da água.
No presente estudo, os resultados mostraram que após
aplicação da água, o tempo em minutos interfere com o nível
da dor. Apesar do padrão nos três tempos de avaliação da
dor ser semelhante no intervalo entre os 10 e os 20 minutos,
constata-se uma diminuição do nível de dor mais acentuada
imediatamente após a aplicação da água, e os resultados
também parecem mais consistentes pois há uma menor
dispersão dos mesmos.
Conclusão
O duche terapêutico ou duche de água quente é uma
estratégia não farmacológica que no 1º estádio do trabalho
de parto, contribui para um alívio da dor seguro, mas
temporário, verificando-se o acréscimo do nível de dor
(pélvica, lombar e em mais do que um local), imediatamente
após a aplicação da água para o momento dos 10 e dos 20
minutos após a aplicação, embora com uma maior
dispersão dos dados quando a dor é localizada na região
lombar.
É fundamental que os benefícios desta estratégia se tornem
acessíveis às parturientes como uma das dimensões do
parto humanizado e que os enfermeiros promovam o
exercício do direito à autodeterminação da mulher, que
inclui a decisão livre e informada sobre estratégias não
farmacológicas de alívio da dor durante a primeira fase do
trabalho de parto.
Esta estratégia de alívio da dor não requer treino prévio das
parturientes nem a necessidade de recursos físicos
específicos, uma vez que a maioria das maternidades
portuguesas tem chuveiros de água quente disponíveis nas
casas de banho acessíveis às parturientes. No entanto, a
utilização do duche de água quente pode ter algum impacto
na afetação de recursos humanos, uma vez que implica a
disponibilidade de um enfermeiro para acompanhar a
parturiente durante o procedimento, o que, com as
restrições de pessoal no contexto da pandemia da SARS-
CoV-2, foi uma limitação.
É relevante que seja desenvolvida mais investigação sobre
o duche de água quente que permita não só avaliar o seu
efeito no alívio da dor, mas, também, na evolução do
trabalho de parto e na satisfação da parturiente e família.
Através da produção desse conhecimento e da sua
disseminação, pode-se contribuir para a visibilidade do
duche nas JXLGHOLQHV que orientam as práticas dos
enfermeiros obstetras, nos cursos de preparação para a
parentalidade e na uniformização dos recursos não
farmacológicos para o alívio da dor disponíveis nos blocos
de partos em Portugal.
Relacionando os resultados da investigação em que após a
intervenção e à medida que o tempo passa a dor aumenta
e, tendo em conta outros estudos que consideram que a
avaliação quando não é realizada imediatamente após a
intervenção apresenta níveis de dor mais elevados, seria
interessante fazer sempre avaliações da dor imediatamente
após a intervenção e em intervalos mais curtos,
nomeadamente aos 5 e aos 10 minutos.
Limitações do estudo
Como limitações deste estudo menciona-se: o tamanho da
amostra, o tipo de amostragem, as restrições decorrentes da
pandemia pelo SARS Cov-2 e o não ter sido avaliada a
temperatura da água do duche, pois, cada parturiente
regulou a temperatura de forma a sentir-se confortável.
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / novembro 2023 |
Artigo Original Quantitativo
Contribuições autorais
AT: Conceção e desenho do estudo; recolha de dados;
análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação
do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
FL: Conceção e desenho do estudo; recolha de dados.
RG: Conceção e desenho do estudo; recolha de dados.
HB: Conceção e desenho do estudo; elaboração do
manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
LC: Conceção e desenho do estudo; recolha de dados.
AC: Concão e desenho do estudo; recolha de dados;
análise e interpretação dos dados; análise estatística; redação
do manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesse e Financiamento
As autoras declararam não haver conflitos de interesse em
relação à autoria e, ou à publicação deste artigo. Declaram
ainda que as opiniões expressas neste artigo são da sua
autoria e não representam uma posição oficial da instituição
ou de algum agente financeiro.
Agradecimentos
As autoras agradecem às parturientes que voluntariamente
se disponibilizaram para participar neste estudo e às
enfermeiras e enfermeiros que integraram a equipa para a
colheita de dados.
Fontes de apoio / Financiamento
As autoras declararam que não houve financiamento.
Referências
1. Henrique AJ, Gabrielloni MC, Rodney P, Barbieri M.
Non-pharmacological interventions during childbirth
for pain relief, anxiety, and neuroendocrine stress
parameters: A randomized controlled trial. Int J Nurs
Pract [Internet]. 2018;24(3):e12642. Available from:
https://doi.org/10.1111/ijn.12642
2. Alehagen S, Wijma B, Lundberg U, Wijma K. Fear, pain
and stress hormones during childbirth. J Psychosom
Obstet Gynaecol [Internet]. 2005;26(3):153-165.
Available from:
https://doi.org/10.1080/01443610400023072
3. Alexander M, Sharma K, McIntire D, Wiley J, Leveno
KJ. Intensity of labor pain and cesarean delivery.
Anesth. Analg. 2001;92(6):1524-1528.
4. Benfield RD, Hortobágyi T, Tanner CJ, Swanson M,
Heitkemper MM, Newton ER. The effects of
hydrotherapy on anxiety, pain, neuroendocrine
responses, and contraction dynamics during labor. Biol
Res Nurs [Internet]. 2010;12(1):28-36. Available from:
doi:10.1177/1099800410361535
5. Newton ER, Schroeder BC, Knape KG, Bennett BL.
Epidural analgesia and uterine function. Obstet
Gynecol [Internet]. 1995;85(5 Pt 1):749-755. Available
from: https://doi.org/10.1016/0029-7844(95)00046-T
6. World Health Organization. Recommendations
Intrapartum care for a positive childbirth experience
[Internet] Geneva: World Health Organization; 2018.
[cited 2020 Aug 10]. 210 p. Available from:
http://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/26
0178/9789241550215-
eng.pdf;jsessionid=45FA83F4149A48DE3EBDBB67
EACADCD1?sequence=1.
7. Hodnett ED, Gates S, Hofmeyr GJ, Sakala C.
Continuous support for women during childbirth.
Cochrane Database Syst Rev [Internet]. 2013 Jul
15;7:CD003766. Available from:
doi:10.1002/14651858.CD003766.pub5
8. Lee SL, Liu CY, Lu YY, Gau ML. Efficacy of warm
showers on labor pain and birth experiences during the
first labor stage. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs
[Internet]. 2013;42(1):19-28. Available from:
https://doi.org/10.1111/j.1552-6909.2012.01424.x
9. Mesa do Colégio da Especialidade em Saúde Materna e
Obstétrica. Projeto maternidade com qualidade
[Internet]. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros; 2015 [cited
2020 Juin 3]. Available from:
https://www.ordemenfermeiros.pt/arquivo/colegios/
Documents/MaternidadeComQualidade/INDICAD
OR_Medidasnaofarmacologicas_ProjetoMaternidadeC
omQualidade.pdf.
10. American College of Nurse-Midwives. Position
statement: Hydrotherapy during labor and birth
[Internet].Silver Spring, MD: ACNM; 2014. Available
from:
https://www.midwife.org/acnm/files/ACNMLibrary
Data/UPLOADFILENAME/000000000286/Hydrot
herapy-During-Labor-and-Birth-April-2014.pdf
11. American College of Obstetricians and Gynecologists.
Immersion in water during labor and delivery.
Committee opinion nº 679 [Internet]. Washington:
ACOG; 2016. [cited 2021 Juin 10]. Available from:
https://www.acog.org/-/media/Committee-
Opinions/Committee-onObstetric-
Practice/co679.pdf?dmc=1&ts=20171203T22152645
33.
12. NICE. Intrapartum care for healthy women and babies.
Clinical guideline [Internet]. 2014 Dec. 3. [cited 2020
Juin 3]. Available from:
https://www.nice.org.uk/guidance/cg190.
13. Simkin P, Ancheta R. The labor progress handbook:
early interventions to prevent and treat dystocia. 3th ed.
Chichester: Wiley-Blackwell; 2011.
14. Tereso A. Coagir ou Emancipar? Sobre o papel da
enfermagem no exercício da cidadania das parturientes.
Coimbra: Formasau; 2005.
| Tereso, A.
Artigo Original Quantitativo
15. Mesa do Colégio da Especialidade em Saúde Materna e
Obstétrica. Maternidade com qualidade: Promover e
aplicar medidas não farmacológicas no alívio da dor no
trabalho de parto e parto. Indicador de evidência.
[Internet]. Lisboa: Ordem dos Enfermeiro; [n.d]. [cited
2021 Sept. 25], Available
from:https://www.ordemenfermeiros.pt/arquivo/cole
gios/Documents/MaternidadeComQualidade/INDIC
ADOR_Medidasnaofarmacologicas_ProjetoMaternida
deComQualidade.pdf.
16. Stark MA, Miller MG. Barriers to the use of
hydrotherapy in labor. J Obstet Gynecol Neonatal
Nurs. [Internet].2009;38(6):667-675. Available from:
doi:10.1111/j.1552-6909.2009.01065.x
17. Stark MA. Testing the effectiveness of therapeutic
showering in labor. J Perinat Neonatal Nurs. [Internet].
2017;31(2):109-117. Available from:
doi:10.1097/JPN.0000000000000243
18. Stark MA. Therapeutic showering in labor. Clin Nurs
Res [Internet]. 2013;22(3):359-374. Available from:
doi:10.1177/1054773812471972
19. Stark A, Craig J, Miller M. Designing an intervention:
therapeutic showering in labor. Appl Nurs Res
[Internet].2011;24(4):73-e77. Available from:
https://doi.org/10.1016/j.apnr.2011.07.002
20. Simkin P, Bolding A. Update on nonpharmacologic
approaches to relieve labor pain and prevent suffering.
J Midwifery Womens Health.[Internet].
2004;49(6):489-504. Available from:
doi: 10.1016/j.jmwh.2004.07.007
21. Marôco, J. Análise estatística com SPSS statistics. 7th
ed. Pero Pinheiro: ReportNumber; 2018.
22. American College of Nurse-Midwives. Hidrotherapy
during labor and birth. Position statement. 2014 April.
[cited 2021 Sept 25]. Available from:
http://www.midwife.org/acnm/files/ccLibraryFiles/
Filename/000000004048/Hyd rotherapy-During-
Labor-and-Birth-April-2014.pdf
23. Direção-Geral da Saúde. Dor como 5º sinal vital:
Registo sistemático da intensidade da dor. Lisboa:
Direção-Geral da Saúde; 2011.
24. Eckert K, Turnbull D, MacLennan A. Immersion in
water in the first stage of labor: a randomized controlled
trial. Birth [Internet]. 2001;28(2):84-93. Available from:
doi:10.1046/j.1523-536x.2001.00084.x
25. Cluett ER, Nikodem VC, McCandlish RE, Burns EE.
Immersion in water in pregnancy, labour and birth.
Cochrane Database Syst Rev. [Internet].
2004;(2):CD000111. Available from:
doi:10.1002/14651858.CD000111.pub2
26. Silva FMB, Oliveira SM, Nobre MR. A randomised
controlled trial evaluating the effect of immersion bath
on labour pain. Midwifery.2009;25(3):286-294
https://doi.org/10.1016/j.midw.2007.04.006
27. Gallo RBS, Santana LS, Marcolin AC, Marcolin AC,
Ferreira CHJ, Duarte G, Quintana SM. Recursos não
farmacológicos no trabalho de parto: protocolo
assistencial. Femina. 2011;39(1):41-48.
28. Johnson N, Nokomis Z, Stark, MA. The nurses’ role in
providing comfort during childbirth using ambulation
and hydrotherapy. Int J Nur Stud [Internet].
2018;3(1):123-131. Available from:
https://doi.org/10.20849/ijsn.v3i1.347
29. Gayeski ME, Brüggemann OM, Monticelli M, Santos
EK. Application of nonpharmacologic methods to
relieve pain during labor: The point of view of
primiparous women. Pain Manag Nurs. [Internet].
