Viver a adesão ao regime terapêutico: experiências vividas do doente submetido a transplante cardíaco
Publicado 30-12-2010
Palavras-chave
- enfermagem,
- adesão terapêutica,
- transplante cardíaco,
- fenomenologia
Como Citar

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.
Resumo
A adesão ao regime terapêutico, em enfermagem, é um conceito que engloba não só o cumprimento da prescrição farmacológica, mas também os comportamentos promotores de saúde, pelo que o enfermeiro deve compreender como o regime terapêutico se relaciona com a vida do doente.
O transplante cardíaco é um processo de muitas mudanças, não só a nível físico mas, principalmente, a nível social e psicológico. Ao mesmo tempo que o doente tem alterações na auto-imagem, não pode exercer a sua actividade profissional, ficando economicamente dependente da família, experimenta sentimentos como a ansiedade, a culpa e o medo. Simultaneamente, tem que se adaptar a uma nova fase da sua vida, com o cumprimento de um regime terapêutico numeroso, complexo e com efeitos secundários desagradáveis que requer, por vezes, profundas alterações no seu estilo de vida. Assim, importa compreender a experiência vivida de adesão ao regime terapêutico nos doentes submetidos a transplante cardíaco.
Neste sentido, foi realizado um estudo descritivo com uma metodologia qualitativa de orientação fenomenológica. Optou-se pela entrevista não estruturada dirigida a 9 doentes submetidos a transplante cardíaco. A análise fenomenológica das expressões descritivas dos participantes foi efectuada pelo método de van Kaam (1959, 1969). Da análise, sobressaíram desde o início expressões descritivas de comportamentos de adesão e expressões descritivas de comportamentos de não adesão.
O doente submetido a transplante cardíaco valoriza a vida, porque a morte é sempre possível a qualquer momento e está sempre presente no seu quotidiano. Tem a percepção da susceptibilidade que o leva a ter comportamentos de autoprotecção, porque está imunodeprimido, acreditando nos seus benefícios. Ao mobilizar mecanismos de autocontrolo, o doente está a comprometer-se e a responsabilizar-se pela sua saúde. A confiança no médico assistente é, também, uma experiência valorizada por estes doentes, porque lhes transmite um sentimento de segurança, de protecção e de tranquilidade.
A percepção que tem do seu estado de saúde, concretamente, estar assintomático, ter outro problema de saúde associado ou a existência de efeitos secundários da medicação, são responsáveis pela não adesão ao regime terapêutico.
Este artigo teve por base a tese para obtenção do grau de Mestre em Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa, apresentada em Setembro de 2008, sob orientação do Professor Doutor José Amendoeira.