2015;16(3):273-284. Available from:
doi:10.1016/j.pmn.2014.08.006
30. Simkin PP, O'hara M. Nonpharmacologic relief of pain
during labor: systematic reviews of five methods. Am J
Obstet Gynecol [Internet]. 2002;186(5 Suppl
Nature):S131-S159. Available from:
doi:10.1067/mob.2002.122382
31. Davim R, Torres G, Dantas J, Melo E, Paiva C, Vieira
D, Costa I. Showering as a non pharmacological
strategy to relief the parturients pain. Rev Eletr Enferm.
[Internet]. 2008;10(3):600-609. Available from:
https://doi.org/10.5216/ree.v10.46588
32. Barbieri M, Henrique AJ, Chors FM, Maia L,
Gabrielloni, MC. Warm shower aspersion, perineal
exercises with Swiss ball and pain in labor. Acta Paul
Enferm [Internet]. 2013; 26(5): 478-84. Available from:
https://doi.org/10.1590/S0103-21002013000500012
33. Santana S, Gallo S, Ferreira J, Quintana M, Marcolin C.
Effect of shower bath on pain relief of parturients in
active labor stage. Rev. Dor. 2013;14(2):111-113
34. Benfield RD, Herman J, Katz VL, Wilson SP, Davis JM.
Hydrotherapy in labor Res Nur Health. [Internet].
2001;24(1):57-67 Available from:
https://doi.org/10.1002/1098-
240X(200102)24:1<57::AID-NUR1007>3.0.CO;2-J
35. Cavalcanti ACV, Henrique AJ, Brasil CM, Gabrielloni
MC, Barbieri M. Terapias complementares no trabalho
de parto: ensaio clínico randomizado. Rev Gaúcha
Enferm [Internet]. 2019;40:e20190026. Available from:
https://doi.org/10.1590/1983-1447.2019.20190026.
36. Hecox B, Weisberg J, Andemicael-Mehreteab T, Sanko
J. Integrating physical agents in rehabilitation 2th ed.
Upper Saddle River: Prentice Hall Press; 2005.
| 155
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Quantitativo
Como citar este artigo: Rego R, Sousa E, Pinto F. Capacitar o utente hipocoagulado e família na gestão da
doença: uma intervenção da Enfermagem Comunitária.
Pensar Enf [Internet]. 2023 Out; 27(1):155-161
.
Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.276
Capacitar o utente hipocoagulado e família na
gestão da doença: uma intervenção da Enfermagem
Comunitária
Training hypocoagulated users and their families in
disease management: a community nursing
intervention
Resumo
Introdução
As doenças cérebro-cardiovasculares necessitam de um acompanhamento regular e
especializado, onde se inclui as patologias que necessitam de anticoagulantes orais, com o
intuito de diminuir os internamentos por descompensação clínica, manter a pessoa ativa e
diminuir o seu grau de dependência, necessitando de uma parceria
profissional/utente/família na sua gestão. O projeto foi sustentado pelo referencial teórico
de Dorothea Orem, Teoria do Défice do Autocuidado.
Objetivo
Capacitar o utente hipocoagulado e família na gestão da doença.
Métodos
Aplicado a metodologia do planeamento em saúde. O diagnóstico de situação foi
desenvolvido com recurso a questionários aplicado ao utente no sentido de validar o seu
conhecimento sobre a gestão da doença e um segundo aplicado à família para compreender
oseu conhecimento sobre as necessidades do seu familiar. A amostra não probabilística
por conveniência, foi constituída por 18 utentes e 5 familiares nas consultas realizadas
durante o período de estágio.
Resultados
O diagnóstico de situação revelou défice de conhecimento sobre a gestão da doença: no
autocuidado, regime terapêutico e sua interação, bem como défice do papel da família no
acompanhamento do seu familiar e na perceção das suas necessidades. Utilizou-se como
estratégia, a educação para a saúde no sentido de melhorar os problemas identificados
através da capacitação dos utentes e famílias intervencionadas. Após a intervenção
verificou-se um aumento de conhecimentos em todos os pontos abordados: autocuidado
(92,85%), regime terapêutico e sua interação (85,71%). Quanto à intervenção familiar
verificou-se que os participantes são familiares conviventes com os utentes hipocoagulados
e já assumiram o papel de cuidador.
Conclusão
Este projeto contribuiu para o conhecimento dos utentes hipocoagulados e família, através
da intervenção da enfermagem comunitária, bem como a reflexão sobre como desenvolver
estratégias com as famílias, no sentido de as capacitar na deteção precoce de intervir no
autocuidado do seu familiar e na gestão dos papeis familiares.
Palavras-chave
Utentes; Família; Anticoagulantes Orais; Educação para a Sde; Enfermagem
Comunitária.
Rute Rego1
orcid.org/0000-0001-5074-2836
Edmundo Sousa2
orcid.org/0000-0003-2136-4471
Fátima Pinto3
1 Mestrado. ACES Arrábida/USF Sesimbra, Sesimbra,
Portugal.
2 Doutoramento. Centro de Investigação, Inovação e
Desenvolvimento em Enfermagem de Lisboa
(CINDUR)/ESEL, Lisboa, Portugal.
3 Mestrado. ACES Arrábida/USF São Filipe, Setúbal,
Potugal.
Autor de correspondência
Rute Rego
E-mail: rute-rego@hotmail.com
Recebido: 19.04.2023
Aceite: 14.09.2023
| 5HJR5
Artigo Original Quantitativo
Abstract
Introduction
Brain and cardiovascular diseases require regular and
specialized follow-up, including those pathologies that
require oral anticoagulants, in order to reduce
hospitalizations due to clinical decompensation, maintain
the person active, and reduce their degree of dependence.
This requires a professional/patient/family partnership in
their management. This project was based on Dorothea
Orem's Theory of Self-Care Deficit.
Objective
To train the hypocoagulated users and their families in
disease management.
Methods
The health planning methodology was applied. The
situation diagnosis was developed using questionnaires
applied to the patient to validate their knowledge about
disease management and a second one applied to the family
to understand their knowledge about their relative's needs.
The non-probability convenience sample was composed of
18 patients and 5 family members in the consultations
performed during the internship period.
Results
The situation diagnosis revealed a deficit of knowledge
about disease management: in self-care, therapeutic
regimen, and their interaction, as well as a deficit of the
family's role in monitoring their family member and
perceiving their needs. Health education was used as a
strategy to improve the problems identified through the
empowerment of users and families. After intervention,
there was an increase in knowledge in all the addressed
points: self-care (92.85%), therapeutic regime and its
interaction (85.71%). As for the family intervention, we
found that participants are family members who live with
hypocoagulated patients and have already taken over the
role of caregiver.
Conclusion
This project contributed to the knowledge of
hypocoagulated patients and family, through the
intervention of community nursing, as well as the reflection
on how to develop strategies with families, to empower
them in the early detection of intervention in the self-care
of their family member and in the management of family
roles.
Keywords
Patients; Family; Oral Anticoagulants; Health Education;
Community Nursing.
Introdução
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte
nos estados-membros da União Europeia, representando
cerca de 36% das mortes em 2010, como refere o
PNDCCV.1 As doenças cérebro-cardiovasculares são
doenças que necessitam de acompanhamento efetivo e
especializado na sua gestão com o intuito de diminuir
internamentos por descompensação clínica, manter a
pessoa ativa e diminuir o seu grau de dependência. Estão
incluídas as doenças cardiovasculares que necessitam
anticoagulantes orais (ACO), o que requer uma vigilância
de saúde mais regular e de uma parceria
profissional/utente/família na sua gestão. Verifica-se um
decréscimo de internamentos por doenças do aparelho
circulatório, 8,1% em 2016, face a 2011 e um aumento de
internamentos por insuficiência cardíaca, 20,3% em 2016,
face a 2011.1
A enfermagem de saúde comunitária e de saúde pública
“Contribui para o processo de capacitação de grupos e
comunidades”2(p.8667), promovendo intervenções através de
ações de educação para a saúde (EpS) na comunidade,
acompanhando as famílias no seu projeto de saúde,
tornando-os parceiros e decisores nos seus cuidados com o
objetivo de melhorar a qualidade de vida e obter ganhos em
saúde. A EpS, como estratégia de intervenção, deve
construir um processo interativo “orientado para a
utilização de estratégias que ajudem os indivíduos e a
comunidade a adoptar ou modificar comportamentos que
permitam um melhor nível de saúde”.3(p.1) A revisão da
literatura demonstra a importância das sessões de EpS para
a capacitação dos utentes no desempenho do seu
autocuidado e na gestão da sua doença com maior
segurança e eficácia.
Este projeto norteou-se pela carta de Otawa4(p.3,4), na
condição básica Capacitar “centra-se na procura da
equidade em saúde”, no sentido de contribuir para a
diminuição das desigualdades existentes, no qual se torna
“necessária uma sólida implantação num meio favorável,
acesso à informação, estilos de vida e oportunidades que
permitam opções saudáveis”. A intervenção focou-se na
ação comunitária em que “a promoção da saúde
desenvolve-se através da intervenção concreta e efetiva na
comunidade, estabelecendo prioridades, tomando decisões,
planeando estratégias e implementando-as com vista a
atingir melhor saúde”; no desenvolvimento de
competências pessoais, através de acesso à informação,
EpS melhorando as suas competências no seu autocuidado.
Assim como, na Teoria do Défice do Autocuidado de
Dorothea Orem, que tem como premissa “todos possuem
potencial, em diferentes graus, para cuidar de si mesmo e
dos que estão sob a sua responsabilidade”5(p.614).
É fundamental compreender que a família é um sistema
complexo, com estrutura própria que se desenvolve e se
transforma ao longo do ciclo vital de acordo com as
vivências experienciadas. Verificou-se nesta comunidade de
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR|
Artigo Original Quantitativo
intervenção que as famílias participantes se encontram, na
última etapa do ciclo vital, como refere Figueiredo.6 Esta é
uma etapa transformativa, no sentido de compreender as
fragilidades de quem necessita de apoio bem como daquele
que o presta. Torna-se assim, preponderante, o papel da
enfermagem, no acompanhamento das famílias,
identificando as transformações ao longo do ciclo vital,
prestando informação, apoiando-as na tomada de decisão,
colaborando nas estratégias com o intuito de as manter
capacitadas no seu autocuidado, gerindo os seus papeis
familiares através de uma comunicação positiva, eficaz e
efetiva.
O presente artigo pretende expor, de forma sucinta, o
projeto de intervenção comunitária desenvolvido ao longo
do estágio, realizado no âmbito do Mestrado em
Enfermagem, na área da especialização em Enfermagem
Comunitária.
Métodos
“O Planeamento em saúde tem de ser adequado à realidade,
respondendo de forma assertiva e pragmática às
necessidades e/ou problemas sentidos na comunidade ou
em qualquer organização de saúde, supostamente ao
serviço dessa comunidade”.7(p.67) Foi através da
metodologia do planeamento em saúde que foi
desenvolvida a intervenção do projeto, descrevendo,
analisando e avaliando todo o percurso formativo e
interventivo na comunidade em acompanhamento,
seguindo as várias etapas de desenvolvimento: diagnóstico
da situação, definição de prioridades, fixação de objetivos,
seleção de estratégias, elaboração de programas e projetos,
preparação de execução e avaliação. Estas etapas
permitiram traçar um caminho sustentado e sistematizado
pois “exige uma metodologia lógica e racionalµ .7(p.29)
É um estudo descritivo exploratório desenvolvido após o
parecer favorável da comissão de ética para a saúde com a
referência 6272/CES/2021.
População-alvo e amostra
A população-alvo do projeto foi constituída pelos utentes
inscritos na USF, num total de 52 utentes, com os critérios
de inclusão: utentes hipocoagulados com necessidade de
controlo de INR, acompanhados em consulta no período
de estágio, que tenham capacidade de compreensão, leitura
e escrita, para responder ao questionário e que aceitem
participar no projeto. Desses, um total de 18 utentes
integraram a amostra, sendo esta não probabilística e por
conveniência.
Instrumento de recolha de dados
Para se iniciar a primeira etapa da metodologia do
planeamento em saúde Diagnóstico de situação, foi
construído um questionário, validado por peritos e
realizado pré-teste , no sentido de compreender o
conhecimento dos utentes hipocoagulados e família,
constituído por: Parte A variáveis sociodemográficas que
nos permite conhecer a amostra em estudo; Parte B -
variáveis motivacionais, no qual vai permitir compreender
o envolvimento/conhecimento dos utentes na gestão da
sua doença e Parte C, variáveis sociorrelacionais, que nos
poderá permitir analisar a relação utente/enfermeiro. Para
compreender o papel da família do utente hipocoagulado
foi aplicado o Modelo Dinâmico de Avaliação e
Intervenção Familiar (MDAIF), matriz operativa, na
dimensão funcional aos familiares que acompanharam os
utentes à consulta de enfermagem de hipocoagulação, no
sentido de identificar as áreas de intervenção que a família,
como prestador de cuidados executa. A dimensão funcional
avalia a dependência dos diversos tipos de autocuidado
descritos pelo ICN (2002b): vestuário, comer, beber, ir ao
sanitário, comportamento sono-repouso, atividade de lazer
e atividade física, bem como o conhecimento sobre a
dependência da gestão do regime terapêutico, da
autovigilância e da autoadministração de medicamentos,
referido por Figueiredo.6(p.92) O que nos permitiu, tanto
avaliar as necessidades do membro da família como as do
familiar cuidador. A colheita de dados foi realizada entre
outubro e novembro de 2021, após autorização da
comissão de ética para a saúde.
Resultados
A idade dos utentes da amostra varia entre os 55 e 88 anos
de idade, sendo a média 73,61 anos. Verifica-se que 67%
são do sexo masculino e 44% feminino, dos quais 67%
completaram o ensino básico. Em relação ao agregado
familiar, verifica-se que 72% dos inquiridos vive com o
conjugue, 22% com um familiar e 6% sozinhos.
Quanto ao conhecimento sobre a doença, 100% dos
inquiridos identifica o nome do medicamento prescrito,
dos quais 72% identifica o intervalo terapêutico adequado
para si. No entanto, 28% dos inquiridos não sabe o motivo
por que toma a medicação anticoagulante. Quanto às
interações medicamentosas com o ACO, 89% não
identifica medicamentos que possam interferir, mas em
relação aos alimentos e situações de saúde 50% conseguem
dar alguns exemplos que possam alterar o valor terapêutico
ou mesmo alimentos que terão de suspender. E, por último,
a importância da consulta de enfermagem, em que 100%
dos inquiridos referem que é uma consulta acessível e
importante para a monitorização e vigilância do estado de
saúde.
Quanto ao questionário dirigido à família, responderam três
familiares e um cuidador não familiar. Verificou-se que os
utentes hipocoagulados apresentam dependência em várias
áreas do autocuidado: Gestão do Regime Terapêutico,
Autocuidado Atividade Física, Autocuidado Atividade de
lazer e Autocuidado Higiene, como mostra o Gráfico1, no
qual o prestador de cuidados, maioritariamente familiar,
assume essas funções como suas. Com base na aplicação da
| 5HJR5
Artigo Original Quantitativo
matriz operativa do MDAIF, verificou-se uma baixa adesão
familiar no acompanhamento e na supervisão das
necessidades do seu membro familiar.
Gráfico 1 - Análise das áreas de dependência no autocuidado
De acordo com os resultados obtidos na etapa do
diagnóstico em saúde. Procedeu-se à identificação e
formulação dos diagnósticos em enfermagem, de acordo
com a taxonomia CIPE, versão 2015: Défice de
conhecimento no âmbito do processo patológico e do
regime dietético; Capacidade do autocuidado
comprometido; Autogestão da doença comprometido;
Conhecimento do papel da família comprometido e
capacidade do familiar em gerir a doença comprometido.
Do diagnóstico de situação à execução
Após a identificação dos problemas de saúde e a
formulação dos diagnósticos de enfermagem, procedeu-se
à hierarquização dos mesmos. A definição de prioridades,
segunda etapa da metodologia do planeamento em saúde,
foi realizada com recurso a um conjunto de peritos e
concretizada com base nos critérios da grelha de análise,
adaptado de Hartz.8 De acordo com os resultados obtidos
e com vista a minimizar ou resolver os problemas
identificados, deu-se primazia aos primeiros quatro: Défice
de conhecimento do regime dietético, Autogestão da
doença comprometido, Conhecimento da família sobre a
capacidade do familiar gerir a doença comprometido e
fice de conhecimento do processo patológico.
Com base nos problemas priorizados foram definidos os
objetivos geral e específicos, sendo que, formular objetivos,
é a etapa seguinte que nos permite viabilizar o projeto, no
sentido de ser “possível traçar um caminho das estratégias
de intervenção (…)a partir do estado atual de determinada
comunidade, que estado pretendemos atingir, onde e até
quando”.7(p.23) Assim, o objetivo geral é capacitar o utente
hipocoagulado e família na gestão da doença. Como
objetivos específicos delineou-se: Identificar alimentos que
mais interferem com o ACO; Reconhecer situações de
perigo para os utentes que tomam ACO; Relacionar as
situações de perigo com a ação a tomar para que seja
diminuído o risco, Apoiar a família na identificação das
áreas que o seu familiar necessita de suporte e
Compreender o processo patológico. De forma a
quantificar e qualificar as atividades a desenvolver
definiram-se indicadores de atividade, adesão e qualidade.
Segue-se a quarta etapa da Metodologia do Planeamento
em Saúde Seleção de Estratégias, que tem como função
“um conjunto de técnicas específicas, organizadas com o
fim de alcançar um determinado objetivo reduzindo, assim,
um ou mais problemas de saúde”.9(p.65) Foram delineadas as
seguintes estratégias sustentadas na teoria do défice do
autocuidado de Dorothea Orem: Envolvimento da Equipa
de Enfermagem, apresentação do projeto à Equipa de
Enfermagem; Reuniões informais com as colegas para as
manter informadas sobre o desenvolvimento do projeto e
solicitar opinião. Informação e Comunicação, participação
da mestranda em consultas de hipocoagulação para
estabelecer uma relação com utentes/família e dar
conhecimento do projeto; Exposição da informação em
local visível sobre as atividades a desenvolver; Informação
sobre as atividades desenvolvidas reforçadas nas consultas
com as suas enfermeiras de família; Promoção do
Autocuidado, realização de duas sessões de EpS na USF;
entrega de uma FKHFNOLVW para ajudar nos registos de
alterações do bem-estar no seu dia-a-dia; entrega de umIO\HU
com resumo dos cuidados a ter para manter uma boa saúde;
Proximidade de Cuidados de Enfermagem, realização do
manual de boas práticas da consulta de enfermagem não
presencial. Estas estratégias tiveram como propósito dar
resposta atempadamente às dificuldades manifestadas pelo
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5
Autocuidado Higiene
Autocuidado Vestuário
Autocuidado Comer
Autocuidado Ir ao Sanitário
Autocuidado Comportamento sono-repouso
Autocuidado Atividade de lazer
Autocuidado Atividade Física
Gestão do Regime Terapêutico
Auto-administração de medicamentos
Não Sim
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR|
Artigo Original Quantitativo
utente e família. Manter o utente capaz de se autocuidar
“desempenho ou a prática de atividades que os indivíduos
realizam em seu benefício, para manter a vida, a saúde e o
bem-estar”10(p.84) é torná-lo autónomo no seu autocuidado.
As sessões de EpS realizadas tiveram como finalidade
promover a saúde na comunidade em intervenção,
viabilizando o seu desenvolvimento e melhorando o
conhecimento sobre a doea. Como refere a carta de
Ottawa (1986), “é um processo que visa aumentar a
capacidade dos indivíduos e das comunidades para
controlarem a sua saúde no sentido de a melhorar,
entendendo a saúde como (um recurso para a vida e não
como uma finalidade de vida8(p.160)
Avaliação
Após a execução das intervenções, fez-se a avaliação do
projeto com base nas metas pré-definidas. As metas foram
definidas com base no diagnóstico de situação. No final de
cada sessão de EpS foi aplicado uma FKHFNOLVW de avaliação
sobre os temas abordados. Desta forma, foram avaliados os
conhecimentos dos utentes e família, que participaram nas
sessões, quanto aos temas abordados nas duas sessões
realizadas, coadjuvando-se aos objetivos e indicadores de
resultado definidos para este projeto de intervenção, como
exposto na Tabela 1.
Tabela 1 - Avaliação dos diagnósticos de Enfermagem Priorizados aplicados a 14 participantes, dos quais 4 são familiares que
participaram nas duas sessões de EpS
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem de utentes/ família intervencionados
consigam identificar 5 alimentos que mais interferem
com o ACO.
80% 85,71%
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem de utentes/ família intervencionados
consigam reconhecer 3 situações de perigo.
Percentagem de utentes e família intervencionados
consigam identificar 2 ações para diminuir o risco.
şŖƖ şŘǰŞśƖ
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem dos familiares intervencionados
identifiquem 3 áreas no qual o seu familiar necessita
de suporte.
śŖƖ ŗŖŖƖ
Indicador de Resultado
Meta
Resultado
Percentagem de utentes/ família intervencionados
identifiquem o motivo da toma do anticoagulante.
70% 92,85%
O quadro 1 mostra que as metas propostas foram atingidas
apesar das dificuldades sentidas na adesão das famílias ao
projeto e na motivação de todos os utentes que
responderam ao questionário participarem nas sessões de
EpS. As duas sessões programadas tiveram maior adesão
dos utentes, devido às sessões terem sido realizadas no dia
da sua consulta, e por isso, o número de participantes ter
sido inferior aos que responderam ao questionário.
Verificou-se que os utentes, na sua maioria idosos,
mantem-se sozinhos na ida às consultas de vigilância e
monitorização para manterem uma gestão da doença
dentro das suas capacidades físicas e mentais.
Discussão
Este projeto veio reforçar o mapeamento realizado através
da VFRSLQJ UHYLHZ, em que como refere Madrid12(p.463) “The
education level and patients’ knowledge have a direct
influence on the global management of the
anticoagulation; ou comoAlphonsa13(p.668) “Patient’s
knowledge about OAT was suboptimal. The findings
support the need for educational interventions to improve
the knowledge regarding OAT and, thereby, achieve an
appropriate and safe secondary prevention of stroke.”, bem
como, Viola, Fekete e Csoka14(p.1265) referem “The lowest
frequency of correct answers regarded the questions on
drug interactions (10.2%) and diet (11.4%).” E na
necessidade de “(…)developing new strategies for patient
education to improve knowledge on the treatment with
oral anticoagulants.”. O presente projeto através dos
questionários aplicados também demonstrou uma
população idosa (moda 87 anos de idade), com baixa
escolaridade (67% com o ensino básico), em que 28% da
amostra não sabe justificar porque toma o ACO e 78% não
reconhece a interação medicamentosa mas quanto aos
alimentos que possam interferir, 50% consegue identificar
5 alimentos. Após a intervenção com este grupo, através da
EpS, verifica-se uma aquisição de novos conhecimentos
| 5HJR5
Artigo Original Quantitativo
sobre a sua doença, sinais de alerta, ações a realizar para
minimizar o risco promovendo uma melhoria no
autocuidado. Estes momentos de partilha, organizados
pelos enfermeiros que cuidam desta comunidade,
constroem momentos de grande aprendizagem, na medida
em que o grupo-alvo não só participa de forma ativa, como
questiona e identifica dificuldades no sentido de se
autocapacitarem na gestão da doença. Todos os artigos
salientam o fator educacional como ponto essencial para a
compreensão e participação eficaz do utente na gestão da
doença, demonstrando assim, a importância das sessões de
EpS e como são pertinentes para a capacitação dos utentes.
Esta é uma área de intervenção do enfermeiro especialista
de enfermagem de saúde comunitária, no qual terá que não
só investir nestas ações para melhorar a literacia em saúde
da comunidade bem como desenvolver e documentar
através da elaboração de investigação clínica, uma vez que
não se identifica artigos realizados pela Enfermagem nesta
área de intervenção.
Conclusão
O papel do EEEC é fundamental no acompanhamento e
orientação da comunidade na gestão do seu projeto de
saúde. Através de EpS promoveu-se momentos de
aprendizagem e de crescimento no sentido de capacitar a
comunidade na melhoria do seu estado de saúde. Com base
no diagnóstico de saúde realizado e com o suporte da
Teoria do défice do autocuidado de Dorothea Orem,
através do sistema de apoio-educação, foi possível
identificar as carências no autocuidado do utente
hipocoagulado e família na gestão da doença e delinear
estratégias para os capacitar de forma a melhorarem as
competências no seu autocuidado. Através das sessões de
EpS, promoveram-se momentos de aprendizagem através
da partilha de conhecimentos, experiências vivenciadas
pelos utentes e debate o qual permitiu melhorar as
competências quer no conhecimento da sua patologia,
interação medicamentosa e alimentar como no
reconhecimento de situações de risco e suas medidas de
atuação de forma a minimizar os riscos e manter uma vida
saudável e equilibrada. As intervenções comunitárias
realizadas durante este projeto foram muito enriquecedoras
devido ao envolvimento de toda a equipa multidisciplinar,
que permitiu divulgar a informação, incentivar a
participação dos utentes e familiares, e todos juntos,
melhoramos a literacia em saúde na área da hipocoagulação.
No entanto, teremos de nos focar nas famílias, devido à
dificuldade sentida em integrá-las na participação do
projeto e na intervenção nos cuidados de saúde. Este foi
uma das limitações sentidas durante o projeto de
intervenção, a dificuldade em articular tempo com a
disponibilidade das famílias. O tempo disponível de estágio
para intervir com os utentes e famílias também é diminuto
no sentido que só após o parecer favorável da comissão de
ética é que podemos questionar e envolvê-los no projeto.
Intervir nesta comunidade, melhorar as suas competências
no seu autocuidado, envolver uma equipa multidisciplinar
em todo o seu percurso, permitiu contribuir para o
conhecimento e desenvolvimento da investigação em
enfermagem, no entanto, outras questões surgiram durante
a intervenção comunitária. Percebendo que esta
comunidade tem uma percentagem elevada de pessoas
idosas, que gerem o seu projeto de saúde sozinhas, fez a
equipa questionar; Como identificar precocemente o
declínio cognitivo e intervir no sentido de promover
melhores cuidados de enfermagem? Como alertar a família
para uma nova realidade e intervir precocemente na
readaptação familiar? Como apoiar as famílias na
reestruturação de funções ou mesmo assumindo novos
papeis?
Contributos dos autores
RR Conceção e desenho do estudo; Recolha de dados;
Análise e interpretação dos dados; Análise estatística;
Redação do manuscrito.
ES - Conceção e desenho do estudo; Análise e interpretação
dos dados; Análise estatística; Revisão crítica do manuscrito.
FP - Análise e interpretação dos dados; Revisão crítica do
manuscrito.
Conflitos de interesse e Financiamento
Nenhum conflito de interesse foi declarado pelos autores.
Referências
1. Direção Geral da Saúde. Programa nacional para as
doenças cérebro cardiovasculares. Lisboa: DGS; 2017.
2. Regulamento nº 428/2018. Competências específicas
do enfermeiro especialista em Enfermagem
Comunitária. Diário da República 135, II Serie; 2018 jul
16:19354-19359 Disponível em:
https://dre.pt/application/conteudo/115698616.
3. Carvalho A, Carvalho G. Educação para a saúde:
Conceitos, práticas e necessidades de formação. Loures:
Lusociência; 2006.
4. OMS. Carta de Ottawa para a Promoção da Saúde.
Conferência Internacional sobre a Promoção da Saúde.
Canadá. 1986.
5. Vitor A, Lopes M, Araújo T. Teoria do déficit de
autocuidado: Análise da sua importância e
aplicabilidade na prática de enfermagem. Esc Anna
Nery (impr.). 2010 jul-set; 14 (3): 611-616.
6. Figueiredo M. Modelo dinâmico de avaliação e
intervenção familiar: Uma abordagem colaborativa em
enfermagem de família. Loures: Lusociência; 2012.
7. Nunes M. Cartilha metodológica do planeamento em
saúde e suas ferramentas de auxílio. Lisboa: Chiados
Editora; 2016.
8. Rodrigues F. A saúde planeada: Metodologia
colaborativa com a comunidade. Lisboa: Lisbon
International Press; 2021.
3HQVDU(QIHUPDJHPYQRXWXEUR|
Artigo Original Quantitativo
9. Melo P. Enfermagem de saúde comunitária e de saúde
pública. Lisboa: Lidel; 2020.
10. Imperatori E, Giraldes M. Metodologia do
planeamento em saúde: Manual para uso em serviços
centrais, regionais e locais. 3ª ed. Lisboa: ENSP; 1993.
11. George J. (Coord.). Teorias de enfermagem: Os
fundamentos à prática profissional. 4ª ed. Porto Alegre:
Artmed; 2000.
12. Hernández Madrid A, Potpara TS, Dagres N, et al.
Differences in attitude, education, and knowledge
about oral anticoagulation therapy among patients with
atrial fibrillation in Europe: result of a self-assessment
patient survey conducted by the European Heart
Rhythm Association. Europace [Internet]. 2016 Mar;
18(3):463-7. doi: 10.1093/europace/euv448
13. Alphonsa A, Sharma KK, Sharma G, Bhatia R.
Knowledge regarding oral anticoagulation therapy
among patients with stroke and those at high risk of
thromboembolic events J. Stroke Cerebrovasc. Dis.
[Internet]. 2015 Mar; 24(3):66872. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jstrokecerebrovasdis.2014
.11.007 .
14. Viola R, Fekete H, Csoka I. Patients’ knowledge on oral
anticoagulant treatment in Hungary. Int J Clin Pharm.
[Internet]. 2017 Dec;39(6):1265-1272. Disponível em:
doi: 10.1007/s11096-017-0544-1
| 162
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Qualitativo
)
Como citar este artigo: de Souza JB, Beckert RAT, Pilger KCP, Mafra SK, Rosario E, Ost KM, Moura V.
Vivências do processo de hospitalização: perspectiva de pessoas internadas na clínica médica.
Pensar
Enf
[Internet]. 2023
Dez; 27(1):162-169. Available from: https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.268
Vivências do processo de hospitalização: perspectiva
de pessoas internadas na clínica médica
Experiences of the hospitalization process:
perspective of people admitted to the medical clinic
Resumo
Introdução
Observa-se na atualidade uma população que não dedica tempo para cuidar de sua saúde
devido a acelerada rotina que dispõem, consequentemente tornam-se suscetíveis a vivenciar
o processo de hospitalização, onde abdicam de sua autonomia e se deparam com inúmeras
reações e sentimentos, necessitando assim de um olhar individual e humanizado a fim de
uma recuperação rápida e efetiva.
Objetivo
Compreender como é a vivência do processo de hospitalização, na perspectiva das pessoas
internadas na clínica médica.
Métodos
Trata-se de um estudo de caráter exploratório, com abordagem qualitativa, que integra dados
parciais de um projeto de pesquisa matricial, fundamentado nos pressupostos teóricos da
Promoção da Saúde. O manuscrito foi organizado conforme os critérios consolidados para
relatar pesquisa qualitativa (COREQ). Foi desenvolvido com 15 pessoas internadas no setor
da clínica médica, de um hospital público da região Sul do Brasil. A coleta de dados foi
desenvolvida pelos próprios autores por meio de um questionário semiestruturado, entre
setembro e outubro de 2021. Para a organização e interpretação dos dados, utilizou-se a
análise de conteúdo na modalidade temática.
Resultados
Despontaram duas categorias: a primeira destacou as experiências vivenciadas no processo
de hospitalização, embora alguns participantes se sintam seguros e amparados pela equipe
multiprofissional, outros referem-se ao ambiente hospitalar como um local que remete a dor
e sofrimento. A segunda categoria ressaltou o sentimento de saudade durante a
hospitalização, como da convivência com os familiares, amigos, atividades de lazer e das
rotinas diárias.
Conclusão
A vivência do processo de hospitalização desencadeia segurança, fragilidade e saudade.
Nota-se a importância de ter profissionais qualificados para proporcionar momentos de
cuidados efetivos e humanizados no ambiente hospitalar.
Palavras-chave
Hospitalização; Humanização da Assistência; Promoção da Saúde; Enfermagem.
Abstract
Introduction
Nowadays, there is a population that doesn't take the time to look after their health due to
their fast-paced routine. Consequently, they become susceptible to experiencing the process
of hospitalization, where they give up their autonomy and are faced with countless reactions
and feelings, thus needing an individual and humanized approach in order to recover
quickly and effectively.
Jeane Barros de Souza1 (,Q0HPRULDP)
https://orcid.org/0000-0002-0512-9765
Richard Augusto Thomann Beckert2
https://orcid.org/0000-0002-3788-0991
Kelly Cristina de Prado Pilger3
https://orcid.org/0000-0002-5670-7799
Samantha Karoline Mafra4
https://orcid.org/0000-0002-3305-6516
Evelyn do Rosario5
https://orcid.org/0009-0003-2644-7476
Kasey Martins Ost6
https://orcid.org/0009-0007-5060-5728
Vitória de Moura7
https://orcid.org/0009-0008-2862-5340
1Pós-doutorado em Enfermagem, Universidade
Federal da Fronteira Sul, Chapecó/SC, Brasil.
2 Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem,
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó/SC,
Brasil.
3 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem,
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó/SC,
Brasil.
4 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem,
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó/SC,
Brasil.
5 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem,
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó/SC,
Brasil.
6 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem,
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó/SC,
Brasil.
7 Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem,
Universidade Federal da Fronteira Sul, Chapecó/SC,
Brasil.
Autor de correspondência
Vitória de Moura
E-mail: vitoriamoura16.rb@gmail.com
Recebido: 19.03.2023
Aceite: 05.10.2023
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR|
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Qualitativo
Objective
To understand what the hospitalization process is like from
the perspective of people admitted to the medical clinic.
Methods
This is an exploratory study, with a qualitative approach,
which integrates partial data from a matrix research project,
based on the theoretical assumptions of Health Promotion.
The manuscript was organized according to the
consolidated criteria for reporting qualitative research
(COREQ). It was carried out with 15 people admitted to the
medical clinic sector of a public hospital in southern Brazil.
Data collection was carried out by the authors themselves
using a semi-structured questionnaire, between September
and October 2021. Thematic content analysis was used to
organize and interpret the data.
Results
Two categories emerged: the first highlighted the
experiences of the hospitalization process, although some
participants feel safe and supported by the multi-
professional team, others refer to the hospital environment
as a place that is reminiscent of pain and suffering. The
second category highlighted the feeling of homesickness
during hospitalization, such as for spending time with
family, friends, leisure activities and daily routines.
Conclusion
Experiencing the process of hospitalization triggers security,
fragility and longing. It is important to have qualified
professionals to provide effective and humanized care in the
hospital environment.
Keywords
Hospitalization; Humanization of Care; Health Promotion;
Nursing.
Introdução
Nos dias atuais observa-se na população a necessidade de
soluções rápidas e eficazes, com o intuito de economizar
tempo e realizar inúmeras tarefas. Para isso, são adotadas
diferentes práticas, muitas vezes inadequadas como o
consumo de alimentos ultraprocessados e a automedicação
para amenizar algumas circunstâncias. Tais práticas
aparentam ser soluções eficazes em um primeiro momento.
Isso reflete em inúmeros prejuízos a longo prazo como, por
exemplo, o acentuado aumento de doenças crônicas, que
por sua vez apresenta-se alarmante na sociedade.1 Nesse
sentido, percebe-se que devido à acelerada rotina, muitos
indivíduos não dispõem de tempo para desfrutar de lazer e
tampouco para cuidar e promover a saúde. Por causa disso,
não refletem sobre os prazeres do dia a dia, como a
liberdade, a autonomia e o bem-estar, tornando o cotidiano
ainda mais cansativo e desmotivador,2 se submetendo ao
risco de adoecimento e ocasionalmente à necessidade de
internamento hospitalar.3
O processo de hospitalização pode constituir uma ameaça
à autonomia e aos papéis sociais desempenhados
previamente ao internamento, pois o indivíduo deixa de ser
ativo e passa a ser paciente, abdicando de sua
independência, de sua privacidade e da interação com seu
grupo de apoio.4 Essas circunstâncias podem provocar
reações e sentimentos, visto a singularidade de cada pessoa,
contudo alguns sentimentos se repetem, tais como a
saudade de casa e de seus familiares, além da possibilidade
de perceber o ambiente hospitalar como um
lugar desagradável. Por outro lado, estar presente em um
ambiente que remete a dor, sofrimento e medo tende a
provocar a valorização do que era vivenciado
anteriormente. Sendo assim, o indivíduo, vulnerável nessa
situação, requer um olhar holístico, humanizado e
multiprofissional para que alcance recuperação rápida e
satisfatória.5
Nesse sentido, a humanização surge como uma forma de
preservar os direitos básicos da pessoa internada,
reforçando a necessidade de tratamento digno e respeitoso,
preservando seu protagonismo e sua autonomia. A
humanização, na área da saúde, teve grande enfoque nos
últimos anos, visto a necessidade dessa prática em todos os
procedimentos e protocolos. Em razão disso, em 2003, o
Ministério da Saúde brasileiro publicou a Política Nacional
de Humanização (PNH) com o objetivo de aplicar os
princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) na rotina dos
serviços de saúde. Ademais, é importante frisar que a PNH
é aplicável em todos os setores independentemente do grau
de complexidade, pois se baseia na qualificação da
assistência.6
Assim, para garantir a humanização, é necessário atender o
paciente com uma equipe multidisciplinar, formada por
profissionais de diferentes áreas como, por exemplo,
enfermeiro, médico, fisioterapeuta, nutricionista,
fonoaudiólogo, entre outros. O trabalho em equipe nos
serviços de saúde é essencial para garantir uma assistência
mais eficaz e com mais qualidade, em qualquer setor de
atenção à saúde, essencialmente na clínica médica, espaço
em que pacientes são internados com diagnósticos variados
e por vezes impactantes, que demandam procedimentos e
tratamentos mais complexos.7
Ressalta-se que o trabalho em equipe multidisciplinar pode
contribuir para melhorar a empatia entre os profissionais,
tornando-os mais eficientes e afetuosos na assistência à
saúde ao indivíduo internado e a seu familiar. Contudo, é
imprescindível que o trabalho conjunto seja realizado por
todos e não somente por alguns dos profissionais que
trabalham em certa unidade de internamento ou setor.8
Além disso, o enfermeiro é indispensável durante o
processo de hospitalização, pois este profissional
acompanha o paciente desde o internamento até a alta, além
| 0RXUD9
Artigo Original Qualitativo
de ser responsável pela gestão da equipe de enfermagem, a
qual desenvolverá todos os cuidados e procedimentos
necessários na assistência à saúde do indivíduo, provendo-
lhe conforto e contribuindo decisivamente para sua
recuperação. Também deve atentar-se para cada paciente
de modo integral e holístico, avaliando constantemente o
ambiente e o indivíduo, não somente em aspectos físicos,
mas também psicológicos, emocionais, sociais, culturais e
espirituais, garantindo maior bem-estar e qualidade no
atendimento em saúde.9-10
Além disso, em consonância com o cuidado humanizado,
o princípio da integralidade que, junto com outros,
fundamenta o Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil é
valorizado na PNH e foi ainda reforçado na Política
Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Na PNPS,
integralidade é definida como a articulação e sintonia entre
os serviços de saúde, como também a ampliação da escuta
dos trabalhadores e serviços de saúde frente aos pacientes,
considerados cidadãos universais merecedores de uma
assistência sem preconceitos ou privilégios, nas esferas de
promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde.11
Nesse contexto, os Determinantes Sociais de Saúde são
essenciais na assistência, por considerarem esferas da vida
do indivíduo que se expandem para além da doença e do
corpo biológico como, por exemplo, o trabalho, o ambiente
em que a pessoa vive, questões sociais, culturais,
econômicas, étnicas, comportamentais entre outras.12
Promoção da Saúde, aspecto essencial do SUS e pano de
fundo das Políticas citadas, pode ser vista como uma
estratégia promissora para produzir saúde e enfrentar
impasses relacionados a ela. Tal expressão foi mais
enfatizada na Carta de Ottawa, documento fruto da I
Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, que
a definiu como um processo de capacitação de
indivíduos/comunidade/coletividade em prol de maior
controle e autonomia no processo, com uso de recursos
pessoais e sociais, em busca de melhorias na qualidade de
vida e saúde.13-14
A Carta pautou cinco campos de ação que dizem respeito a
políticas públicas saudáveis, a ambientes favoráveis à saúde,
a ação comunitária, a autonomia e desenvolvimento de
habilidades pessoais e a reorientação dos serviços de saúde
à luz da Promoção da Saúde. O documento pontua a
importância da construção coletiva da saúde, do
autocuidado e do zelo pelo próximo, indicando que isso,
além do holismo, que se relaciona à integralidade, e a
ecologia são indispensáveis para desenvolvimento e
implementação de estratégias de Promoção da Saúde.13-14
O documento também pauta compromissos para os países
participantes, em busca da efetivação da Promoção da
Saúde. No Brasil, a PNPS evidencia os cinco eixos
originados da Carta e busca alcançar estes compromissos
que se relacionam com o desenvolvimento de políticas
públicas, a equidade, valorização do indivíduo/comunidade
em seu processo de saúde-doença, a reorganização dos
serviços de saúde para a realização da Promoção da Saúde,
entre outros.13,15
A partir do exposto, emergiu a seguinte questão de
pesquisa: Como é a vivência do processo de hospitalização,
na perspectiva das pessoas internadas na clínica médica?
Acredita-se que ao dar luz às demandas de quem vivencia
o internamento, é possível refletir e implementar estratégias
para qualificar a assistência à saúde no processo de
hospitalização. Além disso, devido à diversidade do público
atendido na rede hospitalar, tanto em termos etários quanto
culturais, é importante perceber os fatores implicados na
recuperação durante esse processo, a fim de tornar o
ambiente hospitalar mais acolhedor e agradável. Logo, o
objetivo do estudo foi compreender como é a vivência do
processo de hospitalização, na perspectiva de pessoas
internadas na clínica médica.
Métodos
Trata-se de um estudo de caráter exploratório, com
abordagem qualitativa, fundamentado nos pressupostos
teóricos da Promoção da Saúde. O manuscrito foi
organizado conforme os critérios consolidados para relatar
pesquisa qualitativa (COREQ).
A pesquisa ocorreu em um hospital público de referência
do Oeste de Santa Catarina, Brasil. Dela participaram 15
pessoas internadas no setor da clínica médica, selecionadas
por conveniência, dentre aqueles que atendiam aos critérios
de inclusão: idade superior a 18 anos e estar hospitalizado
no setor da clínica médica no momento da coleta. Como
critério de exclusão considerou-se: não possuir aptidão
física e comunicativa para responder às perguntas da
entrevista. Os participantes foram selecionados de modo
intencional e todos os convidados aceitaram integrar o
estudo, não havendo recusas.
A coleta de dados foi feita através de entrevistas
semiestruturadas desenvolvidas pelos autores no próprio
quarto de cada participante, entre os meses de setembro e
outubro de 2021. Cada uma teve duração média de
quarenta minutos e foi conduzida por roteiro que incluía
perguntas sobre a vivência do processo de hospitalização e
os sentimentos despertados durante o internamento. Todas
foram gravadas com a devida autorização dos participantes
e, sequencialmente, transcritas em arquivo digital.
Para a organização e interpretação dos dados recorreu-se à
análise de conteúdo na modalidade temática, cujo objetivo
é encontrar o significado central que constitui a
comunicação, buscando preservar mais a maneira
interpretativa do que a interferência estatística. Na p-
análise, foi realizada leitura flutuante dos dados transcritos
com a intenção de organizar o conteúdo e definir as
unidades de registo. Na segunda etapa, de exploração do
material, os dados foram codificados, a fim de alcançar o
cerne de compreensão do texto. Na terceira etapa os dados
foram categorizados e sub-categorizados, por meio da
classificação e interpretação.16 Da análise emergiram duas
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR|
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Qualitativo
categorias: 1) Vivenciando a hospitalização; 2) Saudades
despertadas no processo de hospitalização, que serão
discutidas em sequência.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
de uma universidadeblica de Santa Catarina, sob parecer
4.960.473/2021, em 09 de setembro de 2021. Salienta-
se que antes da coleta de dados, todos os participantes
leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE). Para garantir o anonimato, os
entrevistados foram denominados conforme as
necessidades humanas básicas, à vista do conteúdo dos
depoimentos. Assim, utilizou-se os seguintes codinomes:
Alimento, Moradia, Repouso, Família, Amizade, Trabalho,
Autoestima, Roupa, Saúde, Hidratação, Exercício,
Segurança, Espiritualidade, Sono, Resiliência.
Resultados
Os integrantes da pesquisa tinham idade entre 39 e 82 anos,
sendo quatro do sexo feminino e 11 do sexo masculino. O
período do internamento, no momento da entrevista,
variava entre dois e 30 dias. Na primeira categoria, os
entrevistados relataram que durante a hospitalização
receberam um atendimento adequado, sendo bem
cuidados. Além disso, mencionaram que quando estavam
em casa vivenciavam o sentimento de morte e ao
receberem o atendimento hospitalar, perceberam melhora
no seu quadro, o que os deixou tranquilos.
“Pra mim é bom estar no hospital. Estão me tratando bem
e eu melhorei já [...] (Alimento)
"Agora eu estou bem, estou me sentindo melhor aqui. Até,
por sinal, o médico falou que vou só amanhã pra casa e eu
fiquei tranquila" (Moradia)
“Como eu estava em casa [...] eu achava que ia morrer [...]
Estando aqui no hospital, eu recebi todo atendimento e
estou bem [...]” (Repouso)
Os participantes também abordaram sobre a administração
de medicamentos para alívio da dor e o trabalho
multiprofissional para o bem-estar físico no atendimento
hospitalar.
“...As medicações estão sendo dadas bem certinho, aí me
sentindo bem.” (Amizade)
"É bom porque você não sente dor, está sendo cuidada do
melhor jeito possível...” (Família).
"[...] Vem o pessoal para divertimento, tem as
fisioterapeutas, tem as fonoaudiólogas, tem todo o pessoal
aqui, a equipe de farmacêuticos, as enfermeiras muito boas,
atendimento muito bom delas [...] deu para ver nesses seis
dias aqui , como é tratar o paciente bem [...]” (Trabalho)
Por outro lado, evidenciaram não gostar do espaço
hospitalar, por representar um ambiente que se frequenta
quando da ocorrência de doença, em estado mais grave de
saúde, o que os leva a relacionar a hospitalização a algo
desagradável e a um período cansativo.
“É ruim porque a gente fica aqui direto, o tempo inteiro
deitada." (Família)
“Eu não gosto de estar no hospital porque quem vem pra
cá é porque tá mal, tá doente, aí é ruim” (Autoestima)
"Ah é cansativo [...]" (Roupa)
Na segunda categoria, saudades despertadas no processo
de hospitalização, os entrevistados referiram sentir falta do
aconchego e da rotina de suas vidas em suas casas, além da
liberdade vivenciada em seus domicílios, uma vez que o
ambiente hospitalar apresenta diversas restrições.
“Eu sinto falta de tudo: da minha cama, da comida. Aqui é
tudo diferente. Em casa a gente se sente mais à vontade.”
(Amizade)
“Ah, eu gosto de ficar em casa, caminhar, receber as visitas
e agora eu não tenho nada aqui no hospital” (Saúde)
“Ah, a gente sente falta de casa, claro, porque lá é mais livre,
o tem restrição. Aqui é tudo regrado e se você não
cumprir as ordens, não sara.” (Alimento)
A hospitalização fez com que os participantes sentissem
falta de estar com suas famílias para conversar, cuidar dos
familiares e tê-los por perto, o que revelou preocupação
com eles:
“O marido [ficou sozinho] estou muito preocupada com
ele” (Hidratação)
"Sinto falta de cuidar das minhas netas [...], saudades da
filha. [...] " (Moradia)
"Saudade das minhas filhas e da minha mãe." (Roupa)
Ademais, os entrevistados mencionaram sentimentos de
saudade relacionados ao contato com os vizinhos, amigos
e colegas, além das atividades laborais que realizavam
anteriormente ao período do internamento:
"[Sinto falta] dos meus vizinhos porque a gente se visitava
[uns aos outros]. Eu sempre tirava um tempinho para todo
mundo, para ajudar as pessoas também e hoje eu tô aqui já
faz quase 30 dias.” (Família)
"Bater um papo lá com os colegas, faz falta" (Exercício)
“Trabalhar, com certeza, sinto muita falta [...]" (Família)
Além disso, os participantes afirmaram sentir falta dos
momentos de lazer que integravam seus cotidianos, nos
quais reservavam tempo para promover o autocuidado,
divertir-se, ir ao culto na igreja e viver a liberdade da vida.
"De ir pro salão [de beleza], me arrumar" (Segurança)
"Ah de estar livre, do chimarrão. Faz muita falta
[...]"(Exercício)
“Eu queria estar tomando uma cerveja [...] e fazendo uma
cantoria [...]. Isso que a gente fazia né?”(Repouso)
“[...] não dá para ir no culto” (Saúde)
Percebeu-se, nos depoimentos dos entrevistados, a
privação de vários aspectos importantes de suas vidas em
consequência do período de hospitalização, visto que
desvelam saudades de suas rotinas, ambientes que
frequentavam, dos seus familiares, amigos e de suas
atividades de lazer. Ficou evidente que o ambiente
hospitalar é percebido como local que remete à dor e ao
sofrimento, bem como espaço que proporciona segurança
| 0RXUD9
Artigo Original Qualitativo
e amparo em razão das rotinas de cuidados desenvolvidas
pelos profissionais.
Discussão
O ambiente hospitalar é complexo e requer conhecimento
e eficiência por parte dos profissionais, para uma assistência
de qualidade. Nesse sentido, como referido nos resultados,
quando se pontua o bom atendimento e a administração
adequada de medicação, a segurança no ambiente
hospitalar é imprescindível e resulta na redução de danos
associados ao atendimento em saúde a um mínimo aceitável
para a instituição, levando em conta a infraestrutura, o
conhecimento dos profissionais e os recursos materiais do
serviço de saúde em questão.17
O manejo de medicamentos é essencial nesse ambiente e
requer responsabilidade profissional, que tem como dever
sanar dúvidas e tratar individualmente cada necessidade, a
fim de proporcionar conforto e bem-estar. Sabe-se que o
uso de medicamentos não se resume apenas a uma prática
terapêutica, baseada no modelo biomédico. Quando
utilizados de forma correta e racional, tornam-se
importantes mecanismos de prevenção, manutenção e
recuperação da saúde, reduzindo sintomas e
proporcionando bem-estar físico e mental.18
Outro ponto importante no processo de hospitalização é
promover um ambiente apropriado e humanístico, levando
em consideração a estrutura física de uma edificação,
decorrente de um projeto arquitetônico que busque
critérios para proporcionar a satisfação e o conforto do
paciente por meio de organização e métodos que facilitam
sua estadia e inserção no hospital. O projeto arquitetônico
tem como finalidade harmonizar e buscar atender as
diferentes realidades do cenário hospitalar, promovendo
bem-estar e criando espaços que sejam apoio físico e
psicológico aos pacientes, pois o ambiente é fundamental
para a qualidade do atendimento.19
Além disso, os ambientes hospitalares podem proporcionar
estresse e tensão. E por vezes, estruturas físicas não trazem
o conforto da sensibilidade humana, a atenção e o cuidado,
mesmo sendo um ponto importante na recuperação dos
pacientes. A humanização do ambiente é algo relevante,
que deve ser exercitado na formação dos profissionais, para
que quando se inserirem no âmbito hospitalar, saibam
como desenvolver estratégias para atender e compreender
as individualidades de cada ser, de forma integral e
humanizada, tornando cada setor o mais acolhedor e
agradável possível tanto para pacientes, quanto para seus
familiares e colegas de trabalho.20
Ademais, para uma atenção efetiva à saúde, é indispensável
a qualificação profissional e o trabalho multiprofissional.21
Ambos garantem maior resolutividade, menor tempo e
menos gastos em saúde e possibilitam alcançar o cuidado
integral e humanizado.9 Como ferramenta para garantir a
qualificação profissional, cita-se a educação continuada,
que consiste na especialização e continuidade do
aperfeiçoamento profissional e, ainda, a educação
permanente, referente às demandas dos processos de
trabalho, em busca de uma assistência à saúde mais
qualificada.22 Para incentivar a multiprofissionalidade
existem as residências nesta área, as quais unem
conhecimentos teórico-práticos com o trabalho em equipe
e uma inserção intensa nos serviços de saúde.23
Outro fator importante que os profissionais que atuam no
ambiente hospitalar precisam ficar atentos é que, na
vivência do internamento, a saudade é comumente sentida
pelos pacientes, seja do trabalho, de atividades habituais
como forma de ocupar o tempo e garantir aporte
financeiro, de amigos e familiares, de reunir-se para
conversar como um momento de lazer e distração. Além
disso, há a saudade de frequentar centros religiosos,
participando de cultos, fortalecendo a espiritualidade.
Assim, a saudade revela a falta sentida do que era vivido
antes da hospitalização.
Compreende-se a saudade como um sentimento humano
de difícil definição e que pode simbolizar a vivência de dor
ou de alegria e está relacionada à privação ou distância do
objeto ou pessoa querida.24 Dentro do ambiente hospitalar,
o sentimento é corriqueiro e pode ser avaliado a fim
certificar qual a sua influência no tratamento e recuperação
do paciente.4,25
Essas atividades da vida que geram saudades, quando
restringidas, podem impactar de forma significativa no
bem-estar dos indivíduos hospitalizados, uma vez que
trazem à tona sentimentos de impotência pela perda do
controle do próprio corpo, além da impossibilidade de
exercer atividades diárias, assim como sentimentos de
angústia e ansiedade, ocasionadas pela quebra de rotina,
momentos de lazer e contato com a família, o importantes
para a qualidade de vida.26
A saudade se estabelece também devido ao próprio cenário
hospitalar, que geralmente remete a dor, sofrimento e
tristeza, além da necessidade de submeter-se a
procedimentos invasivos, à perda da privacidade e da
autonomia. Portanto, é fundamental que cada paciente seja
visto de forma única e com olhar integral, levando em
consideração cada fala, queixa ou sentimento, em busca de
uma recuperação eficaz e saudável. Além disso, ao dialogar
com os pacientes, atentando-se para suas queixas, é possível
qualificar o serviço, tendo em vista que eles usufruem dos
cuidados diários, ou seja, são as pessoas mais habilitadas
para sugerir mudanças.4,25
Para tanto, o profissional da saúde, especialmente da
enfermagem, tem um papel importante na garantia de uma
assistência humanizada, que traga sensação de segurança e
conforto no ambiente hospitalar.27 Além da segurança na
administração de medicamentos, cuidado na ambiência da
unidade de internamento e da atuação multiprofissional, a
comunicação com os pacientes torna o espaço mais
aconchegante, como citado pelos entrevistados. A
comunicação possibilita momentos de troca de saberes e
sentimentos, fortalecendo a relação e o vínculo entre o
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR|
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Qualitativo
profissional e o paciente. Também é importante que este
vínculo seja também estabelecido com os familiares
durante o período de internamento, pois eles são
importante auxílio para o aumento da confiança e da
segurança do paciente nesse processo.28
O diálogo com o paciente internado favorece a escolha de
condutas mais adequadas para seu estado de saúde,
contribuindo para a redução do tempo de internamento,
bem como de dores e de riscos ao seu bem-estar.28 Essas
condutas podem tornar o ambiente hospitalar mais
humanizado, permitindo experiências menos
desconfortáveis, tanto para os pacientes quanto para os
familiares que também vivenciam este período. Desse
modo, é fundamental que os profissionais estejam aptos a
desenvolver uma assistência, buscando aprimorar cada vez
mais a comunicação durante o processo de trabalho,
refletindo em uma assistência segura e de qualidade.27
Conclusão
Mediante o exposto, é possível compreender como ocorre
o processo de hospitalização, na perspectiva dos pacientes
internados na clínica médica, os quais vivenciam momentos
de satisfação e segurança ao sentirem-se cuidados.
Portanto, o bom atendimento e o ambiente acolhedor
refletem diretamente em seu bem-estar, trazendo conforto,
esperança e favorecendo de maneira significativa a sua
recuperação.
Por outro lado, se sentem fragilizados, principalmente por
enfrentarem mudanças repentinas em sua rotina e por
estarem privados de realizar suas atividades cotidianas,
passando a depender da ajuda e dos cuidados da equipe
multiprofissional e de outras pessoas. Tal situação está
relacionada à percepção do hospital como local de
sofrimento, angústia, restrições e saudade dos familiares, de
sua casa, do seu trabalho, dos seus amigos e das atividades
de lazer.
Desta forma, torna-se perceptível a grande importância do
trabalho multiprofissional desempenhado por profissionais
alinhados com os propósitos da integralidade da assistência
e dispostos a inserir novas estratégias de cuidado no
ambiente hospitalar. Essa postura é essencial para
promover atendimento humanizado, qualificado e
eficiente, considerando as necessidades e individualidades
de cada ser, voltando-se para todos os aspectos da vida do
paciente e não somente à doença responsável pela
hospitalização. Esses aspectos ampliarão as possibilidades
de recuperação efetiva e tornarão o período de
hospitalização mais ameno para o paciente e seu familiar.
Dentre as limitações do estudo, destaca-se a abordagem de
pessoas hospitalizadas na clínica médica do hospital, com a
maioria delas vivendo com condições crônicas de saúde.
Essa opção de pesquisa excluiu outras unidades de
internamento, a exemplo da clínica cirúrgica, local que
recebe muitas pessoas em condições agudas de saúde que
demandam outras intervenções. Como contribuição, o
estudo demonstra um pouco do que sentem as pessoas
hospitalizadas em relação à sua própria condição, à
permanência no hospital e à equipe multiprofissional, o que
possibilita o vislumbre de possibilidades para a promoção
da saúde em situações como a aqui apresentada, além de
contribuir para o desenvolvimento de uma perspectiva
holística na assistência à saúde, que busca visualizar
questões e necessidades mais peculiares e individuais dos
pacientes. Ressalta a importância da ambiência nos
hospitais, além de contribuir para a discussão do trabalho
multiprofissional em saúde e da integralidade da assistência,
todos aspectos importantes da PNH e da PNPS.
Contribuições autorais
JBS: Conceção e desenho do estudo; elaboração do
manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
RATB: Concão e desenho do estudo; análise e
interpretação dos dados; elaboração do manuscrito; revisão
crítica do manuscrito.
KCPP: Conceção e desenho do estudo; análise e
interpretação dos dados; elaboração do manuscrito; revisão
crítica do manuscrito.
SKM: Conceção e desenho do estudo; análise e
interpretação dos dados; elaboração do manuscrito; revisão
crítica do manuscrito.
ER: Conceção e desenho do estudo; elaboração do
manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
KMO: Conceção e desenho do estudo; elaboração do
manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
VM: Concão e desenho do estudo; elaboração do
manuscrito; revisão crítica do manuscrito.
Conflitos de interesse e Financiamento
Os autores declaram que não há conflito de interesses.
Os autores declararam que não houve financiamento.
Referências
1. Barros DM, Silva APF, Moura DF, Barros MVC,
Pereira ABS, Melo MA, et al. A influência da
transição alimentar e nutricional sobre o
aumento da prevalência de doenças crônicas não
transmissíveis / The influence of food and
nutritional transition on the increase in the
prevalence of chronic non-communicable
diseases. Braz. J. Dev. [Internet]. 2021 julho 28
[cited 2022 dez 21];7(7):7464764. Available
from:
https://www.brazilianjournals.com/index.php/
BRJD/article/view/33526/pdf.
2. Souto AR. Condições de trabalho e stress:
implicações no emprego e na vida pessoal.
[dissertation on the Internet]. Ponta Delgada:
Universidade dos Açores; 2021 [cited 2022 set 5]
| 0RXUD9
Artigo Original Qualitativo
Available from:
https://repositorio.uac.pt/bitstream/10400.3/6
294/1/DissertMestradoAnaRitaSouto2022.pdf.
3. Maia JTDM, Leal LS. Contribuições da terapia
ocupacional através produtivas e de lazer no
internamento hospitalar prolongada. Rev.
Intern. Bras. Ter. Ocup. [Internet]. 2019 [cited
2022 set 5];3(4):6029. Available from:
https://doi.org/10.47222/2526-
3544.rbto22432.
4. Pinto VAH, Paiva FS. “Ah, com certeza iam me
dá alta, né...”: autonomia no processo de cuidado
em saúde de sujeitos hospitalizados. Physis.
[Internet]. 2021 [cited 2022 set 5];31(3).
Available from:
https://doi.org/10.1590/S0103-
73312021310315.
5. Silva CJA, Pinheiro MCG, Isoldi DMR,
Carvalho FPB, Carreiro GSP, Simpson CA.
Experiências vivenciadas por pessoas
hospitalizadas com queimaduras: A luz da
história oral. Online Braz. J. Nurs. [Internet].
2019 [cited 2023 fev 16];18(1). Available from:
https://doi.org/10.17665/1676-
4285.2019v18n1
6. Freitas VP, Aparecida RAM. Humanização da
assistência de enfermagem em pacientes idosos.
Rev Inic Cient Ext [Internet]. 2020 [cited 2022
nov 30];3(1):371-8. Available from:
https://revistasfacesa.senaaires.com.br/index.p
hp/iniciacao-cientifica/article/view/294.
7. Pereira MM, Rezende KTA, Santos IF, Tonhon
SF da R. O processo de hospitalização sob a
ótica do paciente. Rev. Bras. Promoc. Saúde
[Internet]. 2020 dez 1[cited 2023 mar 16];33.
Available from:
https://ojs.unifor.br/RBPS/article/view/1165
7
8. Barboza BC, Sousa CALSC, Morais LAS.
Percepção da equipe multidisciplinar acerca da
assistência humanizada no centro cirúrgico. Rev
SOBECC [Internet]. 2020 dez 21[cited 2022 ago
28];25(4):212218. Available from:
https://revista.sobecc.org.br/sobecc/article/vi
ew/611
9. Sousa SM, Bernardino E, Crozeta K, Peres AM,
Lacerda MR. Integrality of care: challenges for
the nurse practice. Rev Bras Enferm [Internet].
2017 [cited 2022 ago 28];70(3):504-10. Available
from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-
2016-0380
10. Riegel F, Crossetti MGO, Siqueira DS.
Contributions of Jean Watson’s theory to holistic
critical thinking of nurses. Rev Bras Enferm
[Internet]. 2018;71(4):2072-6. Available from:
https://doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0065
11. Silva MFF, Silva EM, Oliveira SLSS, Abdala GA,
Meira MDD. Integralidade na atenção primária à
saúde. REFACSevista Família, Ciclos de Vida e
Saúde no Contexto Social [Internet]. 2018 mai 8
[cited 2022 ago 28]; 6(supp.1):394-400. Available
from:
https://doi.org/10.18554/refacs.v6i0.2925.
12. Broch D, Riquinho DL, Vieira LB, Ramos AR,
Gasparin VA. Social determinants of health and
community health agent work. Rev Esc Enferm
USP [Internet]. 2020;54:e03558. Available from:
https://doi.org/10.1590/S1980-
220X2018031403558
13. BRASIL. Ministério da Saúde. Carta de Ottawa.
Primeira Conferência Internacional sobre
promoção da saúde [Internet]. Brasília (DF):
Ministério da Saúde; 2021. [cited 2023 ago 8].
Available from:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ca
rta_ottawa.pdf
14. Becker RM, Heidemann ITSB. Health promotion
in care for people with chronic non-transmitable
disease: Integrative review. Texto Contexto
Enferm [Internet]. 2020;29:e20180250. Available
from: https://doi.org/10.1590/1980-265X-
TCE-2018-0250
15. Freitas MA, Alvarez AM, Buss Schulter
Heidemann IT, Souza Lima JB, Sili EM, Chipindo
OJ. Caminho conceitual da promoção da saúde:
Relato de experiência. Rev. Baiana Enferm
[Internet]. 2020 dez 1;35. Available from:
https://doi.org/10.18471/rbe.v35.36789.
16. Minayo MCS. O desafio do conhecimento:
pesquisa qualitativa em saúde. 14 ed. São Paulo:
Hucitec; 2014. 407p.
17. Kolankiewicz ACB, Schmidt CR, Carvalho
REFL, Spies J, Dal Pai S, Lorenzin E. Cultura de
segurança do paciente na perspectiva de todos os
trabalhadores de um hospital geral. Rev. Gaucha
Enferm [Internet]. 2020;41:e20190177. Available
from: https://doi.org/10.1590/1983-
1447.2020.20190177
18. Melo RC, Pauferro MRV. Educação em saúde
para a promoção do uso racional de
medicamentos e as contribuições do
farmacêutico neste contexto / Health education
to provide the rational use of medications and
the pharmacist 's contributions in this context.
Braz. J. Develop. [Internet]. 2020 may 29 [cited
2022 dez 21];6(5):32162-73. Available from:
https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.
php/BRJD/article/view/10805
19. Nascimento GRF. A saúde vista com outros
olhos: Iluminação hospitalar. Sustinere,
[Internet]. 2020 jan 16 [cited 2022 dez
3HQVDU(QIHUPDJHPYQGH]HPEUR|
'2ΖSHQVDUHQIYL
Artigo Original Qualitativo
21];7(2):401-13. Available from: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/sustinere/article/view/4242
7
20. Ferreira JDO, Dantas DS, Dantas THM, Dias
DEM, Santos ILS, Campos TNC. Estratégias de
humanização da assistência no ambiente
hospitalar: Revisão integrativa. Rev. Ciênc. Plur
[Internet]. 2021:7(1):147163. Available from:
https://doi.org/10.21680/2446-
7286.2021v7n1ID23011
21. Santos TS, Bragagnollo GR, Tavares CM,
Papaléo LK, Carvalho LWT, Camargo RAA.
Qualificação profissional de enfermeiros da
atenção primária à saúde e hospitalar: um estudo
comparativo. Revista Cuidarte. 2020 mai 1; 11(2):
e786. Available from:
https://revistas.udes.edu.co/cuidarte/article/vi
ew/786
22. Ribeiro BCO, Souza RG, Silva RM. A
importância da educação continuada e educação
permanente em unidade de terapia intensiva
revisão de literatura. Rev Inic Cient Ext
[Internet]. 2019 ago16 [cited 2022 dez 20];2(3),
167-75. Available from:
https://revistasfacesa.senaaires.com.br/index.p
hp/iniciacao-cientifica/article/view/253
23. Flor TBM, Cirilo ET, Lima RRT, Sette-de-Souza
PH, Noro LRA. Formação na residência
multiprofissional em atenção básica: Revisão
sistemática da literatura. Ciênc Saúde Colet
[Internet]. 2022 mar. [cited 2022 dez
20];27(03):921-36. Available from:
https://doi.org/10.1590/1413-
81232022273.04092021
24. Feijoo AMLC. Situações de suicídio: atuação do
psicólogo junto a pais enlutados. Psicol Estu
[Internet]. 2021 [cited 2023 fev 16]; 26. Available
from:
https://www.scielo.br/j/pe/a/qxhP9NhBk9w
QcJPnjkgCZJq/?format=pdf&lang=p.
25. Brito MVN, Ribeiro DE, Lima RS, Gomes RG,
Fava SMCL, Vilela S de C, Sanches RS. Papel do
acompanhante na hospitalização: perspectiva
dos profissionais de enfermagem. Rev Enferm
UFPE [Internet]. 2020 [cited 2023 mar
17];14:e243005. Available from:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfer
magem/article/view/243005/34248
26. Batista G, Santos S, Espaço C, Ressignificar P,
Brito B, Santos D, et al. A percepção da pessoa
internada sobre sua vivência no hospital. Rev
Nufen: Phenom Interd [Internet]. 2020 mai/ago
[cited 2023 mar 7]; 12(2):1-19. Available from:
http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rnufen/v12n2/a
02.pdf.
27. Delgado Marques BL, Marinho I, Lins KK, Mota
L, Rebelo AP. O papel da enfermagem na
humanização dos serviços de saúde. CBioS
[Internet]. 2021 nov 9 [cited 2022 dez
24];7(1):173. Available from:
https://periodicos.set.edu.br/fitsbiosaude/articl
e/view/9346.
28. Custódio DVS, Barbosa RS, Alves SAA, Silva
KN, Cavalcante EGR. Comunicação como
instrumento no cuidar humanizado em
enfermagem ao paciente hospitalizado. Rev
Interd Enc Ciências-RIEC [Internet]. 2020 [cited
2022 dez 24]:3(1):1024-1038. Available from:
https://riec.univs.edu.br/index.php/riec/article
/view/86
| 170
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / October 2023
DOI: 10.56732/pensarenf.v27i1.296
Theoretical Article
)
How to cite this article: Watson J. Unitary Caring Science: Caritas Compassion Transpersonal Theory.
Pensar Enf [Internet]. 2023
Oct; 27(1):106-109
. Available from:
https://doi.org/10.56732/pensarenf.v27i1.
296
Unitary Caring Science: Caritas Compassion
Transpersonal Theory
Lisbon, June 27, 2023. Portugal Conference - Encontro Internacional da
Rede Portuguesa da Ciência de Enfermagem para o Cuidado Humano 2023.
Abstract (written by editors)
This article presents a transformative perspective on contemporary nursing, emphasizing
unity and interconnectedness in the post-Covid world. Prof. Jean Watson introduces
"Unitary Caring Science" as a holistic approach to nursing, rooted in three ethical principles:
The Ethic of Belonging, The Ethics of Face, and The Ethics of Hands. These principles
guide the paradigm shift in nursing philosophy and practice.
Dr. Watson discusses the "Ten Caritas Processes®," a foundational language for
understanding and practicing human care. She highlights the importance of "Transpersonal
Caring Moments," where nurses' presence and authenticity influence patient experiences.
The article aligns this approach with the American Nurses Association's new definition,
emphasizing compassion and presence in nursing care, and advocates for a holistic,
interconnected nursing approach to uphold human dignity and compassion.
Keywords
Ethics Nursing; Holistic Nursing; Nursing Care.
Resumo (escrito pelos editores)
Este artigo apresenta uma perspetiva transformadora sobre a enfermagem contemporânea,
enfatizando a unidade e a interligação no mundo pós-Covid. A Prof. Jean Watson apresenta
a "Ciência Cuidadora Unitária" como uma abordagem holística para a enfermagem,
fundamentada em três princípios éticos: A Ética da Pertença, A Ética do Rosto e A Ética
das Mãos. Estes princípios orientam a mudança de paradigma na filosofia e prática da
enfermagem.
A Dra. Watson discute os "Dez Processos Caritas®", uma linguagem fundamental para
compreender e praticar o cuidado humano. Ela destaca a importância dos "Momentos de
Cuidado Transpessoal", onde a presença e autenticidade das enfermeiras influenciam as
experiências dos doentes.
O artigo alinha esta abordagem com a nova definição da Associação Americana de
Enfermagem, enfatizando a compaixão e a presença no cuidado de enfermagem, e defende
uma abordagem holística e interligada à enfermagem para preservar a dignidade e a
compaixão humanas.
Palavras-chave
Ética em Enfermagem; Enfermagem Holística; Cuidado de Enfermagem.
Jean Watson1
orcid.org/0000-0003-1777-7636
1Watson Caring Science Institute; Professor/Dean
Emerita University of Colorado Denver, CON, USA.
Corresponding author:
Dr. Jean Watson
E-mail: jean@watsoncaringscience.org
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / October 2023 |
Theoretical Article
Introduction
Tumultuous times in our world require a new/old unitary
worldview; an evolving consciousness about converging
ideas of nursing, because we dwell in the sacred circle of life
and death and beyond. Post Covid has awakened us to the
reality of oneness of all, encompassing a quantum leap for a
new worldview, a worldview of unity and connectedness of
all things.
In my writing I refer to this shift as unitary caring science
for nursing, caring, healing and health care. We are faced
with one world/ one humanity/ one Planet.1,2
The framework of unitary caring science and transpersonal
theory includes the following principles: The Ethic of
Belonging; The Ethic of Face; and the Ethic of Hands. Each
one of these informs the transformative unitary paradigm
for Nursing and specifically my work in philosophy and
science of caring as well as transpersonal caring theory.
The Ethic of Belonging
The Ethic of Belonging was posed by French philosopher
Levinas in 19693 and submitted that we all ‘Belong to the
Infinite Field of Universal Cosmic Love’, before our
Separate Being. This worldview of unity and oneness of all
reflects a quantum universe of connectedness, which
transcends our separate ego physical self. This ethic also
represents the reality of the sacred circle of life and death
to which we all belong, before birth and after death,
awakening the sacred science of caring. Further, Levinas
posed Ethic of Belonging as the first principle of science.
Thus, it is a foundational starting point and worldview for
unitary caring science and my most current theoretical
philosophical perspective.
The Ethics of Face
The Ethics of Face, likewise was posited by Levinas3 as a
core principle of human evolution and survival of
humanity. His work on Ethics of Face acknowledged that
humanity either evolves further as infinite evolution to
higher consciousness Or we totalize our humanity and
each other. The view is in spite of the paradox of virtual
reality; in that “the only way we can survive as humans at
this point in human history is through the Face -to-Face
connection”. ‘When we look into the face of another
person, we are looking into the mystery and infinity of
human soul; when we look into the mystery and infinity of
other, it mirrors back the infinity of our own soul. The Face
to Face connection also reflects the Ethic of Belonging that
unites us across time and space.
The Ethics of Hands
The third principle of Unitary Caring Science is posited by
Ethicist Logstrup,4 a Danish philosopher. His philosophy
highlighted the metaphorical and literal reality that we hold
another person’s life in our hands. This ethic is core to
nursing and human caring practices. In his words he noted:
The life in our hands is a sovereign expression of life as given to us,
before and beyond ego; with expressions of trust, love, honesty,
forgiveness, gratitude - beyond feelings that are negative expressions of
life...“.4(p18) He referred to this view as an Ethical Demand,
to take care of the life which is in our hands. Within caring
science and the infinite energy of love, it is important to
highlight that our hands are connected with our heart; the
heart is the very source of love, caring, compassion and our
inner truth. So the ethics of hands takes on important
meaning for nursing and the use of our hands in healing.
10 Caritas Processes®
The Ten Caritas Processes of the transpersonal caring
theory, provide core language of the universals of human
caring, which nurses are offering every day. However,
because Caring has not been named, it has been invisible,
without acknowledging, naming, documenting,
researching. Further caring language has not been used as
the foundational ethical, philosophical guide to micro and
macro caring practices, contributing to patient and nurse
caring-healing and health outcomes. It must be
acknowledged in this postmodern time, that any profession
without its own language does not exist. It is also important
to know that these 10 Caritas Processes are located within
the larger unitary caring science paradigm, the most mature
level for honoring nursing’s phenomenon and vicissitudes
of human experiences.
Transpersonal Caring Moment
The nurse-patient relation in any given moment is affected
by the presence, intentionality, consciousness, authenticity
of the nurse in a given moment. Each caring moment is
informed by nurse’s theory, philosophy, ethic and authentic
use of self in a given moment. Unitary Caring Science is
context for any and each transpersonal caring moment,
guided by the professional nurse’s evolution and
consciousness. Such mature practice at micro and macro
level can be framed as Caring Praxis, beyond usual practice
of Doing, transformed toward a Relational Ontology of Being.
The ten Caritas Processes provide the language and
theoretical foundation and structure of nursing. However,
where the theory lives is in a Caring Moment, which is
transpersonal, in that each moment is unique and goes
beyond two individuals; rather beyond ego of nurse or even
ego of nursing profession; rather nurse being authentically
| Watson, J.
Theoretical Article
present, open and receptive to ‘see, ‘to hear’ and to honor
with dignity each individual.
Caritas Process 1: Embrace - Practice of Loving
Kindness, Compassion and Equanimity, for Self-first:
before one is able to offer another authentic caring.
Professional theory-guided practice requires informed
moral action, such as honoring each of the Caritas Processes
as guide for self as well as other.
Caritas Process 2: Inspire - Faith and Hope, through
authentic presence. Honoring the subjective beliefs and
inner life world of other; appreciating sacred presence.
Staying within other’s frame of reference. There is so much
research and knowledge about the role of faith and hope;
the role of religion and one’s inner belief system which
affects outcomes. In this process the nurse honors the
whole person and their inner world beliefs even if they differ
from mainstream medicine. Here the nurse works strictly
from patient/family beliefs, not judging or attempting to
impose own beliefs; while inspiring and enabling
patient/family practices.
Caritas Process 3: Trust - Transpersonal Self-being
sensitive to self/ others-going beyond ego to transpersonal
presence. Trust is immediately detected by the nurses’
presence, intentionality, heart-centered awareness; holding
space for pausing, listening, hearing beyond words. As soon
as the nurse walks into a patient’s room, the patient will
know whether they can trust this nurse or not.
Caritas Process 4: Nurture - Relationship. Heart to heart
authentic relation via trust and loving presence. Holding
Caritas Consciousness in relation with other. Everything is
in-relation and here the nurse moves beyond Doing Nursing
to Being authentically presence. Caritas Process 3 and 4 go
hand in hand.
Caritas Process 5: Forgive - All Allow for expression of
positive and negative feelings; non-judgmental acceptance,
holding sacred space to listen to another’s story. Listening
to other’s story may be the greatest healing gift where for
perhaps for the first time, they hear themselves beyond the
usual inner script; Nurse is there holding sacred space
allowing patient to hear self; result they often come up with
new solutions and new options for self; for self-care; self-
knowledge, even self-healing approaches.
Caritas Process 6: Deepen - Creative self; nurse and
patient move beyond ‘problems’ to strengths and creative
solutions; allow for creative emergence. Invite an Expanded
epistemology allowing for multiple and all ways of
knowing to be considered, not just empirical data alone. It
is unethical to limit our knowledge and ways of knowing to
only one form of knowledge. Subjective meaning and inner
life experiences also count as knowledge, as well as personal,
intuitive, aesthetic, ethical, spiritual as well as empirical-
scientific knowledge.
Caritas Process 7: Balance - Learning with authentic
teaching; appreciating inner listening and subjective
meaning for understanding one’s inner life world, leading to
heart-centered wisdom. This process results in ‘coaching’
other in self-caring; self-knowledge; self-control; self-
choices; and self-healing approaches. Without learning,
there is no teaching. It requires realizing that information is
not knowledge; knowledge alone is not understanding;
understanding is not same as internalizing; internalizing
leads to wisdom.
Caritas Process 8: Co-create - Caritas Field; create healing
environment, by ‘being’ the caritas field of loving-trusting,
heart-to-heart connections. The Caritas Conscious nurse is
the Healing environment. We can have the most beautiful
physical environment, but if the humans in the field are not
caring the environment can be toxic or biocidic for nurse as
well as patients/families.
Caritas Process 9: Minister - Humanity and basic needs
with reverence as sacred acts; sustaining human dignity;
viewing bodyspirit as one. Helping another with basic
human needs when they are unable to do for self, is one of
greatest healing acts nurses offer to humanity. A Caritas
Conscious Nurse knows they are not just touching the body,
but also the mind, the heart and the soul of patient.
Requiring a Caritas loving Consciousness to minister to
another as a sacred gift.
Caritas Process 10: Open - To infinity and evolution of
consciousness; allowing to spiritual existential unknowns,
beyond conventional medical science, open to miracles and
mystery of caring-healing and infinite possibilities.
Conventional science and Western mindsets of medical
science do not have all the answers to human health and
healing. Nurses experience miracles and mystery in patient
outcomes every day.5
Summary Note on Caritas Processes®
It is important to note that the Caritas Processes are not
linear. They are a gestalt of the whole Caritas Consciousness
in any given moment. It is like a hologram. The whole
Caritas Consciousness is present in any given moment.
Transpersonal caring moment represents any of the Caritas
Processes which transcend time, space, and physicality. A
transpersonal caring moment of any of the Caritas processes
lasts with the patient and the nurse as long as they life,
informing the next moments of their life. Thus, the Ethic of
Belonging, the Ethic of Face and Ethic of Hand are present
through Transpersonal Caritas in any given moment. This
dynamic is a life-giving and life-receiving exemplar of
Caritas Praxis.
As a transition from overview of Caring Science Caritas
Processes and Transpersonal Moment it is helpful to
examine the congruence between Unitary Caring
Science/Caritas Processes and Transpersonal with the latest
definition of Nursing from American Nurses Association
(ANA).
Pensar Enfermagem / v.27 n.01 / October 2023 |
Theoretical Article
Current Definition of Nursing: American Nurses
Association ANA (2021-22)
Nursing integrates the
art and science of caring
and
focuses on the protection, promotion, and optimization of
health and human functioning; prevention of illness and injury;
facilitation of healing
; and alleviation of suffering
through
compassionate presence
. Nursing is the
diagnosis and treatment of human responses and advocacy
in the care of individuals, families, groups, communities, and
populations
in recognition of the connection of all
humanity.
The highlighted areas with the latest ANA definition reflects
a Unitary Caring Science Paradigm and Transpersonal
Caring values as part of the evolved definition of nursing. It
is the first time ANA has included caring in its definition;
previously the definitions were medicalized-clinicalized
views of nursing and humanity, e.g. diagnosis and treatment
language.
Together Unitary Caring Science and Transpersonal Caring
Theory provide a mature disciplinary foundation for
Nursing for this time of change, so needed to sustain human
caring and human dignity for both nurses and patients alike.
Identifying the Ethics and Quantum Transformative
thinking for Unitary Caring Science provide a universal
timeless framework for nursing past, present and future.
In summary I have identified the essence and advantages of
expanding Nursing and Unitary Caring Science Paradigm
and Transpersonal Caritas as a way forward to sustain
nursing’s global covenant with humanity.
WATSON ESSENCE OF UNITARY CARING
SCIENCE
Brings infinity of LOVE back into Nursing and
Health Care/ Science
Provides Universal Nursing Language for
Universals of Caring Phenomena
Introduces Transpersonal - Metaphysical Sacred
Integrates ancient and contemporary Energetic
Caring Healing Arts
Provides a Full Circle of Caring Science evolution:
E.G. Unitary Philosophy - Ethic Theory Micro/macro
Caritas Praxis/Education- Measurements and Research.
Final Summary
Unitary Caring Science: Transpersonal Human Caring
provides a full circle of knowledge to guide the practice,
research, education and leadership for Nursing’s’ future:
The core Philosophy; the Ethical principles of Unitary
Caring; Core Values that guide Caritas Processes as
theoretical frame for micro and macro practices; combined
with Measures and outcomes of Caring as essential to all
healthcare. Philosophy/ Ethic/ Values/ Theory/ Practice/
Research-Measures/ Outcomes Without nursing advancing
within its own philosophical - ethical theoretical
framework, it is doomed to remain as very good technicians
of a totally new quantum universe, required for caring
healing and health for all.
References
1. Watson, J. Unitary caring science: the philosophy and
praxis of Nursing. Louisville: University press of Colorado;
2018. 204 p.
2. Watson, J. Caring science as sacred science. Boulder:
Lotus Library; 2021. 289 p.
3. Levinas, E. Totality and infinity. Pittsburgh: Duquesne
University Press; 1996. 307p.
4. Logstrup, K. The Ethical demand. Paris: University of
Notre Dame; 1997. 342 p.
5. Watson, J. Nursing the philosophy and science of caring.
Boulder: University Press of Colorado; 2008. 313 p.
6. Watson, J. (Ed.). Miracle and mysteries: witnessed by
nurses. Deerfield Beach: Lotus Library; 2019. 174 p.